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Deus ou farsa, Messi tem escolhas a fazer para voltar ao topo do mundo

André Rocha

27/12/2018 02h19

Foto: Albert Gea/Reuters

Qualquer análise que envolva Lionel Messi sempre vai esbarrar nos extremos. Para os fãs incondicionais é o melhor de todos os tempos e não tem nada a provar a ninguém, mesmo nos maiores reveses. Uma versão que vira dogma. Assim como para os detratores – fãs de Cristiano Ronaldo ou saudosistas, na maioria das vezes – nada que o argentino faça será capaz de apagar suas grandes derrotas que, obviamente, são de responsabilidade exclusiva do camisa dez.

Vamos, então, tentar puxar a discussão para um ponto central, com elogios e ressalvas na medida mais justa possível. Começando por reafirmar que Messi é o melhor que este que escreve viu jogar ao vivo desde 1981. Uma combinação da objetividade de Zico e Cruyff com a genialidade de Maradona. Mas que vem decepcionando no momento de definir grandes duelos eliminatórios. Junto com Guardiola, o homem que ajudou o atacante habilidoso a se tornar gênio, vai se tornando o rei dos pontos corridos. Quando a regularidade é a maior virtude.

Messi faz uma primeira metade de temporada absolutamente genial. Artilheiro do Espanhol com 15 gols, também é o líder de assistências da liga com 10. Assim como é o driblador mais efetivo, o que cria mais chances, o cobrador de faltas com melhor aproveitamento e também o melhor finalizador de fora da área. Uma influência absurda em cada jogo do Barcelona, líder absoluto de La Liga e também de seu grupo na Liga dos Campeões. No torneio continental entrou em campo em quatro partidas, uma saindo do banco. Seis gols, uma assistência e melhor em campo em três jogos.

A grande questão segue a mesma: de que valerá esse desempenho espetacular se de novo vier o jogo grande em que Messi não consegue encontrar soluções em campo e vê o Barcelona ser eliminado na Champions, grande prioridade da temporada? Nas quatro conquistas do Real Madrid desde 2014, o time catalão não passou das quartas de final.

Se fracassar de novo os fãs empilharão estatísticas, exaltarão o provável título espanhol – será o quarto nas últimas cinco temporadas – e a quase protocolar conquista da Copa do Rei. Os "haters" vão desdenhar de tudo e incensar o melhor jogador do campeão europeu. Mas objetivamente os prêmios individuais novamente não farão o caminho de volta para as mãos de "La Pulga". Como foram para Modric em 2018.

Messi terá que fazer escolhas para chegar inteiro e desequilibrar nas partidas decisivas. É fominha, só aceita ficar de fora quando obrigado por lesão e suspensão ou os médicos e fisiologistas apontam um risco grande de contusão por desgaste. Ernesto Valverde tem conseguido dosar as energias e a contusão no braço também fez o número de partidas até aqui diminuir. O elenco também ganhou opções e há menos insegurança na hora de poupar estrelas. Na formação atual, por exemplo, o treinador pode escolher Phillipe Coutinho para a vaga do craque e capitão.

O cansaço, porém, chega forte na metade final. Os jogos ficam mais duros, há mais em jogo, a marcação é implacável. O esgotamento mental também pesa. É preciso equilibrar. Ainda que seja difícil na cultura de vitória do time catalão dentro da Espanha dar prioridade total à Champions, a urgência para voltar a se impor no continente da equipe e de sua estrela maior é considerável.

Mais uma temporada com os mesmos números absurdos, mas também as conquistas habituais dos últimos anos deixará para quem não é "devoto" uma forte impressão de estagnação, marasmo. Ele mesmo criou esse padrão altissimo de exigência para si.

Messi também pode escolher ser menos coletivo e mais egoísta quando o Barça estiver em apuros ou necessitado da magia para descomplicar disputas parelhas. Assumir a responsabilidade, chamar a bola e construir a obra de arte com começo, meio, fim e a assinatura. Como Maradona e outros gênios vencedores.

Se conseguir os fanáticos dirão que os resultados desta vez estão apenas confirmando o que o mundo já sabia. Os perseguidores vão tirar da cartola uma crítica do tipo "quero ver brilhar na seleção ou fora do Barcelona". Aliás, a participação do maior artilheiro da Argentina na Copa América no Brasil segue uma incógnita. Se vier será mais uma chance de se consagrar. Ou reforçar a imagem de "pecho frio".

Lionel Messi está sempre no fio da navalha, entre dois olhares apaixonados. O que vê um Deus em campo e aquele que só enxerga uma farsa. Qual prevalecerá em 2019?

 

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Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

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O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.