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Pelas palavras de Felipão, Palmeiras pode vencer. Mas será difícil evoluir

André Rocha

25/02/2019 07h02

Luiz Felipe Scolari costuma ser um treinador transparente em suas declarações públicas. Mesmo com muxoxos, caretas e expressões vagas como "algumas situações", "certos aspectos" entre outros. É sempre interessante ouví-lo.

Não foi diferente neste sábado, depois do empate sem gols contra o Santos de Jorge Sampaoli. Um intenso confronto de estilos que teve basicamente 45 minutos de domínio para cada equipe e o Palmeiras com oportunidades mais claras. Borja mais uma vez teve desempenho sofrível, se atrapalhando em lances simples.

A média de gols do atual campeão brasileiro não é das melhores em 2019: 0,88 por partida. Entre os times da Série A só é superior à do Athletico, que até aqui disputou o Paranaense com reservas. Números preocupantes para o melhor elenco do país que ganhou contratações para acrescentar opções a uma base que já era muito forte. Especialmente no setor ofensivo.

Disputando apenas o Paulista como grande favorito, o Alviverde vem encontrando dificuldades para infiltrar em sistemas defensivos mais fechados. Até cria as oportunidades, mas sempre da mesma maneira: bola roubada no ataque e transição rápida, jogadas individuais e insistência nos cruzamentos, com bola parada ou não.

É pouco, bem pouco para tamanho potencial. E a julgar pelas palavras de Felipão, o Palmeiras pode até voltar a ser campeão dentro deste estilo, mas será difícil evoluir. Porque a visão de futebol não muda, nem se adapta.

Depois de ironizar o termo "repertório" utilizado pelo repórter na coletiva pós-jogo, o técnico afirmou que está satisfeito porque a equipe tem criado oportunidades e, quando isto acontece, não há do que reclamar. Apenas cobrar o acerto no último toque.

Correto em linhas gerais, mas discutível considerando o que o Palmeiras pode oferecer. Com mais aproximação, tabelas, triangulações ou mesmo uma maior valorização da posse, necessidade detectada no final do ano passado, as chances de gol poderiam ser mais cristalinas. O toque, a infiltração e a finalização mais "limpa" ou o passe para o companheiro livre completar.

Só que a prioridade continua sendo conceder poucas oportunidades ao adversário. Ponto ressaltado por Felipão logo no início da coletiva. Mesmo enfrentando um time misto do Santos, recurso utilizado por Sampaoli para minimizar o desgaste de jogos seguidos na temporada por estadual, Copa do Brasil e Sul-Americana.

Ainda a ideia de atacar com cinco, no máximo seis e garantir superioridade numérica atrás. Mesmo que isto signifique menos opções à frente. A solução continua sendo a bola longa. Quando perguntado se as muitas ligações diretas tinham incomodado, a resposta deixou clara a ideia de futebol saturada de pragmatismo:

"Meu incômodo foi com a forma do lançamento. O Santos marca adiantado, então se acertar o passe longo sempre haverá a chance de um pra um no ataque. Minha indignação foi porque nós treinamos em cima do que o Santos joga. Eles marcam no meio-campo, a gente tinha 30 metros para jogar atrás da defesa", reclamou o treinador do Palmeiras.

Sempre a reação, nunca a iniciativa ou proposição. Ter como único plano o contragolpe ou passe longo nas costas da retaguarda adversária, com a sensível diferença de capacidade de investimento entre os clubes, reforça a impressão de pobreza de ideias.

A visão resultadista dirá que esta proposta já rendeu muitos títulos. Mas, ao menos em 2018, a competição tratada como prioridade ficou pelo caminho. E foi justamente a semifinal contra o Boca Juniors que deixou a impressão de que a maneira de jogar tinha atingido seu teto. Por mais que o futebol seja caótico e um tanto aleatório, a lógica indica que para uma disputa em nível mais alto este jogo mais "minimalista" não é suficiente.

A julgar pelas palavras do treinador, sempre simples, francas e diretas, as chances de atualizar ou adequar a forma de atuar são remotas. Scolari já pediu que não esperem nada dele além do resultado. Só que para atender aos planos ambiciosos do clube e de seu patrocinador mais forte, a conquista precisa estar mais atrelada ao desempenho. Como consequência natural. O Palmeiras segue devendo.

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Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.