Por que Gareth Bale é um "patinho feio" no Real Madrid?
André Rocha
29/10/2019 07h38
Gareth Bale chegou ao Real Madrid em 2013 com a pompa da contratação mais cara da história na época: cerca 101 milhões de euros. Mas também questionamentos sobre a qualidade do atacante vindo do Tottenham que justificasse tamanho investimento. Inclusive este que escreve chegou a chamá-lo de "Sávio galês", em referência ao repertório que parecia limitado a cortar para fora pela esquerda e cruzar ou para dentro à direita e finalizar, como era o do ex-jogador do Flamengo e do próprio Real, que evoluiu tecnicamente mais na reta final da carreira.
Bale mostrou que era muito mais que isso e na primeira temporada ajudou o time merengue a conquistar a tão sonhada "La Decima". Pela direita deu a liga à variação do 4-3-3 para o 4-4-2 de Carlo Ancelotti, fazendo função dupla, indo e voltando para dar liberdade a Cristiano Ronaldo do lado oposto. Marcou o gol do título da Copa do Rei em arrancada espetacular de "jogador mais rápido do mundo" e fez também o da virada, na prorrogação, sobre o Atlético de Madrid na final da Liga dos Campeões 2013/14.
Rafa Benítez sucedeu o treinador italiano e tentou adaptar Bale como meia central em um 4-2-3-1. O camisa onze até marcou alguns gols, não se saiu mal. Mas a equipe não se acertou e Zinedine Zidane chegou para apaziguar os ânimos no início de 2015 e resgatar ideias de Ancelotti, já que havia sido seu auxiliar. Mas Isco acabou crescendo e contribuindo na ligação do meio-campo com o ataque e o francês acabou mudando o sistema tático para uma espécie de 4-3-1-2 "móvel". Bale virou o reserva imediato da dupla de ataque formada por Benzema e Cristiano Ronaldo.
É dever ressaltar que entre 2013 e 2018, Bale teve 25 lesões que o tiraram de 78 jogos do Real. Não é pouco. Mas quando esteve em campo quase sempre foi importante, como no gol antológico na final da Champions em 2018 sobre o Liverpool que sacramentou o inédito tricampeonato no fim do ciclo vitorioso de uma equipe lendária.
Com a saída de Cristiano Ronaldo, a expectativa era pelo protagonismo de Bale. Ele até foi o melhor jogador e artilheiro da última conquista relevante, o Mundial de Clubes no ano passado. Mas com a volta de Zidane e as chegadas de Hazard, Jovic e Rodrygo, além do retorno de James Rodríguez, o atacante volta a ser relegado a segundo plano. As informações de bastidores da imprensa espanhola é que o treinador mal se dirige a Bale e surgem novos rumores, agora mais fortes, de saída.
"Marca" e "As" dão como certa uma transferência do atleta de 30 anos já em janeiro, na janela de inverno. Na melhor das hipóteses, um retorno ao futebol inglês. Se não der certo, o mercado chinês parece mais atraente em termos financeiros. Apesar das cifras milionárias é jogador ainda com potencial para entregar desempenho em alto nível.
Difícil é compreender por que o Real Madrid descarta um atacante com 14 títulos em cinco temporadas e meia. Quatro Champions marcando gols em duas decisões e na semifinal de 2015/16 contra o Manchester, o único no placar agregado. Em 238 jogos, marcou 104 gols e serviu 64 assistências. Sim, o tempo passa para todos. Mas soa como ingratidão do clube.
Entre tantos astros que passaram pelo Santiago Bernabéu e até hoje são tratados como grandes ídolos mesmo sem ter entregado grandes conquistas, Bale é um jogador cuja chegada pode ser tratada como divisor de águas na história do clube mais vencedor do planeta. Agora a tendência é sair pela porta dos fundos, como "patinho feio". Vai entender…
Sobre o Autor
André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com
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O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.