reinaldorueda – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Peru surpreende Chile com aula de contra-ataques que podem ameaçar Brasil http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/03/peru-surpreende-chile-com-aula-de-contra-ataques-que-podem-ameacar-brasil/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/07/03/peru-surpreende-chile-com-aula-de-contra-ataques-que-podem-ameacar-brasil/#respond Thu, 04 Jul 2019 02:39:56 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6810 O Chile mostrou dificuldades desde a primeira fase com a transição defensiva por conta do meio-campo sem a intensidade do auge da melhor geração da história do país, o que expunha a última linha lenta e envelhecida. A seleção comandada por Reinaldo Rueda era forte com volume de jogo, trabalhando a bola e recuperando rápido no campo de ataque.

A resposta peruana na Arena do Grêmio foi a organização sem bola da variação do 4-1-4-1 com Tapia entre as linhas de quatro e o 4-2-3-1 com Cueva mais solto atrás de Guerrero. Sempre com os pontas Carrilo e Flores voltando como laterais e permitindo que Advincula e Trauco marcassem mais por dentro, muitas vezes formando uma linha de cinco atrás. Também alternando marcação adiantada e compacta no próprio campo.

Mas principalmente a coordenação precisa nas transições ofensivas, com passes certos e verticais e o trabalho preciso de Guerrero como pivô. Explorando os espaços às costas dos laterais Isla e Beausejour e também do volante Pulgar. Assim Cueva perdeu chance incrível no primeiro tempo e Yotun desperdiçou oportunidade ainda mais inacreditável na segunda etapa.

Mas dentre as oito finalizações da equipe de Ricardo Gareca, três foram na direção da meta de Arias: Os gols de Flores e Yotun no primeiro tempo e o golpe fatal de Guerrero nos acréscimos. Todos em ações de ataque perfeitas, na construção até a finalização. Uma aula. O segundo aproveitando erro na saída do goleiro chileno.

Fruto da confiança depois da classificação contra o Uruguai nas quartas, mas também o jogo “de memória” dentro de um trabalho de quatro anos. Mesmo com o sufoco na segunda etapa de 60% de posse, 13 finalizações chilenas (17 no total) e abafa com o alto zagueiro Maripan na área adversária.

Uma vitória com autoridade e Gallese ainda pegando a cavadinha de Vargas no lance final para não ficar nenhuma dúvida. E reforçar o que este blog registrou logo após os 5 a o impostos pelo Brasil no encerramento da fase de grupos: o gol no início e depois a falha de Gallese na frente de Firmino condicionaram o jogo e encaminharam a goleada. Atípico. O placar ficou maior que a distância entre as seleções que se reencontram no Maracanã.

O Brasil é o favorito natural. Seria mesmo contra o bicampeão Chile. Mas vai depender novamente de um gol no início para não sofrer tanto contra os perigosos contragolpes do Peru. Uma ameaça em potencial para que a “zebra” não passeie pelo Rio de Janeiro e leve a Copa América para casa.

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Desafio de Jorge Jesus é unir os pontos do que o Flamengo já fez de bom http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/27/desafio-de-jorge-jesus-e-unir-os-pontos-do-que-o-flamengo-ja-fez-de-bom/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/27/desafio-de-jorge-jesus-e-unir-os-pontos-do-que-o-flamengo-ja-fez-de-bom/#respond Thu, 27 Jun 2019 09:41:29 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6763

Foto: Alexandre Vidal/Site do Flamengo

Quando Jorge Jesus foi especulado e depois anunciado como novo treinador do Flamengo, sucedendo Abel Braga, este blog foi cauteloso na análise da contratação por dois motivos básicos: os trabalhos anteriores do profissional experiente servem como referência para avaliar o que o novo comandante pode fazer, mas o contexto do futebol brasileiro é muito particular. Ele provavelmente já sabe que terá que simplificar alguns processos e queimar etapas.

Ao mesmo tempo, pelo padrão de suas equipes, especialmente Benfica e Sporting, a possibilidade de contratação de jogadores com características específicas, particularmente um centroavante de maior força física para atuar na referência do ataque, é bem grande. Apesar de não ser um técnico adepto do jogo direto, com muitos lançamentos, é uma função importante em seu modelo de jogo.

Sem Cuéllar e De Arrascaeta, ainda envolvidos com a Copa América, é difícil vislumbrar um time base, mesmo considerando que este elenco deve rodar bastante para dar conta de Brasileiro e mais Libertadores e Copa do Brasil em afunilamento. Este que escreve também pensa que um meio-campista de área a área deveria ser tratado como prioridade por técnico e diretoria. Só Arão e Ronaldo podem não ser o suficiente para os duros confrontos que estão por vir.

Então no momento o que cabe é uma reflexão sobre o que esse “novo” Flamengo deve ter como meta na volta da temporada 2019 no Brasil. Desde o segundo semestre de 2015, com a chegada da dupla Paolo Guerrero/Emerson Sheik, o patamar de contratações mudou e, consequentemente, de expectativas também. Só que o tempo passou e nenhuma conquista relevante afirmou no futebol essa reabilitação do clube em termos de gestão.

Porque sempre faltou algo ao time. Quando havia peso e experiência no comando técnico, com mentalidade vencedora ao menos no discurso, faltou o conteúdo no campo – Muricy Ramalho, Paulo César Carpegiani, Abel Braga e pontualmente de Reinaldo Rueda. Com Zé Ricardo e Mauricio Barbieri, conceitos mais atuais, porém inexperiência natural de jovens treinadores na condução de um vestiário complexo e muita pressão externa, contrastando com um certo paternalismo na direção do futebol.

A solidez defensiva que faltou tantas vezes veio de onde menos se esperava: o interino Marcelo Salles optou por uma formação com Arão mais próximo de Cuéllar (ou Piris da Motta) e entregou a equipe sem sofrer gols. Fundamental na vitória sobre o Corinthians por 1 a 0 que garantiu a classificação para as quartas de final da Copa do Brasil. Mais sete pontos no Brasileiro.

O trabalho mais completo, sem dúvida alguma, foi o de Dorival Júnior no final do ano passado. Mas dentro de um cenário muito particular: fim da gestão Bandeira de Mello, possibilidade de permanência apenas em caso de título brasileiro e só 12 jogos para duelar com o forte Palmeiras de Felipão. O Flamengo foi organizado, competitivo e teve posse de bola agressiva, sem “arame liso”. Venceu sete, empatou três e perdeu duas. 66% de aproveitamento.

A gestão de vestiário foi forte, peitando e colocando na reserva lideranças como os Diegos, Ribas e Alves. Mas a oscilação no aspecto mental pesou na derrota para o Botafogo, a despedida foi péssima com a fraca atuação diante do Athletico no Maracanã e ainda teve o chute na lua de Lucas Paquetá no confronto direto com os alviverdes. A dúvida que fica é se dentro de um contrato com prazo mais longo Dorival arriscaria tanto.

É evidente que não se exige de Jorge Jesus uma equipe perfeita. Ou melhor, os críticos da demissão de Abel e aqueles que torcem o nariz para estrangeiros treinando as principais equipes do país vão, sim, cobrar tudo do português. Mas o fato é que sempre houve um “gargalo” que impediu o time rubro-negro de alcançar o tão almejado título – cariocas à parte. Na técnica, na tática, no ânimo ou mesmo na gestão do futebol, permitindo, por exemplo, que o Fla chegasse a uma final de Copa do Brasil sem um goleiro confiável.

Cabe ao novo treinador juntar os pontos do que o Flamengo fez de bom nos últimos anos. É um desafio pela atmosfera muito particular do clube. A torcida quer tudo para ontem,  mas a base e o investimento são suficientes para tornar o time mais competitivo até o final de 2019. Vencedor ao menos em um dos campeonatos a disputar.

Com Rafinha, já integrado ao elenco e com a missão de cobrir uma carência de anos na lateral direita, além contribuir com sua experiência internacional. Provavelmente mais um zagueiro para jogar pela esquerda e um centroavante. Também Reinier, o jovem talento da base que pode ganhar oportunidades no meio-campo.

Conteúdo, qualidade, liderança, cobrança de profissionalismo, discurso forte e ambicioso. O Flamengo nunca pareceu tão pronto. Vejamos se passa da teoria à prática desta vez.

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O pecado mortal de Rueda: não se poupa contra o Uruguai de Cavani e Suárez http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/24/o-pecado-mortal-de-rueda-nao-se-poupa-contra-o-uruguai-de-cavani-e-suarez/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/24/o-pecado-mortal-de-rueda-nao-se-poupa-contra-o-uruguai-de-cavani-e-suarez/#respond Tue, 25 Jun 2019 01:02:40 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6753 Por mais que o desgaste físico fale alto a esta altura do ano para quem atua na Europa, foi difícil entender a estratégia de Reinaldo Rueda poupando quatro chilenos para o grande jogo do grupo. Mesmo com a chance razoável de terminar em segundo lugar, encarar a forte Colômbia na sexta e ter um dia a menos de descanso.

Já o Uruguai tropeçava no problema grande que a ausência por lesão de Laxalt criou. Sem o lateral esquerdo forte no apoio, a Celeste perdeu profundidade, já que nem Giovanni González, nem o lateral-base Cáceres que inverteu o lado chegam ao fundo. Nem Nández, que começou no banco para De Arrascaeta começar jogando no Maracanã. O meia do Flamengo e Lodeiro afunilavam as ações de ataque numa espécie de 4-2-2-2 “à brasileira” e restava à equipe de Óscar Tabárez insistir novamente no jogo direto para Suárez e Cavani.

A Roja se defendia com cinco na última linha e, sem o auxílio de Arturo Vidal, Aránguiz tentava acionar Vargas e Aléxis Sánchez na frente. Ainda assim se aproveitou das dificuldades do rival na circulação da bola para dominar a posse e controlar o primeiro tempo. Foram seis finalizações, duas no alvo. Contra três uruguaias, nenhuma na direção da meta do goleiro Arias.

Com o passar do tempo na segunda etapa, o Uruguai foi adiantando linhas e colocando intensidade na frente para se impor no volume de jogo. O Chile parecia satisfeito por conter a dupla de ataque adversária. Tabárez trocou Lodeiro por Nández, invertendo o lado de Arrascaeta, que saiu depois para a entrada de Jonathan Rodríguez, que passou a formar um trio na frente.

Simbólico no gol da vitória: Suárez achou Rodríguez, que da esquerda colocou na cabeça de Cavani. Movimento perfeito de um atacante fantástico. Enorme trunfo que o Uruguai sabe usar no momento certo, mesmo quando o desempenho fica devendo. Com 48% de posse e oito finalizações no final, duas a menos que o Chile.

Mas vai encarar o Peru nas quartas, enquanto o atual bicampeão mede forças com a única que fechou a fase de grupos com três vitórias. Os chilenos aprenderam da pior maneira que contra Cavani e Suárez não se pode entregar menos que 100%. Pecado mortal.

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Primeira rodada da Copa América abala ainda mais o favoritismo do Brasil http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/18/primeira-rodada-da-copa-america-abala-ainda-mais-o-favoritismo-do-brasil/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2019/06/18/primeira-rodada-da-copa-america-abala-ainda-mais-o-favoritismo-do-brasil/#respond Tue, 18 Jun 2019 10:22:41 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=6713 O Chile é o atual bicampeão da Copa América, mas na dinâmica do futebol atual a superioridade absoluta da seleção brasileira nas Eliminatórias é mais recente e, portanto impactante. Por isso e também por ser o anfitrião é o grande candidato ao título continental que não conquista desde 2007. Mesmo sem Neymar.

Este favoritismo, porém, foi abalado por acontecimentos ainda mais próximos do cenário que se apresenta agora. Como um Uruguai forte na Copa do Mundo, liderando o grupo com a Rússia, o país-sede, superando Portugal de Cristiano Ronaldo campeão europeu nas oitavas e só caindo nas mesmas quartas de final que o Brasil. Mas para a campeã França em um jogo relativamente equilibrado, no qual a Celeste sentiu demais a ausência do lesionado Edinson Cavani.

Centroavante do PSG que foi o protagonista dos 4 a 0 sobre o Equador na estreia da Copa América no Mineirão com um belo gol de voleio. De um Uruguai que mantém Óscar Tabárez no comando técnico, mesmo aos 72 anos e com dificuldades para se locomover, e preserva suas duas grandes virtudes: força no jogo aéreo com a dupla Giménez e Godín, trazendo o entrosamento do Atlético de Madrid, e o ataque poderoso com Cavani se juntando a Suárez.

Mas também acréscimos importantes, especialmente no meio-campo. Não mais a formação clássica da segunda linha, com dois volantes de contenção por dentro e dois pontas que correm de uma linha de fundo à outra. Como Álvaro González e Cristian “Cebolla” Rodriguez no time campeão da Copa América de 2011 na Argentina, protegidos por Arévalo Ríos e Diego Pérez ou Eguren à frente da defesa.

Agora Tabárez tem Bentancur e Vecino por dentro com mais qualidade no passe, Nández abrindo o campo pela direita e um Nicolás Lodeiro que se apresentou repaginado nos 4 a 0 da estreia sobre o Equador. Deixou De Arrascaeta no banco, abriu o placar em bela jogada individual logo aos cinco minutos e mostrou mais desenvoltura e contundência nas combinações com a dupla de ataque e também com Laxalt pela esquerda. Outro acréscimo recente, o lateral do Milan é o sucessor natural de Álvaro Pereira e chega ao fundo com intensidade e vigor físico.

Mantendo a tradição de ter um lateral mais fixo e outro liberado para o apoio. Durante muitos anos foi Maxi Pereira à direita. Agora Cáceres é quem atua por ali, fazendo a base e o balanço defensivo de um time mais equilibrado e que conta com mais qualidade técnica para criar espaços diante de sistemas defensivos fechados. Teve 59% de posse e finalizou 14 vezes, metade no alvo, aproveitando, obviamente, a superioridade numérica ainda no primeiro tempo depois da expulsão de Quintero.

O Uruguai se junta à Colômbia, que se apresentou mais sólida defensivamente nos 2 a 0 sobre a Argentina graças ao trabalho que já se faz notar do português Carlos Queiroz, como os grandes adversários da seleção de Tite. Mas o Chile de Reinaldo Rueda também não pode ser descartado.

Não pelos 4 a 0 no Morumbi sobre o convidado Japão em processo de renovação e dando rodagem aos atletas que vão buscar o título olímpico em Tóquio no ano que vem. Mas pelo futebol mais fluido e consistente, coordenado pelo trio de meio-campistas formado por Pulgar, bom volante qualificando a saída de bola e forte no jogo aéreo marcando o primeiro gol da partida, e mais Vidal e Aranguiz.

Na frente, Fuenzalida e Alexis Sánchez pelas pontas e o móvel Vargas na frente. Com dinâmica e faro de gol que não costuma apresentar nos clubes. Foi artilheiro das últimas edições da competição sul-americana e já larga com dois gols. Com um ano e meio de trabalho, Rueda já faz sua equipe melhorar a circulação de bola para acelerar no último terço.

Só precisa melhorar o sistema defensivo, na transição e no posicionamento. Concedeu 11 finalizações aos japoneses e só não foram vazados porque apenas três foram na direção da meta de Arias e os asiáticos desperdiçaram pelo menos duas chances cristalinas, uma em cada tempo. Talvez contra o Uruguai na fase de grupos e nos jogos eliminatórios, a Roja bicampeã e buscando recuperação depois de ficar de fora do último Mundial aumente a concentração no trabalho sem bola.

O torneio ainda não “pegou” no país por vários motivos, incluindo os valores absurdos cobrados por ingressos e uma certa banalização. Não só da competição em si, que teve edições em 2015, 2016 e terá outra no ano que vem, na Argentina e na Colômbia, para se ajustar aos anos pares como a Eurocopa, mas também do próprio Brasil como sede, depois da Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro há três anos.

Mas a primeira rodada serviu para mostrar que não há um favorito absoluto e a fase final pode apresentar duelos interessantes na disputa da hegemonia do continente. Incluindo a possibilidade, ainda que remota, da “ressurreição” da Argentina de Messi. Talvez já encarando o Brasil nas quartas. Em jogo único seria mais um obstáculo para a equipe de Tite na dura tarefa de se impor em seus domínios. Ficou mais difícil apostar.

(Estatísticas: Footstats)

 

 

 

 

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Gestão Bandeira de Mello confunde continuidade com continuísmo no Flamengo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/04/28/gestao-bandeira-de-mello-confunde-continuidade-com-continuismo-no-flamengo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/04/28/gestao-bandeira-de-mello-confunde-continuidade-com-continuismo-no-flamengo/#respond Sat, 28 Apr 2018 10:02:03 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=4505

A pífia atuação do Flamengo no empate sem gols contra o Independiente Santa Fé em Bogotá pela Libertadores, com a equipe exagerando na cautela e satisfeita com o resultado que pouco acrescentou na campanha da fase de grupos, subiu ainda mais o tom de indignação dos torcedores contra jogadores e dirigentes, especialmente o presidente Eduardo Bandeira de Mello e o meia Diego Ribas.

Junte a isto a polêmica na reunião do Conselho Deliberativo para aprovar as contas de 2017, suspensa depois da discussão sobre a premiação de mais de dez milhões de reais – 7,7 para jogadores, 2,5 para comissão técnica e 800 mil para o ex- diretor executivo Rodrigo Caetano – em um ano de título estadual, vices da Copa do Brasil e Sul-Americana e sexta colocação no Brasileiro e temos um barril de pólvora.

É óbvio que o ano de eleição torna o ambiente político quase insuportável na Gávea e se o pagamento estava previsto dentro de um plano de metas ele tem mesmo que ser cumprido e o clube valorizar a possibilidade de honrar seus compromissos, algo inviável há menos de dez anos.

Mas todo esta crise é consequência do grande equívoco da gestão Bandeira de Mello na condução do futebol do time de maior torcida do país: confundir continuidade com continuísmo.

Quando há ideias dentro e fora de campo com planejamento e que geram desempenho vale a insistência até que comecem a resultar em troféus. Como no próprio Flamengo há quatro décadas, perdendo títulos seguidos para Fluminense e Vasco de 1975 a 1977, mas ganhando maturidade para em seguida alcançar as maiores conquistas da história da agremiação.

Agora há um time que é criticado por sua apatia e pouca entrega, mas que na maioria dos reveses se ressentiu mesmo da falta de rendimento. Porque as características dos jogadores não combinam com a proposta de jogar no ataque e se impor. Zagueiros lentos, laterais que oferecem poucas soluções além dos cruzamentos a esmo, meio-campistas sem o passe decisivo e um ataque que precisa de muitas oportunidades para ir às redes.

Não há plano de jogo que funcione. Com Zé Ricardo, Rueda, Carpegiani ou o novato Maurício Barbieri.  Sem triangulações, ultrapassagens, fluência. Só bolas levantadas na área e lampejos dos mais talentosos. Simplesmente não funciona.

E não há mudanças profundas, porque na visão do presidente basta insistir para dar certo. O “vamos levando” que se transformou na grande marca de sua administração que é histórica pelo saneamento das finanças, algo que não é mérito apenas de Bandeira de Mello, mas vai chegando ao fim do segundo mandato com o rótulo do insucesso no carro-chefe do clube.

A manutenção de Barbieri é a prova de que o crédito de um elenco caro e que entrega pouco em campo parece infinito. Os jogadores querem, os dirigentes atendem. O ápice dessa estranha relação foi o pedido de Bandeira para que os atletas o ajudassem depois da eliminação do Carioca. Sem cobranças, apenas afagos e súplicas.

A direção do futebol age como o pai que começa a ganhar dinheiro e cobre os filhos de mimos, deixando de ensinar o valor do esforço. Só que a maioria dos que lá estão não viveram os tempos difíceis para ganhar tantas recompensas.

O que é mais preocupante em toda essa crise é um pensamento crescente de que o futebol só funciona em meio ao caos financeiro e com jogadores “bandidos”. Este que escreve prefere não ficar recorrendo ao passado para comparar com a situação atual, mas neste caso é preciso: Zico era “bandido”? Em 1981 o salário atrasava? Definitivamente todo este cenário complexo não pode ser resumido à “falta de raça”.

É claro que, na prática, tudo seria diferente, por exemplo, com a conquista da Copa do Brasil. No país do futebol de resultados não se avalia qualidade de trabalho. E obviamente este blogueiro não defende que profissionais não tenham as melhores condições para exercer seus ofícios apenas porque não venceram. Muito menos que sejam agredidos, como quase aconteceu no embarque da delegação para Fortaleza.

Mas o momento exige ruptura que vai além das demissões após a eliminação no Carioca. Direção do futebol com independência e treinador com autonomia para mudar peças e o modelo de jogo. Ou seja, sair da inércia. Com a gestão Bandeira de Mello parece uma missão quase impossível. Porque há apego ao fracasso.

 

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Você rejeitaria Tite depois da Copa do Mundo ou só vale para os “gringos”? http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/01/10/voce-rejeitaria-tite-depois-da-copa-do-mundo-ou-so-vale-para-os-gringos/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/01/10/voce-rejeitaria-tite-depois-da-copa-do-mundo-ou-so-vale-para-os-gringos/#respond Wed, 10 Jan 2018 02:22:44 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3973

Reinaldo Rueda conduziu mal a saída do Flamengo para comandar a seleção chilena. Agora não vem mais ao caso, mas, observando à distância, havia várias maneiras, em tese, de ser mais transparente com o clube brasileiro.

Só que o caso de mais um treinador sul-americano deixando o país para aceitar uma proposta de seleção, se juntando a Osório, que saiu do São Paulo para o México, e Bauza, do mesmo clube para a Argentina, está construindo uma imagem de que os técnicos estrangeiros não cumprem  contratos e usam o Brasil como “trampolim”.

O nome disso, sem meias palavras, é xenofobia. Um pouco de reserva de mercado por parte dos treinadores daqui, tema que volta sempre que surge uma oportunidade. No caso de Rueda, na chegada e na saída – será por ter “tomado” um emprego tão cobiçado como ser o treinador do time de maior torcida do país?

Muito também pela visão de que treinadores de outros países do continente nada tem a acrescentar por aqui, enfrentam a barreira do idioma e não apresentam grande vantagem nos aspectos táticos e estratégicos. Talvez pela falta de tempo para trabalhar num calendário inchado, com imediatismo, resultadismo e pressão desproporcional. Os que já estão aqui se acostumaram com o ciclo. Para o “forasteiro” requer mais tempo.

Simplesmente não faz sentido. Principalmente a acusação de não cumprirem contrato. Quem cumpre? Os clubes, que demitem por qualquer sequência de resultados ruins? Como esquecer da demissão de Jorge Fossati do Internacional classificado para a semifinal da Libertadores de 2010? Ou Ricardo Gareca do Palmeiras, Diego Aguirre do Atlético Mineiro e Paulo Bento do Cruzeiro? Nem é questão de discutir cada caso, mas os clubes não hesitaram na hora de descartar os profissionais.

Os treinadores brasileiros, que cansados de levar um pé no traseiro agora deixam os clubes por qualquer proposta mais vantajosa estão errados também? Como Guto Ferreira, da Chapecoense para o Bahia e deste para o Internacional? Ou Fernando Diniz, sem disputar um jogo sequer pelo Guarani e partindo para o Atlético Paranaense?

Sem contar os casos dos brasileiros que saíram para seleções. Como Joel Santana em 2008, deixando o Flamengo para comandar a África do Sul que seria anfitriã da Copa do Mundo dois anos depois. Se pensarmos em “seleções” mundiais como o Real Madrid, como esquecer Vanderlei Luxemburgo abandonando o Santos campeão brasileiro em 2004 para comandar o Real Madrid?

E Tite? Ele mesmo admite e pede perdão ao Corinthians por ter “deixado o clube na mão” no ano passado para comandar a seleção brasileira. Não deixa de ser o mesmo caso: treinador que encerra seu contrato com um clube para acertar com uma federação. No caso, a CBF, entidade que o próprio Tite via com reservas e assinou manifesto de repúdio às suas práticas. E como ficou o ano do então campeão brasileiro, que já havia sofrido um desmanche no início da temporada?

Questão de ponto de vista. Este que escreve até discordou na época da decisão do melhor treinador brasileiro, mas depois compreendeu que era a realização de um sonho. O contexto também mostrou que acabou sendo melhor para a seleção, já que o risco de ficar de fora do Mundial era real.

Mas se ele deixar a CBF ao final da Copa da Rússia você ficaria com um pé atrás ou mesmo rejeitaria no caso do seu time de coração fechar contrato com Tite por ele não ter cumprido o acordo com o Corinthians? Foi exatamente o mesmo caso de Bauza, que foi servir ao futebol do seu país. Ou a crítica só vale para os “gringos”?

Rueda foi mal no fim do ciclo do Flamengo, mas daí a generalizar e rotular o caráter de profissionais estrangeiros vai uma distância enorme. Do tamanho do preconceito de tantas vozes que estão gritando desde o anúncio da saída do colombiano. Tudo muito conveniente.

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Palmeiras e Flamengo, decepções em 2017 com caminhos opostos no novo ano http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/01/02/palmeiras-e-flamengo-decepcoes-em-2017-com-caminhos-opostos-no-novo-ano/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2018/01/02/palmeiras-e-flamengo-decepcoes-em-2017-com-caminhos-opostos-no-novo-ano/#respond Tue, 02 Jan 2018 05:10:37 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3920 Para o tamanho do investimento e a expectativa gerada, Palmeiras e Flamengo tiveram desempenho e resultados decepcionantes em 2017. Por mais que se compreenda que não basta ter dinheiro para construir um bom time de futebol, em nenhum momento as equipes apresentaram rendimento que as colocassem como favoritas na prática aos títulos que disputaram. Especialmente a Libertadores, tratada como prioridade. Apesar do vice brasileiro do alviverde e da Copa do Brasil pelos rubro-negros.

Portanto, o fim da temporada deveria servir para reflexões e ajustes na rota para o novo ano. Por força das circunstâncias, os clubes acabaram tomando caminhos opostos.

O Palmeiras agiu rápido. Manteve o interino Alberto Valentim até o fim da competição nacional, mas, antes disto, anunciou Roger Machado como treinador e começou o planejamento. Desta vez sem loucuras. Manutenção da base e reforços nas carências detectadas: laterais com Marcos Rocha e Diogo Barbosa e articulação com Lucas Lima.

O elenco ainda não se apresentou, mas é possível vislumbrar, dentro da visão do novo comandante, o Palmeiras num 4-2-3-1 com um meio-campista fazendo o lado direito da linha de meias. Como Giuliano no Grêmio e Elias no Atlético Mineiro. Para este que escreve Tchê Tchê seria interessante, por já ter atuado na lateral e a possibilidade de formar boa dupla com Marcos Rocha.

Do lado oposto, Dudu seria o ponteiro mais vertical, buscando as infiltrações em diagonal para se aproximar do centroavante que pode ser Borja, até porque todo treinador que chega fica tentado a buscar uma solução para a contratação milionária que não vingou antes dele. Deyverson e Willian seriam opções.

Na zaga quem estiver melhor faz dupla com Mina, ao menos até o meio do ano. Na frente da defesa, Moisés deve ser recuado para que Lucas Lima atue na função em que se sente mais confortável. Mais fixo na proteção, Felipe Melo e Bruno Henrique devem disputar a titularidade em uma proposta baseada em protagonismo pela posse de bola, setores próximos e movimentação ofensiva.

Tudo ainda numa análise baseada em hipóteses, mas que já deixa claro que o time paulista pode até não conseguir resultados melhores e as conquistas esperadas. Desta vez, porém, o trabalho foi feito de forma mais racional e o grupo de jogadores parece mais homogêneo. Inclusive com as chegadas de Weverton e Emerson Santos. A melhor notícia é ter praticamente tudo definido na reapresentação.

Eis o dilema do Flamengo, que fechou 2017 em 13 de dezembro, perdendo a final da Copa Sul-Americana. Desde então convive desconfortavelmente com a indefinição do treinador Reinaldo Rueda, que ainda não confirmou se fica no clube em meio a sondagens e propostas de clubes e seleções sul-americanas.

Rueda tem o direito de resolver seu futuro com calma, mesmo com contrato em vigor. O problema mais grave é a insegurança da direção do clube no momento de contratar ou dispensar. Pode perder o timing na ida ao mercado.

Ainda que a base seja mantida, por convicção ou necessidade. A informação oficial é de que, no momento, só há cinco milhões de reais disponíveis para contratações. Os nomes de Zeca e Pablo surgem no noticiário como bem encaminhados, mas tudo parece em suspenso.

É possível pensar numa estrutura com Diego Alves na meta, Réver e Juan na zaga, Cuéllar no meio-campo, as incógnitas Diego Ribas e Everton Ribeiro na articulação, Lucas Paquetá e Vinícius Júnior pedindo passagem nas pontas do 4-2-3-1 e outra grande questão: quando Paolo Guerrero poderá retornar ao time? Sem ele, suspenso por doping até maio, Filipe Vizeu e Lincoln parecem verdes para assumir a responsabilidade no ataque.

Ainda assim, segue como um time que pode ser forte com Rueda ou outro treinador que consiga combinar melhor as características dos jogadores e fazer o time deixar de ser dependente das jogadas pelos flancos e dos muitos cruzamentos. É preciso sair do dilema de se obrigar a propor o jogo como filosofia – pela tradição do clube, exigência da torcida e por conta do investimento realizado – e ter atletas com estilo mais reativo, que necessitam do espaço para criar. A impressão é de que o Fla precisa de ruptura, um giro de 180 graus, e Rueda tem um estilo mais administrador, que faz ajustes sem alterar o modelo de jogo.

Em meio aos altos e baixos naturais no calendário brasileiro, ainda mais com uma Copa do Mundo no meio, trabalhar certo em janeiro não garante felicidade em dezembro, mas ajuda bastante. O Palmeiras sai na frente com inteligência e agilidade. Perder tempo era tudo que o Flamengo não precisava para começar 2018.

 

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O que falta ao Flamengo para vencer além das fronteiras do Rio de Janeiro http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/12/14/o-que-falta-ao-flamengo-para-vencer-alem-das-fronteiras-do-rio-de-janeiro/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/12/14/o-que-falta-ao-flamengo-para-vencer-alem-das-fronteiras-do-rio-de-janeiro/#respond Thu, 14 Dec 2017 02:09:38 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3867 Mais uma vez em 2017 o Flamengo deixou uma vitória escapar por pequenos detalhes que fazem diferença, especialmente numa decisão.

Seja o problema crônico de não ter um jogo coletivo bem elaborado, com triangulações, ultrapassagens, trabalho de pivô…O time, com Zé Ricardo ou Rueda, vive fundamentalmente das jogadas aéreas. Com bola parada ou rolando. Foi assim com Réver em Avellaneda e de novo com Lucas Paquetá depois de uma cobrança de falta de Diego. Mais um gol do jovem atacante em decisão, assim como foi na ida contra o Cruzeiro na Copa do Brasil.

O “arame liso” também se fez presente no Maracanã. 56% de posse, 18 finalizações. Mas só três no alvo. Exatamente porque o time não cria a jogada surpreendente que facilita a vida de quem vai concluir. E quando Everton apareceu na frente de Campaña o chute não foi preciso. Numa final o time que precisa finalizar, em média, oito vezes para ir às redes vai sofrer mais. Cerca, mas para furar é difícil.

Com tantas dificuldades para ser contundente na frente, as falhas defensivas costumam custar caro. O pênalti de Cuéllar sobre Meza que Barco converteu para empatar e garantir o 17º título internacional do “Rei de Copas” foi um tanto duvidoso, mas não resta dúvida que o volante colombiano foi imprudente na disputa. Podia ter sido pior, se Juan não tivesse salvado falha grotesca de Réver que terminou na cavadinha de Gigliotti e o salto espetacular do zagueiro veterano.

O mais do mesmo seguiu com a falta de criatividade de Diego. O camisa dez não dá fluência às jogadas, sequer arrisca um passe rápido e vertical que fura a defesa, mesmo quando os companheiros dão opção. Só aparece na bola parada. E não tem a leitura para perceber que seria mais útil entrando na área para finalizar. Recua, prende a bola, atrasa a transição ofensiva e quase sempre toca de lado, para os laterais levantarem na área adversária. Um elo fraco rubro-negro ao longo da temporada. Impressiona como ainda tem o nome aventado para a lista final de Tite para a Copa do Mundo na Rússia.

O Fla do elenco milionário e experiente nos últimos minutos dependeu de Vinicius Júnior, Paquetá, Vizeu e Lincoln. Com Everton Ribeiro, principal contratação para a temporada, se arrastando e errando jogadas primárias. Uma prova de que a ida ao mercado não foi das mais felizes. O departamento de futebol segue devendo.

O Independiente foi melhor coletivamente nos 180 minutos e a mentalidade vencedora ajudou a construir os 3 a 2 agregado que garantiu o segundo troféu do torneio continental. Para o Flamengo restou novamente a frustração. Termina o ano apenas com a conquista do Carioca. Simbólico para mostrar que a reestruturação financeira e o maior poder de investimento não mudaram o patamar nos cenários nacional e internacional. O clube segue como o maior vencedor no estado, na competição menos relevante na temporada. E só.

Falta dar o salto de competitividade em alto nível. Ser forte e vencedor além das fronteiras do Rio de Janeiro deve ser a prioridade para 2018. A começar por priorizar a Libertadores e deixar um pouco de lado o campeonato tão valorizado em abril, maio…e esquecido no final da temporada. O ano foi de fracassos. Não tapar o sol com a peneira é um bom primeiro passo.

(Estatísticas: Footstats)

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Flamengo com alma de clássico carioca num duelo continental. Como deve ser http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/11/24/flamengo-com-alma-de-classico-carioca-num-duelo-continental-como-deve-ser/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/11/24/flamengo-com-alma-de-classico-carioca-num-duelo-continental-como-deve-ser/#respond Fri, 24 Nov 2017 03:43:49 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3736 Indignação com a derrota ou resultado negativo. O que faltou ao Flamengo na maioria da temporada, menos nos clássicos cariocas – com exceção da única derrota para o Botafogo pelo Brasileiro utilizando reservas. O que vinha faltando principalmente em competições sul-americanas.

Não aceitar outro resultado senão a vitória foi o que moveu o time de Reinaldo Rueda no Maracanã com imperdoáveis espaços vazios, fruto da obtusa política de preços que pensa induzir o torcedor a virar sócio. Mas a virada por 2 a 1 sobre o Junior de Barranquilla na ida da semifinal da Copa Sul-Americana não seria possível não fossem as muitas falhas do adversário justamente na jogada mais eficiente dos rubro-negros em toda temporada, desde os tempos de Zé Ricardo.

A jogada aérea, com bola parada ou rolando. Podia ter acontecido com Vizeu ainda no primeiro tempo, completando cruzamento de Everton Ribeiro. Já com desvantagem no placar. E Alex Muralha em campo na vaga do Diego Alves, que sofreu fratura na clavícula após cometer pênalti não marcado sobre Jony González. Uma infelicidade tão grande quanto o primeiro ataque colombiano terminar em gol. Juan perdeu a disputa com Teo Gutierrez, passe de Mier nas costas de Pará e González rolando para Teo. O goleiro, frio e nitidamente inseguro, deixou passar o cruzamento.

Parecia que os visitantes repetiriam o passeio que deram no Sport em Recife nas quartas de final, mas abdicaram um pouco do jogo, recuando as linhas e esperando o contragolpe letal com o velocíssimo Yimmi Chará nas costas de Trauco. Não veio no primeiro tempo de 54% de posse do Fla e sete finalizações, mas nenhuma no alvo. O Junior concluiu quatro, duas no alvo e o gol único antes do intervalo.

Com oito minutos de atraso, Reinaldo Rueda trocou Mancuello por Vinicius Júnior. Nem tanto pelo desempenho do argentino, que finalizou duas vezes com perigo e tentou colaborar na articulação. Mas principalmente pela entrada de um atacante com característica semelhante à de Berrío e Everton. Até então o Fla não tinha uma referência de velocidade para lançamentos, que desse profundidade aos ataques.

Melhorou um pouco o desempenho, mas faltava criatividade, o passe diferente qualificado. Não veio de Everton Ribeiro, substituído por Lucas Paquetá. Muito menos de Diego, novamente um líder em campo, mas burocrático na articulação. O jogo do Fla não fluía mais uma vez. De novo o time que não dá liga, das peças que não encaixam.

Mas desta vez havia alma. E um recurso óbvio. Na fibra, no grito da torcida que respondeu à postura diferente da equipe e nos muitos cruzamentos – 41 no total, 22 na primeira etapa – a virada com Juan e Vizeu. Golaço do jovem centroavante completando no ângulo de Viera a assistência de Willian Arão. Comemoração no banco com Rhodolfo para se redimir da enorme bobagem que fez nos 3 a 0 sobre o Corinthians no domingo.

Virada e vantagem para a volta. Mas há muitas preocupações. Porque logo após o empate, o time de Barranquilla teve duas grandes chances, com Chará e Luiz Díaz, que substituiu Mier e centralizou Chará no 4-2-3-1. O treinador uruguaio Julio Comesaña pecou ao chamar demais o Fla para o próprio campo e confiar nos contragolpes que não encaixaram. Os visitantes sempre foram mais perigosos quando desceram em bloco, trocando passes no meio e acelerando pelos flancos.  Deve ser assim na Colômbia.

O Flamengo vai precisar de velocidade nas transições ofensivas – Everton deve retornar pela esquerda – e, principalmente, de concentração defensiva absoluta para não precisar tanto de Muralha. Um enorme desafio para quem deixou a Libertadores exatamente por não pontuar longe do Rio de Janeiro.

Se repetir longe da torcida o comportamento no Maracanã as chances serão maiores. Um time com alma de clássico carioca num duelo continental. Como deve ser.

(Estatísticas: Footstats)

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Flamengo: a lenta agonia do time que não dá liga http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/11/17/flamengo-a-lenta-agonia-do-time-que-nao-da-liga/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2017/11/17/flamengo-a-lenta-agonia-do-time-que-nao-da-liga/#respond Fri, 17 Nov 2017 11:57:44 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=3701

A derrota para o Coritiba no Couto Pereira foi mais uma típica do Flamengo no Brasileiro 2017: domina a posse de bola (65%), finaliza mais que o adversário – 11 a 5, 4 a 1 no alvo – mas não consegue traduzir em gols o controle do jogo.

As críticas sobre jogadores e o treinador Reinaldo Rueda giram em torno do comodismo, de aceitar a derrota com um discurso conformado, de uma apatia que se mistura à indiferença. Protestos com alguma razão, mas os problemas vão um pouco além disso.

O fato é que o time não dá liga. Ou seja, as características dos jogadores não combinam entre si, por mais que Zé Ricardo e depois Rueda tentassem e ainda tentem um encaixe.

É um efeito dominó. Everton Ribeiro foi contratado para ser o ponta articulador. O meia que sai do lado do campo para se movimentar às costas do volante, criar superioridade no meio e criar as jogadas. Mas para isso o ideal é que, como Ricardo Goulart fazia no Cruzeiro bicampeão brasileiro com o próprio Everton, o meia central no 4-2-3-1 que não se alterou com a mudança no comando técnico se aproxime mais do centroavante e se comporte como uma espécie de segundo atacante.

Diego Ribas não faz isso. Por costume, recua para ajudar na armação ou procura os lados do campo. Quando pisa na área sempre é mais útil, mas prefere voltar à intermediária. Pior: prende demais a bola, dá sempre um ou dois toques a mais e quase sempre atrasa a transição ofensiva. Tenta compensar com vontade, liderança positiva e qualidade nas cobranças de faltas e escanteios, mas coletivamente o saldo quase sempre é negativo.

Para aproveitar o espaço que o camisa sete deixa à direita, um lateral de velocidade daria uma opção interessante para buscar a linha de fundo. Não é Pará. Seria Rodinei, mas este tem sérios problemas de leitura de jogo e, principalmente, no posicionamento defensivo.

Porque os zagueiros, embora experientes e de bom nível técnico, são lentos. Para evitar os muitos gols sofridos nas costas da última linha no final do trabalho de Zé Ricardo, Rueda prefere os laterais com um posicionamento mais conservador.

Também para encaixar Cuéllar no meio-campo, à frente da retaguarda. Mas o colombiano, embora tenha bom passe, não é o organizador que o setor precisa nesta ideia de ser protagonista, jogar no campo adversário e controlar as partidas com posse de bola. Nem ele, nem Willian Arão, que eventualmente até acerta alguns passes em profundidade, mas tem como principal virtude a infiltração. O camisa cinco, porém, é um atleta que nitidamente se permite afetar pelas instabilidades do time e sente as cobranças. Sem contar a dispersão no trabalho defensivo.

Por isso Márcio Araújo acaba jogando mais do que deveria. Com Zé Ricardo e agora ganhando chances com Rueda em algumas partidas. No Couto Pereira, o gol de Cléber logo aos sete minutos fez com que a presença do volante se tornasse ainda mais desnecessária por sua nulidade na construção das jogadas. Só deixou o campo aos 13 minutos da segunda etapa. Joga porque defende melhor que Arão e protege a zaga sem velocidade. Romulo não justificou a contratação e o jovem Ronaldo, sem oportunidades, foi ganhar rodagem no Atlético-GO.

Na frente, outro problema: Guerrero não é o típico centroavante, que fica na área e finaliza com bom aproveitamento. O peruano sempre foi muito mais de circular e trabalhar coletivamente. No Fla se destaca pelo trabalho de pivô, por conta de todos os problemas do meio-campo na criação. Recua, faz a parede e procura os ponteiros. Muitas vezes não dá tempo de chegar na área. E dificilmente recebe a bola com chance clara de concluir com liberdade porque as jogadas não fluem, há poucas infiltrações em diagonal.

Porque os ponteiros não têm essa característica. Nem Berrío, agora lesionado, nem Everton. O ponta pela esquerda até vem aparecendo na área e já fez dez gols na temporada. Mas poderia ter feito bem mais se nas muitas vezes em que Guerrero recuou ele penetrasse no espaço certo. Não tem o hábito.

Assim como Filipe Vizeu, o substituto de Guerrero, parece não ter aprendido nas divisões de base a fazer a proteção da bola para a aproximação dos companheiros. Nem fazer a leitura do espaço que precisa atacar para chegar em melhores condições para finalizar. Não é o centroavante para a proposta rubro-negra. Por isso a improvisação de Lucas Paquetá, que não é exatamente um goleador e, apesar da luta, desperdiça oportunidades cristalinas como a que o goleiro Wilson salvou no primeiro tempo em Curitiba.

O encaixe mais promissor foi quando Rueda utilizou Orlando Berrío pela direita com Pará e Everton Ribeiro à esquerda. Se Trauco e Renê também não são laterais rápidos na chegada ao fundo, ao menos a movimentação do meia abria espaços para o deslocamento de Guerrero, que prefere buscar aquele setor e não faz o mesmo movimento à direita. Mas o colombiano teve grave lesão e só volta em 2018 e o peruano está suspenso por doping e também só deve retornar no ano que vem.

Todo esse cenário desfavorável, sem que os treinadores encontrem soluções, é que parece ser o responsável por esse desânimo que se vê em campo. Os jogadores percebem que não combinam entre si e se acomodam. Começa a se espalhar a ideia de “fazer o seu e, se não dá certo, a culpa não é sua”. A desclassificação na fase de grupos na Libertadores foi um golpe na confiança que vinha em alta com a boa campanha no Brasileiro do ano passado e o título estadual.

As críticas e protestos de torcida e parte da mídia, porém, são justas porque nos clássicos cariocas, por conta de uma mentalidade provinciana que impera no clube há algum tempo, aparece a indignação com a derrota. Algo fundamental quando as coisas não vão bem. Um nível mais alto de concentração, fibra e entrega para compensar os problemas. Em jogos “comuns”, ainda mais numa competição por pontos corridos e que nunca foi tratada como prioridade ao longo da temporada, volta a apatia.

Quem deve ser responsabilizado? Todos no clube, mas principalmente a direção. Por erros de planejamento, como ter apenas Alex Muralha e Thiago como goleiros em boa parte da temporada, escolha que acabou prejudicando demais o time na final da Copa do Brasil. Diego Alves chegou tarde.

Também por não perceber as necessidades reais da equipe e contratar Berrío, sendo que o pedido de Zé Ricardo tinha sido um ponteiro driblador e com bom poder de finalização para deixar o ataque menos “arame liso” – cerca, mas não fura – em jogos grandes ou confrontos mais parelhos.  Vinícius Júnior pode até vir a ser este atacante rápido, criativo e com boa finalização, mas é injusto cobrar de um menino de 17 anos, já negociado com o Real Madrid, que seja o pilar ofensivo de um time grande recheado de jogadores experientes e rodados.

O ambiente acaba se tornando um tanto permissivo e morno. Uma falsa sensação de estabilidade, sem grandes cobranças. Talvez por não ter entregado o seu melhor, a direção não se sinta confortável para exigir. Mesmo com salários em dia e melhor estrutura no CT. Vez ou outra ecoa uma voz dissonante, como Juan ou Everton Ribeiro, que na saída de campo no Couto Pereira reclamou que “todo jogo é assim”.

Rueda tem perfil mais administrador, não de ruptura, criativo, ousado para encontrar saídas. A impressão é de que vai tentar o título da Sul-Americana, mas já pensa em reestruturar o elenco para 2018 dentro do que pensa sobre futebol. A dúvida é se será suficiente. Nas coletivas diz não conseguir encontrar explicações para o mau momento. Será que enxerga?

Por tudo isso o Flamengo vive essa lenta agonia em 2017. Ainda com chances de conseguir pelo Brasileiro a vaga nas fases preliminares na Libertadores – insatisfatório diante de tanto investimento. Vivo na semifinal do torneio continental contra o Junior Barranquilla.

Mas que não desperta confiança. Porque os jogadores não combinam e parecem cansados fisicamente e sem força mental para buscar algo que não veio durante toda a temporada. Restam a frustração e a revolta da maior torcida do país. Um desperdício.

(Estatísticas: Footstats)

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