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A inteligência por trás da liderança do Flamengo no Brasileirão

André Rocha

03/06/2018 22h37

Na coletiva depois da vitória por 1 a 0 sobre o Corinthians no Maracanã, o treinador (ainda) interino Maurício Barbieri dividiu os méritos do triunfo e da manutenção da liderança do Brasileiro com os jogadores pela mudança de atitude, com a torcida pela comunhão com a equipe, com o CEP Fla (Centro de Excelência em Performance) pelo trabalho de recuperação dos atletas para jogos em sequência em um elenco que tem rodado pouco.

Um relato de Barbieri, porém, chamou atenção: "ontem, na véspera do jogo, nós fomos para o campo, mas só marcamos espaços. Os que o Corinthians oferecia, por onde a gente devia jogar. Onde devíamos ter atenção e quais movimentos o adversário fazia. Foi um ensaio sem bola e depois fomos para a sala de vídeo. Fico muito satisfeito e até surpreso com o grau de entendimento deles".

O Flamengo em vários momentos demonstrou apatia e um certo conformismo nas derrotas. Mas sempre passou a impressão de ser uma equipe que não sabia bem o que fazer em campo para explorar o máximo de seu potencial. Faltava inteligência na montagem do time e, consequentemente, na execução em campo.

Não falta mais. Barbieri conseguiu encontrar o equilíbrio e a melhor combinação das características dos jogadores. Léo Duarte foi um dos destaques do triunfo sobre o atual campeão brasileiro porque é o zagueiro mais rápido do elenco e tem sido preciso na cobertura de Rodinei. O lateral que tem liberdade para descer bem aberto, aproveitando o corredor deixado por Everton Ribeiro que, agora sim, atua como um autêntico ponta armador.

Do lado oposto, a lógica inversa. Vinícius Júnior com sua habilidade fica bem aberto para manter no mínimo um defensor preocupado e espaçando a última linha da retaguarda. Renê então ataca por dentro, muitas vezes criando com Everton Ribeiro, Diego e Paquetá uma superioridade numérica pelo centro dificultando a marcação dos volantes adversários.

Para evitar os espaços às costas dos volantes que costumam ser bem explorados por Jadson e Rodriguinho, Barbieri fixou Jonas à frente da defesa num 4-1-4-1 e negou as brechas aos "falsos noves" corintianos. O sistema defensivo do Fla novamente deixou o campo sem ser vazado. No duelo com o time que tem em sua identidade vencedora nos últimos anos a concentração minimizando erros atrás, os rubro-negros conseguiram se sair melhor. Foram 29 desarmes corretos, quase o dobro em relação ao oponente.

Também pela excelente atuação de Diego. Não fosse um certo destempero exagerando nas reclamações com a arbitragem de Anderson Daronco que podia ter rendido um cartão vermelho além do amarelo que tira o meia do Fla-Flu, o desempenho mereceria até uma nota dez. Liderança, entrega, fibra, disciplina tática. Tudo que demonstrou na maioria das partidas que disputou pelo clube. Mas agora adicionando o essencial para um jogador com a sua função em campo: leitura de jogo e tomada de decisão corretas. Soltando mais rapidamente a bola o rendimento cresceu naturalmente. Foi o melhor em campo. Também o que mais finalizou, comprovando seu futebol mais objetivo.

Mais uma vez, Henrique Dourado destoou. E muito. Acabou deixando o campo no segundo tempo depois de errar um passe simples para Vinicius Júnior em um contragolpe que podia ter sido muito perigoso. Entrou Filipe Vizeu, o autor do gol único. Aproveitando o rebote estranho do goleiro Walter e o vacilo de Mantuan, que deixou o atacante adversário finalizar livre no seu setor. Quem diria…o Fla concentrado aproveitando um erro do Corinthians, o outrora campeão da atenção aos detalhes.

O equilíbrio está também nas estatísticas do campeonato. É o time que mais acerta desarmes e a terceira defesa menos vazada, com apenas seis gols – três contra a Chapecoense, na última derrota quando utilizou mais reservas. Ao mesmo tempo é o quarto em posse de bola e finalizações e o ataque mais positivo, com 16 gols. Defende e ataca.

O Flamengo está no topo da tabela, mas é difícil fazer qualquer projeção. Há muitas incógnitas, como o comportamento de jogadores e do inexperiente treinador em momentos mais complicados na temporada, ainda mais em ano de eleição no clube. Assim como as soluções dentro de um elenco que se mostra curto e não entrega a qualidade que promete, obrigando o treinador a mexer pouco nas peças. E ainda há as dúvidas quanto ao futuro de Vinicius Júnior e também de Paquetá, que já chama atenção de clubes europeus.

Só há uma certeza: se o time está mais intenso e ligado e a torcida está apoiando, toda esta transformação passa pela inteligência. De treinador, comissão e dos jogadores. Um time sem rumo cansa e desiste mais rapidamente. Quando se sabe o que fazer a motivação é natural para executar o planejado. Como Barbieri ensaiou na véspera e os atletas compreenderam. O resto foi consequência no Maracanã.

(Estatisticas: Footstats)

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Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

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O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.