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Nem Messi, nem Salah. Terça da Champions ressalta importância da precisão

André Rocha

19/02/2019 19h39

Os saudosistas costumam afirmar que os jogadores do passado, se contassem com a bola leve e "sinuosa", a qualidade dos gramados e do material dos uniformes e chuteiras, além das muitas câmeras para flagrar tudo que acontece no campo de hoje teriam se destacado ainda mais na tal "época áurea".

Visão que seria mais digna de respeito se considerasse também o outro lado da evolução do esporte. Porque os goleiros de hoje são muito mais preparados e treinados e, com as informações circulando livremente pela internet, é possível analisar o desempenho de um jogador em um nível de detalhes sem precedentes – como conduz a bola, em qual canto costuma chutar de acordo com o lugar do campo em que finaliza e até a posição do corpo, para qual companheiro costuma passar com mais frequência, etc.

Em disputas de alto nível, como duelos de mata-mata de Liga dos Campeões, a dificuldade aumenta exponencialmente. Porque o estudo é mais apurado, o nível de concentração é altíssimo e a qualidade de jogadores e treinadores torna tudo ainda mais equilibrado.

A terça de Champions proporcionou duas grandes partidas de ida pelas oitavas de final: Liverpool contra Bayern de Munique em Anfield e Lyon recebendo o Barcelona na França.

Jogos abertos, com equipes tentando jogar dentro de seus planejamentos, considerando os contextos. Ou seja, o time bávaro, oscilante na temporada, com mais cuidados fora de casa e a equipe francesa, mesmo em seus domínios, respeitando demais o time de Messi e Suárez. Mas tentando jogar.

Sem Nabil Fékir, o Lyon formava duas linhas de quatro, mas cedendo espaços generosos demais. Especialmente para Messi, jogando com liberdade por dentro, já que Ernesto Valverde optou por Sergi Roberto no lugar do lesionado Arthur para atacar pela direita. Em alguns momentos havia um verdadeiro latifúndio entre a defesa e o meio do time da casa para o argentino, artilheiro da equipe na competição continental com seis gols.

Mas mesmo se sentido confortável, Messi não conseguiu desequilibrar. Porque não apresentou sua maior virtude: a precisão. Nas finalizações e nos passes decisivos. Com bola parada ou rolando. Muitos erros técnicos, alguns induzidos pelo bom trabalho dos defensores da última linha do Lyon, formada por Dubois, Marcelo, Denayer e Mendy. No confronto direto ou nas coberturas. Uma atenuante para o desempenho decepcionante do Barcelona e de sua estrela máxima.

Foram 16 finalizações do time catalão. Apenas cinco no alvo. Já o Lyon concluiu quatro, metade no alvo. Teve a chance da vitória em contragolpe no primeiro tempo, mas Dembelé também cometeu erro técnico e adiantou, permitindo a saída de Ter Stegen. Não era noite para gols na França.

Nem em Liverpool. Também porque o Bayern foi mais um time a se cuidar contra o trio Salah-Firmino-Mané, de novo escalado num 4-3-3, sem o "quarto elemento" que muda o sistema para o 4-2-3-1 com o recuo de Firmino. Com os laterais Kimmich e Alaba sem apoiar tanto, ajudando os zagueiros Süle e Hummels e também o volante Javi Martínez a negar os espaços que costumam ser atacados pelos destaques da equipe de Jurgen Klopp. Repetindo o que fez o PSG em Paris na fase de grupos.

Com menos oportunidades a eficiência seria fundamental. Mas Mané, que teve três chances ao longo da partida, também falhou no toque final. Salah também foi bem vigiado e pecou quando a chance apareceu. Do lado do Bayern, Coman, o ponteiro esquerdo do 4-1-4-1 bávaro, teve liberdade para finalizar na chance mais cristalina dos visitantes depois do vacilo de Alisson na circulação da bola com os pés, mas foi outro a errar na conclusão. Lewandowski, artilheiro do torneio com oito gols, tocou pouco na bola.

Vinte finalizações no total. 13 dos Reds, sete dos alemães. Mas apenas três no alvo em 90 minutos. A marcação forte, bem planejada e executada com concentração pode explicar as dificuldades dos atacantes, mas um aproveitamento de menos de 20% não deixa de ser decepcionante.

É inegável que o jogo evoluiu, mas continua sendo, na essência, de bola na rede. Os dois confrontos seguem em aberto, especialmente pelo gol "qualificado" que pode mudar tudo nas partidas de volta em Munique e Barcelona. A esperança de quem aprecia bom futebol é de que a intensidade e o nível técnico continuem altos, mas com mais correção no complemento das jogadas. Que a noite atípica na Europa não se repita.

(Estatísticas: UEFA)

 

 

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Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.