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Brasileirão 2019 pode superar o de 1988 como o mais "trapalhão" da história

André Rocha

26/04/2019 02h48

O Campeonato Brasileiro já teve regulamentos dos mais bizarros e esdrúxulos. Copa União de 1987  com seus módulos verde e amarelo e a disputa "híbrida" da Copa João Havelange de 2000 à parte, a edição mais inusitada, sem dúvida, foi a de 1988.

Tudo por conta de uma mudança com a  competição já iniciada Não mais que de repente a vitória passava a valer três pontos e nenhuma disputa poderia mais terminar empatada. Haveria uma decisão por pênaltis, o vencedor ficaria com dois pontos e o derrotado com um.

A alteração provocou situações grotescas, como um representante da CBF viajando a Salvador para comunicar a alteração a América e Bahia que jogavam na Fonte Nova. Ou Fluminense e Botafogo, depois de empatarem por 1 a 1 no Maracanã e se negarem a realizar a disputa de pênaltis, por não terem sido avisados da mudança, foram obrigados a voltar ao estádio tempos depois apenas para definir quem ficaria com um ponto a mais na tabela.

Para completar, assim como nas edições de 1986 e 1987, a final aconteceu apenas no ano seguinte. Aliás, toda fase de mata-mata, que se iniciou com as quartas-de-final, aconteceu em 1989. E sem a bendita disputa por pênaltis em caso de empate…

A decisão se deu em fevereiro e, dias depois da conquista do Bahia vencendo o Internacional, os times se enfrentaram já pela Libertadores – na época apenas os dois primeiros colocados disputavam o torneio continental. Surreal.

Agora, por motivos diferentes, o Brasileirão de 2019 se coloca como forte candidato a ser o mais "trapalhão" da história. Não pela fórmula, consolidada nos pontos corridos desde 2003. Mas por várias mudanças ao mesmo tempo que podem causar muita balbúrdia, dentro e fora de campo.

A começar pela utilização do VAR. Ainda confuso no Brasil, com demora na decisão de árbitros pressionados por jogadores e membros da comissão técnica histéricos até com uma cobrança de lateral. Ainda que não carregue a tensão de uma disputa eliminatória, a chance do campeonato ser marcado por polêmicas é grande. Mesmo considerando que o uso do vídeo veio para ficar e minimizar equívocos que podem prejudicar o trabalho do ano inteiro de um clube.

Adicione aos possíveis imbróglios as mudanças nas regras do jogo pela International Board que entrarão em vigor no mundo a partir de junho, mas valerão na principal competição do país já desde a primeira rodada. Como a irregularidade a partir de agora de qualquer toque na mão, intencional ou não, que faça o atacante levar vantagem na jogada que termine em gol ou finalização.

Ou o tiro de meta que não tem mais a obrigatoriedade de sair da própria área. Ainda a distância de um metro dos atletas adversários em relação à barreira; o goleiro só ter que ficar com um dos pés, e não mais os dois, sobre a linha antes da cobrança do pênalti, a utilização dos cartões amarelo e vermelho para punir também os treinadores entre outras alterações – leia mais AQUI. Normalmente avesso às mudanças, os agentes do futebol podem criar muitos problemas com tantas novidades.

Para completar, o impasse entre Globo e Turner que cria uma indefinição nas transmissões dos jogos na TV fechada e indefinição sobre as partidas do Palmeiras na TV aberta e do atual campeão e do Athletico Paranaense no pay-per-view. É claro que o fim de um monopólio é algo saudável, uma boa notícia. Mas o fato é que, se não houver um acordo, 182 partidas não serão transmitidas na fechada e 26 simplesmente podem não ser exibidas.

Pior para o torcedor, que também deve passar novamente pela situação de se programar para ver seu time de coração no estádio e se deparar com os reservas. No campeonato que deveria ser o mais importante, mas é relegado a segundo plano em relação até à Copa do Brasil, situação única no mundo em que o mata-mata nacional simbolicamente vale mais que a liga.

Há 31 anos, os jogos do Brasileiro nas tardes de domingo precediam na TV Globo o programa "Os Trapalhões", com Dedé, Didi, Mussum e Zacarias. O simbolismo irônico daquela sequência não se repetirá agora, mas podemos ter muitas confusões e incertezas, dentro e fora de campo, no campeonato que se inicia no sábado. Haja paixão!

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Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.