Vitória da Chape é mais uma prova do mito do "elenco forte" no Flamengo
André Rocha
13/05/2018 18h42
Maurício Barbieri foi corretíssimo ao descansar alguns titulares na Arena Condá pensando na decisão contra o Emelec no Maracanã pela Libertadores. Os sinais de desgaste já tinham ficado claros no empate contra a Ponte Preta que valeu a classificação para as quartas de final da Copa do Brasil.
Mas poupar significa enfraquecer um Flamengo que novamente deu provas que, na prática, tem o cobertor bem curto na qualidade do elenco. Mesmo com alto investimento em reforços e nas divisões de base.
A começar por Trauco, de volta à lateral esquerda e reforçando suas virtudes e seus defeitos. O peruano que deve estar na Copa do Mundo tem bom passe e acertou duas assistências para os dois gols do Fla. Guerrero, o primeiro na volta da suspensão por doping aproveitando falha grotesca do goleiro Jandrei, e Vinicius Júnior, que saiu do banco para contribuir com seu talento para que uma equipe naturalmente desorganizada pelas mudanças pudesse se impor mais uma vez através de lampejos.
Mas defensivamente é um desastre. Pior ainda sem o devido auxílio na recomposição de Marlos Moreno, outra contratação que até aqui não trouxe respostas em campo. Apodi e Guilherme voaram pelo setor do peruano. Inclusive no lance do único gol do primeiro tempo, de Canteros completando assistência do lateral veloz.
Sem Paquetá e Cuéllar, o meio-campo teve poder de marcação com Jonas e condução de bola com Diego e o jovem Jean Lucas, mas quase nada de circulação de bola através dos passes. Muito menos criatividade. Por isso Trauco acabou aparecendo com dois passes para gols.
Para piorar, o titular Juan acabou falhando também, na saída de bola que terminou no pênalti bastante discutível de Jonas que Guilherme sofreu e converteu em bela cobrança. Pareceu mais disputa por espaço que falta. Mas não dá para colocar a derrota por 3 a 2 na conta do árbitro Leandro Vuaden.
Porque Barbieri resolveu poupar Diego Alves para dar minutos a César, que acabou surpreendido pelo toque de Leandro Pereira, o substituto do suspenso Wellington Paulista, e com o pé colocou para dentro da própria meta nos minutos finais. Outra falha individual para a Chapecoense encerrar com vitória sobre o ainda líder uma sequência de quatro empates na temporada.
Mais uma prova de que a ideia de que o Flamengo tem elenco robusto para dividir esforços ao longo da temporada não passa de um mito. Se fica difícil combinar características e extrair qualidade no jogo coletivo com todos disponíveis, imagine mesclando titulares e reservas.
Sobreviveu na Copa do Brasil, manteve a liderança do Brasileiro pelo saldo superior a Corinthians e Atlético Mineiro e joga a tão desejada classificação para o mata-mata do torneio continental na quarta. Mas com um grupo de jogadores tão desigual e heterogêneo é difícil vislumbrar aonde pode chegar um dos maiores orçamentos do país que não consegue ser consistente na temporada.
Resta à maior torcida do país rezar para "São Paquetá" seguir tirando coelhos da cartola. Sem ele, o Flamengo não passa de um time bem comum.
Sobre o Autor
André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com
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