Topo

André Rocha

A vitória mais emblemática do Vasco na sequência invicta contra o Flamengo

André Rocha

24/04/2016 21h56

O Vasco começou a ganhar o clássico em Manaus que amplia a invencibilidade desde 2015 para 22 jogos e contra o rival para nove, além de se consolidar como o melhor e mais ajustado time carioca quando Jorginho preservou a estrutura e a filosofia de sua equipe. Mesmo precisando apenas de um empate para chegar à decisão.

Diguinho na vaga de Marcelo Mattos para manter o 4-3-1-2 que varia quando Jorge Henrique volta pelo lado formando uma segunda linha de quatro e Nenê fica mais adiantado, próximo de Riascos. O volante manteve o nível da proteção à defesa e da saída de bola.

Flagrante do Vasco fechado em duas linhas de quatro quando Jorge Henrique recua pela esquerda e libera Nenê para ficar mais próximo de Riascos (reprodução Premiere).

Flagrante do Vasco fechado em duas linhas de quatro quando Jorge Henrique recua pela esquerda e libera Nenê para ficar mais próximo de Riascos (reprodução Premiere).

A estratégia era bloquear a saída de Cuéllar e acelerar a transição ofensiva para explorar a retaguarda lenta e exposta do rival.

Tudo ficou mais fácil porque o time rubro-negro não se preparou para a ausência de Juan. Nem contratou um zagueiro mais rápido e técnico, adequado à proposta de jogo, em tese, planejada. Nem deu minutos ao jovem e promissor Léo Duarte. Jogou César Martins, de atuações trágicas desde o ano passado.

Pior ainda foi Muricy Ramalho jogar no lixo qualquer vestígio de filosofia do Barcelona tão decantada na pré-temporada ao trocar um jogador de passe e posse como Alan Patrick por Gabriel. Precisando criar espaços no sistema defensivo mais sólido da competição e ficar com a bola para proteger a defesa desfalcada.

O motivo: Mancuello ficaria muito aberto e teria que voltar com Jorge na recomposição. Desprezo à criatividade para apostar no velocista pelo flanco. Pouco inteligente para quem só podia vencer.

Resultado prático: o Flamengo até trocava passes, acelerava pelos lados, especialmente o direito com Rodinei e definia a jogada com um cruzamento – foram 21 nos noventa minutos. Ainda assim chegou a assustar Martín Silva, porém faltou a conclusão precisa, a chance cristalina. Na bola perdida a saída vascaína era em altíssima velocidade, aproveitando os vacilos do Fla na pressão sobre o homem da bola e na compactação.

E Riascos começou a se destacar. Primeiro driblando Cuéllar e cruzando da direita para Nenê emendar bonito, mas para fora. Quando o atacante colombiano procurou o lado oposto e encontrou César Martins, saiu a mais bela jogada do clássico: seqüência de dribles humilhantes, cruzamento para Wallace salvar duas vezes o gol de Nenê, mas cortar mal e Andrezinho aproveitar.

No final, um chutão de Luan encontrou Jorge Henrique, que também limpou com facilidade César Martins e serviu Nenê. Era para chutar, mas o camisa dez preferiu oferecer a Riascos, que se atrapalhou.

No 4-3-3 com Gabriel pela esquerda e Mancuello no meio, o Fla acelerou pelos lados, especialmente à direita com Rodinei. Faltou a jogada mais lúcida e a chance cristalina (Tactical Pad).

No 4-3-3 com Gabriel pela esquerda e Mancuello no meio, o Fla acelerou pelos lados, especialmente à direita com Rodinei. Faltou a jogada mais lúcida e a chance cristalina (Tactical Pad).

Muricy tentou corrigir o erro da formação inicial depois do intervalo com Alan Patrick no lugar de Gabriel. Mas o cenário era totalmente favorável ao Vasco. Além disso, abrir Mancuello à esquerda é pouco inteligente.

O argentino seria mais útil como um ponta armador, fazendo a diagonal para se juntar a Alan Patrick para articular, abrindo o corredor para Jorge e deixando o espaço para Guerrero procurar o lado esquerdo, como fazia no melhor momento do peruano no futebol brasileiro: o Corinthians de Mano Menezes no Brasileiro de 2014.

O Vasco recolheu linhas, empilhou contragolpes. Ampliou no chute de Riascos que Paulo Victor defendeu e Wallace marcou contra. A arbitragem deu para o camisa nove, oitavo gol no Carioca. Fase iluminada, mesmo complicando alguns ataques com suas muitas limitações técnicas.

O contraste com Guerrero, que tenta e é mais jogador. Só não funciona. Responsabilidade dele quando a bola chega e não resolve. Mas é outra vítima de um time descoordenado, sem jogo de apoio. Pior: sem confiança alguma nos duelos contra os cruzmaltinos. Virou freguês.

Jorginho trocou Diguinho por Yago Pikachu, que foi jogar à direita e Julio dos Santos centralizou com Andrezinho. Nenhum volante de marcação, linhas compactas, saída qualificada. Uma aula de administração de vantagem sem precisar encher o time de "cães de guarda".

O Fla, mesmo com Alan Patrick expulso nos minutos finais, teve 58% de posse, finalizou 14 vezes, mas apenas quatro no alvo contra cinco de nove do rival. Eficiência do atual campeão na vitória mais emblemática desta sequência invicta.

O Vasco é favorito ao bi contra o Botafogo do trabalho espetacular de Ricardo Gomes. Novamente os aliados da FERJ na decisão. Mas com méritos. Os mais regulares vão decidir o Carioca no Maracanã.

(Estatísticas: Footstats)

Sobre o Autor

André Rocha é jornalista, carioca e blogueiro do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Entender de tática e estratégia é (ou deveria ser) premissa, e não a diferença, para qualquer um que trabalha com o esporte. Contato: anunesrocha@gmail.com

Sobre o Blog

O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte.