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Com ou sem Rafinha, Flamengo precisa resgatar força histórica nas laterais

André Rocha

22/05/2019 06h32

O presidente Rodolfo Landim afirmou em redes sociais que a torcida terá boas notícias muito em breve quanto ao anúncio oficial da contratação de Rafinha, que se despediu do Bayern de Munique com o heptacampeonato alemão. O lateral está apalavrado com o Flamengo desde o início de 2019 para um contrato de dois anos, mas nos seguintes termos: se voltar ao Brasil será para atuar pelo rubro-negro. A questão é que, apesar dos 33 anos, o brasileiro tem mercado na Europa. Ainda assim, o negócio parece mesmo muito bem encaminhado.

O Fla ainda tenta convencer Filipe Luís a retornar ao Brasil, mas neste caso parece menos viável pelo mercado ainda mais amplo do lateral esquerdo do Atlético de Madrid e a vontade da família de permanecer no Velho Continente. Mesmo com a solidez financeira do clube carioca, a crise do país em todas as instâncias não encoraja muito o retorno às origens.

Seja como for, o Flamengo precisa qualificar o trabalho pelos lados do campo. Pela direita, Pará e Rodinei são alvos da torcida por atuações fracas em jogos decisivos. À esquerda, Renê apresenta regularidade, a ponto de ter sido eleito o melhor da posição na última edição do Brasileiro, mas não é brilhante no apoio. O reserva, Trauco, é o contrário: ataca bem, mas tem dificuldades no trabalho defensivo.

A história mostra que o time costuma ser bem sucedido quando conta com bons laterais. Ou craques, como foram Leandro e Júnior no maior time da história do clube com o auge em 1981. No ano anterior campeão brasileiro com Toninho Baiano, que fez parte do grupo da seleção na Copa do Mundo de 1978, pela direita. Em 1984, quando Leandro virou zagueiro por problemas nos joelhos e Júnior foi ser meio-campista na Itália, o Fla contratou Jorginho ao América e promoveu Adalberto da base, ambos campeões mundiais sub-20 no ano anterior.

Adalberto – pai do atacante Rodrigo Moreno, naturalizado espanhol e atuando pelo Valencia – foi destaque até uma fratura na perna comprometer sua carreira. Sucedido por Leonardo na equipe campeão da Copa União de 1987. No time que venceu o Carioca de 1991 e o Brasileiro no ano seguinte, Charles Guerreiro e Piá não eram talentosos, mas contribuíam com velocidade na parceria com os ponteiros Paulo Nunes e Nélio e precisão nos cruzamentos.

No tricampeonato estadual iniciado em 1999 e na conquista da Copa Mercosul no mesmo ano, destaque para Athirson pela esquerda e mais a contribuição de Fabio Baiano, Maurinho ou Pimentel do lado oposto. Até chegar ao domínio de Leonardo Moura e Juan, titulares absolutos em outro tri carioca (2007/2009), mais a Copa do Brasil 2006 e o Brasileiro de 2009, além da incrível campanha de recuperação com Joel Santana que levou o time da zona de rebaixamento à vaga na Libertadores com o terceiro lugar em 2007. Com o jogo baseado na qualidade dos seus alas.

Agora o Fla se ressente da ausência de jogadores mais técnicos para servir os atacantes e/ou com velocidade para chegar ao fundo. O jogo não flui, especialmente pela direita. Com Everton Ribeiro, um ponta articulador canhoto que costuma trabalhar por dentro, o setor precisa de alguém abrindo o campo e chegando de trás com rapidez e inteligência. Pará não é tão ágil e falta leitura de jogo a Rodinei. Mesmo veterano e sem o vigor de outros tempos, Rafinha já seria um enorme "upgrade". João Lucas, jovem contratado ao Bangu depois de boas atuações no estadual, pode ser útil pela intensidade. Mapear o mercado sul-americano também ajuda.

Pela esquerda, mesmo sem reforços é possível compor com Bruno Henrique aberto ou buscando as infiltrações em diagonal e Renê apoiando por dentro, como nos melhores momentos da formação que chegou à liderança do Brasileiro do ano passado sob o comando de Maurício Barbieri. A solução criava superioridade no meio e Vinícius Júnior garantia amplitude e possibilidade de jogadas individuais para desarticular a marcação.

Na verdade do campo, porém, a carência nas laterais salta aos olhos. No Flamengo isto causa ainda mais estranheza. É preciso resgatar uma das grandes virtudes dos times mais vencedores da história do clube. Com urgência para não amargar mais uma temporada sem títulos relevantes.

 

 

 

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Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

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O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.