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João Pedro, mais um menino a brincar tão rápido no nosso playground

André Rocha

24/05/2019 07h19

Foto: Thiago Ribeiro/AGIF

João Pedro tem 17 anos, é da base de Xerém e já está vendido pelo Fluminense, afundado em dívidas e crise política. O Watford pagou cerca de 45 milhões de reais.

Uma bagatela a julgar pelo que o menino fez até agora. Sete gols em dez jogos no profissional. Mais que Ronaldo Fenômeno e Neymar. Nove finalizações, todas certas, em 216 minutos em campo. Mais duas assistências. Salvou o time na Copa do Brasil contra o Cruzeiro que sofreu no Brasileiro com dois gols do atacante rápido, inteligente e de incrível destreza nas finalizações.

O Atlético Nacional de Barcos e comandado por Paulo Autuori penou ainda mais. Na estreia como titular, João Pedro teve 11 minutos de Romário: dois gols, um de cabeça aproveitando os 1,86 m de quem esticou rápido e outro tocando por cima do goleiro, mais o cruzamento preciso da esquerda para Luciano testar para as redes. Eficiência máxima. Um primeiro tempo fenomenal com mais uma bola na rede, fechando os 4 a 1 no Maracanã. Na segunda etapa ainda teve mais uma chance em jogada individual. Cinco finalizações, três gols. Espetáculo que deixa o Flu mais próximo das oitavas da Copa Sul-Americana.

Playground do menino que brinca, dança e se diverte. Mas já vai embora. Em 2020, com 18 anos, já estará na Premier League. Como Gabriel Jesus pelo Manchester City e Richarlison no Everton. Ou Vinícius Júnior em "La Liga" com a camisa do Real Madrid. E tantos outros que já foram ou ainda vão. Nossa dura sina é curti-los tão pouco por aqui e depois só na TV. Ou raramente em um estádio brasileiro com a camisa verde e amarela.

Faz parte do jogo. Do direito de trabalhar onde quiser, de garantir a família e a si mesmo em carreira tão curta e incerta. De fazer o time que o revelou ganhar mais 10% de uma venda futura com valor bem acima do pago pelo clube inglês, que terminou esta edição do campeonato nacional em 11º lugar. Nem precisa ser gigante para tomar o doce da nossa boca.

Que o Flu e sua torcida usufruam do jovem que tornou mais contundente o ataque do time de Fernando Diniz que antes ficava com a bola e sofria para traduzir o domínio no placar. Que todos aproveitem para olhar bem de perto um talento tipicamente nosso. Cada vez mais cedo tipo exportação.

Nas Laranjeiras, forma com Marcos Paulo, outro jovem talento, uma dupla tratada como "Casal 20". Lembrando Washington e Assis, protagonistas no tricampeonato carioca de 1983 a 1985 e no título brasileiro de 1984. Atacantes que não foram formados no clube, mas atuaram com a camisa tricolor por anos – Assis de 1983 a 1987 e Washington, que chegou junto com o parceiro do Atlético Paranaense e ficou até 1989.

Marcos Paulo e João Pedro não devem durar duas temporadas no profissional do Flu. Vão brincar em áreas de lazer mais sofisticadas. Para o mundo aplaudir. Sinal dos tempos.

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Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.