Vasco – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Volta do Vasco de Ramon Menezes vai além dos gols de Gérman Cano http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/28/volta-do-vasco-de-ramon-menezes-vai-alem-dos-gols-de-german-cano/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/28/volta-do-vasco-de-ramon-menezes-vai-alem-dos-gols-de-german-cano/#respond Sun, 28 Jun 2020 20:59:17 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8697 Depois da volta do Flamengo contra o Bangu no Maracanã e de nova pausa no polêmico e conturbado Campeonato Carioca, foi a vez dos outros três grandes retornarem aos campos. Já com previsão de presença de público em breve. Tudo muito precoce e um tanto irresponsável. Paulo Autuori tem razão.

Seja como for, o Vasco venceu o Macaé em São Januário por 3 a 1 e é natural que o destaque seja Gérman Cano e seus três gols, chegando a oito em doze partidas pelo time cruzmaltino. Ou a possibilidade mais real de classificação para as semifinais da Taça Rio com a derrota do Madureira para o Resende por 2 a 0.

Mas a equipe de Ramon Menezes apresentou ideias interessantes para a realidade do Vasco no cenário nacional. Combinando experiência com a juventude de promessas vindas das divisões de base. Descontando todas as limitações, inclusive por conta da inatividade sem precedentes de mais de 100 dias.

O sistema base era o 4-3-3, porém com nuances como Henrique mais preso pela esquerda como um lateral base, deixando o corredor para ser explorado por Talles Magno e o apoio do meia argentino Martín Benítez. Do lado oposto, Yago Pikachu apoiava mais por dentro, embora tenha criado aberto a jogada que terminou no terceiro e último gol do argentino.

Bem aberto, o garoto Vinícius, 19 anos, partia para o drible e também contava com o suporte de Fellipe Bastos, o meio-campista jogando à frente de Andrey, o volante de proteção, mas também liderando a saída de bola com passes e inversões. Dentro de uma proposta ofensiva e de controle pela posse de bola, ao menos na volta contra um time de menor investimento,

A dúvida fica quanto ao posicionamento de Ricardo Graça, zagueiro canhoto, pela direita. Sempre complicado pelo posicionamento do corpo, especialmente quando pressionado na saída de bola. Ricardo tem técnica e boa vontade da torcida, mas é algo para se trabalhar na dupla com Leandro Castán.

Fernando Miguel pagou pela inatividade na sequência de uma grande defesa em cabeçada de Alex Sandro, mas falhando na saída da meta na cobrança de escanteio que terminou no gol único do Macaé, marcado por Jones. Nada que ameaçasse, de fato, a imposição natural do Vasco.

Cano confirmou a boa impressão de antes da parada, com ótima presença de área, mas também recuando para atrair a última linha adversária e abrir espaços para as diagonais dos pontas. Mas funciona sempre melhor quando o argentino aparece para finalizar. Mesmo perdendo chances claras no final do jogo. As últimas duas das 18 finalizações vascaínas, seis de Cano. Metade nas redes.

Mas o Vasco foi além da eficiência de seu artilheiro. Se o time fizer a sua parte e se classificar, a margem de evolução será maior até o início do Brasileiro, outra fonte de polêmica em meio à pandemia. Haja incerteza…

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Flamengo volta sem torcida, TV, rivais…Sozinho. Landim deve estar feliz http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/17/flamengo-volta-sem-torcida-tv-rivais-sozinho-landim-deve-estar-feliz/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/17/flamengo-volta-sem-torcida-tv-rivais-sozinho-landim-deve-estar-feliz/#respond Wed, 17 Jun 2020 10:51:20 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8658

Foto: Paula Reis / Flamengo

Noventa e cinco dias depois da paralisação por conta da pandemia, o Campeonato Carioca será retomado na quinta, dia 18, com Bangu x Flamengo no Maracanã. Quarta rodada da fase de grupos da Taça Rio.

Tudo definido em um arbitral a toque de caixa, sem consenso. Fluminense e Botafogo isolados, Flamengo liderando a pressão para voltar. O Vasco seguindo por interesses comuns e os times de menor investimento sempre “fieis” ao presidente da FERJ, hoje Rubens Lopes.

O Flamengo se acha pronto. Voltou aos treinos, inicialmente sem autorização da Prefeitura, se vangloria por seus protocolos de segurança. Quer jogar a qualquer custo. Mesmo sem todas as medidas de prevenção definidas pelo governo do Rio de Janeiro, contra todas as recomendações de órgãos de fiscalização. Com adversários sem retomar os treinos. Ainda com muitas mortes por Covid-19 no município e no Estado e perspectivas de crescimento do número de casos com a flexibilização do distanciamento social.

Nada importa. Só o Flamengo, expondo sua marca e a dos patrocinadores. Mostrando que é e continuará poderoso por estar sempre um passo à frente dos rivais. Uma ilha de excelência. Nas declarações dos dirigentes, especialmente do presidente Rodolfo Landim, sempre “nós”, “o Flamengo”. Como se jogasse sozinho.

Na quinta estará sem torcida, por força das circunstâncias. Sem TV, por não fechar acordo para a transmissão do Grupo Globo. Se o Bangu não comparecesse talvez nem fizesse falta. O Flamengo colocaria os reservas de seu forte elenco e organizaria um coletivo. Um Narciso se admirando no espelho.

O Flamengo já não tem rivais no Rio de Janeiro. Nesta edição do Carioca, o Fluminense se coloca como um possível oponente por conta de um regulamento esdrúxulo: pela classificação geral pode provocar uma final, mesmo que os rubro-negros conquistem os dois turnos. Tudo por causa de uma vitória tricolor sobre o time sub-23 do Fla enquanto as estrelas campeãs do Brasileiro e da Libertadores voltavam de férias.

É óbvio que o clube tem seus méritos, ambições e o estadual só ganha alguma relevância agora porque é o que pode ser disputado, até pela impossibilidade de deslocamentos pelo país. Não é errado desejar ser o melhor e construir uma hegemonia nacional e internacional. Longe disso.

Mas é preciso entender que o futebol não se disputa apenas com sparrings ou figurantes. Ainda mais no Brasil que costuma valorizar mais o equilíbrio que a qualidade. O Flamengo passou de 2013 a 2019 se organizando em gestão, porém sem grandes conquistas. Agora que venceu quer construir uma dinastia sem precedentes no país. Desejo justo e saudável, mas não atropelando tudo que vê pela frente, inclusive a ética e o senso coletivo.

O Flamengo de Landim dá a impressão de que se jogasse na NBA entraria com uma petição para ter a primeira escolha do “draft”, mesmo sendo o campeão. Os concorrentes que se danem, fiquem lá em baixo.

Por isso a visão elitista, a proximidade com o poder – da federação, do Estado e da União. Um isolamento esportivo, que no momento se opõe ao distanciamento social necessário. Um egoísmo em todas as instâncias que não costuma dar muito certo – vide o “Soberano” São Paulo, absoluto na década passada e agora sofrendo com excesso de crises e falta de títulos.

O Flamengo retorna sem torcida, sem TV e sem rivais. Sozinho. Landim deve estar feliz.

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Das glórias às crises, Andrés Sanchez lembra mesmo Eurico Miranda http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/10/das-glorias-as-crises-andres-sanchez-lembra-mesmo-eurico-miranda/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/10/das-glorias-as-crises-andres-sanchez-lembra-mesmo-eurico-miranda/#respond Wed, 10 Jun 2020 14:21:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8631

Foto: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians

A comparação não é minha, mas de Juca Kfouri, já há algum tempo. Este que escreve confessa que no início viu mais semelhanças com Kléber Leite, presidente do Flamengo que contratou Romário em 1995. Andrés Sanchez repatriou Ronaldo Fenômeno em 2009 e Roberto Carlos no ano seguinte. Dirigentes comparáveis na megalomania.

Mas a trajetória do atual presidente do Corinthians tem mesmo vários pontos semelhantes com a do ex-dirigente vascaíno, falecido em março do ano passado. E Andrés diz se orgulhar disso.

Eurico Miranda entendia de futebol, sabia pensar com os treinadores a montagem de equipes fortes e gostava de preservar o comando técnico para que o time cruzmaltino tivesse uma identidade em campo. O mais longevo deles foi Antonio Lopes, de 1996 a 2000.

Nos momentos de dificuldades e derrotas doídas sabia matar no peito a responsabilidade e desviar o foco com bravatas, polêmicas, confrontos com jornalistas e provocações aos rivais, especialmente o Flamengo. Mas sobrou também para o próprio Andrés, alfinetado por Eurico em 2014 sobre a construção do estádio do Corinthians. Isso criava uma cumplicidade com jogadores e comissão técnica, blindadas pelo escudo do dirigente poderoso.

Eurico também trabalhou para a CBF, como Diretor de Futebol no início da gestão Ricardo Teixeira em 1989. A pedido de João Havelange, sogro de Ricardo, por conta da inexperiência do genro com o futebol. Não durou muito a parceria e Eurico viria a se tornar desafeto de Teixeira.

Eurico se envolveu com política partidária. Foi deputado federal e sempre tentou usar sua influência para beneficiar o Vasco. E não fazia questão nenhuma de esconder isso, inclusive pedindo votos e fazendo promessas aos torcedores do clube do Rio de Janeiro.

Eurico esteve sempre envolvido em processos judiciais e foi investigado na CPI do futebol. O problema invariavelmente era a pouca transparência com que geria primeiro o futebol, depois como presidente do Vasco da Gama.

E quando a “caixa preta” foi aberta, o Vasco estava afundado em uma grave crise financeira. Com a queda a partir de 2000, com os altos investimentos no time de futebol e também em um projet  que contratava atletas com índices olímpicos ou fazendo parte de seleções classificadas para os Jogos de Sydney. Nem a parceria com o Bank of America sustentou a empreitada e o clube acumulou processos trabalhistas.

Com os cofres vazios mas muito populismo para se manter no poder, Eurico seguiu tentando investir no futebol e resgatar a competitividade de outros tempos. Só aumentou as dívidas com contratações de qualidade duvidosa e perdeu capital político até seu grupo ser derrotado nas urnas por Roberto Dinamite em 2008. Na volta em 2014, a mesma prática de afirmar publicamente a saúde financeira, mas  auditorias posteriores revelando um aumento considerável da dívida que hoje chega a cerca de 440 milhões de reais

Andrés também entende de futebol, é polêmico e provocador, foi deputado federal, trabalhou com Ricardo Teixeira na CBF, foi e é alvo de processos judiciais..e agora parece viver o período de queda. Não foi o presidente da conquista da Libertadores e do Mundial em 2012, mas sempre esteve envolvido com a política do Corinthians. Ora como gestor, ora como figura influente nas decisões.

Inclusive na construção do estádio em Itaquera que segue comprometendo as finanças do clube. Um passo ambicioso que cobra um preço alto junto com outras decisões e contratações questionáveis. A dívida aumenta mesmo com a receita dos direitos de transmissão e também do programa de sócio-torcedor. No retorno de Andrés à presidência em 2018, a conta chegou salgada e, agora, com a parada por conta da pandemia, o clube sangra de vez. A divida geral é de cerca de 350 milhões de reais.

Os salários atrasados chegaram a três meses e o Corinthians pode sofrer penhora por não repassar para agentes o valor referente à venda de Maycon para o Shakhtar Donetsk. Problemas que se avolumam, mas não freiam o populismo: a direção do clube sinaliza negociações avançadas para repatriar Jô e uma possibilidade de contratar também o atacante Alex Teixeira. A velha estratégia de distrair a torcida com possíveis reforços para soterrar o noticiário negativo.

Práticas que cheiram a mofo. Não conseguiram manter Eurico forte nem no seu retorno ao Vasco em 2014 e parecem minar de vez o prestígio de Andrés no Corinthians. Sem vitórias no campo, a paciência do torcedor vai embora. Sintomático nos dois casos.

As semelhanças não são mera coincidência. Nos defeitos e nas virtudes. Das glórias às crises. Juca tem mesmo razão.

 

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Futebol no Brasil continua mal jogado. Flamengo só é a melhor exceção http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/04/futebol-no-brasil-continua-mal-jogado-flamengo-so-e-a-melhor-excecao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/04/futebol-no-brasil-continua-mal-jogado-flamengo-so-e-a-melhor-excecao/#respond Thu, 04 Jun 2020 12:20:29 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8595

Foto: Gazeta Press

O companheiro Mauro Cezar Pereira foi parar no topo dos assuntos mais comentados no Twitter ontem à tarde por conta de sua análise sobre o futebol jogado no Brasil. No podcast “Posse de Bola”, aqui no UOL Esporte, ele afirmou que até 2019, com algumas exceções, os times escolheram a tese do “jogar feio e vencer”. Os Jorges, Jesus e Sampaoli, teriam mudado esse cenário no ano passado com seus trabalhos no Flamengo e no Santos, respectivamente.

Como temos uma amizade de alguns anos, inclusive trabalhando juntos na ESPN Brasil, chamei o Mauro em particular para entender melhor o que ele queria dizer. Pouco antes ele havia publicado um vídeo no seu canal no Youtube explicando de forma mais clara o ponto de vista.

Entendi, mas continuo discordando respeitosamente do Mauro. A meu ver, o futebol no Brasil continua mal jogado. O Flamengo só é a melhor exceção.

Até porque há uma espécie de cultura subterrânea no país que valoriza o jogar mal. Não feio. Aliás, muitas vezes se cria um falso dilema em torno do tema. Para evitar confrontos com profissionais do futebol pelos mais variados interesses, de preservar a fonte jornalística até a tentativa de cavar uma vaga em comissões técnicas de clubes, se apela para a “não-crítica”.

“Há várias maneiras de jogar e vencer”, “não existe certo e errado’ e por aí vai. São as senhas para elogiar qualquer coisa que alcance resultados por um período ou um campeonato. Um esforço para encontrar virtudes onde muitas vezes só há ideias ruins, mal planejadas e executadas, porém salvas por individualidades ou um contexto favorável.

No Brasil se criou uma espécie de conformismo, baseada em nosso jeito de ver futebol. Se os melhores jogadores vão para a Europa, cada vez mais cedo, que aqui vença o mais “macho”. O jogo vira um culto à virilidade. O torcedor, em geral, prefere a vitória sofrida, arrancada à forceps. A imposição do melhor futebol é algo chato, que torna tudo mais previsível. A velha ditadura da emoção, que vale mais que um trabalho bem feito.

A prova veio no ano passado mesmo. Quem não lembra da esperança de muitos que o Palmeiras com Mano Menezes pudesse alcançar um Flamengo que deixou alguns pontos pelo caminho na sequência dura de dois jogos por semana na reta final da temporada, jogando Brasileiro e Libertadores? Mesmo jogando mal quase sempre, o Alviverde pontuava e esperava enfrentar em casa o líder ainda com condições matemáticas na antepenúltima rodada. O desfecho acabou sendo decepcionante.

Ou ainda o delírio coletivo em torno de Vanderlei Luxemburgo, então treinador do Vasco, depois do empate por 4 a 4 no clássico carioca antecipado da 34ª rodada para que o Flamengo pudesse ir a Lima decidir a Libertadores contra o River Plate. Uma boa atuação cruzmaltina, dentro da proposta possível de um time inferior técnica e taticamente, em um clássico que costuma equilibrar forças. Contra uma equipe com boa vantagem na ponta da tabela da competição por pontos corridos e já mais focada na final continental.

Foi o suficiente para uma exaltação da estratégia de Luxemburgo. Como um último suspiro do status quo. O time inferior, mas “raçudo” e lutando até o final – o mínimo que se espera em um grande clássico nacional – arrancando o empate no fim, porém sofrendo quatro gols – foi alçado à condição de “heroi”. E o treinador tratado como um fantástico estrategista, como se tivesse encontrado a fórmula para parar aquela equipe que desafiava o padrão nacional de jogar futebol. Algo totalmente esporádico.

Isso vai além da natural torcida contra times muitos populares. Ou da resistência brasileira de admitir que países menos tradicionais em conquistas de Copas do Mundo, como Portugal, possam acrescentar algo ao futebol cinco vezes campeão do mundo. “Ganharam o quê?”

Jorge Jesus e o Flamengo ganharam. Brasileiro e Libertadores no mesmo ano, feito inédito desde o Santos de Pelé. Mas este conquistando a Taça Brasil disputando quatro ou seis jogos, não 38.  Quebrando paradigmas, como a utilização de reservas no campeonato por pontos corridos quando o clube chegava às fases decisivas das competições por mata-mata. Jesus poupou titulares poucas vezes.

A melhor exceção dos últimos anos. Como o Mauro Cezar inseriu este comentário em uma abordagem sobre a reprise dos 7 a 1 no fim de semana pelo Sportv, o período mais exato da análise seria desde 2014. Então teríamos o Corinthians de 2015 comandado por Tite e o Grêmio de Renato Gaúcho que venceu a Libertadores de 2017 como os únicos exemplos de equipes que venceram buscando um futebol diferente. Sem “fechar a casinha”, apelar para ligações diretas, usar com frequência a cobrança de lateral na área adversária e entregar a bola para o mais talentoso compensar a falta de ideias.

O Fla de Jesus mandou Felipão e Mano Menezes para casa. Também Fabio Carille, representante da identidade do Corinthians nos últimos anos que inclui Tite e o próprio Mano. E Renato Gaúcho só não caiu depois dos 5 a 0 na semifinal da Libertadores pelo tamanho que tem no Grêmio.

É inegável que o time rubro-negro abalou as estruturas. O Santos de Sampaoli também, mais pelo desempenho que por resultados. Justo também incluir o Athletico de Tiago Nunes campeão da Copa do Brasil. Mas a média continua baixa. Há iniciativas que valem a observação, como Eduardo Coudet no Internacional e a sequência de Fernando Diniz no São Paulo, mas a pandemia atrapalhou. Pode prejudicar o próprio Flamengo na volta.

Se acontecer, será a alegria e o alívio de muitos. E aí é impossível discordar do Mauro: de fato, a visão medíocre de futebol ainda impera. Vejamos até quando.

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Dunga, o subestimado. Por culpa dele mesmo e do nosso jeito de ver futebol http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/30/dunga-o-subestimado-por-culpa-dele-mesmo-e-do-nosso-jeito-de-ver-futebol/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/30/dunga-o-subestimado-por-culpa-dele-mesmo-e-do-nosso-jeito-de-ver-futebol/#respond Sat, 30 May 2020 14:08:47 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8571

Imagem: Reprodução TV Globo

Dunga foi campeão mundial de juniores (sub-20) em 1983. Completaria 20 anos em outubro daquele ano, mas já demonstrava liderança, embora o capitão fosse o zagueiro Boni.

Mas chamou atenção mesmo pela capacidade de marcação. Como Geovani e Gilmar Popoca eram meias essencialmente criativos e o ataque era formado por Mauricinho, Marinho Rã e Paulinho, sem um “falso ponta” para ajudar no trabalho sem bola, Dunga ficava plantado à frente da defesa, combatia, dava carrinhos.

Volante sério, cobrava dos companheiros o tempo todo. Mesmo muito jovem, o semblante sempre fechado, também pela concentração máxima no jogo, começou a criar no imaginário popular a imagem de “bravo”. Como só ele marcava, era o cara do “serviço sujo”. O “brucutu” ou “carregador de piano”.

Mesmo que já tivesse bom passe e chute forte e preciso de média/longa distância. Virtude que apareceria mais na seleção brasileira que venceria a medalha de prata em 1984 nos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Jogando como segundo homem de meio-campo, à frente do volante Ademir. Assim marcou dois gols pela equipe de Jair Picerni que contava com o Internacional como base.

Do clube gaúcho foi para o Corinthians, que remontou o time com o dinheiro da venda de Sócrates para a Fiorentina. Ajudou na campanha de recuperação no Paulista de 1984 que não impediu o título do Santos de Serginho Chulapa, mas entregou fibra e foi o pilar de sustentação de um meio-campo que tinha Arturzinho, Biro Biro e Zenon.

Seguiu acertando times na breve passagem pelo Vasco, vindo do Santos. Foi em 1987 a primeira vez que este que escreve viu Dunga no estádio. Além dos desarmes, o camisa cinco exigia que seus companheiros Geovani e Tita, que completavam o meio-campo na equipe de Joel Santana, e mais Mauricinho, Roberto Dinamite e até o jovem Romário voltassem até o próprio campo e dessem o primeiro combate. Para que ele viesse por trás para roubar a bola. Assim venceu a Taça Guanabara e fez parte da campanha do título estadual.

Dunga seguiu o caminho natural de jogadores de destaque à época. Inicialmente no Pisa, depois na Fiorentina, onde ficou de 1988 a 1992. Durante este processo foi campeão da Copa América de 1989 e virou titular absoluto da seleção para a Copa de 1990.

Ali começou a via-crúcis. Para elogiar o profissionalismo do jogador, o técnico Sebastião Lazaroni cunhou o termo “Era Dunga”. O impacto na imprensa e nos torcedores foi imediato. Porque ia na contramão da cultura do futebol brasileiro. “Como assim a seleção que conta com o talento de Careca, Bebeto, Romário, Jorginho, Mauro Galvão e Branco tem um volante marcador como símbolo?”

Junte a isso a escolha de um sistema com três zagueiros que era visto como “retranqueiro” e a entrada no meio-campo de Alemão, mais um jogador com características de volante, e tínhamos uma panela de pressão pronta para explodir. A seleção era vista como “europeia” e a briga por conta de premiação, com jogadores tapando com a mão o símbolo do patrocinador da CBF na foto oficial, alimentou a imagem de “mercenários”.

No campo, uma seleção intensa, dedicada e com proposta ofensiva. Os três zagueiros liberavam os alas, que contavam com o suporte dos meias Alemão e Valdo, que tentavam alimentar a dupla Muller-Careca na frente. Por trás, Dunga distribuía o jogo e chegava na frente para finalizar. Foi um dos destaques da melhor atuação brasileira naquele Mundial disputado na Itália: nas oitavas de final contra a Argentina, em Turim.

Mas o lampejo de Maradona servindo Caniggia jogou tudo por terra. As muitas chances desperdiçadas cobraram um preço alto. Dunga cabeceou uma bola na trave no primeiro tempo, mas foi driblado pelo gênio argentino no gol que definiu a eliminação precoce e o volante acabou virando símbolo daquele fracasso.

Uma injustiça reparada por Carlos Alberto Parreira em 1993. Um tanto à forceps, porque o treinador da seleção tentou montar um meio-campo com um volante, Mauro Silva, e três meias – Luis Henrique, Raí e Elivelton, de início. Era a exigência da época por um futebol mais “brasileiro”.

Quando Dunga se firmou como titular novamente ao lado de Mauro Silva, as críticas vieram pesadas. Como aquele “grosso” vai jogar de “oito”? No Brasil de Didi, Gerson, Rivelino, Falcão e Sócrates aquilo era considerado um acinte, uma ofensa ao futebol então tricampeão do mundo.

Na prática, Dunga era o melhor passador e o jogador que fazia o time jogar. Com passes diretos procurando os atacantes Bebeto e Muller, depois Romário. Ou invertendo para as combinações entre os laterais e os meias. Passes curtos e longos. De “chapa” ou de trivela. Um bom repertório, mesmo sem elegância e plástica.

Mas Dunga era volante, não podia armar as jogadas da seleção. E era o símbolo de uma derrota, podia “dar azar” novamente. Estereótipo e superstição sem olhar para o que acontecia no campo. Nada mais brasileiro.

Dunga virou o jogo sendo um dos destaques na conquista do tetra nos Estados Unidos. Teve personalidade para cobrar o último pênalti brasileiro antes de Baggio mandar nas nuvens as chances da Itália na decisão. Foi fundamental até nos bastidores, administrando as indisciplinas de Romário, seu colega de quarto.

Na hora de levantar a taça como capitão, um desabafo. Justo, mas que saiu desproporcional pelos muitos xingamentos. Um contraste com a alegria serena de Bellini, Mauro e Carlos Alberto Torres nas conquistas anteriores. De seleções também questionadas e criticadas pela imprensa, mas nenhum capitão quis se vingar em um momento de êxtase.

Dunga se queimou de vez. O título sem gols na final marcou uma seleção criticada. Magoado, Dunga passou a alfinetar sem nenhuma necessidade a seleção de 1982. Pragmático, não entendia como uma equipe que perdeu podia ser mais elogiada que a dele, que venceu. Comprou brigas bobas, alimentou a antipatia.

Em 1998, a briga com Bebeto durante o jogo contra Marrocos. Grito, xingamento, até uma cabeçada leve no companheiro de seleção. Durante uma partida tranquila ainda na fase de grupos da Copa do Mundo na França. Só porque o atacante veterano demorou a voltar para ajudar na marcação. Para quê?

Com nova derrota, desta vez na final para a anfitriã, mais críticas. Encerrando aos 34 anos um ciclo mais que vitorioso, porém cercado de polêmicas e ódio. De Dunga, de boa parte da imprensa e da torcida. O título de 2002, com os mesmos três zagueiros e dois meio-campistas com características de volante – Gilberto Silva e Kléberson – não atraíram tantas críticas por defensivismo. Afinal, na frente havia Rivaldo e os Ronaldos e a equipe de Felipão venceu os sete jogos, mesmo com dificuldades claras e alguns “apitos amigos”.

Encerrou a carreira salvando o Internacional do rebaixamento com um gol contra o Palmeiras em 1999. Mas a maioria, tirando os colorados, lembra mesmo dos dribles humilhantes do menino Ronaldinho Gaúcho pelo Grêmio. Os detratores de Dunga também lembram de sua carreira sem grandes conquistas e clubes de ponta no exterior para menosprezá-lo, mas na época ir para a Europa significava dinheiro, prestígio e mais chances de ser convocado. Servir à seleção era o grande objetivo dos brasileiros.

E bastou o escrete canarinho fracassar em 2006, com Parreira novamente e uma seleção acusada de pouco compromisso e sem liderança para lembrarem de Dunga. Na impossibilidade de contar com o “Sargento” Scolari, a serviço de Portugal, a CBF inventou o capitão do tetra como treinador. E muitos apoiaram à época. O líder que xingava e gritava seria importante pelo “pulso firme” para controlar os craques. Outro estereótipo tipicamente brasileiro.

Venceu Copa América e Copa das Confederações, terminou na liderança das Eliminatórias. Mas de novo as brigas com jornalistas, declarações nada amigáveis, alimentando um clima de tensão que só piorava o ambiente. Patadas para explicar as ausências de Neymar e Ganso, respostas cheias de veneno para justificar uma convocação que entregava pouco além do forte time titular.

Novo revés, mais uma execração pública. Demissão e a volta em 2014, de novo para apagar incêndio. Desta vez os 7 a 1. Com apenas uma experiência no comando técnico de clube, no Internacional em 2013. Um pouco mais calmo e sorridente no trato com a imprensa e nas declarações públicas. Mas faltou conteúdo e a eliminação da Copa América Centenário encerrou o ciclo.

Muito de positivo nesses 31 anos à serviço da seleção poderia ser lembrado, mas acaba soterrado por questões menores. Responsabilidade do próprio jogador e treinador, com seu temperamento irascível, implacável, sem concessões. Tratada como virtude quando convém na cultura do futebol brasileiro. Tinha que ser o “general”, mas sem se atrever a querer ser destaque como jogador. Este era o papel dos mais habilidosos, malemolentes, criativos. Ele era um “europeu” que vestia a camisa verde e amarela.

Dunga fez parte da seleção da FIFA em duas Copas do Mundo: 1994 e 1998. O melhor passador no título dos Estados Unidos – 589 corretos, só ficando atrás de Xavi em 2010 na história dos mundiais –  e um dos mais eficientes na campanha do vice, quatro anos depois. Mas poucos lembram. Porque Dunga é um dos jogadores mais subestimados da história. Por culpa dele e do jeito brasileiro de ver o futebol. Uma pena.

 

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Yaya Touré no Vasco lembra as manchetes do velho “Jornal dos Sports” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/22/yaya-toure-no-vasco-lembra-as-manchetes-do-velho-jornal-dos-sports/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/22/yaya-toure-no-vasco-lembra-as-manchetes-do-velho-jornal-dos-sports/#respond Fri, 22 May 2020 12:44:16 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8528

Imagem: Reprodução

“Maradona no Flamengo”, “Schuster no Fluminense”, “Romerito no Vasco”. Essas eram as manchetes frequentes no início dos anos 1980, quando este que escreve se apaixonou para sempre pelo futebol.

Principalmente de um jornal que fez história no Rio de Janeiro. O lendário Jornal dos Sports, de páginas rosas inspiradas na publicação francesa L’Auto, depois L’Equipe, embora o imaginário popular até hoje aponte para o periódico italiano La Gazzetta dello Sport.

Não que as informações fossem inventadas sempre. Sempre houve jornalistas menos cuidadosos com a notícia. Até hoje há alguns “especialistas” em criar negociações, interesses e sondagens. Mas muitas vezes havia “fumaça” mesmo, embora pouco confiável. Normalmente partindo de dirigentes querendo desviar o foco das derrotas de algum dos grandes cariocas. Ou para iludir o torcedor com um “pacotão de reforços” na virada da temporada, mesmo com os cofres vazios.

Avançando um pouco no tempo, o ano de 1999 foi prolífico nessas manchetes de fim de temporada. Romário havia deixado o Flamengo e não queria sair do Rio de Janeiro. Surgiu, então, o interesse do Vasco, mas também do Botafogo. Carlos Augusto Montenegro anunciara um possível acordo: o artilheiro disputaria o Mundial de Clubes pelo time cruzmaltino e depois partiria para o Alvinegro, com o patrocínio de uma empresa alimentícia.

Nunca se concretizou. Assim como o interesse do Fluminense em Viola, que seguiu no Vasco. E, como sempre, o Flamengo era o grande alvo dessas especulações. Ainda mais com o dinheiro da ISL, empresa que fechou parceria com o clube, então presidido por Edmundo dos Santos Silva. Na capa, Giovane Élber era o nome para substituir Romário. Continuou no Bayern de Munique até 2003 e na Europa até 2005.

Edmundo também prometeu Batistuta. Ficou com 50%, ou apenas o centroavante Tuta, de passagem esquecível em meio às tantas contratações de fato daquele ano: Edilson, Denilson, Alex, Petkovic e Gamarra. Todos acertos do Jornal dos Sports, estampados em suas capas.

Imagem: Reprodução

Outra fonte muito comum era o candidato à presidência que prometia um reforço de impacto caso fosse eleito, para atrair atenção e votos dos sócios do clube. Na época usava um recurso muito comum para explicar de onde viria o dinheiro: bilheterias de amistosos entre os clubes envolvidos. Um no Maracanã, outro na casa do “vendedor”. Eram tempos sem receitas de TV e, muitas vezes, de patrocinadores.

Voltemos a 2020. O Vasco deve salários e ficou até abril quitando débitos de 2019. A paralisação por conta da pandemia aprofundou a crise financeira. Tanto que após a saída de Abel Braga o clube resolveu apostar na efetivação do auxiliar Ramon Menezes.

Mas o candidato à presidência Leven Siano resolveu anunciar em uma transmissão ao vivo no Instagram que, caso eleito, contratará Yaya Touré. Inclusive com depoimento do próprio jogador marfinense, de 37 anos e sem clube, depois de passagem pelo Qingdao Huanghai, time da segunda divisão da China. Mas tudo, obviamente, depende do resultado das eleições no final do ano.

Como vai pagar? Isso fica para depois. Importante agora é ganhar o noticiário em um período sem futebol no país. Em tempos virtuais, é como colocar na capa do jornal. Se não tivesse deixado de circular no formato impresso em 2010, certamente o Jornal dos Sports teria hoje Yaya Touré chamando os leitores vascaínos para o devaneio. Assim como o próprio Montenegro, que sonhou com Romário há pouco mais de 20 anos, ainda pretende levar o jogador para o Botafogo.

Tempos saudosos, lúdicos. Às vezes era gostoso ser enganado com falsas promessas. A realidade hoje é bem mais dura, mas ainda há quem acredite.

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Flamengo e Vasco mostram que todo dia é possível manchar a própria história http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/20/flamengo-e-vasco-mostram-que-todo-dia-e-possivel-manchar-a-propria-historia/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/20/flamengo-e-vasco-mostram-que-todo-dia-e-possivel-manchar-a-propria-historia/#respond Wed, 20 May 2020 06:11:48 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8522 O Clube de Regatas Vasco da Gama tem talvez a história de origem mais bela do futebol brasileiro. Clube popular em um esporte de elite. Um dos primeiros a aceitar negros praticando o esporte no país. Construiu São Januário com a ajuda da torcida.

Um passado belíssimo que é resgatado agora como praticamente o único motivo de orgulho em uma instituição esfacelada por seguidas gestões irresponsáveis e uma turbulência política que parece não ter fim, assim como o fundo do poço nas finanças.

Mas durante décadas o Vasco girou em torno de uma elite branca, de origem portuguesa. Conservadora e que arrotava preconceitos nas muitas reuniões na Sede Náutica, situada na Lagoa Rodrigo de Freitas, que definiam o futuro do clube. Também do futebol, com os abastados beneméritos ajudando a contratar jogadores.

O desprezo de muitos deles aos pobres, favelados,negros, desdentados e iletrados era exposto para espezinhar um rival de origem oposta. Clube criado na zona sul carioca, também com origem no remo. O departamento de futebol surgiu de uma dissidência do Fluminense, outro clube elitizado.

Mas o Clube de Regatas do Flamengo ganhou popularidade ao longo de seus quase 125 anos de existência. Um pouco depois da lendária eleição do Jornal do Brasil em 1927 que foi fraudada por sócios do clube rubro-negro para que este superasse o Vasco em votos e ganhasse o título de time mais popular da cidade. Por conta de ações de integração da instituição com sua gente e do inquestionável carisma da camisa em vermelho e preto. Crescimento em todas as classes sociais, mas especificamente nas mais baixas.

Também com uma boa ajuda midiática. Desde Mário Filho, Ary Barroso até Walter Clark, homem forte da Globo de 1966 a 1977 que saiu para ser vice-presidente do Flamengo na gestão Márcio Braga. Impossível negar que os laços entre clube e emissora ficaram mais fortes, também pela qualidade e carisma da geração vencedora no período. Liderada por Zico, um filho de um modesto alfaiate português que nasceu no subúrbio carioca, e Junior, nascido na Paraíba.

Seja como for, a aura popular seguiu com o time que sempre foi o de maior torcida do país e nunca teve esse status realmente ameaçado. Mas a tão sonhada reestruturação financeira a partir de 2013 trouxe um efeito colateral: o retorno de uma postura elitista, afastando os mais pobres do clube com uma política de preços de ingressos e do programa de sócio-torcedor praticamente inviável na gestão Bandeira de Mello.

Melhorou um pouco com a chegada de Landim ao poder, porém com falhas graves no trato humano. Desde aa questão do incêndio no Ninho do Urubu que vitimou dez menores, passando pela polêmica da premiação aos funcionários mais humildes dos títulos brasileiro e da Libertadores.

Agora forçando a volta do futebol em meio a uma pandemia. Sem contar os 62 funcionário demitidos depois de anunciar que seria capaz de suportar três meses em atividades. Não durou 45 dias. Assim como as ações positivas nos últimos dias, especialmente em relação aos ambulantes do Maracanã, não resistiram muito tempo. Foram apenas reposicionamento de marca. Algo estratégico,nada espontâneo. Como já disto neste blog, lidar com gente não é a praia desta diretoria.

O Vasco também demitiu e cortou custos. Sem contar os atrasos absurdos no pagamento de salários. Mas segue colocando em qualquer slogan a bela história de inclusão e democracia. Mesmo tendo à frente do futebol durante anos uma figura truculenta e autoritária como Eurico Miranda,falecido em 2019. E nas últimas eleições desrespeitando o voto dos sócios e levando ao poder o médico Alexandre Campello.

Sim, Campello é médico. Mas também quer a volta imediata do futebol. E foi com Landim tratar da questão com o presidente da república. Encontro em Brasília, sem máscaras nem cuidados para evitar contaminação da Covid-19. Também sem respeito aos milhares de mortos pelo país. Uma questão que está acima de qualquer debate político. Vidas que se vão. Pessoas com histórias e entes queridos que choram a partida. Mais de mil nas últimas 24 horas. Quase 18 mil no total, sem contar a subnotificação em um país que não investe pesado na testagem.

Não são números, ou um problema a ser evitado. Seja para recuperar receitas, no caso dos clubes, ou pensando em preservar capital político e transferir responsabilidades por mortes e pela inevitável crise econômica sem precedentes, que parece ser a intenção de Bolsonaro. Querem voltar à vida normal, mas já está provado e comprovado que não adianta reabrir comércio se as pessoas estão com medo de sair de casa.

Flamengo e Vasco, rivais com origens e trajetórias bem diferentes que se cruzam sempre e eventualmente invertem os caminhos, se uniram para mostrar que todo dia a história está sendo escrita. E pode ser muito manchada, de acordo com as palavras e gestos de seus representantes.

A ida a Brasília encontrar Bolsonaro será difícil de esquecer. E a cobrança pela atitude vergonhosa e indigna não vai demorar a chegar. Porque nem todo torcedor é gado. Longe disso.

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A história que une Roberto Dinamite a Evair: criador e criatura http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/13/a-historia-que-une-roberto-dinamite-a-evair-criador-e-criatura/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/13/a-historia-que-une-roberto-dinamite-a-evair-criador-e-criatura/#respond Wed, 13 May 2020 14:03:26 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8479

Foto: NetVasco

“Foi difícil pensar só no jogo me vendo no Maracanã enfrentando o Vasco com ele em campo”. Palavras do jovem Evair à Rádio Globo do Rio de Janeiro, depois do Guarani fazer 3 a 0 sobre o time cruzmaltino no Maracanã, pelo jogo de ida das oitavas de final do Brasileiro de 1986.

O campeonato que revelaria o jovem artilheiro, então com 20 anos, que marcaria 24 gols e ficaria a um de Careca na artilharia. Vice também na competição com o time de Campinas, sendo derrotado nos pênaltis pelo São Paulo em eletrizante decisão no Brinco de Ouro.

Evair se referia a Roberto Dinamite, o grande ídolo da história do Vasco e maior artilheiro dos campeonatos brasileiros –  192 gols, entre outros feitos na carreira brilhante. Referência para tantos centroavantes que surgiram no Brasil naquele período. O camisa nove mineiro, nascido em Ouro Fino e que tinha o Santos como time na infância, marcaria dois gols naquele confronto que foi selado com outra vitória do Guarani, por 2 a 0 em Campinas.

Ambos tinham a mesma altura: 1,86 m. E Evair, de fato, em 1987 lembrava o Dinamite no início da carreira: porte físico, presença de área, precisão nas finalizações e alguma desenvoltura ao sair da referência no ataque para tabelar com seus companheiros.

Roberto já servia colegas de ataque no Vasco como Ramon, Amauri, Arthurzinho e Cláudio Adão. Mas foi com o jovem Romário, promovido aos 19 anos por Antonio Lopes em 1985, que Dinamite, aos 31 anos, construiu uma parceria que mudaria de vez as suas características em campo.

Em um 4-3-3, o então centroavante recuava para trabalhar como uma espécie de “enganche”, acionando o atacante que partia da esquerda infiltrando em diagonal para finalizar. Mas sem deixar de aparecer na área para concluir. Tanto que foi o artilheiro do Carioca de 1985, com um gol a mais que Romário, mesmo com o Vasco sequer chegando ao triangular decisivo daquela edição.

No ano seguinte, o inverso com Romário marcando 20 e Roberto, 19. O mesmo em 1987, com o Baixinho indo às redes 16 vezes e o Dinamite, 15. Parceria que se encerraria em 1988, com uma lesão de Roberto e depois Romário partindo para a Holanda jogar no PSV Eindhoven.

Até encerrar a carreira em 1993, Roberto atuou como esse centroavante que ficava mais adiantado quando o time não tinha a bola e recuava para articular, abrindo espaços para os companheiros no momento em que sua equipe atacava. Na prática, a movimentação de  um “falso nove”. Mais um no futebol brasileiro, assim como Neto no Corinthians campeão brasileiro de 1990.

“Nunca tinha pensado nisso, mas, de fato, ele cumpria essa função”, reconheceu Lopes em entrevista a este que escreve em 2012. Para aproveitar uma joia da base que viria a ser o melhor do mundo em 1994, o treinador descobriu um novo posicionamento para o centroavante vascaíno na reta final de sua carreira.

O Vasco de Antonio Lopes em 1986 que fez Roberto Dinamite recuar para que Romário infiltrasse em diagonal a partir da esquerda, formando uma das grandes duplas da história do futebol carioca (Tactical Pad).

Evair seguiu a vida no Guarani, sendo artilheiro do Paulista de 1988 e partindo para sua primeira experiência no futebol internacional, jogando pela Atalanta. Voltaria ao futebol brasileiro em 1991, para atuar no Palmeiras. Início difícil em um clube que sofria com 16 anos sem títulos. Chegou a ser afastado por “deficiência técnica” por Nelsinho Baptista.

Tudo mudou com a chegada de Vanderlei Luxemburgo em 1993. Treinador que havia sido estagiário de Antonio Lopes no início dos anos 1980, no próprio Vasco e também no América e no Olaria. Mas em 1986/87, trabalhando como técnico do sub-20 do Fluminense, testemunhou no Rio de Janeiro a grande fase da dupla Roberto-Romário, comandado pelo “mentor” Lopes.

Ao encontrar Evair no Palmeiras, junto com Edmundo e Edilson, se recordou da dinâmica do ataque cruzmaltino, que tinha Mauricinho pela direita completando o trio na frente. Em depoimento ao programa “Supertécnico” em 1999, Luxemburgo admitiu que se inspirou naquele Vasco para armar a dinâmica ofensiva de sua nova equipe.

Evair, mais experiente e com nítida evolução na leitura de espaços depois de passar pelo futebol italiano, recuava para trabalhar com os meio-campistas e permitia as entradas em diagonal de Edmundo e Edilson, depois Rivaldo no time que seria campeão paulista e brasileiro também em 1994. Mas sem deixar de se apresentar para as conclusões. Evair seria artilheiro do estadual daquele ano, com 23 gols. Virou ídolo eterno no Alviverde.

O Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo em 1993 tinha Evair fazendo o papel de “falso nove” para Edmundo e Edilson entrarem na área adversária (Tactical Pad).

Fechando uma espécie de “ciclo mágico”, Evair, aos 32 anos, encontraria Lopes no Vasco em 1997 para executar função semelhante, mais recuado para acionar o imparável Edmundo, craque e artilheiro recordista com 29 gols na campanha do terceiro título brasileiro do clube. Já aposentado, Roberto Dinamite viu o seu fã também virar ídolo no time da Cruz de Malta, ainda que em uma passagem efêmera de menos de seis meses.

De centroavante goleador a “falso nove” não menos letal na área adversária. Eis a pouco conhecida relação entre Roberto e Evair, na conexão entre Lopes e Luxemburgo. Criador e criatura.

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O Vasco campeão que “converteu” as filhas de Aldir Blanc http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/05/o-vasco-campeao-que-converteu-as-filhas-de-aldir-blanc/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/05/o-vasco-campeao-que-converteu-as-filhas-de-aldir-blanc/#respond Tue, 05 May 2020 13:22:12 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8432

Foto: Acervo / O Globo

Aldir Blanc partiu ontem aos 73 anos, perdendo a luta contra a Covid-19. O escritor e compositor, autor de “O Bêbado e a Equilibrista”, era um vascaíno apaixonado e dedicado. Artista que incluía o amor pelo clube em suas obras.

O título carioca de 1956 capturou o coração do menino de nove anos. Trinta e três anos depois conseguiu transmitir o sentimento cruzmaltino para as filhas Mariana, então com 14 anos, e Isabel, que tinha oito. Graças à comemoração da conquista do Brasileiro de 1989, o segundo da história do clube.

Triunfo que começou a se desenhar com a polêmica contratação de Bebeto, que deixou o Flamengo. Depois do presidente Antonio Soares Calçada negar o interesse em conversa com o presidente rubro-negro, Gilberto Cardoso Filho, o clube comprou o passe do artilheiro e craque da Copa América daquele ano.

Junto com Bebeto chegaram o lateral Luis Carlos Winck, o zagueiro equatoriano Quiñonez e o meio-campista Marco Antonio Boiadeiro e o ponta-esquerda Tato,  além de outros dois ex-rubro-negros repatriados: Andrade e Tita. O treinador seria Nelsinho Rosa.

O investimento focava na reconstrução da equipe que perdera a hegemonia estadual para o Botafogo com o desmonte do time bicampeão comandado por Sebastião Lazaroni. Paulo Roberto, Donato, Fernando, Geovani, Romário e Roberto Dinamite deixaram São Januário e o então diretor de futebol Eurico Miranda arregaçou as mangas.

O Vasco terminou a primeira fase, disputada em dois grupos de 11 times (!) com turno único dentro do mesmo grupo, na segunda colocação, atrás do Palmeiras com os mesmos 14 gols, porém um gol a menos no saldo. Cinco vitórias, quatro empates e a única derrota, justamente para o Alviverde por 1 a 0.

Na segunda fase, dois grupos de oito com turno único e os times enfrentando apenas os do outro grupo e a classificação considerava os pontos da fase anterior – haja criatividade para criar regulamentos esdrúxulos!

O time de Nelsinho Rosa terminou um ponto à frente do Cruzeiro e se classificou para a final. Com três vitórias, quatro empates e a derrota para o Flamengo por 2 a 0, gols de Bujica. Nesta partida, além de perder Bebeto expulso, o treinador constatou que a equipe que apostava em toque de bola reunindo na frente Tita, Bismarck, Boiadeiro e Bebeto precisava de mais presença de área.

Com o jovem Sorato formando dupla na frente com Bebeto, o Vasco saiu de campanha irregular para uma arrancada final  vencendo Corinthians e Internacional fora de casa. Gol de Sorato em São Paulo e dois de Bebeto em Porto Alegre.

A melhor campanha deu um ponto de vantagem na decisão contra o São Paulo, que contava com Raí e era comandado por Carlos Alberto Silva. Ou seja, se vencesse a partida de ida, no Morumbi, o Vasco seria o campeão nacional. O jogo na capital paulista aconteceu no dia 16 de dezembro, um sábado. Porque no dia seguinte aconteceria o segundo turno da eleição presidencial, a primeira depois da redemocratização do país, entre Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva.

O Vasco entrou em campo com a equipe de deu liga nas últimas partidas: Acácio no gol; Luis Carlos Winck e Mazinho nas laterais, Marco Aurélio e Quiñonez na zaga; Zé do Carmo como volante mais fixo, Boiadeiro fazendo o trabalho de área a área articulando com William, o “falso ponta” pela esquerda que circulava por todo campo. Bismarck era o meia-atacante, camisa dez, que encostava na dupla de ataque. Um 4-2-2-2 típico da época.

Jogo equilibrado definido pelo cruzamento preciso de Winck na cabeça de Sorato, aos cinco minutos do segundo tempo. Depois foi se fechar na defesa, Acácio garantir com boas defesas e o Vasco evitar a partida de volta no Maracanã que poderia proporcionar uma grande renda, mas colocaria em risco um título que não vinha desde 1974 e que consolidou a força cruzmaltina no período.

O artilheiro da equipe foi Bismarck, com oito gols. Sorato fez apenas três, porém decisivos – o primeiro no empate por 2 a 2 com o Botafogo na antepenúltima rodada da segunda fase. Acabou como heroi da conquista.

Mas o personagem foi Bebeto, que marcou seis e terminou um ano mágico na carreira com o primeiro título brasileiro reconhecido oficialmente – o atacante vencera a controversa Copa União de 1987 pelo Flamengo – e agora como ídolo nacional.

Certamente o talento do craque e a festa da torcida ajudaram Blanc a convencer suas meninas a amar a Cruz de Malta. Um momento feliz em período complicado da vida do artista que lutava contra a depressão. Mas naquele sábado histórico comemorou em família a conquista vascaína.

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Vasco 1997/2000: “Era de Ouro” teve feito inédito no futebol brasileiro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/29/vasco-1997-2000-era-de-ouro-teve-feito-inedito-no-futebol-brasileiro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/29/vasco-1997-2000-era-de-ouro-teve-feito-inedito-no-futebol-brasileiro/#respond Wed, 29 Apr 2020 12:06:18 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8397

O  Vasco mais lendário é o “Expresso da Vitória” nos anos 1940, pelo ineditismo do título sul-americano em 1948, segurando no Chile “La Maquina” do River Plate. A primeira conquista brasileira fora do território nacional, incluindo a seleção, que teria a base cruzmaltina, incluindo o treinador Flávio Costa, na Copa do Mundo de 1950.

O melhor que vi em campo foi o campeão da Taça Guanabara de 1987. Time comandado por Joel Santana que tinha Acácio; Paulo Roberto, Donato, Fernando e Mazinho; Dunga, Geovani e Tita; Mauricinho, Roberto Dinamite e Romário.

Sim, aquele que por um jogo me fez mudar de lado nas arquibancadas do Maracanã no “Clássico dos Milhões” que valeu a conquista do primeiro turno do Carioca. Com duas mudanças – Henrique no lugar de Dunga e Luis Carlos no lugar de Mauricinho – venceria o estadual sob o comando de Sebastião Lazaroni. Mas reconheço que isso é memória afetiva pura, apesar da qualidade técnica desses jogadores.

A “Era de Ouro” vascaína se deu mesmo entre 1997 e 2000 e teve seu auge com a conquista da Libertadores em 1998, ano do centenário do clube. Feito inédito entre os brasileiros até hoje. Fruto do amadurecimento de um trabalho que vinha desde 1996.

Com Antonio Lopes, hoje coordenador de futebol do Vasco aos 78 anos. Treinador que assumiu o time em sua quarta passagem com a missão de organizar a equipe em torno do talento de Edmundo, aproveitando a joia de 21 anos contratada ao Sport, Juninho Pernambucano e utilizando os jovens revelados nas divisões de base.

Depois do insucesso no Carioca de 1997, vencido pelo Botafogo no famoso gol de Dimba e com a lendária resposta dos alvinegros à reboladinha de Edmundo na frente de Gonçalves no primeiro jogo da decisão, Antonio Lopes, com a ajuda do então vice de futebol Eurico Miranda, arregaçou as mangas para formar uma equipe competitiva no Brasileiro.

Sem muito dinheiro em caixa, mas sempre contando com o auxílio financeiro dos beneméritos do clube, geralmente portugueses ou descendentes abastados do Rio de Janeiro, o clube buscou mesclar experiência, juventude e a “fome” de jogadores vindos de times pequenos.

“Fui buscar o Odvan no Americano e o Nasa no Madureira. O Mauro Galvão que estava sem jogar no Grêmio. O mesmo com Evair no Atlético Mineiro e juntei com a base que estava no clube e formei o time campeão”, revelou Lopes em entrevista ao “Triangulação”, podcast que este que escreve participa com os colegas e amigos Eugenio Leal e Rodrigo Coutinho.

Ainda traria Valber do São Paulo para ser uma espécie de “coringa”. Equipe que foi ganhando variações ao longo da campanha do título nacional. Revezando Valber, Maricá e Filipe Alvim na lateral direita, recuando Nasa para cobrir Felipe, jovem talento que foi ganhando cada vez mais liberdade com o tempo.

Na frente, Evair recuou para fazer dupla com Ramon ou Pedrinho para municiar a estrela iluminada daquele segundo semestre no futebol brasileiro: Edmundo, que seria artilheiro da competição, marcando 29 gols e quebrando o recorde de Reinaldo, do Atlético Mineiro. Os três últimos na goleada histórica por 4 a 1 sobre o Flamengo no quadrangular semifinal daquela edição.

O Vasco de 1997 tinha Nasa cobrindo Felipe pela esquerda e Evair recuando para dar ainda mais liberdade ao iluminado Edmundo no ataque (Tactical Pad).

Em alguns jogos era possível ver o time cruzmaltino numa espécie de “Árvore de Natal”: um 4-3-2-1 com Valber, Odvan, Mauro Galvão e Nasa na defesa; Luisinho como o volante mais plantado, Juninho e Felipe como espécies de “carrileros” a dar suporte a Evair e Ramon que encostavam no Edmundo que acabou virando o atacante de referência, muitas vezes sustentando sozinho o ataque e puxando contragolpes para decidir partidas.

No ano seguinte, Edmundo partiu para a Fiorentina, Evair se sentiu desvalorizado por Lopes e preferiu seguir para a Portuguesa. Ambos perderam a chance de fazer parte de algo histórico. Com Donizete e Luizão, Lopes montou uma equipe menos brilhante no ataque, porém muito mais competitiva.

Porque a dupla de ataque participava mais sem a bola e era muito objetiva nos contragolpes. O time mais combativo permitiu que Mauro Galvão ganhasse liberdade para organizar as jogadas e chegar ao ataque e Felipe muitas vezes atuasse solto em campo, até saindo do lado esquerdo. Principalmente quando Pedrinho era o meia pela esquerda e abria como ponta, permitindo que o lateral criasse mais por dentro. Pela direita, o meia Vagner foi o improvisado da vez na lateral.

A campanha do título continental teve a final contra o Barcelona de Guayaquil, mas triunfos sobre os campeões das três edições anteriores: Grêmio, Cruzeiro e o River Plate na semifinal que consagrou o gol “monumental” de Juninho em Buenos Aires que colocou o Vasco na decisão.

O pernambucano que passou por todo esse período áureo como um pilar e o jogador com características que fizeram a equipe dar liga. Um meia que preenchia um espaço enorme em campo. Marcando, articulando e finalizando. Um meio-campista raro, jogando de área a área naquele período do futebol brasileiro em que o setor era dividido entre volantes marcadores e meias atacantes no típico 4-2-2-2.

Na Libertadores, um time mais competitivo, com Donizete e Luizão participando da marcação, mas Mauro Galvão saindo para articular as jogadas e Felipe ganhando ainda mais liberdade pela esquerda, com o meia Vagner improvisado do lado oposto (Tactical Pad).

Equipe campeã estadual e derrotada no Mundial em Tóquio por um Real Madrid estelar em jogo equilibrado que teve gol de Juninho e Felipe sendo o pesadelo do lateral Panucci. O Vasco merecia melhor sorte no segundo tempo, mas os 2 a 1 com gol contra de Nasa no primeiro tempo e uma pintura de Raúl González, driblando Vitor e Odvan, não podem ser considerados injustos.

A recuperação veio com a conquista do Rio-São Paulo em 1999, mas a derrota para o Flamengo no Carioca e a eliminação nas oitavas da Libertadores para o Palmeiras, que seria o campeão daquela edição, comprometeram a temporada. Mas o convite para participar do primeiro Mundial organizado pela FIFA em janeiro como o campeão da Libertadores de 1998 se transformou na esperança de um ano histórico.

Ainda mais com o retorno de Romário, após saída litigiosa do Flamengo. Jorginho, campeão mundial em 1994, veio para ocupar a lateral direita, Gilberto foi contratado para ocupar a lateral esquerda e Felipe virar meio-campista de vez, ao lado de Juninho e Ramon. Com a proteção do inesgotável Amaral. Na zaga, Júnior Baiano para atuar com Mauro Galvão. Na meta, caiu no colo do jovem Helton a vaga de Carlos Germano, que não renovara o contrato com o clube e foi para o Santos.

Uma seleção que atropelou o Manchester United no Maracanã, com gol antológico de Edmundo, e só foi parada por outra: o Corinthians bicampeão brasileiro que venceu o torneio na histórica decisão por pênaltis no Maracanã, com Marcelinho Carioca e Edmundo desperdiçando as últimas cobranças.

O revés no Rio-São Paulo para o Palmeiras custou o emprego de Antonio Lopes. Chegou Abel Braga que, mesmo com estilo “paizão” não conseguiu apaziguar os conflitos entre Edmundo e Romário. Mas conquistou a Taça Guanabara e partiu para treinar o Olympique de Marseille. Alcir Portela foi efetivado e a equipe, totalmente desestruturada e com alguns jogadores sem se falar, viram um Flamengo bem inferior tecnicamente vencer a Taça Rio e o Carioca.

Era a senha para mudanças, com o suporte do patrocínio do Nations Bank. Chegaram o treinador Osvaldo de Oliveira, mais Clebson, Jorginho Paulista, Euler e Juninho Paulista. E Jorginho readaptado ao meio-campo, como atuou na Europa e no Japão. Para formar a equipe que faria campanha sólida no Brasileiro e na Copa Mercosul, com direito a goleada fora de casa sobre o River Plate por 4 a 1.

Mas a oscilação da equipe na reta final, até pela natural queda física de um elenco que disputou 88 jogos em 2000, e um desentendimento entre Oswaldo e Eurico Miranda depois dos 2 a 2 contra o Cruzeiro pela ida da semifinal da Copa João Havelange fizeram o Vasco ter um novo treinador em dezembro: Joel Santana.

O “papai” que resgatou Nasa para a terceira decisão contra o Palmeiras depois de vitória por 2 a 0 em São Januário e derrota por 1 a 0 em São Paulo. 3 a 0 para o time alviverde no primeiro tempo e parecia que o clube acumularia mais um vice-campeonato, para o deleite dos rivais cariocas.

Mas, com Viola em campo, Juninho voando e Romário iluminado nas finalizações, o time construiu a mais épica das viradas: 4 a 3, no campo do adversário e com um homem a menos após a expulsão de Junior Baiano.

Com a confiança no topo, o time partiu para o título brasileiro com inapeláveis 3 a 1 sobre o Cruzeiro de Luiz Felipe Scolari no Mineirão lotado na volta da semifinal e a confirmação da conquista sobre o surpreendente São Caetano. Em janeiro de 2001, por conta do acidente em São Januário na partida de volta da decisão. No Maracanã, 3 a 1 com o gol decisivo de Romário, o 66º do artilheiro daquela temporada.

Com Nasa novamente fazendo a função de volante-zagueiro, o Vasco venceu Mercosul e Copa João Havelange com laterais ofensivos, Juninho Pernambucano articulando e Juninho Paulista formando um trio infernal com Euler e Romário (Tactical Pad).

De uma equipe que marcou 176 gols, média de dois por partida, e foi campeã ou vice em tudo que disputou naquela temporada. Um grande feito, mas o início de uma queda vertiginosa por conta de más gestões, incluindo de Eurico Miranda, que virou presidente e mandou e desmandou de 2002 a 2008, e do grande ídolo Roberto Dinamite. O buraco de dívidas que atormentam o clube se avolumaram neste período.

Poderia e deveria ter sido diferente. As conquistas geraram receitas que poderiam ter dado estabilidade e estrutura ao clube. Mas na época a prática comum era formar times vencedores mesmo sem poder sustentá-los. Ou pagando, porém sem planejamento a médio/longo prazo.

O Vasco ao menos conseguiu vencer. E construiu uma história belíssima, com o apogeu em 1998. A festa do centenário com Libertadores ninguém mais pode ostentar no país. Só o time da Cruz de Malta.

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