A aula de compactação do Bahia de Roger Machado que matou o São Paulo
André Rocha
30/05/2019 08h22
No contragolpe que decidiu o jogo na Arena Fonte Nova e a classificação do Bahia para as quartas de final da Copa do Brasil, Artur disparou contra a defesa exposta do São Paulo e serviu Ernando. Zagueiro que apareceu na frente para tocar na saída de Tiago Volpi.
O defensor finalizando como centroavante foi a consequência do grande mérito do time de Roger Machado nos 180 minutos das oitavas do mata-mata nacional: a compactação. Para atacar e defender, na execução do 4-1-4-1. As linhas ficavam tão próximas que a distância entre Ernando e Gilberto, a referência no ataque, era de, no máximo, 30 metros.
A destacar o trabalho dos ponteiros: Artur e Elber jogaram de uma linha de fundo à outra com inteligência, bom posicionamento e intensidade. Em vários momentos recuando como laterais e formando uma barreira de seis jogadores protegendo a meta do goleiro Douglas Friedrich. Permitindo que Nino Paraíba e Moisés ficassem mais próximos de Ernando e Lucas Fonseca estreitando a marcação por dentro e impedindo as infiltrações são-paulinas pelo "funil".
Elber cansou e deu lugar a Arhur Caike. Artur, ex-Londrina e Palmeiras, suportou o ritmo jogando de área a área durante os noventa minutos. Com o terceiro passe para gol é um dos líderes de assistências no torneio. Foi o melhor em campo na Fonte Nova.
Bahia posicionado no 4-1-4-1, mas com os ponteiros Artur e Elber voltando quase na linha de defesa para estreitar a marcação por dentro e também negar amplitude ao São Paulo. Gilberto, o atacante de referência, voltava até o campo de defesa para garantir a compactação, mas sem abrir mão de jogar (reprodução Sportv).
Retranca? Longe disso. No início do jogo, aproveitando a torcida quente, o Bahia adiantou a marcação e foi compacto na frente, dificultando a saída do adversário e pressionando. Na segunda etapa, administrando a vantagem construída no Morumbi com gol de Elber, um posicionamento mais conservador.
Natural pela diferença de capacidade de investimento, porém sempre com contra-ataque planejado. Nunca abrindo mão de jogar. Teve 34% de posse no jogo de volta, mas concluiu nove vezes, quatro na direção da meta de Tiago Volpi. Sempre pareceu mais perto da vitória.
O São Paulo de Cuca sofre com vários problemas no trabalho coletivo, sendo o maior a dificuldade de criar espaços no campo adversário. Em Salvador, o chute mais perigoso foi o de Helinho, de longe que bateu forte no travessão de Douglas. A melhor entre as 12 finalizações, oito no alvo. Em 270 minutos contra o Bahia, incluindo o empate sem gols pelo Brasileiro, nenhuma bola nas redes adversárias.
Além da falta de confiança de um time há muito tempo sem títulos existe uma dificuldade técnico-tática: Helinho, Everton, Toró, Pato, Hernanes, Nenê, Igor Gomes, Tche Tche…Jogar instalado no campo do oponente não é a deles. Precisam das brechas cedidas pelo adversário para jogar.
Tudo que o Bahia de Roger negou no confronto. Foi uma aula de compactação que matou o rival mais poderoso. De um time que sabe o que faz em campo e, com justiça, está entre os oito classificados na Copa do Brasil.
(Estatísticas: Footstats)
Sobre o Autor
André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com
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O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.