Trabalho de Ceni no Fortaleza supera os "feitos" de Renato Gaúcho em 2019
André Rocha
02/12/2019 06h56
Depois dos 3 a 0 sobre o São Paulo em Porto Alegre que garantiram o Grêmio novamente na fase de grupos da Libertadores, Renato Gaúcho voltou a exaltar a campanha do time gaúcho em 2019.
– O ano do Grêmio foi maravilhoso. Poderíamos ter vencido mais? Sim, poderíamos. Mas quantos clubes ganharam algo além do estadual? O Flamengo gastou R$ 200 milhões, e ainda foi eliminado pelo Athletico. Teve clube que gastou muito e está fora do G-6, ressaltou o treinador.
Pela enésima vez, citou os gastos do Flamengo. Mais uma prova de que ainda não entendeu o que o atingiu em três vitórias, uma por 5 a 0, e um empate no qual foi dominado em dois terços da partida. E por mais um ano coloca título estadual e vaga na Libertadores como grandes feitos.
Sem dúvida não são desprezíveis e superam os de muitos outros grandes clubes no país, como São Paulo, Corinthians e o rival Internacional. Mas para quem durante quase todo ano encheu a boca para dizer que seu time jogava "o melhor futebol do Brasil", repetir as conquistas de 2018, excluindo a Recopa Sul-Americana que disputou e venceu no ano passado, não deixa de ser uma decepção. Ou passar uma imagem de estagnação.
E há um trabalho que, pelo contexto, está acima do realizado por Renato e só fica abaixo de Flamengo e Athletico na temporada:
Rogério Ceni em 2019 venceu o estadual, a Copa do Nordeste e agora, mesmo com um hiato na mal sucedida passagem pelo Cruzeiro, coloca o Fortaleza na Sul-Americana, primeira competição internacional do time cearense. Ainda com chances, embora remotas, de alcançar a última vaga das fases preliminares da Libertadores dentro do G-8 – precisa tirar quatro pontos do Corinthians em duas rodadas.
Poderia estar mais próximo, considerando o aproveitamento do Fortaleza apenas sob o comando de Ceni: 48,9%. Acima dos 45,4% da campanha geral e pouco abaixo dos 49,1% do Corinthians. Foram 28 jogos, com 12 vitórias, cinco empates e 11 derrotas. 39 gols a favor, 37 contra.
E não é absurdo dizer que a passagem relâmpago por Belo Horizonte comandando o Cruzeiro por sete partidas fez bem ao treinador na volta a Fortaleza. Até a 13ª rodada, o aproveitamento era de apenas 36%. Foram quatro vitórias, dois empates e sete derrotas. Marcou 14 gols, sofreu 20. Voltou na 22ª e até aqui acumulou oito vitórias, empatou três e perdeu quatro. Foi às redes 25 vezes, levou 17 gols. Faturou 60% dos pontos disputados.
Os números refletem a evolução da equipe e o amadurecimento de Rogerio, que mantém a proposta agressiva, especialmente no Castelão, mas também sabe jogar em rápidas transições ofensivas. Como as que surpreenderam o também "emergente" Goiás no Serra Dourada. Vitória por 2 a 1, gols de Bruno Melo e Osvaldo. O ponteiro que acelera com Edinho pelos flancos, Wellington Paulista ou Kieza na referência e Romarinho se aproximando.
Se a meta era manter o Fortaleza na Série A, Ceni a superou. E ainda entrega dois troféus importantes, que afirmam a equipe como a melhor do Nordeste. Não é pouco. E o feito merece um maior reconhecimento. Inclusive de Renato Gaúcho, que adora relacionar resultados com orçamentos. Se for assim, Ceni gastou menos e conquistou mais que o técnico do Grêmio em 2019.
Sobre o Autor
André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com
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O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.