copadorei – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Dezoito dias, quatro jogos. O maior evento esportivo do século 21 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/27/dezoito-dias-quatro-jogos-o-maior-evento-esportivo-do-seculo-21/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/27/dezoito-dias-quatro-jogos-o-maior-evento-esportivo-do-seculo-21/#respond Mon, 27 Apr 2020 12:18:08 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8390

Foto: AP

Os dois maiores times do mundo e grandes rivais do mesmo país. Com os dois melhores treinadores e os dois grandes craques do planeta com forte antagonismo. Decidindo liga e copa nacionais e ainda uma vaga em final continental. Tudo isso em menos de um mês. Dezoito dias, para ser mais preciso.

Um sonho para qualquer fã de futebol, não? Pois é, aconteceu há nove anos. E como o ápice no duelo mais marcante em um dia 27 de abril como hoje.

Barcelona e Real Madrid. Pep Guardiola versus José Mourinho. Lionel Messi contra Cristiano Ronaldo. Em 16 de abril no jogo mais importante do campeonato por pontos corridos, quatro dias depois decidindo a Copa do Rei. Nos dias 27 de abril e três de maio, definindo uma vaga na decisão da Liga dos Campeões contra o Manchester United.

Para aumentar o fogo da panela de pressão, em novembro o Barça havia enfiado 5×0 no Camp Nou. A “maneta” humilhante que mostrou para Mourinho que, mesmo com elenco estelar, não era possível encarar de peito aberto a equipe de Guardiola. Como fizera com a Internazionale da tríplice coroa na temporada anterior em Milão, no San Siro: vitória por 3 a 1 em disputa equilibrada.

A receita para o próximo encontro era encontrar um meio termo entre a proposta corajosa em casa e a retranca “handebol” do time italiano depois que perdeu Thiago Motta no jogo de volta em Barcelona e administrou a derrota por 1 a 0 que garantiu vaga aos neroazzurri na decisão da Champions 2009/10.

O problema era enfrentar o time catalão em sua melhor versão. No 4-3-3 e com o jogo posicional que tinha o comando de Xavi Hernández e o ponto de desequilíbrio com Messi voando na função de “falso nove” totalmente assimilada e destruindo os adversários nas entrelinhas, entre a defesa e o meio-campo. Quem marcaria o gênio argentino: os volantes ou os zagueiros?

Mourinho definiu que um jogador ocuparia esse espaço e o negaria ao craque do rival. Primeiro foi Pepe, depois Xabi Alonso. Quem não preenchesse a “zona Messi” fecharia com Khedira por dentro a linha de quatro no 4-1-4-1 compacto que tinha Ozil e Di María pelas pontas e Cristiano Ronaldo na frente.

Mas o treinador português sabia que não bastava o duelo técnico e tático. Os “jogos mentais” seriam muito necessários para desestabilizar o outro lado. Provocações antes e durante as partidas tensas, com momentos de violência no jogo e fora dele. Entre atletas e comissões técnicas, Uma guerra.

Apesar da surpresa com a mudança radical de estratégia do rival, o Barcelona se deu melhor no primeiro duelo: empate por 1 a 1 no Santiago Bernabéu, gols de pênalti de Messi e Cristiano Ronaldo, na partida que manteve os oito pontos de vantagem e encaminhou o tricampeonato de La Liga. Resultado comemorado, mesmo sem conseguir manter a vantagem no placar e numérica depois da expulsão do zagueiro Albiol na penalidade máxima cometida sobre Villa.

No entanto, a única partida valendo taça ao final da disputa foi vencida pelo Real Madrid. Na prorrogação, a Copa do Rei em Valencia, no Estádio Mestalla. Gol de Cristiano Ronaldo completando de cabeça um cruzamento de Di María pela esquerda.

Com o time branco incomodando ainda mais o rival com coragem, objetividade nas ações ofensivas e uma entrega absoluta sem a bola. Concentração total e resiliência para buscar a vitória, mesmo com a consciência de que não teria mais que 35% de posse no jogo. Faturando um título depois de três anos. O primeiro decidido por Cristiano Ronaldo em sua mítica passagem por Madri.

Tudo isso foi levado para a disputa mais importante, pela Champions. A ida no Bernabéu, há exatos nove anos, foi novamente muito nervosa. Aditivada por novas provocações de Mourinho que Guardiola prometeu responder no campo.

A solução de Pep foi proteger mais a bola e a defesa. Com Puyol improvisado na lateral esquerda e Keita entregando mais vigor físico no meio-campo. Também invertendo os ponteiros, com Villa à direita para cima de Marcelo e Pedro pela esquerda contra Arbeloa. O Real tinha Lass Diarra na vaga de Khedira no meio-campo, com Alonso fazendo o papel de negar a entrelinha a Messi e Pepe fazendo a função de meia por dentro à esquerda. Mais dinâmica na marcação, menos qualidade nas transições ofensivas.

O duelo mais importante, pela Liga dos Campeões no Bernabéu, teve o Barcelona no 4-3-3 com Puyol na lateral esquerda, Keita no meio-campo e inicialmente ponteiros invertidos – Villa à direita, Pedro pela esquerda. Mais posse e cuidados defensivos contra o Real no 4-1-4-1 de Mourinho, mas com Xabi Alonso entre as linhas vigiando Messi e a melhor saída pela esquerda, com Di María e Marcelo (Tactical Pad).

O escape de Mourinho de novo era o lado esquerdo com Marcelo fazendo Villa voltar para ajudar sem bola e Di María incomodando Daniel Alves. O lateral, que nunca teve a marcação como grande virtude, teve problemas e exagerou nas faltas. Até demorou a levar o cartão amarelo. E o pau quebrou também na saída para o vestiário, com o goleiro reserva do Barça, Pinto, dando um tapa no rosto de Arbeloa e jogadores e membros das comissões participando da briga.

A tensão seguiu no segundo tempo até a expulsão de Pepe pela entrada, no mínimo, imprudente em Daniel Alves. Força desproporcional que rendeu o cartão vermelho e o domínio do Barcelona sobre um Real que tinha voltado melhor no segundo tempo com Adebayor na vaga de Ozil. E Cristiano Ronaldo sempre dando trabalho para o goleiro Victor Valdés.

Com um a mais e o Real também sem Mourinho, expulso de tanto reclamar da arbitragem, a posse e a movimentação da equipe de Guardiola enfim encontraram espaços para acionar Messi.  Affelay entrou na vaga de Pedro, que havia voltado ao setor direito. Por ali o holandês com a camisa vinte aproveitou falha de Marcelo e cruzou para Messi abrir o placar.

O golpe final veio na arrancada irresistível do argentino passando por Diarra, Sergio Ramos, Albiol e Marcelo antes de tocar na saída de Casillas. Gol antológico que praticamente sacramentou a vaga na final europeia, confirmada com o empate por 1 a 1 no Camp Nou – gols de Pedro e Marcelo. O último e menos memorável dos quatro duelos históricos. O Barça venceria a Champions novamente contra o United, repetindo 2008/09. Desta vez com triunfo maiúsculo por 3 a 1 em Wembley. O grande recital do “Pep Team”.

Mas nada foi maior que aquela sequência de superclássicos. No esporte no século 21. Nem as Copas do Mundo ou Jogos Olímpicos. O mundo parou para ver o grande embate, o clássico ficou ainda maior com o passar dos anos, assim como o protagonismo de Messi e Cristiano Ronaldo.

Em tempos de bola parada pela pandemia, a saudade só aumenta.

]]>
0
Por que Gareth Bale é um “patinho feio” no Real Madrid? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/29/por-que-gareth-bale-e-um-patinho-feio-no-real-madrid/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/29/por-que-gareth-bale-e-um-patinho-feio-no-real-madrid/#respond Tue, 29 Oct 2019 10:38:56 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7502

Foto: Laurence Griffiths / Getty Images

Gareth Bale chegou ao Real Madrid em 2013 com a pompa da contratação mais cara da história na época: cerca 101 milhões de euros. Mas também questionamentos sobre a qualidade do atacante vindo do Tottenham que justificasse tamanho investimento. Inclusive este que escreve chegou a chamá-lo de “Sávio galês”, em referência ao repertório que parecia limitado a cortar para fora pela esquerda e cruzar ou para dentro à direita e finalizar, como era o do ex-jogador do Flamengo e do próprio Real, que evoluiu tecnicamente mais na reta final da carreira.

Bale mostrou que era muito mais que isso e na primeira temporada ajudou o time merengue a conquistar a tão sonhada “La Decima”. Pela direita deu a liga à variação do 4-3-3 para o 4-4-2 de Carlo Ancelotti, fazendo função dupla, indo e voltando para dar liberdade a Cristiano Ronaldo do lado oposto. Marcou o gol do título da Copa do Rei em arrancada espetacular de “jogador mais rápido do mundo” e fez também o da virada, na prorrogação, sobre o Atlético de Madrid na final da Liga dos Campeões 2013/14.

Rafa Benítez sucedeu o treinador italiano e tentou adaptar Bale como meia central em um 4-2-3-1. O camisa onze até marcou alguns gols, não se saiu mal. Mas a equipe não se acertou e Zinedine Zidane chegou para apaziguar os ânimos no início de 2015 e resgatar ideias de Ancelotti, já que havia sido seu auxiliar. Mas Isco acabou crescendo e contribuindo na ligação do meio-campo com o ataque e o francês acabou mudando o sistema tático para uma espécie de 4-3-1-2 “móvel”. Bale virou o reserva imediato da dupla de ataque formada por Benzema e Cristiano Ronaldo.

É dever ressaltar que entre 2013 e 2018, Bale teve 25 lesões que o tiraram de 78 jogos do Real. Não é pouco. Mas quando esteve em campo quase sempre foi importante, como no gol antológico na final da Champions em 2018 sobre o Liverpool que sacramentou o inédito tricampeonato no fim do ciclo vitorioso de uma equipe lendária.

Com a saída de Cristiano Ronaldo, a expectativa era pelo protagonismo de Bale. Ele até foi o melhor jogador e artilheiro da última conquista relevante, o Mundial de Clubes no ano passado. Mas com a volta de Zidane e as chegadas de Hazard, Jovic e Rodrygo, além do retorno de James Rodríguez, o atacante volta a ser relegado a segundo plano. As informações de bastidores da imprensa espanhola é que o treinador mal se dirige a Bale e surgem novos rumores, agora mais fortes, de saída.

“Marca” e “As” dão como certa uma transferência do atleta de 30 anos já em janeiro, na janela de inverno. Na melhor das hipóteses, um retorno ao futebol inglês. Se não der certo,  o mercado chinês parece mais atraente em termos financeiros. Apesar das cifras milionárias é jogador ainda com potencial para entregar desempenho em alto nível.

Difícil é compreender por que o Real Madrid descarta um atacante com 14 títulos em cinco temporadas e meia. Quatro Champions marcando gols em duas decisões e na semifinal de 2015/16 contra o Manchester, o único no placar agregado. Em 238 jogos, marcou 104 gols e serviu 64 assistências. Sim, o tempo passa para todos. Mas soa como ingratidão do clube.

Entre tantos astros que passaram pelo Santiago Bernabéu e até hoje são tratados como grandes ídolos mesmo sem ter entregado grandes conquistas, Bale é um jogador cuja chegada pode ser tratada como divisor de águas na história do clube mais vencedor do planeta. Agora a tendência é sair pela porta dos fundos, como “patinho feio”. Vai entender…

 

 

]]>
0
A sombra da Champions no discurso de Messi em Barcelona http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/05/a-sombra-da-champions-no-discurso-de-messi-em-barcelona/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/08/05/a-sombra-da-champions-no-discurso-de-messi-em-barcelona/#respond Mon, 05 Aug 2019 09:49:12 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6998

Foto: Albert Gea/Reuters

Messi foi ao microfone no Camp Nou com quase 100 mil presentes antes da vitória por 2 a 1 sobre o Arsenal pelo Troféu Joan Gamper. Um discurso do grande ídolo para a torcida no estádio, em Barcelona e no mundo globalizado. Saudável, mas as palavras novamente refletiram o dilema que vive o clube desde 2015. Vale destacar os principais trechos:

“A verdade é que é difícil dizer algo hoje, depois da temporada passada. Mas eu não me arrependo de nada”. Realmente não é caso de arrependimento a dedicação à liga espanhola. O simbolismo de um time catalão dominar o campeonato é enorme. Questão de cultura, história.

Messi deixa isso claro em outro trecho de sua fala: “Creio que temos de dar valor à Liga que conquistamos, a oitava em 11 anos. Para qualquer clube, isto seria algo grandioso. Para esse clube também é muito importante. Talvez nós não estejamos dando a este feito o valor que merece, mas daqui a alguns anos entenderemos o quão difícil é fazer isso.”

Não há dúvida. Mesmo considerando que o grande rival Real Madrid historicamente prioriza a Liga dos Campeões, a superioridade do Barça é marcante. Como já dito neste blog, times dominantes com proposta de imposição de um estilo, dentro ou fora de casa, costumam se destacar nos campeonatos por pontos corridos. A regularidade de Messi em gols e assistências e a maneira com que intimida os adversários faz a equipe pontuar quase sempre e se manter no topo. Já há uma espécie de fórmula para levar a taça para a Catalunha.

A contradição, porém, acabou aparecendo nas palavras do gênio argentino: “A temporada passada, na verdade, terminou sendo um pouco amarga para todos nós pela forma como as coisas aconteceram”. Sim, a Champions e sua sombra. Depois de um 3 a 0 em casa, o duro revés para o Liverpool: 4 a 0 com uma falha juvenil no gol de Origi que decretou a eliminação. Golpe que acabou respingando na final da Copa do Rei, com a derrota para o Valencia.

A goleada sofrida em Anfield novamente deixou a impressão de um time com esgotamento físico e mental. Jordi Alba foi o símbolo, com uma atuação trágica que comprometeu o sistema defensivo e contribuiu pouco na frente. Porque se sacrificou durante toda a temporada sendo a única opção de profundidade pelos flancos. Jogando de uma linha de fundo à outra já aos 30 anos.

Antes da semifinal, o Barcelona deu um “sprint” para garantir logo o título espanhol. Válido, mas cobrou um preço alto. Quando os Reds comandados por Jurgen Klopp mostraram que deixariam tudo em campo e acreditavam na virada, o time de Ernesto Valverde baixou a guarda. Porque sabia que não teria forças para resistir.

A mesma sensação em Roma na temporada anterior. Os italianos impuseram um jogo físico e de intensidade máxima que desmontou o Barça e reverteu os 4 a 1 no Camp Nou com épicos 3 a 0. Porque na pretensão de ganhar o título espanhol invicto, Valverde administrou mal o elenco. Principalmente o “fominha” Messi. Quando a equipe mais precisou o maior jogador da história do clube novamente não teve pernas nem cabeça.

É preciso reaprender a jogar o principal torneio de clubes do planeta. O Barça se acostumou a enfrentar na Espanha oponentes que se entregam diante de sua força técnica e tática, mas também simbólica. Na Liga dos Campeões, Roma e Liverpool jogaram a vida em seus estádios. A lógica do agregado é diferente. Na competição nacional alguns times já fazem os cálculos sem contar com os pontos diante dos gigantes Barcelona e Real Madrid. A luta é menos intensa.

O mundo olha para o time catalão e para Messi e, pelo sarrafo alto criado por eles mesmos, não aceita só os títulos dentro da Espanha. Menos ainda com o tricampeonato continental dos merengues. Feito que rendeu prêmios individuais a Cristiano Ronaldo e Luka Modric. Mesmo com Messi bem acima nas estatísticas mais importantes. Simplesmente porque não basta.

Por isso, quando Messi encerra seu discurso afirmando que “este clube sempre luta por tudo” é possível compreender a mensagem de otimismo e esperança renovada para o torcedor. A missão institucional, digamos. Mas já passou da hora de priorizar realmente a Champions. Com um planejamento cuidadoso na gestão do elenco e aceitando correr riscos na liga. Sem deixar Messi e Alba no banco em algumas partidas e sempre recorrer a eles, aumentando os minutos da dupla na temporada porque é preciso vencer no Espanhol.

Chegou a hora de deixar a responsabilidade para jovens canteranos como Aleñá, Riqui Puig, Carles Pérez e Juan Miranda, caso este não vá para a Juventus. Mais Arthur e De Jong no meio-campo descansando Busquets e Rakitic. Messi também pode ser mais poupado, com Griezmann cumprindo a função de gerar jogo entrelinhas e Dembelé entrando na ponta.

E se perder a liga e a Copa do Rei, paciência. No “zeitgeist” do Barça não são mais a régua de medida da temporada. Melhor apostar tudo na Champions, mesmo com os riscos inerentes ao mata-mata. Inclusive um sorteio infeliz.

Para que o discurso de Messi em agosto de 2020 finalizado com o tradicional “Visca el Barça e Visca Catalunha” seja com sorriso largo, sem hesitações ou poréns. Mesmo com apenas um título. O mais importante.

]]>
0
Valencia campeão no centenário. Barcelona em clima de fim de festa http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/25/valencia-campeao-no-centenario-barcelona-em-clima-de-fim-de-festa/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/05/25/valencia-campeao-no-centenario-barcelona-em-clima-de-fim-de-festa/#respond Sat, 25 May 2019 21:19:13 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6591 O Barcelona tinha a bola no primeiro tempo da final da Copa do Rei no Benito Villamarín. Rodando, tocando, mas sem infiltração. Porque com as ausências de Dembelé e Luís Suárez, lesionados, o ataque perdeu presença de área e profundidade com Messi como “falso nove” e Sergi Roberto e Philippe Coutinho nas pontas.

O Valencia fazia o simples para a ocasião: compactava duas linhas de quatro, recuava Rodrigo Moreno no cerco a Busquets e estreitava a marcação. Jogadores muito concentrados sem a bola e atento às oportunidades para acelerar os contragolpes pelos flancos: à esquerda, Gayá recebeu passe longo de Gabriel Paulista e serviu Gameiro em um golaço. Depois Soler às costas de Jordi Alba servindo Rodrigo. 2 a 0 com menos de 30% de posse de bola.

Messi lutava sozinho porque Arthur e Rakitic não contribuíam por dentro e o time não encontrava o melhor espaço para acionar o gênio argentino. Melhorou com Vidal na vaga de Arthur, que vai precisar de um trabalho de resgate técnico e de confiança na seleção brasileira com Tite. E Malcom na vaga de Semedo, com Sergi Roberto recuando para a lateral.

Com o passar do tempo, a solução do “modo emergência” do Barça desde o lendário confronto com a Internazionale em 2010: Piqué abandona a zaga e vira centroavante. Apenas reforçando a carência tática e também de melhores opções que Kevin-Prince Boateng no ataque. Acabou diminuindo a desvantagem em finalização de Piqué defendida pelo goleiro e Messi conferindo no rebote. Gols do camisa dez em seis finais do torneio, mais um recorde na carreira. Mas não deu o penta ao Barça.

O clima é de fim de festa. O elenco deve ser reformulado e, de fato, é preciso. Mas Valverde precisa repensar algumas ideias e não depender tanto de Messi. Nem sacrificar Alba correndo de uma linha de fundo à outra durante toda a temporada. O time precisa de mais intensidade e vigor físico. Também força mental para jogos decisivos.

Para o Valencia, uma festa espetacular. Conquista improvável no ano do centenário, primeiro título da carreira e primeira vitória sobre o Barça do treinador Marcelino Toral. Todo simbolismo com o ídolo Parejo levantando a taça. Apesar dos problemas do time catalão, o feito é histórico.

]]>
0
Seleção e reta final da Champions: a hora da verdade para Lionel Messi http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/03/22/selecao-e-reta-final-da-champions-a-hora-da-verdade-para-lionel-messi/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/03/22/selecao-e-reta-final-da-champions-a-hora-da-verdade-para-lionel-messi/#respond Fri, 22 Mar 2019 13:02:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6199

Foto: Getty Images

Chega a ser comovente a tentativa dos fãs de Messi, incluindo jornalistas, de afirmar que o argentino já merece a Bola de Ouro pelo que fez até aqui na temporada 2018/19 com o Barcelona.

De fato, são 39 gols e 21 assistências em 37 jogos. Sem contar a magia de lances como o último gol nos 4 a 1 sobre o Real Bétis com um toque genial por cima do goleiro. A influência no jogo é nítida, incluindo passes que “limpam” o ataque, especialmente as inversões para Jordi Alba. Desempenho espetacular!

Mas é curioso notar essa “pressa” de seus admiradores justamente no momento em que se aproxima as quartas-de-final da Liga dos Campeões e Messi retorna à seleção argentina em amistoso contra a Venezuela hoje, sexta-feira, em Madrid, mas com uma competição oficial no horizonte: a Copa América, desta vez com sede no Brasil.

A etapa do principal torneio de clubes do mundo tem sido o teto do Barcelona desde o título em 2014/15. Eliminações para Atlético de Madrid, Juventus e Roma. Para os defensores do argentino, o time catalão não foi forte coletivamente para potencializar o talento de seu camisa dez. Mas quando Messi cumpre atuações espetaculares todos os louros vão para ele, com o futebol sendo tratado quase como um esporte individual.

Messi é um dos grandes jogadores da história. O melhor que este blogueiro viu jogar ao vivo desde 1981. Por isso a régua de medida para ele precisa estar lá em cima. No topo. O sarrafo não pode subir e descer de acordo com a conveniência do fã. Outra visão apaixonada e, por isto, um tanto míope é querer dissociar no mais alto nível o desempenho individual das conquistas coletivas.

Sempre foi assim e faz todo sentido. Ainda mais quando um jogador atinge o patamar dos grandes craques. Ronaldinho Gaúcho, por exemplo. Bola de Ouro em 2004 e 2005 e mudança no nível de cobrança. Expectativas no teto para que alcançasse o Olimpo na Copa do Mundo de 2006. Mesmo liderando o Barça no título da Champions, o desempenho decepcionante pela seleção brasileira na Alemanha tirou as chances de levar o prêmio, que foi para Fabio Cannavaro.

Pelé e Maradona não seriam os grandes da história sem as conquistas de Copas do Mundo. Michel Platini teve o ano mais premiado da carreira em 1984, justamente porque venceu a liga italiana, a melhor do mundo à época, e a Eurocopa como protagonista. Para ter o reconhecimento é preciso ganhar ao menos um dos títulos mais importantes da temporada.

La Liga e a Copa do Rei não são mais parâmetros para Lionel Messi. São sete títulos espanhois e seis da Copa nas últimas dez edições. Conquistas importantes, mas que pelo contexto dos nossos tempos ficam muito atrás da Champions. Cristiano Ronaldo ganhou as três últimas como artilheiro e protagonista e só não está com seis Bolas de Ouro porque a FIFA resolveu inventar Luka Modric melhor do mundo por um vice na Copa com a Croácia.

É assim que funciona e Messi precisa buscar a diferença. Tem que desequilibrar em jogos decisivos, compensar os problemas de sua equipe com o lance espetacular. É assim que os gênios fazem. Foram os feitos de Messi em 2009, 2011 e 2015. Em 2010 e 2012, sem um grande destaque individual nos títulos de Inter e Chelsea na Champions, acabou faturando a Bola de Ouro.

Pode acontecer de novo, se Cristiano Ronaldo não levar a Juventus ao título continental e a entidade máxima do nosso futebol não resolver premiar outra “surpresa”. Mas não vai tirar a impressão de que Messi está devendo. Protagonismo na Champions e na seleção principal que não vence nada desde 1993. Eis uma nova chance de reescrever a história.

Chegou a hora da verdade para Messi, aceitem ou não os seus fãs mais apaixonados.

 

]]>
0
Barcelona cirúrgico elimina Real “arame liso”, com Vinícius Jr. na gangorra http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/27/barcelona-cirurgico-elimina-real-arame-liso-com-vinicius-jr-na-gangorra/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/27/barcelona-cirurgico-elimina-real-arame-liso-com-vinicius-jr-na-gangorra/#respond Wed, 27 Feb 2019 21:55:32 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6036 O Real Madrid tinha um plano muito claro para o clássico no Santiago Bernabéu: aproveitar a “vantagem” do zero a zero, negar espaços a Messi e acelerar pelos flancos, com Lucas Vázquez pela direita e Vinícius Júnior com o suporte de Reguilón do lado oposto.

Executado quase à perfeição no primeiro tempo. Facilitado pelo Barcelona que tinha Sergi Roberto e Dembelé abertos, Suárez enfiado, Busquets e Rakitic muito presos e Messi sobrecarregado, com um espaço enorme entre as intermediárias para conduzir e sem apoio para buscar os espaços às costas de Casemiro.

Bola roubada, velocidade e chances seguidas desperdiçadas pelo time da casa. A mais clara com Benzema livre, à frente de Ter Stegen que salvou com grande intervenção. Mas Vinícius Júnior voltou a cometer erros técnicos básicos no acabamento das jogadas. Mesmo sendo um dos destaques da partida mostrando a habitual personalidade para criar jogadas em sequência pela ponta.

Uma gangorra ao longo do jogo. Tudo certo na construção, afobação na hora de definir em quatro chances. Na melhor oportunidade, não ajeitou o corpo para concluir. Algo para evoluir. Na segunda etapa, mesmas virtudes e erros. Um cruzamento na cabeça de Reguilón para outra grande defesa de Ter Stegen e uma linda jogada individual que Semedo desviou para salvar.

Saiu de campo com 3 a 0 contra. Como? Nas transições ofensivas demolidoras do Barça na segunda etapa. Mesmo sem grande evolução coletiva, mas com espaços de sobra para correr. De Alba para Dembele na esquerda e o passe para trás procurando Suárez. Depois Dembelé disparou pela direita e rolou para o gol contra de Varane evitando outro gol do atacante uruguaio. Com o rival tonto, o pênalti de Casemiro sofrido e convertido por Suárez, com direito a cavadinha. Decisivo, letal.

Mais impressionante pela atuação apenas discreta de Messi, sacrificado pelo jogo associativo insuficiente da equipe. Segue sem marcar gols no Real pela Copa do Rei. Compensado pelo ataque cirúrgico e a incrível cultura de vitória do time catalão dentro da Espanha. Está na sexta final consecutiva do torneio, contra Valencia ou Real Betis, buscando o pentacampeonato consecutivo. Oitava decisão nas últimas dez edições.

Desta vez na conta da própria eficiência, mas também do “arame liso” merengue. Imperdoável em disputa eliminatória de tão alto nível. Apenas o maior clássico do mundo. Fica a lição, para Vinícius e sua equipe.

]]>
0
Por que a ascensão de Vinicius Júnior prejudica Marcelo no Real Madrid http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/24/por-que-a-ascensao-de-vinicius-junior-prejudica-marcelo-no-real-madrid/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/24/por-que-a-ascensao-de-vinicius-junior-prejudica-marcelo-no-real-madrid/#respond Sun, 24 Feb 2019 04:30:42 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6004

Foto: Reprodução/Instagram

Quando Zidane e Cristiano Ronaldo deixaram o Real Madrid após o tricampeonato da Liga dos Campeões, imaginava-se que Florentino Pérez promoveria uma reformulação radical no elenco merengue, movimentando o mercado de verão para a temporada 2018/19.

Amigo muito próximo do craque português, Marcelo era um dos nomes especulados para seguir o mesmo caminho e jogar pela Juventus. Não aconteceu, assim como a ida às compras do clube espanhol foi tímida. O Real seguiria com Julen Lopetegui a linha de trabalho que investia em continuidade e aproveitamento de jovens, formados no clube ou não.

A mudança para um estilo mais alinhado ao rival Barcelona combinada com a natural estagnação de um grupo saturado de conquistas recentes minou o trabalho do treinador que já chegou com a imagem desgastada pelo processo que levou à demissão da seleção espanhola. Não deu liga.

O Real resolveu apostar novamente em uma solução caseira: Santiago Solari. Com ideias mais próximas das de Carlo Ancelotti e Zinedine Zidane, fazendo a equipe se adaptar aos contextos das partidas e menos preocupada com imposição de estilo, as oscilações diminuíram e o time voltou a ser competitivo no Espanhol e segue vivo na Copa do Rei e na Liga dos Campeões. Sem contar o título mundial em dezembro.

Com a lesão de Gareth Bale, Vinicius Júnior ganhou mais oportunidades no time principal. Atuando bem aberto pela esquerda e, por conta de sua adaptação tática ao futebol europeu e não estar ainda fisicamente pronto para jogar no mais alto nível, com menos atribuições defensivas. A forte personalidade em campo, mesmo com apenas 18 anos, fez com que passasse a centralizar as jogadas, apesar da afobação e muitos erros técnicos no acabamento das ações de ataque.

Na prática, mudou o eixo ofensivo da equipe. O Real que fez história tinha Cristiano Ronaldo partindo da esquerda para infiltrar em diagonal. Quando necessário diante de retaguardas mais fechadas, Marcelo, Isco ou Asensio abria para dar amplitude, esgarçar as linhas de defesa. Sempre com o suporte de Toni Kroos e cobertura de Sergio Ramos.

Na recomposição, Cristiano quase sempre ficava com Benzema na frente e duas linhas de quatro bloqueavam os ataques dos rivais, com Isco, Asensio ou até Kroos fechando o setor esquerdo e ajudando Marcelo.

Com Vinicius entre os titulares surgiu a necessidade de maior sustentação defensiva do lateral e dinâmica na ida e volta. Porque a passagem pelo flanco ou por dentro desafoga o ponteiro brasileiro. O jovem Sergio Reguilón, de 22 anos, tem entregado mais desempenho e ganhado mais chances de Solari. Nos últimos 14 jogos da liga espanhola foi titular em nove e ficou de fora de três partidas por lesão. Titular na vitória sobre o Ajax pela Champions, deixando Marcelo no banco.

Segundo o site Whoscored.com, Reguilón supera Marcelo em desarmes, interceptações e nas disputas pelo alto na defesa. Já o brasileiro é melhor que o espanhol nas virtudes que o transformaram no melhor lateral do mundo nos últimos anos: dribles, finalizações, passes e cruzamentos certos. O rendimento, porém, não tem sido bom no geral.

Marcelo, que vai completar 31 anos em maio, vem enfrentando os problemas naturais da passagem do tempo e também por suas características. O posicionamento e a concentração da transição defensiva nunca foram pontos fortes do lateral. Na Copa do Mundo, as dificuldades ficaram bem nítidas quando Casemiro ficou de fora por suspensão contra a Bélgica e ele retornou à seleção. Um dos pecados de Tite na eliminação brasileira.

Talvez as dúvidas quanto a um novo ciclo de Copa do Mundo e o clima de fim de festa em Madri, apesar do contrato até 2022, tenham acelerado e acentuado a queda de desempenho de Marcelo, inclusive no aspecto físico. É bem possível que o ciclo tenha passado do ponto. Por isso a irritação com a reserva e as críticas quando não vai bem, o que tem sido uma constante nas últimas partidas, e a volta das especulações de uma saída para a Juventus no final da temporada.

Pode ser a melhor solução. Porque Vinícius Júnior vai evoluindo e encontrando em Reguilón um ótimo parceiro pela esquerda. O futuro do Real Madrid. A lamentar que a ascensão de um brasileiro represente a queda de outro que está na história do maior clube do mundo, mas precisa de mudanças, talvez até de posição, para retomar a carreira mais que vencedora.

]]>
0
Cabeça erguida é a grande vantagem de Neymar sobre Vinícius Jr. e Malcom http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/08/cabeca-erguida-e-a-grande-vantagem-de-neymar-sobre-vinicius-jr-e-malcom/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/08/cabeca-erguida-e-a-grande-vantagem-de-neymar-sobre-vinicius-jr-e-malcom/#respond Fri, 08 Feb 2019 03:51:48 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5877

Foto: Pau Barrena/AFP

Os grandes destaques de Barcelona x Real Madrid pela semifinal da Copa do Rei foram brasileiros: Vinicius Júnior deu belo passe para Benzema servir Lucas Vázquez no gol merengue e Malcom foi às redes empatando e salvando o time catalão. Ofuscaram a todos, inclusive Messi, que entrou no segundo tempo e pecou pelo individualismo na maioria dos lances, e Philippe Coutinho, novamente com desempenho abaixo de suas capacidades.

Não só pelos lances capitais. Participaram colocando velocidade e criando problemas para o português Semedo e também para Marcelo em duelos bem definidos com as equipes atuando no 4-3-3. Em times com forte trabalho coletivo, os jovens ponteiros eram os escapes, as referências de aceleração e também de uma mudança na rotação do jogo. Dribles para fora buscando o fundo ou para dentro batendo com o pé trocado. O destro Vinícius pela esquerda e o canhoto Malcom à direita.

Impossível não lembrar de Pep Guardiola elogiando Douglas Costa no Bayern de Munique, mas deixando claro que sua função seria basicamente a mesma que o alemão Leroy Sané executa hoje no Manchester City: o ponteiro que aguarda a bola no jogo de posição, normalmente em inversões, para interferir em dois toques: um “tapa” para fora e em seguida o cruzamento ou finalização.

Não é por acaso que os treinadores dos principais centros costumem optar pelos pontas brasileiros para missões bastante específicas. Explosão, mudança de direção e rapidez para dar profundidade aos ataques. Mas sem tanta participação coletiva. Porque os demais normalmente levam vantagem na leitura completa do jogo.

Vinícius Júnior e Malcom poderiam ter se destacado ainda mais no maior clássico espanhol e do planeta se não tomassem as decisões sem olhar o todo, erguer a cabeça. Ambos desperdiçaram bons contragolpes com opções limpas de passe para a conclusão. No gol de Malcom, a bola resvalou em Carvajal e entrou, mas podia ter saído. Quando Vinícius foi menos afobado encontrou Benzema às costas de Jordi Alba e seu time foi às redes.

Podem evoluir com o tempo, obviamente. Não só pelos três anos a menos, mas Vinícius, com 18 anos, parece ter mais lastro e também ser capaz de mais lances espetaculares. Ambos, porém, carecem de refinamento no acabamento das jogadas. Tomar a melhor decisão e executá-la com precisão. De todas as promessas brasileiras, a que parece ter mais técnica e inteligência é Rodrygo, ainda que seja menos desequilibrante nas jogadas individuais.

Acima de todos ainda está Neymar. Aos 18 ou aos 21 já sabia antever os movimentos e levantar a cabeça para mirar o gol ou um companheiro melhor colocado. Óbvio que a primeira temporada no Barcelona em 2013 não foi fácil pela necessidade de se adaptar ao modelo de jogo do clube, num período complicado sob o comando de Tata Martino. Mesmo com visão de jogo não era fácil pensar coletivamente quando desde sempre foi ensinado a partir para cima e resolver sozinho.

Aos 27, Neymar é mais armador, pensa melhor as jogadas. Na seleção ainda peca por achar que precisa definir todas. Uma espécie de retorno ao nosso futebol tantas vezes visto como tênis ou qualquer esporte individual. Mas mesmo quando dribla ele percebe o entorno. É o que falta a Vinicius e Malcom. Talvez desenvolvam com o tempo e construam carreiras até mais gloriosas, mas provavelmente faltará a chama do craque genial. Do diferente. Do que faz sem conseguir explicar. Simplesmente sabe. Neymar sabe, mesmo sem compreender outras tantas coisas fora de campo. Imagine se entendesse…

]]>
0
Deus ou farsa, Messi tem escolhas a fazer para voltar ao topo do mundo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/27/deus-ou-farsa-messi-tem-escolhas-a-fazer-para-voltar-ao-topo-do-mundo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/12/27/deus-ou-farsa-messi-tem-escolhas-a-fazer-para-voltar-ao-topo-do-mundo/#respond Thu, 27 Dec 2018 04:19:51 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5694

Foto: Albert Gea/Reuters

Qualquer análise que envolva Lionel Messi sempre vai esbarrar nos extremos. Para os fãs incondicionais é o melhor de todos os tempos e não tem nada a provar a ninguém, mesmo nos maiores reveses. Uma versão que vira dogma. Assim como para os detratores – fãs de Cristiano Ronaldo ou saudosistas, na maioria das vezes – nada que o argentino faça será capaz de apagar suas grandes derrotas que, obviamente, são de responsabilidade exclusiva do camisa dez.

Vamos, então, tentar puxar a discussão para um ponto central, com elogios e ressalvas na medida mais justa possível. Começando por reafirmar que Messi é o melhor que este que escreve viu jogar ao vivo desde 1981. Uma combinação da objetividade de Zico e Cruyff com a genialidade de Maradona. Mas que vem decepcionando no momento de definir grandes duelos eliminatórios. Junto com Guardiola, o homem que ajudou o atacante habilidoso a se tornar gênio, vai se tornando o rei dos pontos corridos. Quando a regularidade é a maior virtude.

Messi faz uma primeira metade de temporada absolutamente genial. Artilheiro do Espanhol com 15 gols, também é o líder de assistências da liga com 10. Assim como é o driblador mais efetivo, o que cria mais chances, o cobrador de faltas com melhor aproveitamento e também o melhor finalizador de fora da área. Uma influência absurda em cada jogo do Barcelona, líder absoluto de La Liga e também de seu grupo na Liga dos Campeões. No torneio continental entrou em campo em quatro partidas, uma saindo do banco. Seis gols, uma assistência e melhor em campo em três jogos.

A grande questão segue a mesma: de que valerá esse desempenho espetacular se de novo vier o jogo grande em que Messi não consegue encontrar soluções em campo e vê o Barcelona ser eliminado na Champions, grande prioridade da temporada? Nas quatro conquistas do Real Madrid desde 2014, o time catalão não passou das quartas de final.

Se fracassar de novo os fãs empilharão estatísticas, exaltarão o provável título espanhol – será o quarto nas últimas cinco temporadas – e a quase protocolar conquista da Copa do Rei. Os “haters” vão desdenhar de tudo e incensar o melhor jogador do campeão europeu. Mas objetivamente os prêmios individuais novamente não farão o caminho de volta para as mãos de “La Pulga”. Como foram para Modric em 2018.

Messi terá que fazer escolhas para chegar inteiro e desequilibrar nas partidas decisivas. É fominha, só aceita ficar de fora quando obrigado por lesão e suspensão ou os médicos e fisiologistas apontam um risco grande de contusão por desgaste. Ernesto Valverde tem conseguido dosar as energias e a contusão no braço também fez o número de partidas até aqui diminuir. O elenco também ganhou opções e há menos insegurança na hora de poupar estrelas. Na formação atual, por exemplo, o treinador pode escolher Phillipe Coutinho para a vaga do craque e capitão.

O cansaço, porém, chega forte na metade final. Os jogos ficam mais duros, há mais em jogo, a marcação é implacável. O esgotamento mental também pesa. É preciso equilibrar. Ainda que seja difícil na cultura de vitória do time catalão dentro da Espanha dar prioridade total à Champions, a urgência para voltar a se impor no continente da equipe e de sua estrela maior é considerável.

Mais uma temporada com os mesmos números absurdos, mas também as conquistas habituais dos últimos anos deixará para quem não é “devoto” uma forte impressão de estagnação, marasmo. Ele mesmo criou esse padrão altissimo de exigência para si.

Messi também pode escolher ser menos coletivo e mais egoísta quando o Barça estiver em apuros ou necessitado da magia para descomplicar disputas parelhas. Assumir a responsabilidade, chamar a bola e construir a obra de arte com começo, meio, fim e a assinatura. Como Maradona e outros gênios vencedores.

Se conseguir os fanáticos dirão que os resultados desta vez estão apenas confirmando o que o mundo já sabia. Os perseguidores vão tirar da cartola uma crítica do tipo “quero ver brilhar na seleção ou fora do Barcelona”. Aliás, a participação do maior artilheiro da Argentina na Copa América no Brasil segue uma incógnita. Se vier será mais uma chance de se consagrar. Ou reforçar a imagem de “pecho frio”.

Lionel Messi está sempre no fio da navalha, entre dois olhares apaixonados. O que vê um Deus em campo e aquele que só enxerga uma farsa. Qual prevalecerá em 2019?

 

]]>
0
Messi precisa acordar! O mundo e o futebol mudaram, também por causa dele http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/09/03/messi-precisa-acordar-o-mundo-e-o-futebol-mudaram-tambem-por-causa-dele/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/09/03/messi-precisa-acordar-o-mundo-e-o-futebol-mudaram-tambem-por-causa-dele/#respond Mon, 03 Sep 2018 18:49:18 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5161

Foto: Reuters

Messi foi o melhor do mundo há oito anos sendo campeão espanhol e da Copa do Rei, caindo nas semifinais da Liga dos Campeões e nas quartas de final para a Alemanha na Copa do Mundo da África do Sul. Foi o ano da festa do Barcelona, com Xavi e Iniesta, campeões com a Espanha, formando a trinca de finalistas.

Era o período de encantamento com o argentino genial que evoluiu absurdamente sob o comando de Pep Guardiola. Mesmo sem marcar um gol no Mundial de seleções sua imagem de jogador de uma era seguiu intacta. Cristiano Ronaldo sofreu com lesão grave, eliminação nas oitavas da Champions e desempenho apenas razoável, para seu nível, com Portugal na Copa. Era a primeira temporada no Real Madrid.

Pouco valeu o brilho de Sneijder, que ganhou tudo com a Internazionale e foi um dos artilheiros da Copa pela Holanda, só perdendo o título na prorrogação da final. Sendo decisivo contra o Brasil nas quartas de final. Uma das maiores injustiças da premiação.

Corte para 2018. Luka Modric ganha o prêmio da UEFA como melhor jogador da temporada europeia e está entre os três finalistas do Prêmio The Best da FIFA. Campeão da Champions e vice mundial, como Sneijder. Mohamed Salah, outro finalista dos dois prêmios, nem isso. Eliminado na fase de grupos com seu Egito, não chegou perto de ser campeão inglês com seu Liverpool e perdeu a final do principal torneio de clubes do mundo para o Real Madrid. Mesmo com o golpe sujo de Sergio Ramos que tirou o atacante da decisão ainda no primeiro tempo, não parece algo que chame tanto a atenção.

Mas é. Porque o mundo e o futebol mudaram. Muito. Também por causa do argentino. A Liga dos Campeões ganha um peso cada vez maior na temporada. Por conta da visibilidade e do nível cada vez mais alto do torneio europeu, os campeonatos nacionais perderam relevância. Até por conta dos supertimes que dominam seus países – leia-se Bayern de Munique, PSG e Juventus. Na Espanha, a tendência recente é o Real Madrid focar tudo na Champions e o Barcelona dividir esforços.

Eis o ponto que marca esse novo olhar. Messi foi novamente protagonista no domínio espanhol do Barça. Liga e Copa. Chuteira de Ouro com 34 gols na liga. 46 no total e mais 18 assistências. Mas e daí? O seu talento é que fez subir o sarrafo, o nível de cobrança. Não é mais o suficiente. Pior ainda com a eliminação para a Roma, time de poder de investimento muito inferior e em outra prateleira do cenário mundial. Derrota vexatória por 3 a 0. Mais uma vez ficando de fora até das semifinais.

Na Copa do Mundo, novamente um desempenho bem abaixo de sua excelência. Sua Argentina caiu nas oitavas de final. Para a campeão França justamente na melhor atuação da equipe de Pogba, Griezmann e Mbappé na Copa. Por 4 a 3, sem vexame. Porém não basta mais para Messi. Espera-se muito dele e se decepciona sua avaliação cai a ponto de ficar abaixo de jogadores sem números e conquistas semelhantes.

Imaginava-se que ficaria ao menos entre os três finalistas, como em todas as edições desde 2007. Nem isso. Um momento simbólico, que pede reflexão a Messi. Sua rivalidade com Cristiano Ronaldo fez história e jogou no teto o nível do futebol de clubes na elite europeia nestes dez anos. O mundo cobra Messi que seja campeão da Champions ou do mundo com a albiceleste. Ele precisa ver que mudou. Acordar para uma nova realidade, caso ainda queira ser competitivo no topo, individual e coletivo.

Sua personalidade aponta dois caminhos. Ou o “sangue nos olhos” de 2015, depois do grito de Cristiano Ronaldo (o lendário Síiiiii!) na celebração do prêmio de melhor de 2014 desafiando o rival, para liderar o trio MSN na conquista da tríplice coroa. Ou se conformar em seguir reinando no Barça, aumentando ainda mais os números como o grande jogador da história do clube que o acolheu, pagou seu tratamento para crescer e formou o homem e o atleta. Jogar por gratidão.

Se houver espaços para ele jogar como gosta vem o brilho. Se o adversário nega, Messi circula pelo campo sem produzir grande coisa e vê seu time derrotado. Foi assim nas últimas três temporadas. Começa assim a atual: adversários fáceis na liga, quatro gols e duas assistências. Sem Cristiano Ronaldo, a tendência é nadar de braçadas no Espanhol.

Pode bastar para ele, não para o planeta bola. Messi não vai a Zurique desta vez. Pode estar irado, aliviado ou mesmo indiferente. Quem é capaz de entender o argentino?

]]>
0