campeonatobrasileiro – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Seis anos do 7 a 1 e pouco aprendemos com a derrota. Só copiamos quem vence http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/08/seis-anos-do-7-a-1-e-pouco-aprendemos-com-a-derrota-so-copiamos-quem-vence/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/07/08/seis-anos-do-7-a-1-e-pouco-aprendemos-com-a-derrota-so-copiamos-quem-vence/#respond Wed, 08 Jul 2020 17:11:42 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8736

Imagem: Pedro Ugarte / AFP Photo

Seis de setembro de 2014. Menos de dois meses depois da maior derrota da história da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari dava entrevista coletiva no Maracanã como treinador do Grêmio. Este que escreve estava presente, trabalhando na cobertura do jogo para a ESPN Brasil. Altivo e refratário a qualquer questionamento sobre os 7 a 1, Felipão foi tratado pelos jornalistas dos veículos gaúchos, cariocas e nacionais como o dono da razão.

Afinal, seu time havia vencido o Flamengo de Vanderlei Luxemburgo por 1 a 0, gol de Luan, pelo Brasileiro. Encerrando uma série de cinco vitórias do time rubro-negro na competição. Era o primeiro triunfo do tricolor fora de casa sob o comando de Felipão e a equipe ocupava a sexta colocação, quatro à frente do Fla.

Grêmio que terminaria em sétimo e, no ano seguinte, Roger Machado seria o sucessor de Scolari e de um trabalho que deixou terra arrasada e a necessidade de reconstrução. O treinador novato encarou a missão e deixou base e conceitos que seriam aprimorados para em 2017 alcançar o auge com a conquista da Taça Libertadores. Com Renato Gaúcho no comando técnico.

Outro veterano e boleirão que viraria referência no ano seguinte. Junto com Felipão, de volta ao Brasil para comandar o Palmeiras que seria campeão brasileiro; A ponto de no final de 2018, o Flamengo, com nova diretoria liderada por Rodolfo Landim, o vitorioso na eleição para a sucessão de Eduardo Bandeira de Mello, escolher Abel Braga para ser o novo técnico.

Boleiro, perfil “paizão”, bom gestor de vestiário. Essa era a “moda” do futebol brasileiro no início de 2019. Reforçada com os títulos estaduais de Abel no Fla e Renato no Grêmio, mais o início avassalador do Palmeiras no Brasileiro. A ponto de na Copa América, disputada no Brasil, surgirem vozes críticas ao trabalho de Tite que tinham a coragem, quase audácia, de pedir a volta de Felipão no comando da seleção.

No dia 7 de julho, um dia antes de completar cinco anos do “Mineirazo” na semifinal da Copa do Mundo realizada no Brasil, a equipe de Tite conquistou o torneio continental como anfitrião. Sem saber que um furacão estava por vir.

Jorge Jesus no Flamengo. A união de qualidade, conceitos atuais e combinação de características dos jogadores que criou rapidamente um grande time. Cuja vitória de afirmação foi sobre o mesmo Palmeiras de Felipão. 3 a 0 no Maracanã que custou o emprego do técnico gaúcho.

Não foi o único. Fabio Carille, campeão brasileiro em 2017 e tri paulista, também ficou desempregado depois de uma goleada para os rubro-negros por 4 a 1. Assim como Mano Menezes, que caiu na antepenúltima rodada do Brasileiro por conta da derrota do Palmeiras em casa por 3 a 1 para a equipe de Jorge Jesus.

Ambos que carregaram um “hype” nos anos anteriores. Mano pelos títulos da Copa do Brasil pelo Cruzeiro, Carille pelas conquistas no Corinthians e sendo o ponta-de-lança de uma moda que veio antes dos técnicos veteranos: os “jovens, modernos e estudiosos” que ocuparam postos em grandes clubes e sinalizaram uma revolução no futebol brasileiro.

Nem era o caso. Carille simplesmente resgatou a  “identidade Corinthians” que assimilou e ajudou a implementar como auxiliar de Mano e Tite. Em entrevistas, deixava claro que não costumava acompanhar muito o que acontecia nos grandes centros da Europa. Enquanto vencia, essa prática não era criticada pela maioria na imprensa. Muitas vezes foi defendida, como se nossa realidade medíocre fosse imutável e qualquer influência do exterior não pudesse vingar.

Jorge Jesus chegou e virou tudo do avesso. Mas mesmo ele, apesar de toda excelência no desempenho do Flamengo, foi alvo de críticas, senões e “o trabalho é bom, mas…”, só calando a maioria das ressalvas quando alcançou o feito inédito de vencer Brasileiro e Libertadores no mesmo ano. Quebrando um paradigma que já tinha virado uma espécie de dogma: não seria possível disputar ambas em alto nível. Só rodando o elenco e poupando titulares em várias partidas do campeonato por pontos corridos.

Solução de Renato Gaúcho no Grêmio e também tratada como modelo. De Felipão no Palmeiras e depois do próprio Abel no início do Brasileiro pelo Flamengo. Pulverizada com os 5 a 0 na semifinal da Libertadores, com o time de Jesus atropelando a equipe do treinador que era tratado como o sucessor inevitável de Tite na seleção. Renato só não caiu no Grêmio depois do massacre no Maracanã por tudo que conquistou no clube, como jogador e técnico.

Jorge Jesus agora é a referência. Inclusive para a seleção brasileira. Porque venceu. E Tite, hoje questionado, já foi ídolo e tratado como um modelo de ética e competência até para ocupar a Presidência da República. Porque varreu os adversários nas Eliminatórias. A eliminação na Copa do Mundo para a Bélgica em um jogo igual, com tempos distintos, foi suficiente para colocá-lo em xeque.

E só conseguiu o tão sonhado posto na CBF porque em meados de 2016 era o último treinador campeão brasileiro, comandando o Corinthians. A bola da vez e sem concorrentes diretos. Se tivesse perdido o título para o Atlético Mineiro de Levir Culpi em 2015, mesmo com a evolução em métodos e no modelo de jogo depois de um ano “sabático” de estudos, talvez a oportunidade não tivesse surgido.

Enquanto tudo isso acontecia, o trauma e a reflexão sobre os 7 a 1 foi se diluindo com a passagem do tempo. A narrativa do “acidente” se fortaleceu, até pela queda dos alemães depois do ápice com o título mundial. A ponto de Felipão, o grande responsável pelas fragilidades da seleção anfitriã e pelas escolhas infelizes na escalação para o jogo do Mineirão, ser novamente tratado como solução e referência.

Seguimos olhando resultados e navegando ao sabor dos ventos. Na tentativa e erro em loop. O Flamengo se equivocou com Abel, agora acerta com Jesus, que pode voltar para Portugal treinar o Benfica. Se acontecer, quem será a próxima referência? A nova moda ou o “hype” da vez?

Não aprendemos nada, ou muito pouco. Só copiamos, ou tentamos copiar, quem vence. Só respeitamos quem sai com os três pontos. Um imediatismo que faz esquecer tudo muito rápido. O futebol é dinâmico, mas nem tanto.

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Revés do Flu e chance de definir logo o Carioca podem atrapalhar o Flamengo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/29/reves-do-flu-e-chance-de-definir-logo-o-carioca-podem-atrapalhar-o-flamengo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/29/reves-do-flu-e-chance-de-definir-logo-o-carioca-podem-atrapalhar-o-flamengo/#respond Mon, 29 Jun 2020 12:24:31 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8700

Imagem: Thiago Ribeiro / AGIF

O Flamengo liderou a pressão pela volta do Carioca em meio à pandemia com milhares de contaminados e mortos no Rio de Janeiro, sem contar a subnotificação por conta de testes insuficientes para o volume de casos.

O atual campeão brasileiro e da Libertadores retomou os treinamentos inicialmente sem autorização da Prefeitura. Foi o primeiro a voltar a entrar em campo, no dia 18 para vencer o Bangu por 3 a 0 no Maracanã. Os outros três grandes retornaram só dez dias depois.

Com a derrota do Fluminense para o Volta Redonda por 3 a 0 no Estádio Nílton Santos, o Flamengo ultrapassou o rival na classificação geral e, caso vença o Boavista, termina como maior pontuador das fases de grupos dos dois turnos e pode definir o título vencendo a Taça Rio, depois da conquista da Taça Guanabara.

Se não tiver mais nenhuma mudança, o calendário será de semifinal no próximo fim de semana e decisão no domingo seguinte, dia 12 de julho. Caso resolva logo o Carioca, o time rubro-negro teria quase um mês de inatividade até o início do Brasileiro, marcado para o segundo fim de semana de agosto, dias 8 a 9 – podendo ser prorrogado para o seguinte, 15 e 16, a pedido dos times paulistas.

Depois de mais de 90 dias sem partidas seria válido outros 30 de inatividade após quatro jogos? Definir rapidamente o Carioca era interessante no cenário antes da pandemia, com disputa de Libertadores em paralelo e a possibilidade de ganhar tempo de preparação para a competição mais longa, por pontos corridos.

Agora a chance de se tornar uma desvantagem é enorme, já que os demais concorrentes estariam recuperando ritmo com a retomada dos torneios locais e emendariam as decisões com a principal competição nacional. E o Flamengo parado…

É claro que comemorar um título sempre é saudável e os profissionais têm o direito de buscar decidir o mais rápido possível, sem dar chance para uma “zebra”. Mas hoje para a equipe de Jorge Jesus seria mais produtivo disputar uma decisão em duas partidas. De preferência contra um grande, jogando Série A. Nível mais alto de competição.

O Fla é o maior vencedor do Carioca, com 35 títulos. Quatro à frente do Fluminense. O campeonato está longe de ser a prioridade na temporada, embora tenha ganhado relevância pelo contexto sem Libertadores e Copa do Brasil. O favoritismo é absoluto em qualquer circunstância e hoje a conquista pode ser tratada como obrigação.

No momento, porém, a necessidade de seguir jogando é maior que a de festejar e depois só treinar por mais um mês. A pressa pode ser castigada no início do campeonato mais importante.

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Permanência de Jorge Jesus no Flamengo renova também o incômodo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/08/permanencia-de-jorge-jesus-no-flamengo-renova-tambem-o-incomodo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/08/permanencia-de-jorge-jesus-no-flamengo-renova-tambem-o-incomodo/#respond Mon, 08 Jun 2020 11:18:58 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8620

Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

Bastou que a pauta da renovação do contrato de Jorge Jesus com o Flamengo surgisse com mais força nos veículos de comunicação e nas redes sociais para que alguns comentários “curiosos” começassem a brotar aqui e ali. Sempre com um viés que não se costuma ver sobre outros treinadores no Brasil.

Começou com Vanderlei Luxemburgo, em entrevista à Rádio Bandeirantes, afirmando que Abel Braga conseguiria o mesmo sucesso que o português se contasse com as contratações rubro-negras no segundo semestre – Rafinha, Pablo Marí, Filipe Luís e Gérson.

Algo muito questionável, considerando que Abel resistia em encaixar De Arrascaeta no time por não querer montar um “time de índio” e, mesmo em um torneio de nível técnico muito inferior como o Carioca, a equipe não chegou nem perto do nível de desempenho do segundo semestre.

Depois o ex-jogador e hoje comentarista Denilson questionou os valores da renovação do técnico campeão brasileiro, da Libertadores, da Supercopa do Brasil e da Recopa Sul-Americana. Ainda que, de fato, a cotação alta do euro possa tornar os 3,5 milhões pagos a Jesus e sua comissão técnica um montante considerável, o esforço de um clube ainda saudável financeiramente e com possibilidades de aumento de receitas em breve é mais que justificável. Afinal, trata-se de um profissional que mudou o patamar da equipe.

Sim, a diretoria do clube segue empilhando equívocos no trato de outras questões, como a empatia com as famílias dos jovens mortos no Ninho do Urubu, as demissões durante a pandemia após garantir três meses de resistência à crise e a pressa na volta do futebol sem perspectivas de achatamento da curva de contágio da Covid-19. Mas acertou nesta empreitada, inclusive na paciência para esperar o momento correto de fechar a negociação. Poderia ter saído ainda mais caro se o acordo fosse sacramentado no início de 2020, antes da parada forçada.

Por fim, o ex-treinador Emerson Leão, em progama no Esporte Interativo, definiu Jesus como “treinador de time rico”: “Joga com craques, que decidem partidas individuais”. Seja lá o que ele quis dizer, a afirmação é estranha, para dizer o mínimo, já que o maior mérito do português foi justamente fazer as estrelas trabalharem coletivamente.

É claro que todos esses depoimentos foram dados em meio a muitos elogios ao trabalho realizado no Flamengo. E obviamente os três personagens têm todo o direito de externar seus pontos de vista. Muito menos a intenção é transformar Jorge Jesus em uma figura intocável.

Mas desde a chegada do técnico ao Brasil, sempre que ele se torna um tema com maior destaque alguém aparece para tentar colocar algum asterisco. Por que o incômodo?

O fato de envolver o time de maior torcida do país sempre pesa. A repercussão é grande, a torcida está  atenta e repercute, gera engajamento. No caso de algumas figuras às vezes pode retomar uma visibilidade perdida. E clubes populares também atraem aquele desejo de que as coisas não funcionem tão bem.

Ainda mais o Flamengo, que tem a frase de Alexandre Kalil, ex-presidente do Atlético Mineiro e hoje prefeito de Belo Horizonte, afirmando que se o clube carioca se organizasse acabaria com a competição no futebol brasileiro, sempre vagando no imaginário popular.

Jorge Jesus é a personificação do sucesso do Fla na sua reestruturação financeira. Foi quem comandou em campo a transformação dos investimentos em títulos. Da provocação do “cheirinho” dos rivais nos gritos de campeão. Foram quatro em menos de um ano, sem contar a Taça Guanabara 2020.

E logo um estrangeiro, no país cinco vezes campeão do mundo que acha que não precisa aprender nada com ninguém. E de Portugal que, segundo o próprio Luxemburgo, “não ganhou nada” – talvez tenha esquecido das conquistas continentais de Benfica e Porto ou dos recentes títulos de Eurocopa e Liga das Nações comandados por Cristiano Ronaldo.

Para piorar, quebrando paradigmas como a impossibilidade, segundo palavras e atos dos profissionais daqui, de vencer Brasileiro e Libertadores no mesmo ano. Porque se chegasse longe na competição sul-americana era obrigatório deixar o campeonato nacional por pontos corridos de lado, utilizando time reserva apenas para garantir uma campanha digna, no máximo aspirando a uma vaga na Libertadores do ano seguinte.

E Jorge Jesus ainda adiciona um tom arrogante em suas entrevistas, para aumentar a raiva dos que torcem o nariz. Sem ataques pessoais, mas afirmando suas qualidades – às vezes carregando um pouco nas tintas, convenhamos. Algo que pode até ser justificado por conta das muitas ressalvas que colocaram sobre seu nome desde a chegada ao Brasil.

O português também desnudou limitações dos treinadores brasileiros. Ele e Jorge Sampaoli subiram o sarrafo e deixaram claro que o nosso teto de exigência estava baixo. No caminho para os títulos, algumas vitórias provocaram demissões de profissionais que eram tratados como referências: Luiz Felipe Scolari, campeão brasileiro de 2018; Mano Menezes, bicampeão da Copa do Brasil em 2017/18 com o Cruzeiro; Fabio Carille, campeão brasileiro em 2017 no Corinthians. Renato Gaúcho não caiu no Grêmio por tudo que representa, mas os 6 a 1 no agregado da semifinal continental abalaram as estruturas do clube gaúcho e mudaram parâmetros e planejamentos.

E tudo isso com enorme visibilidade. Não só aqui, mas também em Portugal. Com os jogos de Brasileiro e Libertadores sendo analisados lá. Escancarando os problemas táticos e estratégicos dos adversários do Flamengo. Falhas primárias dos sistemas defensivos, erros de posicionamento nas jogadas de bola parada, espaços generosos entre os setores. Problemas detectados às vezes com certo sarcasmo pelos comentaristas lusos.

De fato, é um “combo” para lá de incômodo. Toda a cadeia produtiva do futebol foi desafiada pelos feitos de Jorge Jesus no Flamengo. Inclusive nós, jornalistas, que somos obrigados a fazer um esforço na qualificação da análise. Não dá para reduzir tudo ao talento dos jogadores. O campo não mostra isso. As digitais do comando técnico são muito claras.

Jesus renovou contrato até junho de 2021. Mais um ano no Brasil. Com chances, sim, de cair o desempenho pelo contexto da volta do futebol pós-pandemia. Mas uma possibilidade considerável, até pela provável manutenção do elenco, de seguir vencendo e entregando rendimento.

Para alegria de milhões de rubro-negros e daqueles que apreciam um futebol bem jogado independentemente de preferências clubisticas, mas também angustiante para muita gente. Um processo inevitável.

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Volta de Fred ao Flu vale pelo ídolo, mas pode repetir “flop” de Ronaldinho http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/06/volta-de-fred-ao-flu-vale-pelo-idolo-mas-pode-repetir-flop-de-ronaldinho/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/06/volta-de-fred-ao-flu-vale-pelo-idolo-mas-pode-repetir-flop-de-ronaldinho/#respond Sat, 06 Jun 2020 07:00:05 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8606

Foto: Lucas Merçon / Fluminense

O retorno de Fred ao Fluminense teve “tour solidária”, com o ídolo tricolor pedalando e arrecadando doações em tempos de pandemia. Mesmo aos 36 anos e sendo um dos personagens do rebaixamento do Cruzeiro, o atacante ainda desfruta de visibilidade e gera repercussão e engajamento.

Neste sentido é válido para o clube carioca. A mobilização da torcida em torno do maior artilheiro do clube no século, campeão brasileiro em 2010 e 2012 e referência de 2009 a 2016 pode ser fundamental em um momento de crise sem precedentes no futebol nacional. A iniciativa do jogador de receber dois salários mínimos até o início do Brasileiro e o plano do Flu de torná-lo um embaixador do clube também são positivos. Mesmo em um contexto de salários atrasados e complexo cenário econômico.

A grande questão é como vai se dar o encaixe do centroavante na equipe comandada por Odair Hellmann. Um Fluminense que se ajustava no início da temporada combinando a criatividade e a experiência de Nenê com a rapidez e a intensidade de Wellington Silva, Marcos Paulo e Fernando Pacheco pelos flancos e Evanilson no centro do ataque. Muitas vezes com o centroavante voltando para ajudar sem bola e Nenê “descansando”. Ganso seria a reposição a Nenê, mas numa função mais de organização no meio que criação no ataque.

Odair inicialmente deve encaixar Fred na frente com Nenê por trás em um 4-2-3-1. A solução, porém, tende a sacrificar os ponteiros, que terão que voltar sem bola para formar uma linha de quatro com os dois volantes – Henrique, Hudson e Yago Felipe disputam as vagas. Necessidade da equipe, até porque os laterais Gilberto e Egídio não são exatamente exímios defensores.

Ou colocar muita intensidade na pressão logo após a perda da bola. O problema é que eles também serão a referência de velocidade e de profundidade para atacar os espaços às costas da defesa adversária. Fred faz a parede, Nenê lança e quem infiltra? Aquele que fez pressão no oponente ou veio de trás porque estava protegendo as laterais.

Uma formação possível do Fluminense com Fred: 4-2-3-1 com Nenê ganhando liberdade e os dois sacrificando os ponteiros que precisam recompor, pressionar e ainda acelerar e buscar os espaços às costas da defesa adversária (Tactical Pad).

É o dilema de escalar dois jogadores mais lentos e menos intensos na frente. A mesma dificuldade que o próprio Fluminense enfrentou em 2015 para encaixar Ronaldinho Gaúcho. Outro que mobilizou e atraiu holofotes para o clube, mas entregou pouco no campo. Não só pelas próprias dificuldades de se manter concentrado e disposto a competir, mas porque o ajuste do time para abrigar o talento do novo camisa dez ao lado de Fred comprometeu o trabalho coletivo.

Enderson Moreira e Eduardo Baptista tiveram que exigir de jogadores como Marcos Júnior, Osvaldo, Gustavo Scarpa e Cícero um esforço hercúleo para defender e atacar com intensidade máxima, quase de uma linha de fundo à outra. Uma missão inglória no futebol atual, que já exige demais fisicamente com todos se entregando. Imagine precisando compensar dois homens.

Se houver compreensão com a necessidade de rodar o elenco, Odair pode mudar a equipe, colocar estrelas no banco e utilizá-las em momentos específicos. As cinco substituições agora permitidas podem ajudar. E a combinação de juventude e experiência é sempre saudável na formação de uma equipe.

Mas o risco de “flop” existe. Mesmo para um ídolo como Fred, que parece feliz e motivado. Bom para ele, vejamos se será positivo também para o Fluminense onde mais importa: no campo.

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De Ronaldo a Adriano, 2009 foi o ano “The Last Dance” no futebol brasileiro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/05/de-ronaldo-a-adriano-2009-foi-o-ano-the-last-dance-no-futebol-brasileiro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/05/de-ronaldo-a-adriano-2009-foi-o-ano-the-last-dance-no-futebol-brasileiro/#respond Fri, 05 Jun 2020 13:38:04 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8601

Foto: Folha Imagem

“The Last Dance” (“Arremesso Final” no Brasil) é a série da Netflix que apresenta com incríveis registros de bastidores a trajetória do Chicago Bulls de Michael Jordan  na conquista de seis títulos da NBA em oito anos. A “última dança” é a temporada 1997/98, definida em lendária cesta de Jordan contra o Utah Jazz. O brilho final de um mito dos esportes em todos os tempos.

Difícil encontrar história semelhante no esporte nacional, até por nuances como a pausa de Jordan para jogar beisebol em 1994, depois da morte do pai, e o anúncio do manager Jerry Krause, antes da última temporada começar, de que o treinador Phil Jacskon não seguiria na franquia. Sem contar a aposentadoria da estrela maior até a aventura no Washington Wizard de 2001 a 2003.

Mas o futebol brasileiro teve um ano especial que consagrou em seus campos pela última vez grandes estrelas do esporte. Cada um dentro de sua escala de grandeza.

2009 começou com Ronaldo Fenômeno voltando ao Brasil para liderar o Corinthians na sua volta à Série A e marcando um processo de reconstrução que levaria o time mais popular de São Paulo às maiores conquistas de sua história.

Mesmo com problemas físicos por conta das sérias lesões nos joelhos e a dificuldade de manter o peso ideal, Ronaldo foi protagonista nas conquistas do Paulista, este de forma invicta, e Copa do Brasil. Os últimos títulos da carreira de um dos maiores atacantes da história do futebol mundial. Com direito a gol antológico encobrindo Fabio Costa contra o Santos na Vila Belmiro pela decisão estadual.

Se o primeiro semestre foi do Corinthians do Fenômeno, o segundo reservou uma grande surpresa: o Flamengo campeão brasileiro depois de 17 anos, comandado por Adriano Imperador, que deixou a Internazionale para jogar pelo time de coração. Bem assessorado por Petkovic, de volta ao clube aos 36 anos para receber uma dívida ainda da primeira passagem, entre 2000 e 2002.

Apesar da gestão caótica, com direito à efetivação do interino Andrade depois da demissão de Cuca, o time conseguiu uma impressionante arrancada no returno que aproveitou as oscilações de São Paulo e Internacional para alcançar o título. O derradeiro protagonismo da dupla improvável e também o único do ídolo que virou treinador.

O ano do futebol no Brasil ainda teve o Mineirão como palco da última conquista de Libertadores do tetracampeão Estudiantes de La Plata. Vencendo o Cruzeiro por 2 a 1 depois de um empate sem gols na Argentina.

Liderado por Juan Sebastián Verón. Ou “La Brujita”, por ser filho de “La Bruja”, o também ídolo Juan Ramón Verón, tricampeão continental de 1968 a 1970. Aos 34 anos comandou o meio-campo na virada histórica com gol de Mauro Boselli. A última grande conquista de uma carreira com indas e vindas, assim como a de Jordan – sem comparações, é claro.

2009 foi o ano “The Last Dance” no futebol brasileiro.  Se não efetivamente da despedida dos campos de Ronaldo, Adriano, Petkovic ou Verón, marcaram os últimos momentos memoráveis de suas carreiras. De contribuições decisivas em conquistas relevantes. Para cada um, a “última dança” inesquecível.

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Futebol no Brasil continua mal jogado. Flamengo só é a melhor exceção http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/04/futebol-no-brasil-continua-mal-jogado-flamengo-so-e-a-melhor-excecao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/04/futebol-no-brasil-continua-mal-jogado-flamengo-so-e-a-melhor-excecao/#respond Thu, 04 Jun 2020 12:20:29 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8595

Foto: Gazeta Press

O companheiro Mauro Cezar Pereira foi parar no topo dos assuntos mais comentados no Twitter ontem à tarde por conta de sua análise sobre o futebol jogado no Brasil. No podcast “Posse de Bola”, aqui no UOL Esporte, ele afirmou que até 2019, com algumas exceções, os times escolheram a tese do “jogar feio e vencer”. Os Jorges, Jesus e Sampaoli, teriam mudado esse cenário no ano passado com seus trabalhos no Flamengo e no Santos, respectivamente.

Como temos uma amizade de alguns anos, inclusive trabalhando juntos na ESPN Brasil, chamei o Mauro em particular para entender melhor o que ele queria dizer. Pouco antes ele havia publicado um vídeo no seu canal no Youtube explicando de forma mais clara o ponto de vista.

Entendi, mas continuo discordando respeitosamente do Mauro. A meu ver, o futebol no Brasil continua mal jogado. O Flamengo só é a melhor exceção.

Até porque há uma espécie de cultura subterrânea no país que valoriza o jogar mal. Não feio. Aliás, muitas vezes se cria um falso dilema em torno do tema. Para evitar confrontos com profissionais do futebol pelos mais variados interesses, de preservar a fonte jornalística até a tentativa de cavar uma vaga em comissões técnicas de clubes, se apela para a “não-crítica”.

“Há várias maneiras de jogar e vencer”, “não existe certo e errado’ e por aí vai. São as senhas para elogiar qualquer coisa que alcance resultados por um período ou um campeonato. Um esforço para encontrar virtudes onde muitas vezes só há ideias ruins, mal planejadas e executadas, porém salvas por individualidades ou um contexto favorável.

No Brasil se criou uma espécie de conformismo, baseada em nosso jeito de ver futebol. Se os melhores jogadores vão para a Europa, cada vez mais cedo, que aqui vença o mais “macho”. O jogo vira um culto à virilidade. O torcedor, em geral, prefere a vitória sofrida, arrancada à forceps. A imposição do melhor futebol é algo chato, que torna tudo mais previsível. A velha ditadura da emoção, que vale mais que um trabalho bem feito.

A prova veio no ano passado mesmo. Quem não lembra da esperança de muitos que o Palmeiras com Mano Menezes pudesse alcançar um Flamengo que deixou alguns pontos pelo caminho na sequência dura de dois jogos por semana na reta final da temporada, jogando Brasileiro e Libertadores? Mesmo jogando mal quase sempre, o Alviverde pontuava e esperava enfrentar em casa o líder ainda com condições matemáticas na antepenúltima rodada. O desfecho acabou sendo decepcionante.

Ou ainda o delírio coletivo em torno de Vanderlei Luxemburgo, então treinador do Vasco, depois do empate por 4 a 4 no clássico carioca antecipado da 34ª rodada para que o Flamengo pudesse ir a Lima decidir a Libertadores contra o River Plate. Uma boa atuação cruzmaltina, dentro da proposta possível de um time inferior técnica e taticamente, em um clássico que costuma equilibrar forças. Contra uma equipe com boa vantagem na ponta da tabela da competição por pontos corridos e já mais focada na final continental.

Foi o suficiente para uma exaltação da estratégia de Luxemburgo. Como um último suspiro do status quo. O time inferior, mas “raçudo” e lutando até o final – o mínimo que se espera em um grande clássico nacional – arrancando o empate no fim, porém sofrendo quatro gols – foi alçado à condição de “heroi”. E o treinador tratado como um fantástico estrategista, como se tivesse encontrado a fórmula para parar aquela equipe que desafiava o padrão nacional de jogar futebol. Algo totalmente esporádico.

Isso vai além da natural torcida contra times muitos populares. Ou da resistência brasileira de admitir que países menos tradicionais em conquistas de Copas do Mundo, como Portugal, possam acrescentar algo ao futebol cinco vezes campeão do mundo. “Ganharam o quê?”

Jorge Jesus e o Flamengo ganharam. Brasileiro e Libertadores no mesmo ano, feito inédito desde o Santos de Pelé. Mas este conquistando a Taça Brasil disputando quatro ou seis jogos, não 38.  Quebrando paradigmas, como a utilização de reservas no campeonato por pontos corridos quando o clube chegava às fases decisivas das competições por mata-mata. Jesus poupou titulares poucas vezes.

A melhor exceção dos últimos anos. Como o Mauro Cezar inseriu este comentário em uma abordagem sobre a reprise dos 7 a 1 no fim de semana pelo Sportv, o período mais exato da análise seria desde 2014. Então teríamos o Corinthians de 2015 comandado por Tite e o Grêmio de Renato Gaúcho que venceu a Libertadores de 2017 como os únicos exemplos de equipes que venceram buscando um futebol diferente. Sem “fechar a casinha”, apelar para ligações diretas, usar com frequência a cobrança de lateral na área adversária e entregar a bola para o mais talentoso compensar a falta de ideias.

O Fla de Jesus mandou Felipão e Mano Menezes para casa. Também Fabio Carille, representante da identidade do Corinthians nos últimos anos que inclui Tite e o próprio Mano. E Renato Gaúcho só não caiu depois dos 5 a 0 na semifinal da Libertadores pelo tamanho que tem no Grêmio.

É inegável que o time rubro-negro abalou as estruturas. O Santos de Sampaoli também, mais pelo desempenho que por resultados. Justo também incluir o Athletico de Tiago Nunes campeão da Copa do Brasil. Mas a média continua baixa. Há iniciativas que valem a observação, como Eduardo Coudet no Internacional e a sequência de Fernando Diniz no São Paulo, mas a pandemia atrapalhou. Pode prejudicar o próprio Flamengo na volta.

Se acontecer, será a alegria e o alívio de muitos. E aí é impossível discordar do Mauro: de fato, a visão medíocre de futebol ainda impera. Vejamos até quando.

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Por que Edmundo não deu certo no Flamengo em 1995? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/19/por-que-edmundo-nao-deu-certo-no-flamengo-em-1995/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/19/por-que-edmundo-nao-deu-certo-no-flamengo-em-1995/#respond Tue, 19 May 2020 14:25:09 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8517

Foto: Acervo / Flamengo

Há 25 anos, Edmundo chegava ao Flamengo como a principal contratação do início da gestão Kléber Leite, depois da vinda de Romário. Recebido com festa e desfile em carro do Corpo de Bombeiros. Como não podia mais ser inscrito no Carioca e na Copa do Brasil, o atacante só poderia jogar o Brasileiro e a Supercopa Libertadores.

Nenhum problema para o presidente, nem para o treinador Vanderlei Luxemburgo. Embora a ambição no centenário do clube fosse conquistar todos os títulos, a conquista do Brasileiro era o principal objetivo, até para voltar a disputar a Libertadores. Por isso a contratação do técnico e do grande destaque individual do Palmeiras, bicampeão em 1993/94.

Só que a perda do estadual para o Fluminense, no lendário gol de barriga de Renato Gaúcho, fez explodir a crise de relacionamento entre Luxemburgo e Romário. E Kléber Leite deixou a corda estourar do lado do treinador, que não suportou a pressão de resultados ruins e a clara cisão no grupo. O melhor jogador do planeta em 1994, com a moral de campeão do mundo pela seleção, foi colocado naquele momento acima do clube e venceu a queda de braço.

Luxemburgo pediu demissão e o time foi ladeira abaixo. Não só porque Edinho não era o treinador para o momento que vivia o clube e o radialista Washington Rodrigues foi uma solução populista para acalmar a torcida, mas porque a autoridade de Romário transformou a gestão do futebol em uma bagunça generalizada.

Além disso, a sanha por contratações de Kléber Leite gerou uma reformulação no elenco que praticamente descartou a base que fizera a melhor campanha geral no Carioca – o Fluminense venceu o octagonal decisivo, mas o time rubro-negro conquistou a Taça Guanabara  – e foi semifinalista da Copa do Brasil, caindo para o forte Grêmio de Felipão que seria campeão da Libertadores.

O zagueiro Jorge Luiz, por exemplo, que havia feito um bom Carioca com gols e atuações destacadas foi um dos responsabilizados pelo fracasso no estadual  e partiu para o Atlético Mineiro. Para retornar no ano seguinte e ser um dos pilares do time campeão invicto do Rio de Janeiro.

Tudo ruiu sem Luxemburgo. Inclusive o encaixe de Edmundo no time. O treinador planejou e testou a equipe com três atacantes, colocando Mazinho, ex-Bragantino, como uma espécie de “dublê” da nova estrela. No jogo final contra o Fluminense errou ao trazer William de volta ao meio-campo. No segundo tempo, com Mazinho em campo, o Fla reagiu.

No plano de Luxa, Sávio seria adaptado como uma espécie de “enganche” em um 4-3-1-2 que teria Djair como a peça que faltou ao Fla no primeiro semestre e foi uma das chaves da reação do Fluminense de Joel Santana e Renato Gaúcho: o meio-campista organizador que faz o time jogar. O técnico rubro-negro tentou encaixar Válber e até Branco na função, porém sem sucesso.

Edmundo jogaria solto, se movimentando em torno de Romário, que ficaria mais fixo como centroavante. Não deu tempo e Luxemburgo e Edmundo sequer fizeram um jogo oficial juntos pelo Flamengo. “Interrompeu um projeto que poderia ter sido bem sucedido, todos saíram perdendo”, lembrou Luxemburgo em entrevista anos depois.

Já Edmundo, que se transformaria em desafeto do treinador, culpa a desorganização do clube: “o marketing ficou maior que o futebol e nossas viagens eram uma farra, não era sério”, afirmou em entrevista a Teo José para o Fox Sports, canal que tem o ex-jogador como comentarista.

Edinho montou um time engessado com Edmundo e Sávio nas pontas e Romário no centro e Washington Rodrigues “ganhou” uma suspensão de dois jogos do “Animal” pela famosa confusão com Zandoná em um jogo contra o Vélez Sarsfield, e ainda uma lesão: fratura do osso do pé esquerdo do camisa sete em disputa com o zagueiro Gamarra em Porto Alegre contra o Internacional, ficando de fora do resto da temporada.

Assim o “Apolinho”, amparado pelo auxiliar e treinador Arthur Bernardes, pôde montar um time mais equilibrado e competitivo, com meio-campo preenchido, e ao menos chegar à decisão da Supercopa contra o Independiente. O título esperado, porém, não veio e a campanha no Brasileiro foi pífia.

A saída de Luxemburgo foi decisiva para o fracasso do Flamengo no ano do centenário.  O projeto de “melhor ataque do mundo” virou piada e Edmundo, que ainda se envolveu em um acidente grave que matou três pessoas e feriu outras três, partiria para o Corinthians. Mesmo com Joel Santana, então o treinador em 1996, pedindo sua permanência. Simplesmente não havia mais clima. O “casamento” tinha terminado.

Edmundo faria sua história no Vasco como grande algoz do Flamengo. Foi o que ficou para a eternidade e ganhou força ao longo dos anos com o agora comentarista sempre demonstrando seu amor pela Cruz de Malta. Mas não foi o coração cruzmaltino que atrapalhou o atacante no rival. Ele apenas foi o craque certo na hora errada. Por culpa da bagunça rubro-negra em ano histórico. Um desperdício.

 

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A história que une Roberto Dinamite a Evair: criador e criatura http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/13/a-historia-que-une-roberto-dinamite-a-evair-criador-e-criatura/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/13/a-historia-que-une-roberto-dinamite-a-evair-criador-e-criatura/#respond Wed, 13 May 2020 14:03:26 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8479

Foto: NetVasco

“Foi difícil pensar só no jogo me vendo no Maracanã enfrentando o Vasco com ele em campo”. Palavras do jovem Evair à Rádio Globo do Rio de Janeiro, depois do Guarani fazer 3 a 0 sobre o time cruzmaltino no Maracanã, pelo jogo de ida das oitavas de final do Brasileiro de 1986.

O campeonato que revelaria o jovem artilheiro, então com 20 anos, que marcaria 24 gols e ficaria a um de Careca na artilharia. Vice também na competição com o time de Campinas, sendo derrotado nos pênaltis pelo São Paulo em eletrizante decisão no Brinco de Ouro.

Evair se referia a Roberto Dinamite, o grande ídolo da história do Vasco e maior artilheiro dos campeonatos brasileiros –  192 gols, entre outros feitos na carreira brilhante. Referência para tantos centroavantes que surgiram no Brasil naquele período. O camisa nove mineiro, nascido em Ouro Fino e que tinha o Santos como time na infância, marcaria dois gols naquele confronto que foi selado com outra vitória do Guarani, por 2 a 0 em Campinas.

Ambos tinham a mesma altura: 1,86 m. E Evair, de fato, em 1987 lembrava o Dinamite no início da carreira: porte físico, presença de área, precisão nas finalizações e alguma desenvoltura ao sair da referência no ataque para tabelar com seus companheiros.

Roberto já servia colegas de ataque no Vasco como Ramon, Amauri, Arthurzinho e Cláudio Adão. Mas foi com o jovem Romário, promovido aos 19 anos por Antonio Lopes em 1985, que Dinamite, aos 31 anos, construiu uma parceria que mudaria de vez as suas características em campo.

Em um 4-3-3, o então centroavante recuava para trabalhar como uma espécie de “enganche”, acionando o atacante que partia da esquerda infiltrando em diagonal para finalizar. Mas sem deixar de aparecer na área para concluir. Tanto que foi o artilheiro do Carioca de 1985, com um gol a mais que Romário, mesmo com o Vasco sequer chegando ao triangular decisivo daquela edição.

No ano seguinte, o inverso com Romário marcando 20 e Roberto, 19. O mesmo em 1987, com o Baixinho indo às redes 16 vezes e o Dinamite, 15. Parceria que se encerraria em 1988, com uma lesão de Roberto e depois Romário partindo para a Holanda jogar no PSV Eindhoven.

Até encerrar a carreira em 1993, Roberto atuou como esse centroavante que ficava mais adiantado quando o time não tinha a bola e recuava para articular, abrindo espaços para os companheiros no momento em que sua equipe atacava. Na prática, a movimentação de  um “falso nove”. Mais um no futebol brasileiro, assim como Neto no Corinthians campeão brasileiro de 1990.

“Nunca tinha pensado nisso, mas, de fato, ele cumpria essa função”, reconheceu Lopes em entrevista a este que escreve em 2012. Para aproveitar uma joia da base que viria a ser o melhor do mundo em 1994, o treinador descobriu um novo posicionamento para o centroavante vascaíno na reta final de sua carreira.

O Vasco de Antonio Lopes em 1986 que fez Roberto Dinamite recuar para que Romário infiltrasse em diagonal a partir da esquerda, formando uma das grandes duplas da história do futebol carioca (Tactical Pad).

Evair seguiu a vida no Guarani, sendo artilheiro do Paulista de 1988 e partindo para sua primeira experiência no futebol internacional, jogando pela Atalanta. Voltaria ao futebol brasileiro em 1991, para atuar no Palmeiras. Início difícil em um clube que sofria com 16 anos sem títulos. Chegou a ser afastado por “deficiência técnica” por Nelsinho Baptista.

Tudo mudou com a chegada de Vanderlei Luxemburgo em 1993. Treinador que havia sido estagiário de Antonio Lopes no início dos anos 1980, no próprio Vasco e também no América e no Olaria. Mas em 1986/87, trabalhando como técnico do sub-20 do Fluminense, testemunhou no Rio de Janeiro a grande fase da dupla Roberto-Romário, comandado pelo “mentor” Lopes.

Ao encontrar Evair no Palmeiras, junto com Edmundo e Edilson, se recordou da dinâmica do ataque cruzmaltino, que tinha Mauricinho pela direita completando o trio na frente. Em depoimento ao programa “Supertécnico” em 1999, Luxemburgo admitiu que se inspirou naquele Vasco para armar a dinâmica ofensiva de sua nova equipe.

Evair, mais experiente e com nítida evolução na leitura de espaços depois de passar pelo futebol italiano, recuava para trabalhar com os meio-campistas e permitia as entradas em diagonal de Edmundo e Edilson, depois Rivaldo no time que seria campeão paulista e brasileiro também em 1994. Mas sem deixar de se apresentar para as conclusões. Evair seria artilheiro do estadual daquele ano, com 23 gols. Virou ídolo eterno no Alviverde.

O Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo em 1993 tinha Evair fazendo o papel de “falso nove” para Edmundo e Edilson entrarem na área adversária (Tactical Pad).

Fechando uma espécie de “ciclo mágico”, Evair, aos 32 anos, encontraria Lopes no Vasco em 1997 para executar função semelhante, mais recuado para acionar o imparável Edmundo, craque e artilheiro recordista com 29 gols na campanha do terceiro título brasileiro do clube. Já aposentado, Roberto Dinamite viu o seu fã também virar ídolo no time da Cruz de Malta, ainda que em uma passagem efêmera de menos de seis meses.

De centroavante goleador a “falso nove” não menos letal na área adversária. Eis a pouco conhecida relação entre Roberto e Evair, na conexão entre Lopes e Luxemburgo. Criador e criatura.

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No primeiro título nacional do Corinthians, Neto foi craque e “falso nove” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/12/no-primeiro-titulo-nacional-do-corinthians-neto-foi-craque-e-falso-nove/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/12/no-primeiro-titulo-nacional-do-corinthians-neto-foi-craque-e-falso-nove/#respond Tue, 12 May 2020 12:50:22 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8469

Foto: Acervo / Corinthians

Em 1990, o Corinthians já tinha 20 dos seus 30 títulos que o tornam o líder absoluto de troféus no Paulistão. Mas ainda faltava uma conquista nacional que não foi alcançado em 1976, perdendo a decisão para o Internacional bicampeão. Nem pelo time de Sócrates, Zenon e Casagrande no início dos anos 1980 – apenas duas semifinais, em 1982 caindo para o Grêmio e 1984, eliminado pelo Fluminense.

Coube a uma equipe desacreditada, que começou a campanha com derrotas para Grêmio (3 a 0) e Cruzeiro (1 a 0), foi irregular no desempenho durante praticamente toda a trajetória, mas que ganhou confiança e consistência na reta final até as duas vitórias por 1 a 0 no Morumbi sobre o rival São Paulo de Telê Santana na decisão.

O Corinthians de Nelsinho Baptista, treinador que vinha de um vice-campeonato paulista com o Novorizontino e assumiu o time depois da demissão de Zé Maria, o técnico das duas primeiras derrotas.

Uma equipe que sequer chegara à decisão dos dois últimos estaduais e, na edição de 1989 do Brasileiro decepcionou após um bom primeiro turno, perdendo a vaga na final para o São Paulo. Na recém fundada Copa do Brasil, eliminação nas quartas-de-final de 1989 para o Flamengo. Como na época só entravam o campeão e o vice do estadual, acabou ficando de fora da edição de 1990.

Campanha de 12 vitórias, oito empates e cinco derrotas. Apenas 23 gols marcados, média inferior a um por partida. Vinte sofridos. Fechou a primeira fase classificatória com um revés até vexatório para o Internacional por 3 a 0 no Pacaembu. Garantindo a oitava e última vaga por conta da derrota do Goiás para a Portuguesa por 2 a 0.

Nas quartas contra o Atlético Mineiro e na semifinal diante do Bahia, vitórias por 2 a 1 no Pacaembu e empates sem gols fora, sempre decidindo como visitante. Vivendo da força da torcida, das defesas do goleiro Ronaldo e do sacrifício coletivo da equipe. Mas fundamentalmente de José Ferreira Neto.

O camisa dez que chegou em 1989, vindo do Palmeiras em uma saída traumática para o jogador. Depois de se destacar em 1988 pelo Guarani vice-campeão paulista, com direito a golaço de bicicleta na ida da final contra o próprio Corinthians. Sempre enfrentando problemas físicos e a luta para não ganhar peso.

Mas muito talento em chutes, lançamentos e, especialmente, na bola parada. O problema, na época, era posicioná-lo em campo. Neto não tinha gás para fazer a ida e volta de meia no típico 4-2-2-2 daquele período. Também não tinha velocidade para ser um segundo atacante. E não gostava de jogar de costas para a defesa adversária como centroavante. Queria liberdade para circular.

A solução de Nelsinho durante a maior parte da campanha foi um 4-3-3 que sacrificava o centroavante – Paulo Sérgio, Dinei ou Tupãzinho – voltando na marcação e deixando Neto mais adiantado quando o time perdia a bola. Na retomada, o camisa nove retomava seu posicionamento e o dez ficava solto em campo para criar e finalizar. Em poucas partidas, um 4-4-2 com Tupãzinho no meio e Dinei no ataque.

Foram nove gols, cinco em cobranças de falta, e duas assistências. Participação em quase metade dos gols do Corinthians na campanha. Mas nos últimos jogos o fôlego e a força nas pernas para a bola parada pareciam no fim. A ponto de ser substituído na Fonte Nova contra o Bahia. O esforço tinha sido enorme nas duas vitórias em casa, com três gols e muita entrega.

Na final contra o São Paulo, a entrada de Wilson Mano no meio-campo ao lado de Márcio Bittencourt para proteger a defesa. Tupãzinho com a camisa nove e Fabinho e Mauro pelas pontas, mas também voltando para marcar a equipe de Telê Santana, que se destacava justamente pelo volume de jogo. Era o rascunho do time que venceria tudo nos anos seguintes.

E Neto? Totalmente liberado. Sem bola chegava a caminhar em campo, protegido por seus companheiros. Bola roubada, o mais talentoso procurava os flancos, zonas menos congestionadas, para arriscar lançamentos ou até chutes de longa distância.

Articulava e era ultrapassado pelo trio ofensivo, que preenchia a área adversária. Assim saiu a bela tabela entre Fabinho e Tupãzinho, que marcou o gol que selou a conquista. Depois da vitória também por 1 a 0 na ida, gol de Wilson Mano completando o cruzamento de Neto em cobrança de falta pela esquerda.

O termo “falso nove” obviamente não foi citado por Nelsinho, nem Neto em 1990. Só foi popularizado em 2011, com Messi no Barcelona. Mas a função era a mesma: ser o jogador mais adiantado da equipe sem a bola e ficar livre para se movimentar por todo campo e chegar à área adversária para concluir quando o time atacava.

Assim Neto viveu o grande momento de sua carreira errática e que o hoje apresentador e comentarista reconhece que poderia ter sido bem mais brilhante e vitoriosa. Ele mesmo e muitos torcedores e jornalistas cobram até hoje de Sebastião Lazaroni a presença do meia na Copa do Mundo daquele ano, mas o melhor futebol só apareceu no segundo semestre, depois do Mundial. No Brasileiro.

Destaque absoluto daquela edição e escreveu seu nome em uma das páginas mais importantes da história do Corinthians. O primeiro dos sete títulos de um gigante do futebol nacional. Não é pouco e merece ser lembrado e respeitado.

O Corinthians das vitórias sobre o São Paulo por 1 a 0 na decisão: um 4-3-3 que dava liberdade total a Neto, que ficava mais adiantado na fase defensiva e se movimentava procurando os flancos e sendo ultrapassado por Fabinho, Tupãzinho e Mauro quando o time atacava (Tactical Pad).

 

 

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“Quem vai marcar?” A pergunta fedendo a mofo que o Flamengo enterrou de vez http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/08/quem-vai-marcar-a-pergunta-fedendo-a-mofo-que-o-flamengo-enterrou-de-vez/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/08/quem-vai-marcar-a-pergunta-fedendo-a-mofo-que-o-flamengo-enterrou-de-vez/#respond Fri, 08 May 2020 16:02:06 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8457

Foto: Diego Vara / Reuters

“Eu não gosto de time de índio, não. Só atacar é meio complicado. É bom em determinadas situações, mas você não pode entrar no campo em desequilíbrio”.

Palavras de Abel Braga, ainda como treinador do Flamengo, no dia 26 de janeiro do ano passado. A declaração veio logo depois da defesa da titularidade de Willian Arão ao lado de Cuéllar na dupla de volantes e a dificuldade alegada de reunir Everton Ribeiro, De Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa no setor ofensivo.

“Quem vai marcar?” Frase resgatada na Live que este que escreve participou no canal do companheiro Mauro Cezar Pereira no Youtube. Lembrando as seleções de 1970 e 1982, mas também sobre o futebol atual.

Esse questionamento vem desde os primórdios do futebol brasileiro. Porque nossa escola sempre foi de criar compensações defensivas para dar liberdade aos mais talentosos. Desde a “diagonal” de Flávio Costa no Brasil vice-campeão em 1950, com Bauer dando proteção à defesa e liberando Zizinho e Jair Rosa Pinto na criação das jogadas.

Passando por Zagallo como “falso ponta” em 1958/1962 para que Garrincha e Pelé desequilibrassem. Até o 3-4-1-2 de Luiz Felipe Scolari que soltava Rivaldo e os Ronaldos no último título mundial na Ásia, em 2002. Um marca, outro joga. Um “carrega o piano” para outro “solar”. Um suja o calção para o outro desfilar. Ou seja, quem tem talento é privilegiado e o menos dotado tecnicamente faz o “serviço sujo”. Nada mais brasileiro em sua essência.

Mas em campo fazia algum sentido pela maneira de se defender. Todos voltavam até o próprio campo, com os zagueiros muito recuados. Para que a meta não ficasse tão ameaçada, era necessário ter jogadores especialistas nos desarmes e interceptações. Ou rápidos na cobertura de laterais que nos anos 1990/2000 se transformavam em alas, cada vez mais liberados para atacar.

O Cruzeiro de Vanderlei Luxemburgo em 2003 é um símbolo do futebol da época. Os laterais Maurinho e Leandro apoiando o tempo todo, às vezes ao mesmo tempo. Alex, o meia articulador clássico, o “dez”, jogando livre para municiar a dupla de ataque ou ele mesmo partir para a finalização. Amparados pelo trio de volantes Maldonado-Augusto Recife-Wendel, que protegia a zaga. Cinco atacam, cinco defendem.

Mas a grande evolução do esporte nos últimos doze anos é justamente a transformação do jogo em um fluxo contínuo de ataque-defesa. Ataca pronto para fazer a transição defensiva pressionando o adversário que acabou de recuperar a bola para tomá-la e voltar a atacar. Pressão e contrapressão. Virando a chave toda hora e mudando o comportamento rapidamente.

Assim é possível ser mais intenso nas ações porque a corrida de trinta metros para recompor, voltando da ocupação do campo de ataque até o posicionamento defensivo próximo da própria área, é mais rara e o desgaste menor. O jogador corre os mesmos 14 quilômetros por jogo, porém dentro de uma ocupação mais inteligente do campo. O movimento coletivo que divide as atribuições defensivas.

Desta forma, os jogadores mais ofensivos não precisam ser exímios marcadores. Porque a pressão é para dificultar o passe e não o desarme que evita a conclusão ou o passe decisivo lá atrás. A volta do ponteiro acompanhando o lateral, algo tão criticado pelos mais puristas, não precisa ser constante, já que o atacante vai buscar o defensor lá no campo deste.

Por isso Jorge Jesus não teve problema nenhum em reunir Everton Ribeiro, De Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabriel Barbosa na frente. Mais Gerson, o meia pelo centro do 4-1-3-2 que é a base para outras tantas variações táticas.

Willian Arão, aquele que Abel via como o volante a mais para proteger a retaguarda, agora é o meio-campista que fica mais próximo da última linha de defesa, mas também com autorização para descer e apoiar os atacantes. Porque se houver a perda da bola, ele não terá que voltar desesperado, já que a pressão dos companheiros mais ofensivos pode gerar a retomada da bola. No mínimo o retardo do contragolpe do oponente.

Um time ofensivo, porém competitivo. O primeiro campeão brasileiro e da Libertadores desde o Santos de Pelé, capaz de duelar em alto nível com o Liverpool de Jurgen Klopp no Mundial de Clubes. Conquistando mais três taças em 2020 até a bola parar.

No nosso resultadismo de todo dia, só mesmo tal retrospecto para calar qualquer crítica anacrônica, cheirando a mofo. Mostrando que o “time de índio” é apenas uma equipe que se defende atacando, em um processo de 90 minutos. Quebrando de vez o paradigma e tornando esse debate até ridículo. Enterrou de vez.

Eis a grande contribuição do Flamengo de Jorge Jesus ao futebol brasileiro e que já gerava tentativas de respostas, como o Internacional de Eduardo Coudet e o que se esperava de Jorge Sampaoli no Atlético Mineiro, depois do que fez em 2019 no Santos, mesmo sem títulos.

Que a volta do futebol pós-pandemia traga a evolução definitiva do nosso jogo. Sem olhar para trás.

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