futebolinternacional – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Pênaltis e CR7 salvam Juventus, mas Atalanta dá prova de força que faltava http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/11/penaltis-e-cr7-salvam-juventus-mas-atalanta-da-prova-de-forca-que-faltava/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/11/penaltis-e-cr7-salvam-juventus-mas-atalanta-da-prova-de-forca-que-faltava/#respond Sat, 11 Jul 2020 22:02:33 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8757 Não é fácil vencer a Juventus em Turim pela Série A italiana. Camisa pesada, cultura de vitória de um octacampeonato. Força que intimida também arbitragens em lances duvidosos, com margem nas regras cada vez menos claras do jogo, especialmente nos toques com mãos e braços dos defensores dentro da área.

E também Cristiano Ronaldo, que mesmo bem vigiado por Rafael Tolói na linha de três zagueiros da Atalanta fez o goleiro Gollini trabalhar e converteu os dois pênaltis que garantiram o empate por 2 a 2 e levaram o português a 28 gols na liga, um atrás de Immobile, da Lazio.

Mas a Atalanta chegou bem perto e deu a demonstração de força que faltava, mesmo encerrando a série de 11 vitórias consecutivas. Um recital no primeiro tempo, com sete finalizações a três, 56% de posse de bola na casa do time dominante na Itália, agora ainda mais perto do nono título consecutivo.

No ritmo de Papu Gómez, novamente o organizador do 3-4-2-1 que desta vez teve Ilicic de início e Pasalic entrando no segundo tempo. Na frente, Zapata deixou o jovem holandês De Ligt zonzo com a combinação de força física e mobilidade.

Deslocamento, finalização precisa do colombiano e justa vantagem para a equipe de Gasperini nos primeiros 45 minutos. Levando ampla vantagem também pelos flancos, fazendo sofrer Cuadrado e Danilo, os elos fracos da retaguarda de Maurizio Sarri.

No segundo tempo, porém, a intensidade na execução do modelo de jogo cobrou o preço pela sequência de jogos sempre no limite. E o peso do oponente também contou nos cuidados defensivos e momentos de posse de controle, tirando a velocidade.

A Juve cresceu com Alex Sandro e Douglas Costa, além da entrada de Higuaín dando mais presença física na área adversária. Cristiano Ronaldo ganhou companhia e teve a chance da virada em bela finalização, depois de converter o primeiro pênalti.

Mas a Atalanta mostrou também contar com elenco heterogêneo. Além de Pasalic, entraram também Muriel, Tameze, Caldara e Malinovskyi. E foi o ucraniano, substituto de Papu Gómez, que fez o ataque recuperar ritmo, circulação de bola e também presença ofensiva. Assim marcou o segundo gol que parecia o da vitória. Triunfo que seria justo pela manutenção da superioridade em posse  (51%) e finalizações (13 a 9).

Mas o toque de Muriel em lance com Higuaín deu a chance do empate que provavelmente não aconteceria em outras condições, contra outro adversário, outra camisa. Mas era a Juventus, que encaminha mais uma conquista nacional.

E a Atalanta soma um ponto que não deixa de ser importante na disputa pela vaga na próxima Champions. Torneio continental que parece cada vez mais um sonho possível de chegar bem longe. O PSG de Neymar que se cuide. Até por não ostentar no cenário europeu o tamanho que a Juve tem na Itália.

(Estatísticas: Whoscored.com)

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Caminho do PSG na Champions será bem mais complicado do que parece http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/10/caminho-do-psg-na-champions-sera-bem-mais-complicado-do-que-parece/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/10/caminho-do-psg-na-champions-sera-bem-mais-complicado-do-que-parece/#respond Fri, 10 Jul 2020 13:18:37 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8750

Foto: Harold Cunningham / UEFA / AFP

Tão logo saiu os cruzamentos no sorteio das quartas de final da Champions, ainda que faltando três dos oito classificados, a primeira impressão foi de que o Paris Saint-Germain seria o grande “vitorioso”.

Afinal, o time de Neymar saiu da reta das grandes camisas e dos campeões dos últimos anos – excetuando o atual, Liverpool. Sem Real Madrid, Barcelona e Bayern de Munique no caminho até a grande final. “Fugindo” também  do Manchester City de Guardiola e da Juventus de Cristiano Ronaldo, que ainda enfrenta o Lyon pelas oitavas.

Primeiro a Atalanta. Se passar, o vencedor de Leipzig e Atlético de Madrid. Sem dúvida, se olharmos a história do torneio continental, é uma trilha teoricamente menos pesada. E desse enrosco pode sair um finalista inédito – só o Atlético já esteve em uma final.

Só que não estamos dentro de uma normalidade. Longe disso. E são justamente essas mudanças no cenário que tornam o caminho do PSG bem mais complicado do que parece.

Acima de tudo pela inatividade do time francês, que é sem precedentes em uma fase tão avançada da competição. Entre março e agosto, a previsão de apenas duas partidas oficiais: as decisão das copas nacionais – Saint-Etienne na Copa da França no dia 24 e Lyon na Copa da Liga Francesa no dia 31. Mais quatro amistosos contra adversários bem abaixo do nível de enfrentamento que espera o time de Paris.

Com a Ligue 1 encerrada, a equipe de Thomas Tuchel terá o benefício do menor risco de lesões e desgaste, mas o enorme déficit em um aspecto fundamental no futebol atual: intensidade. Por mais que os treinos hoje reproduzam o ritmo e a velocidade na tomada de decisão do jogo, a falta do nível alto de competição pode prejudicar bastante. Principalmente pela disparidade de forças na França que já prejudicou o PSG no sonho de ganhar a Champions em outras temporadas.

E a Atalanta de Gian Piero Gasperini não é um time qualquer. Longe disso. Mostra personalidade, com volume de jogo sufocante e capaz também de surpreender jogando em rápidas transições ofensivas. Atropelou o Valencia nas oitavas e vem de onze vitórias consecutivas. É o melhor entretenimento do futebol atual.

É preciso pesar que essa disputa da Champions acontecerá em um ambiente mais “puro”, sem a “contaminação” da atmosfera. Campo neutro, em Lisboa, e sem torcida. Nem a vantagem do conhecimento e da vivência no próprio estádio será possível. Fatores que costumam estabelecer essa coisa metafísica e difícil de descrever que é a “camisa pesada”.

Todo esse contexto definindo a vida em 90, 120 minutos ou nos pênaltis. Para ficar ainda mais imprevisível. E o PSG ainda carregará a tensão do favoritismo, já que para o time de Bergamo a simples presença nas quartas já é histórica e digna de celebração na cidade, se houvesse a possibilidade de aglomeração de pessoas.

Se conseguir chegar às semifinais, as dificuldades serão praticamente as mesmas. Só um pouco mais nivelado na intensidade pelo jogo forte das quartas. Caso o adversário seja o Leipzig, a missão será encarar um “novato” ainda mais motivado a fazer história e que também joga em ritmo fortíssimo. Ainda assim, talvez seja melhor para Neymar e companhia, já que o time alemão também sofrerá um pouco agora com a falta de jogos oficiais por conta do fim da Bundesliga 2019/20.

Encarando o Atlético de Madrid, o estilo do time de Simeone pode expor as fragilidades defensivas que o PSG costuma apresentar em jogos grandes. E mesmo sem a força do mando, a “casca” construída pelo clube espanhol nos últimos anos em fases avançadas da competição pode fazer diferença.

Não será tão simples ou menos complicado. E o projeto PSG nunca mostrou consistência para se impor em qualquer cenário na Europa. O desafio continua enorme, mesmo sem gigantes pelo caminho.

[Sobre o outro lado do chaveamento:

Juventus tende a se aproveitar da inatividade do Lyon e tirar a desvantagem em Turim. O Manchester City deve confirmar contra o Real Madrid, embora sem torcida o mando tenha perdido força. Se passar, a equipe de Guardiola é ligeiramente favorita contra o time de Cristiano Ronaldo para seguir em busca do título inédito.

Barcelona já deve ter problemas contra o Napoli. Jogo contra o time de Genaro Gattuso não será tranquilo, mesmo no Camp Nou. Se passar, a menos que o Bayern de Munique tenha uma queda brusca por conta da inatividade, o risco de ser surrado pelo octampeão alemão como em 2013 é considerável. Só o “fator Messi” pode mudar o destino do time catalão.]

 

 

 

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Atalanta é o melhor entretenimento do futebol atual http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/02/atalanta-e-o-melhor-entretenimento-do-futebol-atual/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/02/atalanta-e-o-melhor-entretenimento-do-futebol-atual/#respond Thu, 02 Jul 2020 20:39:33 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8716

Imagem: Divulgação / Atalanta

Este post estava na “fila” desde antes da parada por conta da pandemia. Depois ficou a dúvida se o ritmo seria mantido na retomada. Provavelmente pelo preconceito natural com equipes fora da elite do futebol mundial. Este que escreve, no caso, é réu confesso. Talvez pelos anos de janela e muitos “fogos de palha”.

Mas a Atalanta de Gian Piero Gasperini não é um fenômeno de ocasião ou um “meteoro”. Trata-se de um trabalho cuidadoso na gestão. Sem megalomania, mas também não deixa de ser ambicioso. Dentro e fora de campo.

A partir do cuidado com a base e de prospecção de bons jogadores fora do radar dos clubes mais ricos. Como o argentino Papu Gómez, 32 anos e o grande “maestro” do time que gira, toca e ataca.

Num 3-4-2-1 que avança com zagueiros, espeta os alas Hateboer/Castagne e Gosens no ataque, posiciona o colombiano Duván Zapata na referência do ataque, mas também com mobilidade. E muito jogo entrelinhas e mobilidade, com Gómez e Pasalic. E ainda armas saindo do banco, como o colombiano Luís Muriel.

Na perda, uma mudança de chave muito rápida para pressionar o adversário com a bola e apelando para perseguições individuais e longas. Mas com boa leitura de jogo para se adaptar ao posicionamento que estiver em campo na retomada da bola para fazer a transição ofensiva. O futebol é cíclico, o que parecia anacrônico pode ser reciclado e se encaixar em outro contexto.

Já são nove vitórias consecutivas, incluindo as duas sobre o Valencia pela Liga dos Campeões que garantiram vaga nas quartas do torneio continental, feito inédito e histórico. 31 gols marcados, treze sofridos. A última derrota na liga italiana para o Spal, em janeiro. Improvável disputar o título com 12 pontos atrás da líder Juventus, mas a quarta vaga possibilita volta à Champions. Fundamental para o projeto do clube.

Impressionante a volúpia ofensiva, a coordenação dos setores. É claro que a Atalanta se aproveita da imagem de “zebra” para enfrentar com bem menos frequência retrancas ferozes que tirariam espaços para a aceleração dos ataques. O desempenho, porém, já impõe respeito e é mais raro algum oponente encarar de peito aberto. Afinal, tem a quarta maior posse da Série A e é a equipe que mais finaliza.

O Napoli de Genaro Gattuso tentou fazer um jogo igual, mesmo fora de casa. Terminou com mais posse (53%) e finalizações (14 contra nove), segundo o Whoscored.com. Mas a Atalanta venceu por 2 a 0. Porque encontra soluções para surpreender.

Como no segundo gol, com o zagueiro brasileiro Rafael Toloi, titular para Palomino descansar iniciando no banco, descendo pela direita com o ala Castagne e recebendo na área para servir Gosens do lado oposto. Muita gente aparecendo na frente e criando um volume que complica as defesas adversárias. Mesmo sem o esloveno Josip Ilicic, destaque até março e se recuperando de lesão.

È bonito de ver. O melhor entretenimento do futebol atual. Fácil.

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Sincerão – Olimpo do futebol só tem três: o rei, o artista e o arquiteto http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/sincerao-olimpo-do-futebol-so-tem-tres-o-rei-o-artista-e-o-arquiteto/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/01/sincerao-olimpo-do-futebol-so-tem-tres-o-rei-o-artista-e-o-arquiteto/#respond Wed, 01 Jul 2020 14:07:37 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8707

Foto: Acervo FIFA

Este colunista participou do quadro Sincerão do UOL Esporte e muitos questionaram por que Pelé, Maradona e Cruyff não foram citados no Top 5 de meio-campistas, nem de atacantes.

Justo. Talvez tenha sido mesmo um equívoco, mas há duas razões para tal.

Primeiro porque vejo esses três gênios como pontas-de-lança, exercendo aquela função híbrida de meia e atacante. O “camisa dez” que arma e finaliza. Zico, meu ídolo de infância e outra ausência sentida por muitos, se encaixa igualmente neste perfil. Messi também, mas em campo sempre funcionou mais como atacante, partindo da direita para dentro em busca da finalização ou da assistência.

Mas também porque os três fazem parte do Olimpo do futebol. Só eles, ao menos por enquanto. Ainda que o Olimpo abrigue doze deuses do panteão grego, É claro que Messi e Cristiano Ronaldo são candidatíssimos a pleitear vagas neste grupo muito seleto, mas é preciso esperar o fim de suas carreiras para que o distanciamento histórico entregue à dimensão dos feitos da dupla dos gênios do Século 21 até aqui.

Pelé é o rei. Entregou desempenho e resultados a longo prazo como nenhum outro. Colocou o Santos no mapa da bola e foi campeão e protagonista em duas Copas do Mundo, na época o grande parâmetro para medir os maiores. Transformou o jogo sendo um atleta completo que jogava futebol. Artilheiro implacável, domínio de todos os fundamentos do esporte.

Maradona é o artista. Genial, inquieto, imperfeito, errático. Capaz de lances espetaculares no campo e comportamentos nada exemplares fora dele. Quando quis ser competitivo foi a estrela máxima em uma edição de Copa do Mundo, no México em 1986. E também colocou um time outrora minúsculo no imaginário popular. Por isso é Deus em Napoli, assim como na Argentina. O grande ídolo da história do esporte.

E Johan Cruyff é o arquiteto. Craque cerebral, treinador dentro do campo, frasista nato. Pensou e reinventou o futebol muitas vezes, ancorado em princípios inegociáveis, como ter a bola para controlar o jogo. A conexão Holanda 1974 – Barcelona de 1992 – Pep Guardiola é única e pedra fundamental para o futebol há meio século.

É claro que há outros craques e gênios, e rankings são sempre discutíveis. Mas para este que escreve só esses três merecem ocupar o topo. Por seus feitos e legados. Esclarecido?

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Era Jürgen Klopp é de futebol intenso, mas também inteligente e adaptável http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/26/era-jurgen-klopp-e-de-futebol-intenso-mas-tambem-inteligente-e-adaptavel/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/26/era-jurgen-klopp-e-de-futebol-intenso-mas-tambem-inteligente-e-adaptavel/#respond Fri, 26 Jun 2020 12:37:57 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8690

Foto: Reuters

Há recortes históricos que com um mínimo distanciamento do tempo podem ser definidos como uma mudança de paradigma. Mesmo em um esporte tão complexo e instável como o futebol.

O Barcelona foi para o intervalo em Anfield perdendo por 1 a 0 pelo jogo de volta da semifinal da Liga dos Campeões 2018/19. Havia vencido por 3 a 0 no Camp Nou e ainda tinha uma boa vantagem a administrar fora de casa. Se fizesse um gol o Liverpool teria que fazer mais quatro.

E a imagem no vestiário do time catalão era de absoluto desespero. Ainda que o trauma da eliminação na edição anterior do torneio continental para a Roma também ecoasse,  estava claro no semblante de Messi, Suárez, Jordi Alba e outros que a tragédia parecia inevitável. O discurso, sem muita convicção, era de que era preciso retomar o ritmo no estilo Barcelona, de posse de bola. Mas todos sabiam que na prática isso seria impossível. Os 4 a 0 no final foram apenas a consequência natural.

Porque vivemos a Era Jürgen Klopp no futebol. O que não quer dizer necessariamente que seja o treinador que vence tudo que disputa. Não foi assim com Rinus Michels, nem Cruyff, Arrigo Sacchi, Alex Ferguson ou José Mourinho. Talvez Pep Guardiola, com currículo impressionante e único, seja a exceção. Ainda assim, já se vão quase nove anos sem vencer a Champions.

Notamos a ascendência das ideias de um treinador no esporte quando praticamente em qualquer partida é possível notar as digitais dele no que acontece em campo.

Repare que cada vez falamos menos em posse de bola como critério para observar o domínio de uma equipe sobre a outra. Melhor dizendo, ter a bola ainda é um indício, mas cada vez mais importante é atacar com volume e agredindo o adversário. Não tocando e circulando sem “machucar”.

O Jurgen Klopp do Borussia Dortmund e do início do trabalho no Liverpool era do futebol “rock’n’roll”. Intensidade máxima, “gegenpressing” e uma fome como se houvesse amanhã. Só que em muitas partidas isso tudo virava pressa, ansiedade. Ou um desperdício de energia que cobrava o preço ao final do jogo ou do campeonato.

Mas Klopp é inteligente e tem sensibilidade para notar a direção dos ventos. Também sabe ouvir, embora não abra mão de suas convicções. Estava nítido que seria preciso se adaptar ao que pede cada jogo. Como ele percebeu na própria Premier League com outros treinadores, como Antonio Conte e o próprio Guardiola, que venceu no Manchester City combinando elementos inegociáveis do seu modelo de jogo com a intensidade do futebol praticado na Inglaterra. Também com a eletricidade de Klopp.

Pausas. Era preciso ter momentos de circulação da bola para variar a intensidade do jogo. Passar de lado para abrir o campo e as linhas do oponente não é pecado. Klopp fez o Liverpool voltar a ser temido. Junto com a camisa pesada, natural que alguns adversários apelassem para retrancas. Linha de cinco, dez jogadores atrás da linha da bola e protegendo a própria área. Acelerar o tempo todo muitas vezes significava dar de cara com o muro. Em loop, até cansar.

Klopp viu a solução nas inversões de bola de seus laterais: Alexander-Arnold e Robertson fazem a troca de corredor com frequência e eficiência. Também se juntam na frente ao tridente Salah-Firmino-Mané. Com o brasileiro recuando para colaborar na articulação e os dois ponteiros buscando as infiltrações em diagonal. Cabe aos zagueiros e aos meio-campistas se impor fisicamente, mas também colaborar com a manutenção da posse quando é preciso. Henderson cresceu demais nesta proposta, tanto como volante mais fixo como um meia pela direita.

Antes o treinador alemão queria um ambiente difícil de respirar em campo. Agora ele entende que há momentos em que é preciso encher e esvaziar os pulmões para pensar melhor e fazer o que é necessário em campo. Sem a loucura de antes, que lembrava o piloto inglês Nigel Mansell nos anos 1980/90 na F-1: batia recordes seguidos de volta mais rápida para perder a prova por falta de combustível ou em uma manobra arriscada e pouco inteligente.

É claro que o talento continua sendo fundamental. Sem Alisson e Van Dijk é bem provável que o Liverpool continuasse com a defesa como elo fraco e comprometedor no mais alto nível competitivo. Mas encontrar as peças certas que o dinheiro pode comprar também é sinal de amadurecimento.

Isso tudo constroi o Liverpool campeão inglês, depois de 30 anos. A primeira conquista na Era Premier League. Com sete rodadas de antecedência, 23 pontos de vantagem sobre o então bicampeão City. Time de Guardiola que caiu diante do Chelsea por 2 a 1. Justamente os Blues, algozes dos Reds em 2014, no lendário escorregão de Steven Gerrard que negou mais uma vez a conquista do título. Como o pontinho da temporada passada.

Desta vez não houve margem para erro. Cada jogo da liga foi tratado como uma decisão. Com a natural oscilação que os times ingleses costumam sofrer quando disputam o Mundial de Clubes. Viagem, desgaste, os jogos seguidos na virada do ano. Cobrou o preço nas copas nacionais e também na Champions. Mas estava claro desde o início que esta temporada era a da dedicação aos pontos corridos. Da redenção.

Veio em meio a uma pandemia. A retomada do campeonato serviu para fazer justiça ao melhor time. E também a Klopp, a mente dominante desta era do futebol intenso, vertical. Mas também inteligente e adaptável. De acordo com a demanda. A do Liverpool andava reprimida, agora é só alegria. Ou alívio, pelo contexto do mundo.

Mas em qualquer campo onde a bola role haverá o toque de Jürgen Klopp. Carisma incrível, sorriso franco, uma certa loucura cativante. Mas acima de tudo um grande treinador de futebol. O melhor do planeta. Agora o “zeitgeist”, ou o espírito do tempo, está com ele.

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Vinícius Júnior ganha confiança com o Real Madrid líder e ofensivo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/24/vinicius-junior-ganha-confianca-com-o-real-madrid-lider-e-ofensivo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/24/vinicius-junior-ganha-confianca-com-o-real-madrid-lider-e-ofensivo/#respond Wed, 24 Jun 2020 21:56:30 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8687 O pênalti sofrido por Vinícius Júnior nos 2 a 1 sobre a Real Sociedad na rodada em que o Real Madrid assumiu a liderança foi um tanto duvidoso. Difícil avaliar se o toque sofrido foi o suficiente para desequilibrar o atacante. Na prática “salvou” o brasileiro que novamente teve personalidade e habilidade para a jogada individual, mas no acabamento costuma comprometer o ataque.

Zinedine Zidane aposta na velocidade para acelerar as transições ofensivas e também nessa capacidade de desequilibrar nos duelos com os marcadores. Transmite confiança e procura lapidar um talento que só precisa tomar melhores decisões na hora de definir ou servir os companheiros. Também acertar mais tecnicamente no último toque.

O Real Madrid não costumava dar esse tempo a jovens promissores, mas foi justamente o treinador francês quem mudou essa visão imediatista no clube. Ganhando o histórico tricampeonato da Liga dos Campeões e um título espanhol apostando em continuidade e oportunidades para a maioria dos jogadores.

Até Gareth Bale, titular nos 2 a 0 sobre o Mallorca no Estádio Alfredo Di Stéfano. Dentro de uma formação mais ofensiva com o galês e Vinicius nas pontas, Hazard por dentro se aproximando de Benzema. Em vários momentos quase num 4-2-4.

E ainda Luka Modric, que recebeu livre pela esquerda e esperou a passagem de Vinícius Júnior. Com liberdade à frente do goleiro, enfim a tranquilidade para tocar por cima e abrir o placar. Golaço que teve origem numa falta de Carvajal ignorada pela arbitragem. Mais um motivo de reclamação para Piqué na eterna “guerra fria” de bastidores entre Barcelona e Real Madrid.

Pouco antes, Vinicius recebeu de Hazard, mas finalizou em cima de um defensor. Minutos depois, quase a consagração com uma cavadinha que parou no travessão. O segundo gol do líder de “La Liga” viria no segundo tempo, em bela cobrança de falta de Sergio Ramos.

O “clean sheet” teve participação fundamental de Courtois, até porque a proposta ofensiva cedeu espaços ao Mallorca. A ausência de Casemiro, suspenso, também pesou. A imposição técnica, porém, foi protocolar. Com Zidane, o Real não costuma vacilar e deixar pontos irrecuperáveis pelo caminho.

Assim deve seguir na ponta da tabela, até porque a missão em Manchester contra o City na Champions parece quase impossível. Zidane valoriza os pontos corridos como a competição em que o trabalho do treinador e do time são mais valorizados por não dependerem de uma noite boa ou ruim. Vence o mais regular.

É o que busca Vinicius Júnior. Mais consistência e constância. Com paciência e minutos em campo, o Real Madrid pode tomar a hegemonia do Barça e colher uma estrela para a próxima década.

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No aniversário de Zidane, os dez jogadores mais classudos da história http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/23/no-aniversario-de-zidane-os-dez-jogadores-mais-classudos-da-historia/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/23/no-aniversario-de-zidane-os-dez-jogadores-mais-classudos-da-historia/#respond Tue, 23 Jun 2020 12:24:28 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8681

Foto: Real Madrid

Sim, os rankings já saíram de “moda” nesta paralisação do futebol por conta da pandemia. Mas o aniversário de 48 anos de Zinedine Zidane lembrou este colunista de uma lista que estava na fila lá em meados de março e merece ser registrada.

Então seguem os dez jogadores mais classudos da história. Ou, atualizando, os de mais elegantes gestos técnicos.

10º ENZO FRANCESCOLI – O ídolo de Zidane, inspiração para o nome do primogênito do craque. O craque da seleção uruguaia e do River Plate precisa estar nesta lista.

9º ROMÁRIO – Pouco se fala nessa característica do “gênio da grande área”, mas tanto nas finalizações quanto em passes e domínios o Baixinho esbanjava elegância. Inclusive é o que diferencia o herói do tetra na eterna comparação com Ronaldo Fenômeno.

8º FERNANDO REDONDO – Uma pena as seguidas lesões atrapalharem uma carreira que poderia ter sido bem mais brilhante. Ainda assim, era bonito ver o volante argentino em campo, protegendo a defesa e qualificando a saída de bola.

7º ANDREA PIRLO – Mais um que jogava “de terno”. E bastou recuar o posicionamento depois de ser um típico camisa dez para ganhar espaços e mostrar a destreza em passes curtos ou lançamentos atuando como um “regista”.

6º MATT LE TISSIER – O craque “cult” do Southampton nos anos 1990. Gols de cobertura, cobranças perfeitas de pênalti. Se ainda não conhece as preciosidades desse gênio um tanto desleixado abra agora uma aba no Google ou no Youtube.

5º PAULO ROBERTO FALCÃO – O “Rei de Roma”. O desempenho mais regular entre os brasileiros na Copa de 1982, tri brasileiro pelo Internacional. Sabia jogar como volante ou meia mais adiantado, mas sempre parecia flutuar em campo.

4º ADEMIR DA GUIA – Os vídeos do maior ídolo do Palmeiras são impressionantes. Esguio, “falso lento”, genial na arte de fazer o simples parecer tão belo. Vencedor na união de eficiência e plástica.

3º FRANZ BECKENBAUER – O rei das trivelas objetivas. Com o pragmatismo misturado com senso estético que só um alemão saberia dosar com tamanha perfeição. Como volante vice-campeão mundial em 1966 ou líbero ganhando a Copa do Mundo em casa e no Bayern mais vencedor da história.

2º DIDI – O craque da Copa do Mundo de 1958, aquela que apresentou Pelé e Garrincha para o mundo. Só isso já faria dele um gênio atemporal, mas ainda desfilava em campo com repertório de dribles, passes, lançamentos e chutes de incrível originalidade para a época. Um espetáculo.

1º ZINEDINE ZIDANE – Ele. O rei dos vídeos de skills na internet. Com estilo até para soltar um tiro de pé esquerdo para decidir a Liga dos Campeões 2001/02. No dicionário a palavra “classe” deveria vir com a foto de “Zizou”. Feliz aniversário, gênio!

MENÇÕES HONROSAS (ou os que completariam um top 15): Bobby Moore, Geovani (Vasco), Alex, Riquelme e Michel Platini.

 

 

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Manchester City voa baixo, roda elenco e aquece turbinas para Champions http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/22/manchester-city-voa-baixo-roda-elenco-e-aquece-turbinas-para-champions/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/22/manchester-city-voa-baixo-roda-elenco-e-aquece-turbinas-para-champions/#respond Mon, 22 Jun 2020 20:53:15 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8675 Com as vitórias em casa por 3 a 0 sobre o Arsenal no jogo que faltava na 29ª rodada e 5 a 0 sobre o Burnley, o Manchester City fez cair para 20 pontos a vantagem do Liverpool na liderança da Premier League. Mas com 24 pontos ainda em jogo, o título dos Reds é questão de tempo e matemática.

Mais importante que garantir o “pódio” novamente, uma característica dos trabalhos de Pep Guardiola em todas as ligas que disputou desde 2008 – a pior colocação foi o terceiro lugar na estreia na Inglaterra em 2016/17 -, é retomar rapidamente o ritmo para atingir dois grandes objetivos.

O primeiro é um tanto circunstancial: já que é praticamente impossível manter a hegemonia nos pontos corridos, a luta pelo bicampeonato do mata-mata nacional ganhou muita importância. Depois de “unificar” as conquistas em 2019, os citizens mantiveram o domínio na Copa da Liga Inglesa e estão nas quartas da Copa da Inglaterra contra o Newcastle.

A grande meta, porém, é, claro, o título inédito da Liga dos Campeões. Primeiro administrando a vantagem sobre o Real Madrid construída fora de casa com os 2 a 1 no Bernabéu. Sem a presença da torcida no Etihad Stadium, mas com a possibilidade de gerir melhor o elenco em relação ao time merengue, que acabou de assumir a liderança do Espanhol e vai lutar pela recuperação do domínio da liga. Até pela obsessão do treinador Zinedine Zidane, que valoriza demais a superioridade nos pontos corridos.

Guardiola também pensa assim, mas sabe que desta vez terá que ser forte nas disputas eliminatórias para tornar a temporada histórica e atingir o ápice antes da provável punição da UEFA, afastando o clube de competições europeias por dois anos, acusados de burlar o fair play financeiro.

Por isso tenta nivelar o grupo de jogadores por cima. mantendo apenas Ederson, David Silva e Mahrez na formação de um jogo para outro na volta. Revezando Cancelo/Walker e Mendy/Zinchenko nas laterais, Eric Garcia/Otamendi e Laporte/Fernandinho na zaga; Rodri/Gundogan e De Bruyne/Bernardo Silva no meio. Aguero/Gabriel Jesus no centro do ataque e Sterling/Foden nas pontas. Ainda Leroy Sané, que volta de séria lesão e sairá no final da temporada, mas está à disposição do treinador.

A mesma valorização da posse com linhas adiantadas e pressão logo após a perda da bola, porém com momentos de aceleração e intensidade máximas. Sempre com triangulações em todos os setores, mas também jogadas mais longas, como o passe de Fernandinho para Mahrez no segundo gol sobre o Burnley. Muita gente chegando ao ataque no sistema base 4-3-3, mas com rotações – pontas, laterais e meias alternando abertos e por dentro nas ações ofensivas – e volume de jogo que tontearam os dois adversários até agora.

Oito gols marcados, 68% de média na posse de bola, acerto acima de 90% nos passes, 39 finalizações (19 no alvo), nenhuma na direção da meta de Ederson em 180 minutos. Mesmo relativizando o nível dos adversários, não é pouco. Até porque o Burnley vinha de sete partidas de invencibilidade e apenas três gols sofridos.

O City retorna voando baixo e aquece as turbinas para competir forte no que resta em 2019/20. Temporada problemática pelo contexo, mas que ainda pode ser gloriosa e histórica.

(Estatísticas: Whoscored.com)

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Liverpool empata clássico e sofre na volta porque depende demais do ritmo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/21/liverpool-empata-classico-e-sofre-na-volta-porque-depende-demais-do-ritmo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/21/liverpool-empata-classico-e-sofre-na-volta-porque-depende-demais-do-ritmo/#respond Sun, 21 Jun 2020 20:27:45 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8669 O Liverpool de Jurgem Klopp ganhou a Europa e o mundo em 2019 depois de apurar o modelo de jogo e adicionar peças essenciais para o salto de qualidade, como Alisson na meta e Van Dijk na zaga.

Mas sempre com intensidade máxima, volume de jogo sufocante na maior parte do tempo. Mesmo aos poucos trabalhando mais a bola, controlando ritmo e dosando energias. O amadurecimento do “gegenpressing”, do futebol “rock’n’roll” do treinador alemão.

A pausa de mais de 90 dias foi inesperada e tirou tudo do contexto. Virou o mundo de ponta a cabeça e a melhor equipe do planeta foi junto no turbilhão. Havia, inclusive, o temor de que a conquista da Premier League, prioridade na temporada, fosse ameaçada pelo fim precoce da competição sem um campeão.

A volta foi um alento, mas obviamente gerando um problema: como retomar a essência do modelo de jogo com tanto tempo parado e um período curto de preparação? E já no clássico de Liverpool  contra o Everton. Mesmo sem perder para o rival local desde 2010, era um desafio para os Reds. Porque depende demais do ritmo de jogo para funcionar.

Com Salah no banco e Robertson de fora, o líder absoluto da liga adiantou as linhas, ficou com a bola e investiu no perde-pressiona, virando a chave rapidamente na transição defensiva. Mas a “ferrugem” era clara, apesar do domínio. Forçando naturalmente pela direita com Alexander-Arnold e Minamino, enquanto Milner descia menos no habitual improviso pela lateral esquerda.

O Everton de Carlo Ancelotti respondia com um 4-4-2 compacto e acelerando para sair logo da pressão do rival e entrar no campo de ataque. Acionando Richarlison e Calvert-Lewin, dupla na frente que buscava as infiltrações entre zagueiros e laterais adversários.

Domínio vermelho com posse de 70% e 85% de efetividade nos passes, porém com dificuldades para desequilibrar o sistema defensivo do Everton para criar a chance cristalina. Fazendo mais força pra jogar, o desgaste foi inevitável.

Os primeiros a sentir foram Milner e Minamino. Depois Matip saiu com problemas físicos. Klopp usou as cinco substituições tirando também Keita e Firmino. Com Joe Gomez, Oxlade-Chamberlain, Lovren, Wijnaldum e Origi, o nível caiu. Em todos os aspectos.

E o Everton terminou o jogo com menos posse e finalizações – nove contra dez, três no alvo para cada lado. Mas com a impressão de que poderia ter encerrado no Goodison Park com torcida virtual um jejum de uma década. Três oportunidades seguidas, a melhor na jogada de Richarlison pela esquerda que encontrou a letra de Calvert-Lewin para grande defesa de Alisson. No rebote, chute de Davies desviado em Gomez e tocando na trave direita.

O clássico naturalmente não teve o nível habitual de um jogo deste tamanho. A boa notícia para o Liverpool é que a vantagem sobre o Manchester City que pode cair para 20 pontos se o time de Guardiola vencer em casa o Burnley amanhã, no encerramento da rodada, parece imune a oscilações. Faltando oito rodadas.

Mesmo em um anticlímax, o fim de jejum de 30 anos está cada vez mais próximo.

(Estatísticas: Whoscored.com)

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Até quando dura o domínio no piloto automático do Barcelona na Espanha? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/19/ate-quando-dura-o-dominio-no-piloto-automatico-do-barcelona-na-espanha/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/19/ate-quando-dura-o-dominio-no-piloto-automatico-do-barcelona-na-espanha/#respond Fri, 19 Jun 2020 22:39:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8665 O Barcelona voltou goleando o Mallorca por 4 a 0 e superando o Leganés por 2 a 0. Imposição natural sobre equipes lutando contra o rebaixamento. “Receita” do time catalão no domínio recente na liga espanhola: evitar perder pontos para os de menor investimento para ter tranquilidade na disputa contra os grandes.

Mas bastou um jogo mais duro, fora de casa contra o terceiro colocado Sevilla, para o Barça mostrar que, apesar do resgate de mais elementos de jogo de posição com a chegada de Quique Setién, a essência, com virtudes e defeitos, continua a mesma dos tempos de Ernesto Valverde: um time que tem posse, baixa intensidade e dependência de Ter Stegen atrás e de Messi na frente.

Em jogos maiores, quase invariavelmente armado em um 4-4-1-1 que mantém Suárez na frente, Messi com liberdade de circulação e as demais peças precisando se encaixar no sistema e no modelo. Com Rakitic já em uma reta final de carreira, cabe a Arturo Vidal cumprir a função sacrificante de fechar o lado direito e dar opção de profundidade e força no setor. Porque Semedo é outro elo fraco e Sergi Roberto não entrega tanta consistência como lateral.

Com Griezmann sem condições para 90 minutos, Setién começou com Martin Braithwaite. Um atacante que poderia ser um contraponto de intensidade e infiltração para furar linhas de marcação, mas dentro de uma proposta de circulação de bola sofre muito tecnicamente para dar sequência às jogadas.

Sobra Jordi Alba, a inesgotável opção de profundidade pela esquerda. Arthur não consegue sequência, nem alternar passes de controle com os necessários de ruptura. Na defesa adiantada, Piqué e Lenglet se viram em coberturas, antecipações e evitando erros de passe na saída quando pressionados.

Porque o Sevilla de Julen Lopetegui se arriscou em seus domínios. Adiantando a marcação, alternando os ponteiros Ocampos e Munir pelos flancos e mudando constantemente o desenho no meio-campo, ora com Fernando e Jordán como volantes e Oliver Stones mais solto, ora fixando Fernando e subindo Jordán alinhado a Oliver. Pressão no adversário com a bola e transição rápida. Também valorizando a posse em muitos momentos, como gosta Lopetegui.

No segundo tempo dobrando a aposta em contragolpes ao rearrumar a retaguarda com linha de cinco depois da entrada do sérvio Gudelj na defesa. Também Banega, Vázquez, Suso e En-Nesyn. Finalizou oito vezes, metade no alvo. Mas é difícil vencer Ter Stegen.

Mas não foi tão complicado parar Messi, que muitas vezes não tem um parceiro conectado com seu raciocínio rápido e, nas partidas mais pegadas, também sofre fisicamente. Resta recuar, tentar uma tabela ou encontrar as entrelinhas, cada vez mais raras, para cortar da direita para dentro e finalizar. Até as cobranças de falta estão mapeadas. No caso do Sevilla, com o zagueiro francês Koundé auxiliando o goleiro Vaclik na cobertura de um dos ângulos. O 700º gol na carreira ficou para outra ocasião.

A cultura de vitória de oito conquistas nas últimas onze edições da competição não foi suficiente desta vez para arrancar os três pontos na moral, à forceps. E o empate sem gols era tudo que o Real Madrid esperava. Com a vantagem no confronto direto por conta do empate fora e a vitória em Madrid, o time de Zidane pode igualar em pontos na liderança e de lá não mais sair.

Até porque parece mais regular no desempenho que o grande rival. É claro que a disputa segue muito aberta e enfrentar a Real Sociedad como visitante não será tão simples para a equipe merengue na 30ª rodada, faltando oito para o final da liga.

Mas até quando vai durar esse domínio no piloto automático do Barcelona? O Real de Zidane parece próximo de repetir a queda de hegemonia que impôs em 2016/17.

(Estatísticas: Whoscored.com)

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