City campeão e Sarri sem estilo, título e moral. Terá emprego no Chelsea?
André Rocha
24/02/2019 17h04
O Manchester City é campeão da Copa da Liga Inglesa. Vitória nos pênaltis, apesar de uma atuação pouca inspirada da equipe de Pep Guardiola. Com domínio pela posse de bola (61%), mas muitos erros técnicos e dificuldades para infiltrar. Em 120 minutos, correu riscos diante de um adversário em nível inferior na temporada e vivendo uma crise que ficou ainda mais nítida na decisão em Wembley.
Maurizio Sarri abriu mão de seu estilo e aderiu ao pragmatismo. Nítido temor de sofrer outra goleada, depois dos 6 a 0 pela Premier League, que seria ainda mais histórica por acontecer numa decisão. Compreensível até, mas um sintoma da complexidade do contexto no time londrino.
No 4-1-4-1, deixou Hazard na frente para jogar por uma bola na velocidade dos contragolpes. Difícil entender a presença de Jorginho atrás de Kanté e Barkley, se a proposta era priorizar o trabalho defensivo. Acabou pagando com o pênalti perdido pelo meio-campista brasileiro naturalizado italiano. David Luiz carimbou a trave de Ederson e praticamente sepultou as chances dos Blues. Sterling converteu a última cobrança, a do sexto título do City da competição. Quatro nas últimas seis edições.
Era a possibilidade mais palpável de conquista do Chelsea na temporada, apesar da classificação para as oitavas da Liga Europa – enfrenta o Dynamo de Kiev. Seria o primeiro título da carreira de Sarri. Muito oportuno para recuperar alguma confiança da direção do clube afundado numa crise, incluindo a punição da FIFA, que proibiu o clube de contratar até o final de janeiro de 2020 por não ter respeitado o regulamento das transferência de jogadores menores de idade.
Mas o pior para o treinador italiano foi a prova material da falta de moral como comandante nos últimos minutos da prorrogação. O goleiro Kepa sentiu um problema físico e Sarri mandou Caballero aquecer e entrar. Com a substituição pronta, a placa preparada para subir, o goleiro titular fez o gesto de negativo – lembrando Paulo Henrique Ganso na final do Paulista de 2010 contra o Santo André – e se negou a sair.
Sarri ficou possesso, mas foi contido pelo auxilar Zola e depois pelo zagueiro Rüdiger. Caballero não recolocou o agasalho, nem voltou para o banco, dando a impressão que o treinador faria valer a sua autoridade e trocaria no fim da prorrogação. Kepa ficou para a decisão nas penalidades e não se dirigiu a Sarri. Só defendeu a cobrança de Sané e deixou a bola passar embaixo do seu corpo na cobrança ruim de Aguero.
Difícil prever as consequências de tudo que aconteceu em Wembley. Ou servirá apenas para confirmar o que hoje parece inevitável: a saída de Sarri. A dúvida é se acontecerá agora ou no final da temporada. Porque a tensão chegou no seu nível máximo e o técnico italiano vive uma situação humilhante: sem estilo, título e moral. Ainda terá o emprego?
Sobre o Autor
André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com
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