Guarde bem o desempenho do seu time hoje para cobrar na volta
André Rocha
12/06/2019 06h02
Chegamos à nona e última rodada do Brasileirão antes da parada para a Copa América. O fim de uma primeira parte da competição por pontos corridos. Em 2018 foram 12 jogos antes do Mundial na Rússia. É clichê, mas com muito fundo de verdade, dizer que é outro campeonato.
Mas nem tanto, já que, a menos que aconteça uma revolução de gestão nunca vista ou o surgimento de um mecenas, a capacidade de investimento será a mesma. Com contratos em vigor, a total reformulação do elenco também seria inviável.
Então a expectativa fica em cima da capacidade dos treinadores – os com respaldo, os que assumem agora e até os "prestigiados" – de aproveitar os quase 30 dias de trabalho para extrair mais de suas equipes. Sem a sequência de dois jogos por semana, normalmente por campeonatos diferentes. Algo que cria a nefasta sequência folga- recuperação-viagem ou um mísero treino- jogo. Sim, os profissionais já sabem que essa é a realidade e não pode servir de bengala, mas é um obstáculo quase intransponível ao bom rendimento a médio/longo prazo.
Eis o ponto. De tão acostumados a essa rotina, alguns comandantes passam a depender dessa falta de treinos para usar o diálogo e a mobilização como grandes virtudes. Usando e abusando da adrenalina de "todo jogo é decisão" para trabalhar a força mental dos atletas. Só que na hora da parada para criar e exercitar comportamentos e padrões coletivos, sem um desafio palpável no horizonte…falta conteúdo.
Por outro lado, o técnico atualizado, mas sem timing e um mínimo de carisma para manter os jogadores concentrados, pode se tornar enfadonho e a convivência nesses dias sem partidas quase insuportável. E aí o time entraria desgastado emocionalmente mesmo sem o corpo extenuado pelo calendário inchado. O futebol, de fato, é complexo – com o perdão do novo clichê.
Por tudo isso, guarde bem o desempenho do seu time de coração hoje para cobrar na volta. Com jogos encavalados pela longa pausa e a agenda que paga o preço dos quase quatro meses de estaduais. Mas é obrigatório apresentar algo melhor em campo. Mais qualidade e intensidade, ao menos no início. Desempenho que tenha como consequência bons resultados, principalmente dos que contam com potencial no elenco para jogar mais.
Fique atento e exija que o tempo, artigo tão raro no futebol brasileiro, seja bem aproveitado.
Sobre o Autor
André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com
Sobre o Blog
O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.