Grêmio sabe que jogo grande não aceita desaforo. O Fla precisa aprender
André Rocha
03/10/2019 00h11
Jogo grande é para matar no período de domínio. Se puder resolver um confronto mata-mata já na primeira partida, melhor. O Flamengo jogou na Arena em Porto Alegre para definir a vaga na final da Libertadores, mas falhou nos detalhes.
Desde o tolo e desnecessário empurrão de Gabriel Barbosa em Kannemann no lance do gol bem anulado de Everton Ribeiro, passando pelas oportunidades desperdiçadas quando o Grêmio baixou a guarda nos dois tempos, incluindo os gols anulados do camisa nove por impedimentos milimétricos. Até a lenta recomposição, com os jogadores preocupados com Filipe Luís caído e, no setor do lateral contundido, Everton infiltrou e serviu Pepê no gol de empate do Grêmio.
Duro golpe para mais uma atuação sólida do melhor time do país, embora o elenco não mantenha o nível e desgaste além da conta os titulares. Muita consciência e inteligência para gerar jogo, com movimentação criando linhas de passe e técnica na circulação da bola desde os zagueiros Rodrigo Caio e Pablo Marí. O gol foi um primor: bela troca de passes até Gerson entrar no espaço certo, servir Arrascaeta e o cruzamento perfeito do uruguaio achar Bruno Henrique, que ganhou no alto de Rafael Galhardo.
É claro que os desfalques gremistas facilitaram o trabalho da equipe de Jorge Jesus e minaram as forças do time de Renato Gaúcho. Pedro Geromel faz falta por ser o contraponto à eletricidade de Kannemann. Também poderia acalmar Paulo Victor, que parecia em pânico na primeira etapa.
Jean Pyerre também foi ausência sentida, já que Luan acabou sobrecarregando Matheus Henrique no meio-campo. O camisa sete, craque do título continental em 2017, só apareceu no belo passe para Everton obrigar Diego Alves a uma fantástica defesa no segundo tempo. Maicon entrou no segundo tempo e, com a consciência habitual, achou Everton no gol de empate.
Foram dez finalizações para cada lado, três a dois no alvo a favor do time gaúcho. Mas não é absurdo afirmar que o Flamengo, que teve 58% de posse, dominou 2/3 da ida da semifinal e é o favorito natural para a volta no Maracanã. Até porque já começa a partida classificado. Mas tem 21 dias, três semanas, para aprender definitivamente que jogo grande não aceita desaforo.
O Grêmio "copero y peleador" sabe bem e vai aproveitar o lucro do empate para juntar os cacos, recuperar contundidos e chegar mais inteiro ao Rio de Janeiro. Com a moral de eliminar o Palmeiras no Pacaembu vai buscar outro feito que parece improvável. Mas nos detalhes que conhece melhor que o rival as chances de ser imortal mais uma vez aumentam bastante.
O Flamengo tem talento, o Grêmio tem o "know-how". O Maracanã vai testemunhar o duelo final.
(Estatísticas: Footstats)
Sobre o Autor
André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com
Sobre o Blog
O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.