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Domínio inglês na Europa com futebol "rock'n'roll" tem as digitais de Klopp

André Rocha

10/05/2019 08h12

Foto: Reuters

O Campeonato Inglês há algumas décadas tem como principal característica a intensidade dos jogos durante os noventa minutos. Um jogo "maluco" que protagoniza disputas com muitos gols e com surpresas nos minutos finais.

Como esquecer do 4×4 entre Liverpool e Arsenal há dez anos – o famoso "jogo do Arshavin", com o meia russo marcando todos os gols dos Gunners? Ou as viradas nos acréscimos que ajudaram a construir o domínio do Manchester United de Alex Ferguson no país e criaram o mito do "Fergie Time"?

Mas a chegada de Jurgen Klopp em 2015, trazendo sua visão muito particular do futebol com o "Gegenpressing" e o ímpeto ofensivo insano que já havia transformado a Bundesliga, subiu o tom ainda mais na Inglaterra. De início sucedendo Brendan Rodgers e uma equipe mais afeita à posse de bola dentro do padrão Premier League.

Aos poucos reestruturando o elenco para ficar com a sua cara. Começando pelo ataque com as contratações de Mané e Salah e finalizando com o sistema defensivo, principalmente depois do revés para o Real Madrid na final da última edição da Liga dos Campeões, trazendo Alisson, Van Djik e Fabinho. Ritmo frenético, mas com qualidade técnica.

Diante do pesado calendário inglês, Klopp fez coro e engrossou as reclamações de José Mourinho, Arsene Wenger e depois Pep Guardiola que aos poucos vão conquistando pequenas vitórias que trazem algum alívio, como o fim do "replay" nas quartas de final da Copa da Inglaterra e, a partir da próxima temporada, desmembrando uma rodada no final do ano para que todos os clubes tenham uma semana de descanso na sequência maluca de jogos enquanto as demais competições nacionais param.

Ainda assim, o técnico do Liverpool define a liga e o torneio europeu no qual o Liverpool está envolvido como prioridades, relegando as copas nacionais a segundo plano. Assim chega à sua terceira final pelos Reds. Primeiro na Liga Europa contra o Sevilla, depois na Liga dos Campeões contra o Real Madrid e agora diante do Tottenham.

Outro a conquistar uma virada improvável. Porque se lançou à frente, correu riscos, atacou no volume máximo até o clímax no terceiro gol de Lucas Moura no chute final. Foi o time de Mauricio Pochettino, mas Klopp assinaria embaixo.

O alemão segue em busca do primeiro título no novo clube. Mas mesmo sem as conquistas que respaldaram seu trabalho no Borussia Dortmund, o treinador alemão de estilo personalíssimo dentro e fora de campo segue deixando sua marca por onde passa. Hoje é mais influente que Mourinho e sua solidez defensiva e Guardiola com o controle dos jogos pela posse de bola.

Aliás, o português e o catalão tiveram que condicionar suas propostas de jogo ao aumento de velocidade nas transições defensiva e ofensiva do futebol jogado na Inglaterra. No caso de Guardiola, Klopp interferiu duas vezes. No Bayern e agora no City. Em ambas como o grande rival.

Nesta temporada com a dupla dominando completamente a Premier League. E os citizens ainda mais verticais, mesmo liderando na posse e no acerto de passes. Depois de Guardiola passar a primeira temporada adequando suas ideias às exigências da liga mais competitiva do planeta. Mesma realidade que vivem Maurizio Sarri no Chelsea e Unai Emery no Arsenal.

Finalistas da Liga Europa que consolidam um domínio inédito no Velho Continente. Quatro times de um mesmo país nas decisões das principais competições. Imposição através da intensidade, da rapidez no jogo de área a área, da sanha pelo gol até o apito derradeiro. Os espanhois desta vez não resistiram e perderam a hegemonia dos últimos anos.

Triunfo inglês com as digitais de um alemão. Jurgen Klopp e seu futebol "rock'n'roll". Vibrante, emotivo, pulsando com o coração no céu da boca. Pisando fundo no acelerador como se não houvesse o próximo minuto de jogo. De vida. Como um solo de Jimi Hendrix ou alguma experimentação psicodélica do Pink Floyd ou mesmo dos Beatles, maior patrimônio de Liverpool. Um "aditivo" no chá inglês. Um sorriso largo para iluminar o caminho, mesmo (ainda) sem as taças.

Um homem que na véspera de ver seu time enfiar 4 a 0 no Barcelona de Messi, mesmo sem Salah, Firmino, Keita e perdendo Robertson no intervalo, disse que buscaria a remontada, mas, se esta não viesse, seus comandados falhariam "da forma mais bonita possível".  Ao final do "milagre", transferiu todos os méritos para os jogadores soltando um palavrão.

A dose certa de loucura em uma mente que preza o coletivo, a solidariedade, o altruísmo. Eis o sujeito que merece apontar o norte e marcar o futebol para sempre.

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Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.