Zico – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 O timaço do rival que quase roubou meu coração http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/25/o-timaco-do-rival-que-quase-roubou-meu-coracao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/25/o-timaco-do-rival-que-quase-roubou-meu-coracao/#respond Sat, 25 Apr 2020 07:37:26 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8366

Foto: Matheus Gevaerd

Você leu AQUI que este que escreve escolheu ser torcedor do Flamengo por causa do Zico. Fã primeiro do jogador, por consequência do clube.

Natural que aos dez anos, quando criança era realmente ingênua nesta idade, a paixão sofresse um abalo pela saída do ídolo máximo para a Udinese. Uma traição na visão do menino e avalizada por muita gente adulta.

E foi justamente neste período que um rival histórico dominou o cenário regional, em tempos que os estaduais valiam demais, e ainda conquistou um título brasileiro: o Fluminense tricampeão carioca de 1983 a 1985, com a conquista nacional em 1984 para marcar época definitivamente.

Uma equipe formada meio no “cata-cata”, na base do “bom, bonito e barato”. Até pelos problemas financeiros de um clube que não chegava às finais do Carioca desde o título, em 1980. Já no Brasileiro, a última grande campanha tinha cheiro de frustração, com a “máquina tricolor” sendo eliminada na semifinal por um Corinthians bem mais limitado. A inesquecível “invasão” do Maracanã em 1976.

Em 1983, a base era formada pelo goleiro Paulo Vítor (no Flu desde 1981), o lateral direito Aldo, contratado ao Paysandu no ano anterior, o zagueiro Ricardo (Gomes), formado na base do clube e Delei, o titular remanescente da última conquista. Do Internacional chegaram os relegados Branco e Jandir, depois Tato. Do Coritiba, o volante Leomir, ainda em 1982. Do América, o zagueiro Duílio. O maior investimento foi na dupla de ataque: Washington e Assis, que venceram o Paranaense pelo Atlético-PR e aterrorizaram a defesa do Flamengo na semifinal do Brasileiro daquele ano, mesmo com eliminação.

O treinador Cláudio Garcia comandou a equipe no título da Taça Guanabara e depois partiu para o Flamengo, que seria o campeão da Taça Rio. No triangular final com o Bangu, time de melhor campanha nos dois turnos, o título veio mesmo sem grande futebol do time agora comandado por José Luís Carboni, com o histórico gol de Assis, no minuto derradeiro do Fla-Flu. O último sofrido na carreira do goleiro Raul Plasmann.

Uma conquista no melhor estilo “timinho” que consagrara o tricolor nos anos 1950. Sem favoritismo, com placares magros, mas levando o troféu para as Laranjeiras. No entanto, para vencer o Brasileiro era preciso pensar grande.

Faltava o craque e o grande treinador. Chegaram o paraguaio Romerito do Cosmos e Carlos Alberto Parreira, depois da primeira experiência não tão bem sucedida na seleção brasileira no ano anterior. Para dar o salto de qualidade na melhor versão daquela equipe que virou timaço.

Armado em uma espécie de 4-4-1-1, nas palavras do próprio Parreira em entrevista a este jornalista. Deixando o corredor direito livre para a vitalidade de Aldo e os deslocamentos de Washington, sempre municiados por Delei. Do lado oposto, Romerito se juntava à ala esquerda formada por Branco e Tato ou Paulinho, setor ofensivo mais forte do time. Assis trabalhava com os meio-campistas, caía pelos flancos e se juntava a Washington, principalmente no jogo aéreo. O “Casal 20”, apelido inspirado em famosa série de TV à época.

Sem a bola, todos colaboravam na recomposição e Jandir era o volante marcador que protegia a zaga formada por Duílio e Ricardo Gomes. Assim o time embalou a partir das quartas de final. Levou dois gols fora de casa do Coritiba no empate por 2 a 2 na ida e depois Paulo Vitor não sofreu mais gols. 5 a 0 nos paranaenses para se firmar como grande força.

Mas não favorito contra um Corinthians embalado por eliminar o Flamengo com goleada em casa por 4 a 1 e sonhando com o então inédito título nacional na despedida de Sócrates, que partiria para a Fiorentina. No Morumbi, porém, o Flu de Parreira protagonizou a grande atuação coletiva de todo aquele período: 2 a 0, calando o estádio lotado. Gols de Assis e Tato, mais outras oportunidades em transições ofensivas demolidoras e sem conceder nenhuma chance clara à equipe paulista. Domínio absoluto consolidado com empate sem gols no Maracanã.

Na decisão carioca, o gol de Romerito e outra grande atuação de defesa-contragolpe superaram o ofensivo Vasco comandado por Edu Coimbra, irmão de Zico, e que teve os dois artilheiros daquela edição: Roberto Dinamite e Arturzinho. Mas não havia equipe mais equilibrada.

O 4-4-1-1 armado por Parreira que era sólido defensivamente com todos colaborando e veloz nas transições ofensivas, abrindo o corredor direito para Aldo e reunindo Branco, Romerito, Tato e às vezes até Assis do lado oposto para envolver os adversários (Tactical Pad).

Time que esbanjaria no segundo semestre vencendo novamente o estadual, com o motivador Carlos Alberto Torres mantendo a proposta de jogo e sendo campeão mesmo sem Ricardo, Branco, Jandir e Delei, substituídos por Vica, Renato, Leomir e Renê. Dentro de um elenco curto, porém homogêneo e com incrível capacidade competitiva. De novo superando o Flamengo com gol de Assis.

Supremacia ratificada no ano seguinte ao vencer novamente a Taça Guanabara. E fazer deste que escreve um torcedor do Fluminense por duas semanas. Cansado de tantos vexames rubro-negros – incluindo uma eliminação no Brasileiro para o Brasil de Pelotas naquele mesmo ano, com Zico já de volta ao clube – e desolado pela grave lesão do Galinho na entrada criminosa de Márcio Nunes, do Bangu.

É óbvio que não duraria muito. Afinal, paixão clubística não tem explicação. Mesmo com o tri do Flu na vitória de virada sobre o Bangu por 2 a 1. Gols de Romerito e Paulinho, este em linda cobrança de falta, que consagrariam a equipe comandada por Nelsinho Rosa em mais uma conquista histórica. Fiquei feliz porque o melhor havia vencido, mesmo beneficiado por erro grotesco do árbitro José Roberto Wright ao não marcar um pênalti claríssimo de Vica em Cláudio Adão no final do jogo.

O amor pelo futebol, especialmente o do Rio de Janeiro, fez o menino de 11 anos em 1984 se arrepiar no Maracanã com o hino do Botafogo ao acompanhar o irmão cruzmaltino em um clássico contra o Vasco. O grande rival do Flamengo que teve a minha torcida em 1987, no “Clássico dos Milhões” que confirmou o título da Taça Guanabara para o time comandado por Joel Santana que tinha Dinamite, Romário, Tita, Geovani e Dunga. Sim, eu fui para a arquibancada de quem estava jogando mais bola. Mas esta é uma história para outro post.

Este homenageia um timaço vencedor. Para mim a verdadeira “Máquina Tricolor”. Do lindo uniforme verde, branco e grená, além da bandeira levada ao gramado em cada jogo. Uma mística que encantava e, combinada com bom futebol, quase roubou meu coração há 35 anos.

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Flamengo de Jorge Jesus é mais Cláudio Coutinho e menos Carpegiani http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/21/flamengo-de-jorge-jesus-e-mais-claudio-coutinho-e-menos-carpegiani/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/21/flamengo-de-jorge-jesus-e-mais-claudio-coutinho-e-menos-carpegiani/#respond Tue, 21 Apr 2020 12:25:19 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8339

Foto: Acervo / Jornal do Brasil

Com as conquistas da Libertadores e do Brasileiro no mesmo ano, algo que nenhum time brasileiro alcançou desde o Santos de Pelé, o Flamengo de Jorge Jesus entrou para a história do futebol nacional e provocou comparações com times do passado.

Entre os rubro-negros, o paralelo óbvio é com a outra equipe lendária do clube, a campeão sul-americana e mundial em 1981, com o “bônus”  do título brasileiro no ano seguinte. Análises e mais análises sobre um possível duelo entre os Flamengos, quase sempre tendo como vencedora a equipe de quase quarenta anos atrás. Com Zico sendo o fator de desequilíbrio.

Pode ser, embora comparar times de épocas diferentes seja sempre um exercício complicado. Porque sem contextualização ou equiparação temporal, a tendência seria o time atual passar por cima fisicamente. Ainda mais pela marcação adiantada e com pressão no homem da bola que Zico, em entrevista a este blogueiro para o livro “1981” lançado em parceria com Mauro Beting e a Maquinária Editora em 2011, admitiu ser uma dificuldade grande para o time que liderou em campo. Jogo mais intenso normalmente praticado por equipes do sul do país, assim como as argentinas e uruguaias.

Mais racional é tentar buscar semelhanças entre as propostas de jogo. E analisando a trajetória vencedora que começa em 1978, com a conquista do título estadual – quando eles ainda valiam muito em um calendário sem Copa do Brasil – no gol inesquecível do zagueiro Rondinelli sobre o Vasco, um Flamengo anterior ao que Paulo César Carpegiani herdou de Dino Sani lembra mais a equipe atual. Ou uma versão desta dentro das variações táticas do treinador português.

O time campeão brasileiro de 1980, comandado por Cláudio Coutinho. Gaúcho com formação militar, preparador físico da seleção do tri em 1970 que conheceu o professor americano Kenneth Cooper e passou a adotar o então moderno método de avaliação física. Foi parar no Olympique de Marseille e de lá para a seleção olímpica, primeiro como preparador, depois supervisor e, por fim, treinador em uma emergência por conta da demissão de Zizinho.

Mesmo sem medalha, terminando em quarto lugar, acabou indicado para suceder Carlos Froner no Flamengo e assumiu em setembro de 1976. Trazendo a visão pós-Copa de 1974, impactada pela revolução do futebol holandês simbolizada por Rinus Michels. O coletivo acima do individual, organização para atacar e defender quase em ato contínuo e versatilidade dos jogadores, utilizando o termo “polivalência”, além de outros que acabaram virando folclore, como “overlapping” (ultrapassagem do lateral pelo ponta) e “ponto futuro” – local onde a bola chegaria em uma jogada ensaiada.

O Fla de Coutinho amadureceu primeiro com o revés estadual para o Vasco em 1977, depois as conquistas estaduais que levaram o técnico a comandar a seleção brasileiro na Copa do Mundo de 1978 e na Copa América no ano seguinte. 1979 dos dois títulos cariocas em calendário confuso, mas também do sofrimento pela eliminação para o Palmeiras de Telê Santana no Brasileiro de 1979 com uma goleada por 4 a 1. Com o domínio local, o Brasileiro virou obsessão.

Chegou em 1980 com início oscilante até Nunes chegar para ser o camisa nove que daria o “click” na formação titular que engrenou até a decisão contra o Atlético Mineiro. Passando pela “vingança” contra o Palmeiras com implacável 6 a 2 no Maracanã. A grande atuação coletiva que consolidou o modelo de jogo.

Time que já tinha clara preocupação com conceitos atuais como amplitude, profundidade e superioridade numérica, ainda que esses termos nunca tenham saído da boca de Coutinho. O “overlapping” pela direita se dava com Tita por dentro atraindo o lateral adversário e deixando o corredor para Toninho Baiano. Forte, rápido e incansável em busca da linha de fundo.

Do lado oposto, Júlio César era o ponteiro aberto e driblador, típico da época. Júnior fazia o papel de lateral “construtor”, apoiando por dentro e se juntando aos meio-campistas Andrade, Paulo César Carpegiani, Zico e ainda Tita que tinha liberdade de circulação. Cinco homens contra três, no máximo quatro do oponente no trabalho entre as intermediárias.

O Flamengo de Coutinho campeão brasileiro de 1980, com Toninho e Júlio César abrindo o campo e Junior e Tita atacando por dentro, criando superioridade numérica no meio-campo ao se juntar a Andrade, Carpegiani e Zico, que infiltrava no espaço deixado por Nunes, o centroavante móvel (Tactical Pad).

Na frente, Nunes se movimentava pelos flancos e abria espaços para a infiltração de Zico, craque, ídolo e artilheiro da equipe e daquela edição do torneio nacional com 21 gols. Sem a bola, compactação dos setores, momentos de pressão sobre o adversário com a bola e linhas adiantadas. Na fase ofensiva, toque de bola refinado e algum controle pela posse, porém com definição mais rápida dos ataques.

Que versão do Flamengo atual é parecida? Aquela em que Bruno Henrique ocupa mais o setor esquerdo, bem aberto, embora também entrando em diagonal para finalizar. Fazendo Gabriel Barbosa procurar naturalmente o lado direito e abrindo espaços por dentro para De Arrascaeta. Everton Ribeiro, assim como Tita, sai da direita para articular por dentro, colaborando com Willian Arão e Gerson. Mais Filipe Luís, o lateral que pensa mais o jogo. Na direita, Rafinha ataca mais o corredor aberto e busca o fundo.

Uma das variações de Jorge Jesus no Fla atual tem Bruno Henrique aberto pela esquerda e Gabriel Barbosa procurando mais à direita e abrindo espaços para De Arrascaeta infiltrar pelo meio. Everton Ribeiro sai da ponta para dentro armar o time com Gerson, protegido por Willian Arão. No corredor, Rafinha apoia mais aberto buscando o fundo. Do lado oposto, Filipe Luís é um lateral mais construtor (Tactical Pad).

A conexão entre Coutinho e Jesus, claro, é a escola holandesa. O brasileiro no contato com o Ajax e a “Laranja Mecânica”, o português no estágio em 1993 com Johan Cruyff, a grande referência do atual treinador rubro-negro.

Paulo César Carpegiani também tinha seus pontos de contato com a Holanda: primeiro esteve em campo na derrota da seleção brasileira por 2 a 0 para a equipe de Rinus Michels em 1974, depois jogou em 1976 com Marinho Peres, que trabalhara com Michels e Cruyff no Barcelona e agregou conceitos ao Internacional de Rubens Minelli e Falcão na conquista do bicampeonato brasileiro naquele mesmo ano.

Carpegiani, claro, entendia a necessidade de rotação, porém gostava mais da bola e com toques mais curtos, embora tivesse precisão também nos lançamentos. O estilo do jogador falou alto na rápida transição para o comando técnico – aposentadoria por lesão no joelho aos 31 anos, curto período como auxiliar de Dino Sani e logo estava treinando os ex-companheiros.

Tanto que sacou o ponteiro Baroninho para encaixar o meia Lico. A ideia era soltar todas as peças à frente do volante Andrade. Aproveitando a mobilidade de Adílio, que herdou a posição de Carpegiani, porém sem o mesmo perfil organizador.

A estreia da equipe mais móvel foi espetacular nos históricos 6 a 0 sobre o Botafogo. O rival foi para o intervalo levando quatro gols e sem entender o que acontecera. Os laterais Leandro e Júnior atacando abertos ou por dentro, Andrade e Zico mais centralizados e o trio Tita-Adílio-Lico girando por todo campo, assim como Nunes mantendo a movimentação pelas pontas. Algo muito fora dos padrões da época.

Proposta que se consagrou nos 3 a 0 sobre o Liverpool em Tóquio, embora em organização mais conservadora: um 4-2-3-1 com Adílio mais próximo de Andrade, até para auxiliar Júnior que jogou sentindo o joelho direito. Tita e Lico guardando mais as posições pelos flancos e Zico buscando os espaços às costas dos meio-campistas britânicos para acionar Nunes em diagonal.

Foi no Brasileiro de 1982, disputado no primeiro semestre, antes da Copa do Mundo na Espanha, que o novo modelo de jogo foi consolidado. Com a mesma mobilidade, mas adquirindo alguns padrões. Como Nunes bem aberto, quase como um ponteiro,  e Tita, que havia abandonado a seleção brasileira por não aceitar ser ponta e Telê avisar que no meio não havia vaga, jogando por dentro.

Era a solução encontrada por Carpegiani para aproveitar um jogador de temperamento complicado, mas também de boa técnica e poder de finalização interessante. Ele e Zico articulavam pelo meio e alternavam na chegada à área adversária com Lico e Adílio, que circulava por todo campo com vitalidade impressionante. Às vezes alternando com Zico, que recuava para organizar. Ideias à frente do tempo e vencedoras.

Na vitória sobre o São Paulo por 4 a 3 no Morumbi pelo Brasileiro de 1982, um flagrante do Flamengo móvel de Carpegiani: Júnior atacando por dentro dando suporte a Adílio, com Zico dando opção mais à direita e Lico e Tita, em tese os ponteiros, centralizados. E o centroavante Nunes? Dando opção bem aberto e mais recuado pela esquerda (Reprodução TV Globo).

Mas que guardavam poucas semelhanças com o time atual. Porque era mais intuitivo e concentrava mais jogadores no trabalho entre as intermediárias. Às vezes afunilando demais os ataques e se expondo por atacar com os dois laterais simultaneamente.

A equipe de Cláudio Coutinho, um ano antes, era mais coordenada. Faltou paciência ao treinador para ver o auge da equipe que formou. Irritado com a diretoria, partiu no início de 1981 para uma aventura nos Estados Unidos, comandando o Los Angeles Aztecs. Voltou em novembro daquele ano e foi receber os campeões da Libertadores no aeroporto no dia 24. Três dias depois, convidou Junior para comer  peixe depois de um mergulho para pesca submarina nas Ilhas Cagarras, arquipélago próximo da praia de Ipanema. Não voltou. Faleceu, por afogamento, aos 42 anos.

Deixou, no entanto, um legado no Flamengo mais vencedor da história. Que o time de Jorge Jesus tentou igualar ou até superar quase quatro décadas depois. Cinco troféus em nove meses, antes da pandemia. Como será na volta? A maior torcida do país sonha com um final ainda mais feliz.

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Afinal, o que faltou à seleção de Telê em 1982? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/11/afinal-o-que-faltou-a-selecao-de-tele-em-1982/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/11/afinal-o-que-faltou-a-selecao-de-tele-em-1982/#respond Sat, 11 Apr 2020 13:30:26 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8285

Itália 3×2 Brasil certamente foi o jogo que mais revi na vida. Assim que coloquei internet banda larga em casa, a primeira partida na íntegra a fazer download, pelo E-mule. Narração em italiano.

Não é absurdo dizer que foi o jogo que ajudou a moldar meu caráter e reforçar a paixão pelo futebol. Porque foram as primeiras lágrimas por causa do esporte.

Antes de ser torcedor do Flamengo eu era fã do Zico. Da seleção. O Galinho não era derrotado com a camisa verde e amarela desde um amistoso contra a União Soviética no Maracanã em 1980. Passei a acompanhar o rubro-negro mais de perto a partir do segundo semestre de 1981.

Com as conquistas do Carioca, da Libertadores, do Mundial e do Brasileiro no ano seguinte, na minha cabeça de menino de nove anos – e na época a criança era ingênua mesmo – o Zico era um super-herói que nunca perdia. Ou sempre tinha uma nova chance de ser campeão.

Ao perguntar para o meu avô quando seria o próximo jogo e ele me explicar que havia acabado e o camisa dez da seleção voltaria para casa com seus companheiros, o chão se abriu no meu mundo de sonhos. E ao ver um vizinho sempre com sorriso no rosto chorando como criança sentado na calçada eu tive contato pela primeira vez com algo próximo do luto. Impossível esquecer.

Afinal, o que faltou à seleção comandada por Telê Santana para se classificar naquela segunda fase e passar para a semifinal contra a Polônia?

Por incrível que pareça, a cada vez que revejo a partida, lembro da trajetória da seleção até o Mundial na Espanha e dos quatro jogos anteriores, a análise vai perdendo camadas e se simplificando. A rigor, faltou a cabeçada de Oscar no último ataque sair do alcance do goleiro Zoff. Ou o arqueiro veterano dar o rebote para Zico, o brasileiro mais próximo da meta italiana.

Pode parecer simplismo. Mas já notou como as narrativas são criadas a partir do resultado puro, nu?

Imagine que o Brasil empatasse em 3 a 3, se classificasse e partisse para o título mundial. Como seria lembrado o jogo do Sarriá? Talvez como os que o escrete canarinho não venceu nas campanhas vitoriosas. Com um pouco mais de drama que os empates sem gols contra Inglaterra em 1958 e Tchecoslováquia quatro anos depois. Ou o 1 a 1 com a Suécia em 1994.

Seria rotulado como “um susto” ou “a pior atuação na campanha”. Sem dissecar cada jogada, detalhar cada erro ou apontar mudanças na equipe que poderiam resolver questões táticas ou erros individuais.

Mas perdeu. E o olhar muda. Vai em retrospectiva. O que aconteceu de errado no caminho que não percebemos e estourou nos três gols de Paolo Rossi?

Seria o goleiro Valdir Peres? Mas ele não falhou em nenhum gol da Azzurra, só na estreia contra a União Soviética. Depois de brilhar na excursão europeia, no amistoso contra a Alemanha no Maracanã e, na própria Copa, contra a Argentina. Valdir era pior que o Félix de 1970, por exemplo?

Ou o problema foi Serginho Chulapa? Virou titular pela lesão de Careca, tinha sido o vice-artilheiro do Brasileiro daquele ano, poucos meses antes, com 20 gols – um a menos que Zico, que jogou cinco partidas a mais. Que até conseguiu marcar dois sobre Nova Zelândia e Argentina.

Péssima atuação contra a Itália, atrapalhando Zico em uma chance cristalina, tentando um calcanhar maluco no segundo tempo e saindo em seguida para a entrada de Paulo Isidoro. Mas vejamos a França em seus dois títulos mundiais. Venceu, de certa forma, apesar de seus centroavantes Dugarry e Giroud. O Brasil de Telê poderia ter sobrevivido mesmo sem um camisa nove brilhante e/ou móvel.

Até a mudança tática para encaixar Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico no meio-campo tinha encontrado soluções ao longo dos jogos. Dos últimos nove gols brasileiros desde o jogo contra a Nova Zelândia, seis foram criados ou finalizados pelo lado direito. Os dois contra a Itália, de Sócrates e Falcão. O revezamento no setor passou a funcionar e a movimentação era justamente a maior virtude coletiva daquela seleção.

E não dá para responsabilizar a ausência de Paulo Isidoro no trabalho defensivo com Leandro nos gols italianos. No primeiro, logo no início da partida, a inversão de Conti para Cabrini já encontra o lateral esquerdo na zona de marcação de Leandro, que não saiu para pressionar e permitiu o cruzamento.

Do lado oposto talvez estivesse o grande problema de Telê naquela tarde quente em Barcelona. A atuação defensiva de Júnior foi trágica. Curioso que o lateral liberado para atacar e que armava como mais um meio-campista costumava sofrer quando encontrava um ponta típico, veloz e driblador.

Bruno Conti era canhoto e circulava pelo campo, mais articulador. Não era de partir para cima. Os equívocos de Junior foram fundamentalmente de posicionamento. No primeiro gol, Rossi infiltra entre ele e Luisinho. No terceiro ele demora a sair na linha de impedimento e dá condições ao iluminado camisa 20 do rival.

Ainda daria condições a Antognoni no gol mal anulado que decretaria os 4 a 2 nos minutos finais e deixou Rossi livre em chance cristalina que o artilheiro desperdiçou na segunda etapa. Um desastre tão grande quanto Eder. Destaque da seleção nos jogos anteriores, claramente sentiu o jogo e pouco produziu, mesmo enfrentando o improvisado meio-campista Oriali, que virou lateral para que Gentile perseguisse Zico por todo campo. Só apareceu colocando a bola na cabeça de Oscar no final do jogo.

Seria o gol redentor de todos os pecados. A “raça” do zagueiro seria exaltada e ele entraria na galeria de “herois do tetra”. Mas Zoff pegou “pelo rabo” em uma das grandes defesas da história das Copas. A maior da carreira, segundo o próprio goleiro.

Talvez Telê pudesse ter pedido um pouco mais de cuidados a partir dos jogos eliminatórios, com Leandro e Junior alternando apoio nas laterais, o mesmo com Cerezo e Falcão à frente da defesa. Ou exigido concentração, para evitar falhas como a do próprio Cerezo no segundo gol, entregando nos pés de Rossi com o time saindo para o ataque. Ou o gol derradeiro, com todos dentro da própria área, porém deixando o centroavante adversário livre.

Mas não houve irresponsabilidade, nem ataques desnecessários com o placar favorável. O Brasil de Telê Santana era competitivo e contava com jogadores experientes e vencedores. Pouco tempo antes, Leandro, Junior e Zico seguraram o Grêmio na final do Brasileiro em Porto Alegre. Com solidez defensiva e posse de bola.

Simplesmente não era para ser. O Brasil já venceu Copas com mais problemas coletivos e na preparação, como em 2002, por exemplo. Poucos lembram, mas Ronaldo tem uma atuação ridícula contra a Inglaterra nas quartas. Mal tocou na bola. Não fossem Rivaldo e Ronaldinho e a equipe de Felipão talvez tivesse voltado para casa. A história que fica é o penta com Fenômeno heroi, o que também é justo.

O fato é que a Itália era forte e a má campanha na primeira fase contra Peru, Polônia e Camarões foi ilusória, ou um contratempo natural. A base de Enzo Bearzot era a mesma da campanha do quarto lugar na Argentina em 1978. Vencendo os donos da casa na primeira fase, perdendo para a Holanda jogando melhor e sendo alijada da final. Segundo Zico, a melhor seleção daquele Mundial.

O timaço de Zoff, Scirea, Cabrini, Tardelli, Antognoni, Conti e Rossi na sua melhor versão. Foi a grande atuação italiana na campanha do tri e o maior jogo daquela Copa. A Itália não venceu uma equipe ordinária, o Brasil não perdeu para qualquer um.

Porque o futebol é assim. Por isso tão apaixonante. Por isso eu não esqueci e vou lembrar mais uma vez hoje, acompanhando a transmissão do Sportv a partir das 17h30.

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Por que Messi é a evolução de Zico, mas não chega ao nível de Pelé http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/28/por-que-messi-e-a-evolucao-de-zico-mas-nao-chega-ao-nivel-de-pele/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/28/por-que-messi-e-a-evolucao-de-zico-mas-nao-chega-ao-nivel-de-pele/#respond Sat, 28 Mar 2020 11:50:14 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8221

Foto: Getty Images

Ponta-de-lança: função no futebol do meio-campista que joga à frente dos seus companheiros no setor, armando jogadas e se aproximando dos atacantes, fazendo dupla na área adversária com o centroavante. Cria e finaliza. Ora arco, ora flecha.

Era assim que jogavam Pelé, Puskas, Maradona, Bobby Charlton, Tostão, Leivinha, Alex…No futebol brasileiro, Zico foi a grande referência depois de Pelé como este meia que organiza e chega no ataque. Faz gols e serve assistências. Com muita objetividade. “Meu negócio não era fazer graça, não. Era fazer gol”. Assim definiu seu estilo o próprio “Galinho de Quintino”.

Por isso é até hoje o maior artilheiro da história do Flamengo e do Maracanã. O quinto da seleção brasileira, atrás de Pelé, Ronaldo, Neymar e Romário. A eficiência nas cobranças de faltas e pênaltis ajudou muito a alimentar essas estatísticas.

Em determinado momento da história ficou a impressão de que essa maneira de jogar havia entrado em extinção, com meias jogando mais abertos ou se transformando em atacantes. Ou recuando para pensar o jogo de trás, como o próprio Zico fez em 1989, o último ano dele como profissional, antes de se aventurar como técnico e jogador no futebol japonês.

Até que surge Lionel Messi na segunda metade dos anos 2000. Inicialmente como um rápido ponteiro canhoto partindo do setor direito. Assim contribuiu, aos 19 anos, com o Barcelona de Ronaldinho Gaúcho campeão espanhol e da Liga dos Campeões da temporada 2005/06. Também conquistou o Mundial sub-20 e o ouro olímpico pela seleção argentina.

Com a chegada de Pep Guardiola e a saída de Ronaldinho, ganhou a camisa dez. Inicialmente mantendo o posicionamento pela direita em um ataque com Samuel Eto’o e Thierry Henry, mas na reta final da temporada 2008/09 sendo puxado para o centro do ataque. Mas não como centroavante, até para não jogar de costas e ser obrigado a disputar fisicamente com os zagueiros tendo apenas 1,70 m.

O futebol de Messi explodiu na função de “falso nove”. A mesma executada por Sindelar, Hidegkuti, Di Stéfano, Johan Cruyff, Francesco Totti…Basicamente um ponta-de-lança, mas sem o centroavante na frente. Com liberdade para circular entre a defesa e o meio-campo adversário.

Assim destruiu o Real Madrid nos 6 a 2 dentro do Santiago Bernabéu e desequilibrou a final da Champions contra o Manchester United de Cristiano Ronaldo, marcando o segundo gol nos 2 a 0 em Roma. Na temporada seguinte, com a contratação de Ibrahimovic, Messi jogou como ponta direita, mas suas melhores atuações foram como um típico “dez”, atuando atrás do camisa nove.

Em 2010/11, a afirmação definitiva como “falso nove”, se entendendo perfeitamente com Xavi e Iniesta e preenchendo por dentro o ataque com os ponteiros Pedro e Villa. De novo decidiu contra os merengues no Bernabéu, mas desta vez pela semifinal da Champions com dois gols. Na decisão, novamente os Red Devils pela frente. Mais um gol e uma taça para o currículo, que ganhou outra liga espanhola e só faltou a Copa do Rei, conquistada pelo Real com gol de Cristiano Ronaldo, para fechar novamente a tríplice coroa.

O auge de Zico no Flamengo foi em 1981/1982. Campeão e artilheiro da Libertadores e do Brasileiro, melhor jogador do Mundial de Clubes contra o Liverpool em Tóquio. Jogando em função muito parecida com a do “falso nove”. Porque Nunes era um centroavante bastante móvel, que procurava os lados do campo tanto para abrir espaços como infiltrar em diagonal para finalizar.

Curiosamente, Zico também começou a carreira atuando na ponta direita. E na Copa de 1982 circulou muito por este setor dentro do revezamento que fazia com Falcão, Cerezo e Sócrates para preencher o espaço que não era ocupado pela ponteiro. Ou até foi, em 1979 no final do ciclo com Cláudio Coutinho no comando técnico, antes de Telê Santana assumir. Com dois pontas abertos – Nilton Batata, do Santos, pela direita – e Zico e Sócrates alternando como “falso nove”.

Zico e Messi não têm semelhanças apenas nas zonas de campo ocupadas, mas principalmente no estilo. Objetivo, voltados para o gol. Zico era dois centímetros mais alto, porém nunca usou a força física para se impor. O grande segredo era chegar na área, não estar nela. Tirar a referência dos zagueiros adversários.

Este que escreve aprendeu a amar o futebol com Zico. Vendo ele brilhar na seleção brasileira é que escolhi o Flamengo como time de coração. Quando garoto, perguntava para o coleguinha da escola: “quem é o Zico do seu time?”

Por isso o encantamento ao me deparar com o futebol de Messi. Porque ele faz tudo melhor, mais rápido e com menos espaços que o Galinho. Muitas vezes lembrando o jeito de correr e os gestos técnicos. Até a maneira de movimentar os braços na condução da bola e na finalização. Uma espécie de Zico versão 2.0.

Agora com eficiência até nas cobranças de falta. Já são 53 gols na carreira. A coincidência infeliz é a falta de títulos com a seleção principal. Ainda assim, Messi é o maior artilheiro da história da albiceleste com 70 gols.

Nas últimas temporadas, Messi tem feito uma dupla com Luis Suárez. Nas escalações, um trio de ataque. Inicialmente com Neymar, depois Dembelé, Philippe Coutinho. Agora Griezmann. Mas com todos esses jogadores atuando pela esquerda voltando para compor o meio-campo e dar liberdade ao camisa dez, que continua partindo da direita. Mas com liberdade para organizar as jogadas, em vários momentos aparecendo na meia esquerda para acionar Jordi Alba, ainda a grande opção de profundidade do time catalão. Na prática, continua sendo um “dez” que arma e finaliza.

Por ser argentino, o maior jogador e artilheiro da história do Barcelona é comparado com mais frequência a Diego Maradona. Mas os estilos eram bem diferentes, embora ambos sejam parecidos na tendência a sempre levar para o pé canhoto e marcar menos gols de cabeça. Maradona, porém, era mais artístico, lúdico. Em campo circulava mais, procurava as zonas vazias pelos flancos para receber a bola e arrancar driblando.

Messi tem arte nos pés, mas a cabeça dele é voltada para o gol adversário. Como a de Zico. Talvez o brasileiro, mais abnegado e trabalhador, tenha se esforçado para ser mais completo. Chutava com os dois pés com eficiência semelhante e fazia gols também de cabeça.

Messi usou a testa no segundo gol contra o United na final da Champions há 11 anos e o pé direito para tocar por cima de Neuer depois do drible antológico em Boateng na semifinal contra o Bayern de Munique comandado por Guardiola em 2014/15, mas tem perfil mais minimalista, procura aperfeiçoar o que já tem. Consegue mais com um pouco menos. Nesse ponto lembra Romário.

Zico e Messi carregam outra semelhança: precisaram crescer fisicamente e ganhar corpo para enfrentar o futebol profissional. Com ajuda da Ciência, mas principalmente do esforço pessoal para superar adversidades. Sorte de Flamengo e Barcelona que perceberam que havia ali o essencial: talento.

Messi tem procurado nos últimos anos exercer a liderança, não só a técnica e campo. E também tem perfil parecido com o de Zico. Dez e faixa de capitão. Mais discreto, menos espalhafatoso – como era Maradona, por exemplo. No entanto, quando abre a boca cobra forte de companheiros e até dirigentes, como aconteceu recentemente com Abidal.

E Pelé? Para muitos o argentino já está no mesmo nível ou até ultrapassou. Este que escreve vê o “Rei do Futebol”, o atleta do Século 20, ainda um nível acima. Pelé era um jogador à frente da sua época. Nas imagens parece alguém dos tempos atuais, em físico, raciocínio rápido e excelência, mas jogando nos anos 1960/1970.

Dominando todos os fundamentos, como Zico. Mas um nível acima, em desempenho e resultados. Pelé, sim, era outro patamar. Messi é chamado de extraterrestre. Se for mesmo é de uma espécie inferior à do tricampeão mundial com a seleção brasileira. Por mais que seja sempre instigante desafiar alguns paradigmas, o impacto de Pelé no futebol ainda é inigualável. Um gênio atemporal.

Ninguém é uma esfinge ou um observador neutro. A conexão entre o garoto encantado pelo futebol de Zico e o jornalista que analisa Messi gera a preferência pelo recordista da premiação individual da FIFA. O melhor que vi em ação desde que acompanho apaixonadamente o esporte há quase quatro décadas. Porque prefiro os pontas-de-lança aos atacantes.

E Messi é o símbolo da evolução da função no século 21. Porque tudo evolui, inclusive o futebol. Melhor assim.

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Futebol em Quarentena – Seis partidas que mudaram a história do jogo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/19/futebol-em-quarentena-seis-partidas-que-mudaram-a-historia-do-jogo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/19/futebol-em-quarentena-seis-partidas-que-mudaram-a-historia-do-jogo/#respond Thu, 19 Mar 2020 14:36:55 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8183

Foto: Filippo Monteforte / Getty Images

Dando continuidade à série “Futebol em Quarentena” no blog, uma reflexão olhando para trás enquanto a bola não volta a rolar, seguem os seis jogos que mudaram a história do jogo.

Ou os que marcaram alterações táticas mais significativas dentro de um esporte que felizmente se transforma constantemente, mesmo que muitas vezes só percebamos depois, com o tão necessário distanciamento histórico.

Vamos a eles!

Inglaterra 3×6 Hungria – Amistoso, 1953

A alcunha de “Jogo do Século” hoje soa um exagero até absurdo. Mas foi o grande primeiro impacto no futebol a imposição dos húngaros campeões olímpicos em 1952, nos Jogos de Helsinke.

A Inglaterra no WM e vivendo das ações individuais, especialmente de Stanley Matthews, foi engolida pela gênese do 4-2-4, com Hidegkuti com a camisa nove recuando para articular, abrindo espaços para os goleadores Kocsis e Puskas e desmontando a marcação individual do “English Team”, invicto em seus domínios contra seleções não britânicas.

O legado foi o de transformações que iam do aquecimento antes da partida, do uso de chuteiras mais leves e simples até a utilização de quatro defensores na última linha que o Brasil aproveitaria em 1958 com Vicente Feola, auxiliar do húngaro Béla Guttmann no São Paulo.

Brasil 1×0 Inglaterra – Copa do Mundo, 1970

Não era confronto eliminatório, mas o duelo no Estádio Jalisco, no México, carregava o simbolismo de colocar frente a frente os vencedores das últimas três Copas do Mundo.

Os “inventores” do futebol e então campeões, representando o chamado “futebol-força” – embora houvesse muita técnica nos Bobbies (Moore e Charlton) – e os precursores do 4-4-2 que viraria padrão no futebol britânico contra os brasileiros trazendo um jogo mais artístico, porém sustentados pelo planejamento tático mais cuidadoso de Zagallo, se defendendo num 4-5-1, e uma preparação física de vanguarda para a época.

A jogada fantástica de Tostão pela esquerda que passou por Pelé e chegou a Jairzinho no gol da vitória e a defesa portentosa de Gordon Banks em cabeçada de Pelé ficaram para a história, mas naquela partida a melhor seleção de todos os tempos consolidou sua maneira de jogar em uma espécie de “batismo de fogo” e ganhou confiança para buscar o tri.

Itália 3×2 Brasil – Copa do Mundo, 1982

Talvez a partida mais representativo de todas. O jogo que marcou gerações e, de certa forma, pauta o futebol brasileiro até hoje. Criando a falsa dicotomia “ganhar feio ou perder bonito”.

O confronto entre a seleção de Telê Santana que sonhava combinar a dinâmica do “Carrossel Holandês” de 1974 com o improviso canarinho e a Azzurra de Enzo Bearzot, que ainda acreditava no “gioco all’italiana”: Scirea como líbero, marcação individual no craque adversário (Gentile x Zico) e os demais por encaixe, Conti como “ala tornante” (ponta que volta), Cabrini o “terzino fluidificante” (lateral que apoia) e Antognioni sendo uma mistura de “regista” (maestro) e “trequartista” (ponta-de-lança).

Assim superaram o Brasil encantador de Leandro, Júnior, Sócrates, Zico, Falcão e Éder, porém irregular e com sérios problemas defensivos – em especial, as muitas falhas de Junior no posicionamento como lateral que resultaram em dois dos três gols de Paolo Rossi. Para muitos, a vitória italiana resultou no futebol mais defensivo que viveu seu ápice (ou anticlímax) na Copa do Mundo de 1990.

Barcelona 1×0 Internazionale – Liga dos Campeões 2009/10

Aqui um enorme salto no tempo, de quase três décadas, e a mudança de protagonismo do futebol de seleções para o de clubes. E da Copa do Mundo para a Liga dos Campeões.

O Barcelona venceu, mas não levou a vaga para a decisão contra o Bayern de Munique. A Internazionale de José Mourinho havia superado o time de Pep Guardiola, que assombrara o mundo vencendo a tríplice coroa em sua primeira temporada num time de primeira divisão combinando elementos das escolas holandesa, espanhola e argentina, por 3 a 1 em Milão.

Aos 28 minutos no Camp Nou, Thiago Motta foi expulso e Mourinho apelou para uma linha “de handebol” que chegou a aglutinar oito jogadores guardando a meta de Julio César. A “retranca inteligente”, negando os espaços mais perigosos ao oponente, passou a ser utilizada em larga escala depois disso, com os quatro defensores ficando mais próximos e centralizados e os dois pontas voltando como laterais. Tudo para evitar as infiltrações. Xeque-mate do português sobre o catalão.

Barcelona 5×0 Real Madrid – La Liga, 2010/11

A resposta de Guardiola no ano seguinte. Aproveitando a arrogância de Mourinho, que acreditou que com Cristiano Ronaldo e o elenco milionário do Real Madrid poderia encarar um Barcelona ainda melhor coletivamente no Camp Nou.

Levou um “rondo” de 90 minutos, com Messi deitando e rolando entre a defesa e o meio-campo do rival e servindo seus companheiros. Pedro, Xavi, Villa duas vezes e o jovem Jeffren para fechar a “maneta” e esfregar na cara dos merengues o sucesso de sua cantera. O estado de arte do jogo posicional com posse, pressão pós-perda e a ocupação perfeita dos espaços sem deixar o adversário respirar.

O maior espetáculo de melhor time que vi em ação. E saiu barato para o Madrid. Mourinho tentou resgatar a retranca da Inter nos confrontos seguintes, mas só foi bem sucedido na final da Copa do Rei. No duelo mais importante, pela semifinal da Champions, Messi desequilibrou com dois gols no Santiago Bernabéu. Os 5 a 0, porém, foram mais emblemáticos.

Bayern de Munique 0x4 Real Madrid – Liga dos Campeões 2013/14

A resposta mais completa e avassaladora a Guardiola não foi de Mourinho, nem de Klopp – o treinador que mais venceu o catalão, porém em jogos quase sempre muito duros, parelhos.

Carlo Ancelotti conseguiu com o Real Madrid que venceria “La Decima” fechar espaços à frente da própria área como a Inter de 2010. Com duas linhas de quatro muito próximas e Gareth Bale se desdobrando fechando espaços pela direita, mas se juntando a Benzema e Cristiano Ronaldo em um tridente ofensivo que atropelou o Bayern num 4-2-4 e com posse de bola inócua.

Contragolpes demolidores, com passes rápidos e objetivos para fugir da pressão pós-perda do time alemão. E eficiência na bola parada procurando o implacável Sergio Ramos. Guardiola até hoje admite ser sua pior derrota pelos erros que cometeu. Mas a estratégia de Ancelotti, mais versátil e completa, serviu como mais uma transformação no futebol que graças a esses treinadores evoluiu 30 anos na última década.

 

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Futebol em Quarentena – Os dez melhores times que vi em quatro décadas http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/futebol-em-quarentena-os-dez-melhores-times-que-vi-em-quatro-decadas/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/03/17/futebol-em-quarentena-os-dez-melhores-times-que-vi-em-quatro-decadas/#respond Tue, 17 Mar 2020 19:31:32 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8174

Foto: Javier Soriano / AFP

O futebol parou nos principais centros, inclusive no Brasil. Felizmente, a sensatez prevaleceu e quem puder ficar em casa para não arriscar um colapso nos atendimentos hospitalares por conta da pandemia do coronavirus, melhor para todos.

Mas o blog não pára e aproveita para olhar para trás e abrir espaços para postagens que em tempos velozes, de imediatismo e exigência do “quente”, do “gancho”, não costumam ter muito espaço.

Por isso a série “Futebol em Quarentena” trará rankings, análises de times históricos, jogos lendários, confrontos “dos sonhos” entre grandes equipes de épocas diferentes e o que mais pintar até a bola voltar a rolar no mundo – em breve, esperamos todos.

Para começar, a vontade da maioria do público que votou na enquete no Twitter:

Imagem: Reprodução / Twitter

Então seguem os melhores times (clubes) que vi em quase 40 anos acompanhando apaixonadamente o futebol. Com as devidas particularidades, incluindo memória afetiva. Lista é pessoal, sempre. E daqui a um ano pode mudar também… Vamos lá!

1º – Barcelona de Guardiola – 2010/11

Não foi a equipe mais vencedora comandada por Pep Guardiola na Catalunha, já que na primeira temporada do treinador novato (2008/09) veio a tríplice coroa. Mas mesmo perdendo a Copa do Rei para o Real Madrid de José Mourinho e Cristiano Ronaldo, o Barcelona da temporada 2010/11 foi um primor coletivo que iluminou ainda mais o talento de Xavi, Iniesta, Messi e Daniel Alves.

O gênio argentino, definitivamente como “falso nove”, destruiu as defesas adversárias e foi o elemento de desequilíbrio em um modelo de jogo que tangenciou a perfeição. Pressão pós-perda, posse de bola, construção do jogo desde o goleiro e criação de superioridade numérica no setor da bola, sempre buscando o homem livre. Cansava e atordoava os adversários e conseguia impor a maneira de jogar, mesmo nas raras derrotas. Combinação quase perfeita do melhor das escolas espanhola, holandesa e argentina.

2º – Milan de Arrigo Sacchi – 1988/1989

Os 5 a 0 sobre o Real Madrid pela semifinal da Liga dos Campeões no Giuseppe Meazza representam o melhor do fantástico time dos holandeses Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco Van Basten. Comandados por Sacchi, que revolucionou o futebol italiano atualizando ideias de Rinus Michels.

Defesa em linha, comandada por Franco Baresi, marcando por zona, adiantando e aproximando setores, muitas vezes jogando em trinta metros e trabalhando a bola voltado para o ataque. Combinando a cultural solidez defensiva do “Calcio” com um estímulo ao talento que só rivalizava com a genialidade de Maradona no Napoli. Em 1990, faturou o bicampeonato europeu, último a conseguir o feito antes do Real Madrid de Zinedine Zidane. Um alento e um deleite em tempos de futebol defensivo, simbolizado pela Copa do Mundo disputada na própria Itália.

3º – São Paulo de Telê Santana – 1992/1993

Ganhar duas vezes seguidas a Libertadores é raro. Numa época ainda de muita violência no futebol sul-americano, além das já habituais arbitragens “polêmicas” e pouco controle de doping era ainda mais complicado. E priorizando o futebol bem jogado, mais raro ainda.

O que não era difícil era rivalizar com os gigantes europeus num período anterior à Lei Bosman, que transformou os grandes clubes do Velho Continente em verdadeiras seleções transnacionais. O São Paulo de Telê Santana conseguiu ser competitivo e ter momentos de futebol arte. O melhor exemplo na final do Mundial de 1992, contra o Barcelona. Com Cafu e Muller abertos, Rai e Palhinha por dentro e o suporte de Toninho Cerezo. Tocando, girando, envolvendo e virando para cima do “Dream Team” de Johan Cruyff. Um tempo de supremacia tricolor no planeta.

4º – Arsenal “Invincibles” – 2003/04

Campeão invicto da Premier League, já muito competitiva à época. O que o Liverpool de Klopp e o Manchester City de Guardiola sonharam, mas não conseguiram, os Gunners de Arsene Wenger fizeram história. Não é um título de Champions, mas não deixa de ser um feito extraordinário.

Méritos do time de contra-ataques de almanaque, mas que nunca abdicava de atacar. Uma equipe completa e que vivia um momento coletivo extraordinário, que potencializava as individualidades de Patrick Vieira, Thierry Henry e Dennis Bergkamp. Com auxílio luxuoso de Robert Pirés, Gilberto Silva, Ashley Cole e Fredrik Ljungberg. Transpiração e inspiração para primeiro garantir a taça, depois a trajetória imaculada e histórica. Que dificilmente será repetida.

5º – Bayern de Munique de Jupp Heynckes – 2012/13

Um rolo compressor improvável, depois do revés nos pênaltis em casa para o Chelsea na final europeia em Munique e de perder a hegemonia na própria Alemanha para o Borussia Dortmund de Jurgen Klopp. Na temporada que Jupp Heynckes anunciou que se despediria dos gramados e o gigante bávaro foi atrás de Guardiola em seu “ano sabático”.

Parecia fim de festa. Mas com Robben e Ribéry desequilibrando pelas pontas, o Bayern atropelou o Barcelona com 7 a 0 no agregado e média de 40% de posse de bola. Mesmo sendo o segundo melhor no quesito na Europa, atrás justamente do time blaugrana. Provando ser uma equipe “camaleã”, que se adaptava às demandas das partidas, algo que seria tendência nos anos seguintes. Faturou a tríplice coroa, sendo o último título de outro clube que não Barcelona e Real Madrid na década até o Liverpool quebrar a sequência na temporada passada. Timaço!

6º – Flamengo de Zico – 1981/1982

O time que “unificou” os títulos depois do Santos de Pelé nos anos 1960. Em maio de 1982, era o último campeão da cidade (Taça Guanabara), estado (Rio de Janeiro), país (Brasil), continente e mundo. Com inovações táticas que virariam tendências.

Congestionando o meio-campo com um volante (Andrade) e quatro meias (Tita, Adílio, Zico e Lico), mais Nunes, o centroavante que caía pelas pontas abrindo espaços para os mais talentosos – incluindo os laterais Leandro e Júnior. Mas um camisa nove que aparecia para decidir as partidas mais importantes. Tocando, girando as peças e colocando os adversários na roda. Faltou um período maior de hegemonia no continente, mas o legado da maneira de jogar é imenso, influenciando a inesquecível seleção brasileira da Copa da Espanha.

7º – Liverpool de Jurgen Klopp – 2019/20

Uma construção paciente, qualificando o elenco, tornando a maneira de jogar mais versátil, adicionando pausas no estilo “rock’n’roll” do treinador alemão. Sofrendo com goleiros e zagueiros fracos inicialmente, para depois ir ao mercado e contratar Alisson e Virgil Van Dijk.

Para dar segurança a um ataque avassalador. Com Mohamed Salah, Roberto Firmino e Sadio Mané próximos uns dos outros e da meta adversária e os laterais Alexander-Arnold e Robertson abrindo o campo e sendo os principais municiadores de um time como volume de jogo sufocante e força mental para sair de várias situações difíceis. Venceu a Champions em 2019 e alcançou a melhor campanha do clube na história da Premier League, mas sem faturar o sonhado título nacional que deve vir agora, se a temporada na Inglaterra não for cancelada.

8º – Real Madrid de Zinedine Zidane – 2016/2017

Por motivo de: TRICAMPEÃO da Champions. Não é todo dia que acontece, mesmo descontando algumas atuações pouco inspiradas, pitadas de sorte e arbitragens polêmicas. Chama ainda mais atenção a manutenção da base nas três conquistas e o fato de ser a estreia de Zinedine Zidane no comando técnico de uma equipe de primeira divisão.

O auge na temporada 2016/17, com a conquista também do título espanhol. E o encaixe de Isco, armando um 4-3-1-2 muito móvel e mutante. E essencialmente técnico, com Carvajal e Marcelo abrindo o campo, Cristiano Ronaldo se juntando a Benzema na frente e muito controle no meio-campo, sustentado por Toni Kroos e Luka Modric. Todos suportados por Casemiro na proteção a Varane e Sergio Ramos. Se tudo desse errado, lá estava Keylor Navas para garantir. A camisa entortou varal algumas vezes, mas era um time com muito poder de decisão.

9º – Boca Juniors de Carlos Bianchi – 2000/2003

Um time “embaçado” para enfrentar, especialmente em mata-mata. Mas também capaz de ganhar o Apertura invicto, no início desta caminhada em 1998. Equipe que sabia amassar os adversários na Bombonera e cinicamente cozinhá-los como visitante. E, se tudo desse errado, ainda havia o “rei dos pênaltis” Oscar Córdoba na meta.

No ritmo de Juan Roman Riquelme. Craque um tanto tímido, de hábitos estranhos. Mas um “enganche” de enorme talento e leitura de jogo, inclusive da temperatura. O típico dez que dita o ritmo, acelerando ou escondendo a bola. Faturando a Libertadores em 2000, 2001 e 2003, superando o milionário Palmeiras e o Santos de Diego e Robinho. No último sem Riquelme e Palermo, mas com o jovem Carlos Tévez e Guillermo Schelotto. Uma máquina de faturar taças comandada por Bianchi, um estrategista copeiro que estava na hora certa e no clube certo para fazer história.

10º – Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo – 1996

Sim, o time alviverde mais vencedor comandado por Luxemburgo foi o de 1993/94. Este foi um “meteoro” que não durou seis meses. Mas, ora bolas! Futebol também é lúdico, capaz de fazer sonhar e encantar. E este que escreve chegou a faltar aulas e deixar de ver o time de coração para acompanhar esse futebol encantador.

Foram 102 gols e 13 goleadas de um time fulminante. Cafu e Júnior voando nas laterais, Djalminha e Rivaldo entregando talento no meio, Muller fazendo o pivô e Luizão perdendo e também fazendo muitos gols, tamanha era a superioridade coletiva e individual. Que encaixou no primeiro treinamento, segundo relato do próprio Djalminha a este que escreve em um “Bola da Vez” na ESPN Brasil em 2014. Só um título paulista, um revés doído para o Cruzeiro na final da Copa do Brasil, mas e daí? Nunca será esquecido e está na lista porque sim!

É isso!

Certamente muitos flamenguistas que acham que o futebol começou em 2019 vão cobrar: “Ain, e o time atual do Jorge Jesus?” Calma! Vamos esperar construir a história da equipe, ainda que ganhar Brasileiro com recorde nos pontos corridos e Libertadores no mesmo ano seja um feito espetacular. Mas vamos aguardar!

Para os mais inconformados, fica a promessa de uma análise mais detalhada do atual campeão nacional e continental em breve.

 

 

 

 

 

 

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História e calendário mostram que é loucura prever hegemonia em fevereiro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/17/historia-e-calendario-mostram-que-e-loucura-prever-hegemonia-em-fevereiro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/17/historia-e-calendario-mostram-que-e-loucura-prever-hegemonia-em-fevereiro/#respond Mon, 17 Feb 2020 09:50:57 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7988

Foto: Acervo / Jornal do Brasil

Em 1982, o Flamengo campeão estadual, da Libertadores e Mundial no ano anterior “unificou” os títulos ao vencer o Brasileiro, disputado no primeiro semestre.

Mas havia a possibilidade de um ano perfeito para o clube. Ao vencer a Taça Guanabara em setembro, a equipe estava a dois jogos do título  estadual e a seis de nova conquista sul-americana – como campeão, o time de Zico entrava diretamente na fase semifinal.

Bastaram duas derrotas no Maracanã. Uma para o Vasco na final carioca e outra para o Peñarol e o sonho ruiu. A oscilação natural depois de tantas conquistas e a ressaca pela derrota da seleção com Leandro, Júnior e Zico na Copa do Mundo foram o suficiente para o segundo semestre terminar sem taças.

Dez anos depois, o Fla de Leovegildo Júnior também levou vantagem no Brasileiro do primeiro semestre por terminar 1991 campeão estadual e manter a base no ano seguinte. Mas a saída de Zinho para o Palmeiras e a impossibilidade de usar o Maracanã pela tragédia no estádio com torcedores caindo da arquibancada na geral que matou três pessoas inviabilizaram o bi carioca.

Hoje nada importante é decidido no primeiro semestre. Nem a Libertadores que antes premiava equipes embaladas pelo bom desempenho no final do ano anterior, como Vasco em 1998 depois de vencer o Brasileiro de 1997 e o Corinthians em 2012, com o mesmo roteiro.

O próprio Flamengo de 2019 é a prova de que crescer no segundo semestre é mais produtivo. Surpreendeu e atropelou o então favorito Palmeiras de Luiz Felipe Scolari. Em fevereiro, mesmo favorito ao título carioca, ainda era uma incógnita. Ou um time fadado ao “cheirinho”.

Por isso é loucura prever qualquer coisa no segundo mês do ano. Ainda que o domínio rubro-negro neste momento seja muito claro. E a impressão é de que aumentou a distância para os demais com a manutenção de Jorge Jesus, da base campeã nacional e sul-americana e ainda reforçando o elenco logo no início do ano, com a possibilidade de trabalhar na pré-temporada com um grupo mais completo – falta a reposição a Rafinha na lateral-direita.

Mas o futebol é dinâmico. E o brasileiro é particularmente sujeito às transformações mais aleatórias. Uma saída de Jorge Jesus no meio do ano, uma crise política que respingue no campo, uma insatisfação com a reserva que rache o elenco, uma sequência de lesões, queda de rendimento por convocações em ano de outra Copa América e também Olimpíada…

Ou o encaixe perfeito de outra equipe brasileira ou sul-americana formando um esquadrão, ainda que de tiro curto. Como antecipar?

Por isso a reserva com análises tão definitivas. O Flamengo pode, sim, entrar março com os títulos da Supercopa do Brasil, da Recopa Sul-americana e vaga garantida na decisão estadual com a conquista da Taça Guanabara.

Mas com a expectativa criada, se algo não der certo nos três últimos meses de 2020 a superioridade de hoje não vai fazer história de fato. Ainda que a equipe de Jorge Jesus já seja memorável, independentemente do que vier a acontecer.

Em tempos ansiosos e de muito imediatismo nas frases de impacto, convém lembrar da história e olhar para o calendário para frear a empolgação. Ainda é cedo para tantas certezas.

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Flamengo é a prova de que hoje é impossível só desfrutar de um grande time http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/30/flamengo-e-a-prova-de-que-hoje-e-impossivel-so-desfrutar-de-um-grande-time/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/30/flamengo-e-a-prova-de-que-hoje-e-impossivel-so-desfrutar-de-um-grande-time/#respond Wed, 30 Oct 2019 09:33:59 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7505

Foto: Sergio Moraes / Reuters

2019 começou com o Flamengo apresentando nova diretoria e, com ela, contratações na esperança de dar fim ao incômodo “cheirinho”. Ou a falta de títulos em âmbito nacional depois da conquista da Copa do Brasil de 2013. Repetir a dose no mata-mata nacional ou ser o melhor nos pontos corridos parecia o suficiente em um primeiro ano na mudança de gestão. Mesmo com o alto investimento, o importante era encerrar o jejum.

A Libertadores parecia ainda um sonho distante. Afinal, o time rubro-negro não disputava quartas-de-final desde 2010, semifinal desde 1984 e a única final, com título, foi há 38 anos. O discurso era até ambicioso, mas havia a noção de que o caminho deveria ser longo e o natural seria disputar todo ano, avançar etapas até buscar a conquista continental inédita no atual formato do torneio.

Pois neste final de outubro o que vemos é um Flamengo que lidera o Brasileiro com dez pontos de vantagem e é finalista da Libertadores. O que deveria ser apenas felicidade e otimismo, até pelo ótimo desempenho de uma equipe que encontrou encaixe rápido com o treinador Jorge Jesus, se transforma em um clima de ansiedade sufocante. Especialmente na torcida e na mídia.

Porque agora a missão deixa de ser apenas acabar com a seca de títulos e vira “fazer história”. Jogaram o sarrafo no topo e, não mais que de repente, ganhar a principal competição nacional só não será “decepção” se bater o recorde de aproveitamento na era dos pontos corridos, tiver os três principais artilheiros – Gabriel Barbosa, Bruno Henrique e De Arrascaeta – e a maior antecipação na garantia matemática neste formato com 20 clubes, que é do São Paulo em 2007, com quatro rodadas de antecedência.

E o confronto com o River Plate de Marcelo Gallardo, principal equipe sul-americana dos últimos anos e atual campeão, se transformou em um mero protocolo para poder ter a chancela do maior título do continente e ser comparado com grandes times do passado, inclusive o Flamengo da Era Zico. E tome matéria fazendo comparações individuais entre jogadores e equipes de épocas diferentes. E é o “time do século” no Brasil ou não?

Calma! Será que não é possível apenas…desfrutar, como Bruno Henrique disse que Jorge Jesus costuma pedir aos jogadores. Curtir jogo a jogo e desejar que seja eterno enquanto dure. Porque o futebol é dinâmico e o time carioca pode ter uma queda de produção, o Palmeiras, que é o atual campeão, evoluir e a disputa polarizada pelo título, como foi no ano passado, ficar mais dura e ser adiada para o confronto direto na antepenúltima rodada em São Paulo.

Parece improvável, mas e se acontecer? Se o Fla for o campeão na última rodada com menos pontos que os 81 do Corinthians de 2015, outro recorde, será frustrante? E se não ganhar a Libertadores o timaço de hoje se transformará automaticamente em “não era isso tudo”?

A ansiedade dos nossos tempos de hiperestímulos constantes para nos tirar da distração das redes sociais e das múltiplas opções de entretenimento é avassaladora. Assusta! É obrigatório ter uma bomba a cada minuto, uma enquete a cada segundo e projeções, comparações…

Até uma possibilidade aventada com todo cuidado e as devidas ressalvas pelo nosso Mauro Cezar Pereira, do Flamengo contratar para 2020 um jogador com o perfil de Edinson Cavani, já foi tratada como quase certeza da vinda do uruguaio. Questionando inclusive se ele poderia atuar com o Gabriel, cujo contrato termina em dezembro e o clube terá que desembolsar uma fortuna para tirá-lo da Internazionale.

É mesmo necessário isso tudo? O Flamengo não pode ser analisado apenas pelo que realizou até aqui? Nas pesquisas de arquivo em 2011 para o livro “1981” que este blogueiro escreveu com Mauro Beting para a Maquinária Editora, o time de Zico só foi colocado ao lado de outras equipes históricas como o Santos de Pelé, o Ajax de Cruyff e o Honved de Puskas na coluna de João Saldanha no “Jornal dos Sports” da segunda-feira depois de atropelar o Liverpool em Tóquio.

Antes os textos abordavam os desafios na Libertadores e no Carioca, apontavam defeitos e virtudes. Sim, era uma época de menos informação circulando em tempo real. Talvez por isso tivesse os pés fincados na realidade. Sem devaneios e, principalmente, a pressa para rotular.

Novembro está chegando e com ele a definição do destino de um time que hoje vence e em muitos momentos encanta as retinas. Serão seis jogos pelo Brasileiro e a final sul-americana em Santiago. Façamos um exercício de serenidade e paciência, a partir do jogo contra o Goiás na quinta-feira. Ver e analisar a partida sem a pretensão de alçar ao Olimpo ou descartar na vala comum.

Porque esta gangorra insana de emoções não faz bem pra ninguém. Nem para o futebol.

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É o melhor Flamengo desde 1982. Só precisa de um descanso http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/11/e-o-melhor-flamengo-desde-1982-so-precisa-de-um-descanso/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/10/11/e-o-melhor-flamengo-desde-1982-so-precisa-de-um-descanso/#respond Fri, 11 Oct 2019 11:10:06 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7414

Foto: Celso Pupo / Fotoarena / Agência O Globo

1981 é o grande ano do futebol do Flamengo. Consenso pelos títulos da Libertadores e do Mundial na época em que a FIFA não se metia com isso. Mas foi no Brasileiro do ano seguinte, disputado no primeiro semestre, que o melhor e maior time da história do clube atingiu a maturidade do jogo coletivo.

A equipe revolucionária que fazia os laterais Leandro e Júnior, mais cinco meio-campistas – Andrade, Adílio, Tita, Lico e Zico – tocarem a bola e se movimentarem com o centroavante Nunes abrindo espaços ou aparecendo para decidir começou sua história nos históricos 6 a 0 sobre o Botafogo em novembro de 1981. Com o Fla já na final da Libertadores e prestes a decidir o Carioca. A rigor foram três grandes exibições coletivas naquele final de ano: além da goleada sobre o alvinegro, os 3 a 1 sobre o Fluminense e, claro, o espetáculo diante do Liverpool em Tóquio.

No Brasileiro do “vira-vira”, o time liderado por Zico emendou vitórias sobre todos os grandes concorrentes da época: desde o São Paulo campeão paulista e vice-brasileiro do ano anterior, no Maracanã e Morumbi, passando pelo Atlético Mineiro de Reinaldo, o Corinthians de Sócrates, o Guarani de Careca e Jorge Mendonça e, na final em três partidas, o Grêmio campeão brasileiro e que no ano seguinte venceria Libertadores e Mundial. Campanha irretocável com seis vitórias seguidas no início da competição e apenas duas derrotas em 23 partidas.

Com a conquista nacional, aquele Flamengo conseguia uma espécie de “unificação” dos títulos. Em maio de 1982 era o último campeão da cidade (Taça GB), do Estado, do país, do continente e do planeta. No Brasil apenas o Santos de Pelé alcançou tal feito, em 1962.

É claro que nos últimos 37 anos o Fla teve grandes equipes e viveu momentos de futebol em alto nível. Mas nada comparado ao que o time de Jorge Jesus alcançou nos últimos três meses. Ou desde agosto, depois de um começo com dificuldades naturais, incluindo a eliminação na Copa do Brasil para o Athletico Paranaense.

Uma equipe intensa, com volume e variações táticas. Gerando jogo com todos os jogadores, inclusive o goleiro Diego Alves. Capaz de empurrar os adversários para a defesa mesmo como visitante. O melhor exemplo nos primeiros 45 minutos contra o Grêmio em Porto Alegre, por uma semifinal de Libertadores que o clube não alcançava desde 1984.

Perde a bola e logo pressiona para retomá-la. Toca, mas quase sempre com passes para frente. Uma constante busca pelo gol, independentemente do placar. No ritmo de Gerson, o grande maestro da equipe como um meio-campista moderno que domina as duas intermediárias, muito bem assessorado pelo Willian Arão repaginado por Jesus. Mobilidade, mas organização para que o jogador com a bola tenha sempre, no mínimo, duas opções de passe. Uma por dentro, outra por fora.

Normalmente Rafinha passando no corredor deixado por Everton Ribeiro e o lateral esquerdo, Filipe Luís ou Renê, atacando por dentro com um companheiro mais aberto. Nos 3 a 1 sobre o Atlético Mineiro no Maracanã, o ponteiro foi Vitinho, o substituto do uruguaio De Arrascaeta. Outrora muito contestado, desta vez decisivo com duas assistências e um belo gol. Desarticulando o 5-4-1 atleticano que foi empurrado para trás, mas criou alguns problemas com muita compactação e algumas transições ofensivas bem coordenadas, inclusive no golaço de Nathan.

Desde o revés por 3 a o para o Bahia em Salvador na “ressaca” da classificação nas oitavas do torneio continental contra o Emelec, são dez vitórias e um empate na competição nacional. 25 gols marcados, seis sofridos. O suficiente para abrir oito pontos na tabela sobre Santos e Palmeiras. Pontuação que era a desvantagem para o Alviverde atual campeão em nove rodadas quando Jorge Jesus assumiu.

Consistência em resultados e desempenho que nenhum time rubro-negro entregou em quase quatro décadas nessa amostragem de partidas, incluindo as duas contra o Internacional pelas quartas e a primeira semifinal da Libertadores.

Nem o time campeão da Copa União em 1987, que era um grande conjunto de individualidades – principalmente se analisarmos o que cada um fez ao longo de suas carreiras: Jorginho, Leonardo, Zinho e Bebeto campeões mundiais em 1994; os ídolos eternos Leandro, Andrade e Zico; os multicampeões Aílton e Renato Gaúcho. Mais o goleiro Zé Carlos, convocado para o Mundial na Itália em 1990 e Edinho, zagueiro de três Copas do Mundo. Mas não chegou nem perto de tamanha imposição sobre os rivais.

O campeão carioca e brasileiro em 1991/92 comandado por Carlinhos “Violino” viveu grandes momentos, com uma garotada promissora, os passes de Júnior e os gols de Gaúcho. Longe, porém, da regularidade e da consistência do atual no jogo coletivo. Muito menos o único vencedor na era dos pontos corridos, em 2009, que vivia fundamentalmente do talento de Petkovic e Adriano Imperador em uma arrancada impressionante na reta final da competição.

Falta a este Flamengo marcar a história com grandes títulos. Eles nunca pareceram tão próximos, mas há um grande obstáculo, um inimigo interno: o desgaste. De um elenco que roda pouco pelas circunstâncias. Por perder Cuéllar, negociado, e Diego Ribas, lesionado. Agora sem Filipe Luís e Arrascaeta com problemas nos joelhos e Rodrigo Caio e Gabriel Barbosa a serviço da seleção brasileira. Em breve terá que ceder a revelação Reinier para a CBF no Mundial Sub-17.

Jesus vai se virando com o que tem, recuperando Vitinho e insistindo com os titulares. A maioria das substituições acontece no final das partidas. Contra o Santos não houve tempo para Piris da Motta entrar em campo, diante do Galo foi a vez do jovem Hugo Moura ficar à beira do campo no apito final. O treinador português diz que não gosta de poupar e no seu país, apesar de ser tão querido a ponto de fazer a imprensa de lá cobrir o futebol daqui, costuma ser criticado por não rodar muito o elenco e ter perdido títulos encaminhados por conta disso. Nas palavras do próprio treinador, ele gosta de “colocar a carne toda para assar”.

Só que o risco de mais lesões é real, embora ninguém esteja fora por problemas musculares. A tabela oferece uma boa oportunidade de descansar os sete titulares que restaram: jogo contra o Athletico em Curitiba. Porque entre as 22h da quinta e as 16h de domingo serão apenas 66 horas para recuperação. Para depois cruzar o país e encarar o Fortaleza na capital cearense na quarta. E vale arriscar esses pontos com uma equipe reserva, já que Santos e Palmeiras também visitarão o campeão da Copa do Brasil, sempre um adversário complicado em seus domínios.

Se tivesse planejado seria possível até zerar pendurados por dois cartões amarelos. São cinco: Rafinha, Pablo Marí, Willian Arão, Everton Ribeiro e Bruno Henrique. Mas Jorge Jesus quer tudo e quer agora. E pelo que fala nas coletivas será difícil convencê-lo a mudar. É claro que futebol não é ciência exata e o time pode superar o desgaste. Ou acontecer uma espécie de rodízio natural por conta de suspensões, lesões e convocações e o elenco resistir bem. Há qualidade para isso. Mas uma pausa estratégica para reabastecer neste momento, até pela vantagem na tabela, seria saudável para a equipe.

Jesus segue suas próprias leis e é difícil contestá-lo. Afinal, ele entrega um Flamengo que vence e encanta como há tempos não se via no país. E no time mais popular do Brasil desde sua versão mais talentosa e campeã.

 

 

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Sampaoli, Felipão ou Renato Gaúcho? Depende. Futebol é encaixe, um “click!” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/22/sampaoli-felipao-ou-renato-gaucho-depende-futebol-e-encaixe-um-click/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/02/22/sampaoli-felipao-ou-renato-gaucho-depende-futebol-e-encaixe-um-click/#respond Fri, 22 Feb 2019 10:07:35 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=5995 Tostão levantou a bola em sua coluna de quarta-feira na “Folha de São Paulo” e a ESPN Brasil deu outro enfoque no “ESPN Bom Dia”: qual característica seria a mais importante em um treinador – comando firme, inventividade, “esperteza”, solidez defensiva, ousadia, “loucura” ou racionalidade?

O colunista citou Mano Menezes, Renato Gaúcho, Fernando Diniz, Jorge Sampaoli, Fabio Carille, Luiz Felipe Scolari e Levir Culpi como exemplos. Tite, o melhor entre os brasileiros, diria que a solução seria equilibrar todas essas características e não estaria errado.

Mas, no fundo, o que torna um trabalho bem sucedido em qualquer lugar do mundo é um grande mistério. Felizmente o futebol não carrega bulas, nem receitas de bolo. Não há fórmula. Qualquer linha de trabalho pode dar certo, mesmo a mais improvisada.

É claro que quando há um plano pensando a médio/longo prazo, com o clube ou seleção buscando combinar perfil do treinador com características dos jogadores dentro de uma estrutura bem definida e com capacidade de investimento, as chances de funcionar aumentam consideravelmente. Só não há garantia.

Tudo depende de encaixe, um “click!” capaz de sincronizar os movimentos de todas as peças no tabuleiro. No “Bola da Vez” em 2014 na ESPN Brasil, Djalminha respondeu a este blogueiro que aquele Palmeiras campeão paulista dos 102 gols em 1996 deu liga no primeiro treinamento coletivo. Os jogadores e também Vanderlei Luxemburgo chegaram a se olhar e sorrir com o rápido entrosamento que foi se aprimorando e gerou aquele “meteoro” que encantou o país por seis meses.

Às vezes precisa da intervenção direta do comandante, como a Holanda de 1974. Ao perceber que os jogadores de Ajax e Feyenoord não se entendiam na execução do modelo de jogo, Rinus Michels reuniu todos, colocou na lousa o que queria e disse que quem não concordasse poderia abandonar o barco. Em menos de um mês, o “Carrossel” revolucionaria o futebol mostrando ao mundo a combinação (quase) perfeita do que as duas equipes já realizavam na Europa.

Um gol também pode mudar tudo. Como o de Rondinelli aos 41 minutos do segundo tempo sobre o Vasco, que deu o título carioca para o Flamengo de Zico em 1978. Depois de chegar perto nos três anos anteriores, a conquista garantiria a permanência e o fortalecimento daquele grupo de jogadores, já vistos com certa desconfiança, para construir o período mais glorioso da história do clube.

No caso dos treinadores citados no título deste post, Sampaoli conseguiu seu trabalho de maior sucesso e visibilidade no Chile campeão da Copa América de 2015. Fruto de um processo que começou com Marcelo Bielsa e que teve continuidade com seu “súdito”. Questão de polimento, maturidade que se ganha nas competições até alcançar o triunfo.

Já Felipão ganhou o título mundial de 2002 depois de um ano de trabalho e encontrando a equipe ao longo da Copa do Mundo disputada na Ásia. Ainda que o toque especial, a reunião de Rivaldo e dos Ronaldos no ataque, tenha sido inspirado em um Brasil x Argentina disputado no Beira-Rio em 1999. Luxemburgo reuniu os três e a seleção enfiou 4 a 2 dando espetáculo. O “click!” se deu ali, mas foi Scolari, que viu no estádio a “mágica” acontecer, quem aproveitou três anos depois em outro contexto.

Quanto a Renato Gaúcho, a felicidade no retorno ao Grêmio para um contrato de três meses que vai chegando a três anos com títulos se deu pela combinação de uma linha de trabalho já construída que precisava dos ajustes que o maior ídolo do clube soube aplicar. Também adicionou o carisma e a liderança que entregaram rapidamente resultados e desempenho. Beleza e títulos. O ideal.

Nem tudo, porém, se resume a resultados. Além da “Laranja Mecânica” já citada, a Hungria de 1954 e o Brasil de 1982 são times inesquecíveis mesmo sem taças. Referências que contribuíram com a evolução do esporte e se eternizaram pelo sonho do jogo perfeito. O impossível em esporte tão caótico e imprevisível. Tanto que não venceram ao cruzar com equipes também fortes, porém mais pragmáticas. Ou simplesmente Alemanha, duas vezes, e Itália foram mais felizes naqueles duelos. Porque funcionou naquele dia.

Por isso o futebol apaixona e ensina. Tostão sabe bem disso ao ressaltar em seus textos as inconstâncias, fragilidades e a falta de certezas. Na vida e no jogo. Mesmo o que parece perfeito pode desandar em uma partida. Ou o que parece fadado ao fracasso pode se consagrar. Por um erro ou casualidade. A razão precisa estar presente para que a gente não enlouqueça. Mas tentar entender e criar roteiros, como em um filme, é inútil.

Cada história vivida nos campos carrega sua verdade. Única e intransferível. Melhor assim.

 

 

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