Botafogo – Blog do André Rocha http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br O blog se propõe a trazer análises e informações sobre futebol brasileiro e internacional, com enfoque na essência do jogo, mas também abrindo o leque para todas as abordagens possíveis sobre o esporte. Mon, 13 Jul 2020 13:46:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Flamengo volta sem torcida, TV, rivais…Sozinho. Landim deve estar feliz http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/17/flamengo-volta-sem-torcida-tv-rivais-sozinho-landim-deve-estar-feliz/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/06/17/flamengo-volta-sem-torcida-tv-rivais-sozinho-landim-deve-estar-feliz/#respond Wed, 17 Jun 2020 10:51:20 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8658

Foto: Paula Reis / Flamengo

Noventa e cinco dias depois da paralisação por conta da pandemia, o Campeonato Carioca será retomado na quinta, dia 18, com Bangu x Flamengo no Maracanã. Quarta rodada da fase de grupos da Taça Rio.

Tudo definido em um arbitral a toque de caixa, sem consenso. Fluminense e Botafogo isolados, Flamengo liderando a pressão para voltar. O Vasco seguindo por interesses comuns e os times de menor investimento sempre “fieis” ao presidente da FERJ, hoje Rubens Lopes.

O Flamengo se acha pronto. Voltou aos treinos, inicialmente sem autorização da Prefeitura, se vangloria por seus protocolos de segurança. Quer jogar a qualquer custo. Mesmo sem todas as medidas de prevenção definidas pelo governo do Rio de Janeiro, contra todas as recomendações de órgãos de fiscalização. Com adversários sem retomar os treinos. Ainda com muitas mortes por Covid-19 no município e no Estado e perspectivas de crescimento do número de casos com a flexibilização do distanciamento social.

Nada importa. Só o Flamengo, expondo sua marca e a dos patrocinadores. Mostrando que é e continuará poderoso por estar sempre um passo à frente dos rivais. Uma ilha de excelência. Nas declarações dos dirigentes, especialmente do presidente Rodolfo Landim, sempre “nós”, “o Flamengo”. Como se jogasse sozinho.

Na quinta estará sem torcida, por força das circunstâncias. Sem TV, por não fechar acordo para a transmissão do Grupo Globo. Se o Bangu não comparecesse talvez nem fizesse falta. O Flamengo colocaria os reservas de seu forte elenco e organizaria um coletivo. Um Narciso se admirando no espelho.

O Flamengo já não tem rivais no Rio de Janeiro. Nesta edição do Carioca, o Fluminense se coloca como um possível oponente por conta de um regulamento esdrúxulo: pela classificação geral pode provocar uma final, mesmo que os rubro-negros conquistem os dois turnos. Tudo por causa de uma vitória tricolor sobre o time sub-23 do Fla enquanto as estrelas campeãs do Brasileiro e da Libertadores voltavam de férias.

É óbvio que o clube tem seus méritos, ambições e o estadual só ganha alguma relevância agora porque é o que pode ser disputado, até pela impossibilidade de deslocamentos pelo país. Não é errado desejar ser o melhor e construir uma hegemonia nacional e internacional. Longe disso.

Mas é preciso entender que o futebol não se disputa apenas com sparrings ou figurantes. Ainda mais no Brasil que costuma valorizar mais o equilíbrio que a qualidade. O Flamengo passou de 2013 a 2019 se organizando em gestão, porém sem grandes conquistas. Agora que venceu quer construir uma dinastia sem precedentes no país. Desejo justo e saudável, mas não atropelando tudo que vê pela frente, inclusive a ética e o senso coletivo.

O Flamengo de Landim dá a impressão de que se jogasse na NBA entraria com uma petição para ter a primeira escolha do “draft”, mesmo sendo o campeão. Os concorrentes que se danem, fiquem lá em baixo.

Por isso a visão elitista, a proximidade com o poder – da federação, do Estado e da União. Um isolamento esportivo, que no momento se opõe ao distanciamento social necessário. Um egoísmo em todas as instâncias que não costuma dar muito certo – vide o “Soberano” São Paulo, absoluto na década passada e agora sofrendo com excesso de crises e falta de títulos.

O Flamengo retorna sem torcida, sem TV e sem rivais. Sozinho. Landim deve estar feliz.

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Yaya Touré no Vasco lembra as manchetes do velho “Jornal dos Sports” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/22/yaya-toure-no-vasco-lembra-as-manchetes-do-velho-jornal-dos-sports/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/22/yaya-toure-no-vasco-lembra-as-manchetes-do-velho-jornal-dos-sports/#respond Fri, 22 May 2020 12:44:16 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8528

Imagem: Reprodução

“Maradona no Flamengo”, “Schuster no Fluminense”, “Romerito no Vasco”. Essas eram as manchetes frequentes no início dos anos 1980, quando este que escreve se apaixonou para sempre pelo futebol.

Principalmente de um jornal que fez história no Rio de Janeiro. O lendário Jornal dos Sports, de páginas rosas inspiradas na publicação francesa L’Auto, depois L’Equipe, embora o imaginário popular até hoje aponte para o periódico italiano La Gazzetta dello Sport.

Não que as informações fossem inventadas sempre. Sempre houve jornalistas menos cuidadosos com a notícia. Até hoje há alguns “especialistas” em criar negociações, interesses e sondagens. Mas muitas vezes havia “fumaça” mesmo, embora pouco confiável. Normalmente partindo de dirigentes querendo desviar o foco das derrotas de algum dos grandes cariocas. Ou para iludir o torcedor com um “pacotão de reforços” na virada da temporada, mesmo com os cofres vazios.

Avançando um pouco no tempo, o ano de 1999 foi prolífico nessas manchetes de fim de temporada. Romário havia deixado o Flamengo e não queria sair do Rio de Janeiro. Surgiu, então, o interesse do Vasco, mas também do Botafogo. Carlos Augusto Montenegro anunciara um possível acordo: o artilheiro disputaria o Mundial de Clubes pelo time cruzmaltino e depois partiria para o Alvinegro, com o patrocínio de uma empresa alimentícia.

Nunca se concretizou. Assim como o interesse do Fluminense em Viola, que seguiu no Vasco. E, como sempre, o Flamengo era o grande alvo dessas especulações. Ainda mais com o dinheiro da ISL, empresa que fechou parceria com o clube, então presidido por Edmundo dos Santos Silva. Na capa, Giovane Élber era o nome para substituir Romário. Continuou no Bayern de Munique até 2003 e na Europa até 2005.

Edmundo também prometeu Batistuta. Ficou com 50%, ou apenas o centroavante Tuta, de passagem esquecível em meio às tantas contratações de fato daquele ano: Edilson, Denilson, Alex, Petkovic e Gamarra. Todos acertos do Jornal dos Sports, estampados em suas capas.

Imagem: Reprodução

Outra fonte muito comum era o candidato à presidência que prometia um reforço de impacto caso fosse eleito, para atrair atenção e votos dos sócios do clube. Na época usava um recurso muito comum para explicar de onde viria o dinheiro: bilheterias de amistosos entre os clubes envolvidos. Um no Maracanã, outro na casa do “vendedor”. Eram tempos sem receitas de TV e, muitas vezes, de patrocinadores.

Voltemos a 2020. O Vasco deve salários e ficou até abril quitando débitos de 2019. A paralisação por conta da pandemia aprofundou a crise financeira. Tanto que após a saída de Abel Braga o clube resolveu apostar na efetivação do auxiliar Ramon Menezes.

Mas o candidato à presidência Leven Siano resolveu anunciar em uma transmissão ao vivo no Instagram que, caso eleito, contratará Yaya Touré. Inclusive com depoimento do próprio jogador marfinense, de 37 anos e sem clube, depois de passagem pelo Qingdao Huanghai, time da segunda divisão da China. Mas tudo, obviamente, depende do resultado das eleições no final do ano.

Como vai pagar? Isso fica para depois. Importante agora é ganhar o noticiário em um período sem futebol no país. Em tempos virtuais, é como colocar na capa do jornal. Se não tivesse deixado de circular no formato impresso em 2010, certamente o Jornal dos Sports teria hoje Yaya Touré chamando os leitores vascaínos para o devaneio. Assim como o próprio Montenegro, que sonhou com Romário há pouco mais de 20 anos, ainda pretende levar o jogador para o Botafogo.

Tempos saudosos, lúdicos. Às vezes era gostoso ser enganado com falsas promessas. A realidade hoje é bem mais dura, mas ainda há quem acredite.

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Paulo Autuori, parte 2: “Botafogo de 1995 tinha conceitos do futebol atual” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/07/paulo-autuori-parte-2-botafogo-de-1995-tinha-conceitos-do-futebol-atual/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/07/paulo-autuori-parte-2-botafogo-de-1995-tinha-conceitos-do-futebol-atual/#respond Thu, 07 May 2020 16:32:51 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8445

Imagem: Tactical Pad

Na segunda parte da entrevista com Paulo Autuori, o Botafogo de 1995. Dentro e fora de campo, fazendo um paralelo com o momento atual do futebol brasileiro.

BLOG – O Botafogo campeão brasileiro de 1995 seria competitivo em 2020?

PAULO AUTUORI – Eu vivi muitos anos em Portugal e aprendi lá uma frase: “As comparações são odiosas”. São contextos diferentes, pessoas diferentes, momentos diferentes. No futebol brasileiro e mundial. Por outro lado, eu converso muito com Wilson Gottardo, Gonçalves e Wilson Goiano e todos são unânimes: se jogássemos hoje conseguiríamos fazer muitas coisas e sermos competitivos.

BLOG – Mas um time que aplicava compactação, trabalho coletivo sem bola, talvez com exceção do Túlio, os meias Beto e Sergio Manoel fechando pelos lados na execução de um 4-2-2-2 típico da época, mas na prática se defendendo com duas linhas de quatro…

PAULO AUTUORI – Sim, era uma equipe que tinha conceitos do futebol atual. Bem distribuída em campo, que ocupava os espaços com inteligência. A compactação dos setores já era bem clara, assim como as coberturas próximas. De fato, a contribuição do Beto e do Sérgio Manoel sem bola era fundamental.

Eu também apostava muitos nas parcerias, que é algo bem natural no futebol brasileiro. O lateral que combina com o meia e o atacante pelo lado. Ou do volante com o meia e o atacante por dentro. Muitas triangulações. E marcação por zona, até porque eu vinha do futsal.

BLOG – Os jogadores assimilaram as ideias com facilidade?

PAULO AUTUORI – Era um grupo de jogadores inteligentes. Donizete e Gonçalves vieram do futebol mexicano já com uma boa leitura. E tínhamos um jogador muito inteligente no meio-campo, que era o Leandro Ávila. Posicionamento perfeito na frente da defesa.

BLOG – O que você vê na dinâmica de jogo agora que você já trabalhava na época?

PAULO AUTUORI – Tirávamos bem a bola da zona de pressão. Aliás, uma das discussões mais estéreis do futebol é essa em relação ao uso de termos mais modernos. Ora, isso funciona na vida. Na minha época se chamava o amigo de “bicho”, mais recentemente eles se chamam de “brow”, hoje já deve ser outra coisa. Cada época tem seu vocabulário e no futebol também é assim.

Abrir o campo para avançar mais rapidamente. Trabalhávamos com inversões do Leandro Ávila para o André Luís pela esquerda e o mesmo do outro lado, com Jamir passando ao Wilson Goiano. O Jamir ganhou a vaga do Moisés no meio-campo por conta dessa facilidade.

BLOG – O Botafogo era de propor o jogo ou trabalhava de forma mais reativa?

PAULO AUTUORI – Há várias formas de jogar futebol e vencer. Não concordo com essa visão de que todos os times têm que construir o jogo desde a defesa, ter mais posse de bola. Isso é uma ditadura que não combina com o esporte. O contraditório é fundamental.

Eu adquiri conceitos aprendendo ao longo da carreira. Eles não são meus. E é sempre possível aprender até com aquele que você critica. Por exemplo, o Giovanni Trapatonni, treinador italiano, me irritava com o defensivismo das suas equipes, mas eu fui estudar a sua maneira de trabalhar sem bola e trouxe na época algumas coisas para acrescentar ao meu trabalho. Mas não consigo jogar à espreita, apenas especulando.

BLOG – Nós, jornalistas, erramos ao exigir mais de equipes com potencial para entregar mais?

PAULO AUTUORI – O que eu critico é a falta de respeito com alguns profissionais. E a exigência de se jogar apenas de uma maneira. Nem sempre é possível. Adiantar marcação só se for um movimento coletivo, não individual. Se as características dos jogadores permitirem. Essa é a beleza do futebol.

Muito me espanta vermos na TV Globo, por exemplo, uma programação que respeita minorias, diversidade e liberdade na parte artística e no jornalismo. Mas no futebol os analistas não respeitam visões diferentes. Cheira a hipocrisia.

BLOG – Você chegou desacreditado por ser um desconhecido. Como foi reverter isso?

PAULO AUTUORI – Nem eu esperava trabalhar no futebol brasileiro. No Botafogo eu havia trabalhado em 1986, mas na equipe de juniores (sub-20). O Antonio Rodrigues e o Leo Rabello que acreditaram em mim. O Carlos Augusto Montenegro teve a coragem de me dar uma oportunidade.

Meus primeiros trabalhos foram atrás do gol do Estádio Caio Martins. O campo estava passando por uma reforma. E de cara eu mostrei uma variedade de trabalhos táticos que começou a construir a credibilidade que eu tinha com o grupo.

BLOG – Mas havia problemas internos, inclusive divergências entre jogadores.

PAULO AUTUORI – O problema era que o Gottardo e o Sergio Manoel achavam que o Túlio, por ser a estrela, deveria ser mais participativo na reivindicações dos jogadores junto à diretoria. Tinha também a questão dele receber do patrocinador, enquanto o elenco sofria com meses de salários atrasados. Mas o grupo se ajudava, inclusive financeiramente, e todos se uniam em torno de um objetivo comum.

BLOG – Parece que em termos administrativos não mudou muita coisa no clube.

PAULO AUTUORI – De 1995 para cá não conseguimos dar passos à frente com solidez. Isso de forma geral, em relação aos clubes. Só Athletico, Grêmio e Bahia, em termos de gestão. E o Flamengo começando com o Bandeira de Mello e conseguindo as conquistas agora.

O Botafogo é gigantesco, tem história enorme. E tudo que sou eu agradeço ao Botafogo. Por isso voltei e trabalhando como treinador, função que não pretendia mais exercer. Era minha hora de contribuir.

Mas por consequência de sua grandeza há uma cobrança por vitórias na mesma proporção. Só que se cria uma incompatibilidade entre a exigência e as condições de formar uma equipe vencedora, que corresponda às expectativas e também as pressões de torcida e imprensa.

BLOG – O que falta, então, aos clubes brasileiros?

PAULO AUTUORI – Coragem na gestão. Para chegar aos resultados precisa planejar e executar. Citando novamente o Flamengo, ali só tem como dar errado se os gestores fizerem muita besteira. Não pode se fechar para as quebras de paradigmas, ao novo. Sem discurso populista, contratar jogador sem ter como pagar, demitir treinador para agradar torcida e imprensa.

Acho que essa transformação dos clubes em empresas pode ajudar. Tenho conversado muito com o Montenegro sobre isso. Também acredito na boa solução que é dar oportunidades aos ex-atletas que se preparam para gerir, como, por exemplo, o Mauro Silva na Federação Paulista de Futebol. Uma das raras boas iniciativas e que deve servir de exemplo.

 

Veja também: Paulo Autuori – parte 1: “Futebol brasileiro deveria estar planejando 2021”.

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Paulo Autuori, parte 1: “Futebol brasileiro deveria estar planejando 2021” http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/06/paulo-autuori-parte-1-futebol-brasileiro-deveria-estar-planejando-2021/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/05/06/paulo-autuori-parte-1-futebol-brasileiro-deveria-estar-planejando-2021/#respond Wed, 06 May 2020 16:05:10 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8438

Foto: Doha Stadium Plus Qatar / Mohan

O treinador do Botafogo sempre foi uma voz dissonante e crítica no meio um tanto asséptico do futebol brasileiro, em que se foge das declarações que podem gerar polêmica sobre os temas mais relevantes no esporte e na sociedade.

Nesta primeira parte da entrevista, Paulo Autuori fala sobre a vida em meio a uma pandemia, o calendário brasileiro, demissões nos clubes e o tratamento que o país dá aos seus idosos.

BLOG – Em 2013, no “Bola da Vez” na ESPN Brasil, você me disse que o futebol não poderia ser um mundo à parte da sociedade. Sete anos depois, essa pressa de alguns clubes para voltarem a jogar em meio à pandemia seria uma tentativa de se manter como esse mundo paralelo, onde quase tudo é permitido?

PAULO AUTUORI – Foi bom você lembrar disso. Quem seria eu se quisesse retornar agora? O que mais me dá força é saber que tenho sido coerente comigo mesmo. O discurso não mudou. Eu tenho uma máxima que quem trabalha comigo conhece: “Futebol é vida”. Não pode ser descolado da sociedade.

Sou completamente contra a volta aos treinamentos. Desculpe, mas quem aprova isso não tem a mínima noção da quantidade de pessoas envolvidas em uma sessão de treinos. E de origens distintas. Muitos olham apenas para a ponta do iceberg.

A base da pirâmide do meio futebol recebe entre dois salários mínimos e cinco mil reais. Isso incluindo Séries A e B. Gente que usa transporte público. Como eu vou dar treino sem roupeiro e massagista? Até analista de desempenho, que é uma função nova, tem suas dificuldades. Como forçar essas pessoas a trabalharem sem a devida proteção?

Por isso minha crítica de longos anos à CBF. Nada pessoal contra quem trabalha lá, é apenas uma questão de conceitos, divergência de opiniões. As pessoas que tomam decisões lá estão totalmente fora da realidade do futebol.

BLOG – Sei que você é treinador no Botafogo, não dirigente como já foi em outros clubes. Mas o clube acabou de demitir o Sebastião Leônidas, ídolo e funcionário de longa data, com 82 anos. Você tem 63 anos. O futebol brasileiro – ou melhor, o Brasil trata mal os seus idosos?

PAULO AUTUORI – O Brasil, não só futebol, trata mal o seu cidadão. E estou tranquilo para dar minha opinião porque, quando chego a um clube, aviso que, mesmo estando a serviço da instituição, eu tenho direito a ter uma opinião, ainda que crítica a essa mesma instituição.

Trata mal e há muito tempo. Estou nesse meio há 45 anos. No caso dos idosos, contexto no qual estou incluído, a falta de respeito é total. Não há a menor preocupação com eles. Eu morei em vários países e na maioria o tratamento é completamente diferente. Nem vou falar do Japão, porque é covardia. Lá os mais velhos são aproveitados em funções com menos exigência física e eles se sentem úteis e produtivos para a sociedade.

Mas no geral podem viajar e desfrutar dos anos que trabalharam e contribuíram. Aqui o meu pai, já falecido, teve que voltar a trabalhar já aposentado, com problema de visão, por necessidade. Isso quando o idoso encontra mercado de trabalho. É uma realidade muito cruel.

BLOG – Mas o que pensa especificamente sobre essas demissões em massa nos clubes brasileiros?

PAULO AUTUORI – Qualquer cidadão quando vê que alguém perde o emprego fica triste e lamenta. O que acontece nos clubes tem a ver com a gestão. Não se preocuparam em enxugam as máquinas e muitas vezes confundem aquilo que é necessidade com o que é vontade pessoal. É preciso priorizar o que é necessário, sem arrumar jeitinho de colocar um aqui e outro acolá e se preparar para momentos difíceis. Porque só se pensa em cenários positivos e em qualquer empreitada é preciso pensar em todas as hipóteses.

É algo que vai acontecer, e não só no futebol. Neste momento da pandemia muitas empresas estão demitindo funcionários, mas no futebol transcende um pouco. Mesmo sem ter como prever uma situação como a atual, é preciso tratar as coisas com muito mais responsabilidade e o requisito básico de gastar muito menos do que se arrecada.

BLOG – Você sempre foi crítico do que chamava de banalização do futebol, com jogos todos os dias para preencher grades de programações de TV. Agora vivemos o extremo oposto. Haverá uma reflexão sobre isso na volta ou, pelo contrário, a tendência é empilhar jogos para compensar o tempo perdido?

PAULO AUTUORI – Eu vejo com muita preocupação. Noto que há uma grande oportunidade para fazermos mudanças que são inexoráveis, mas só se fala em salvar o calendário de 2020.

É um ano totalmente atípico, o futebol brasileiro já devia estar planejando 2021. Porque o cenário é único. Nas grandes guerras você tinha nações batalhando entre si, mas as outras, ainda que envolvidas diplomaticamente, acompanhavam de longe. Agora não, todos estão sendo atingidos. A crise é global, o mundo parou.

O momento seria de reflexão para salvaguardar 2021. Debater de maneira clara a adequação ao calendário europeu, os prós e contras. Se houver espaço para opinar, ninguém pode reclamar depois. Muitos jogos são um malefício, mas poucos ou nenhum como agora, também. Temos condições de equilibrar. O problema é que aqui temos um solo infértil de ideias e debates. Porque há um prazo de validade, já que os clubes não se organizaram minimamente para enfrentar uma crise desse tamanho.

BLOG – Eu sei que isolamento social não é período de férias, mas o que você tem feito nesse tempo livre em casa?

PAULO AUTUORI – Eu tenho uma personalidade mais discreta, sou tranquilo. Então a minha vida em casa não mudou muito. Eu sou um crítico das redes sociais, dessa vida irreal. Uma necessidade de passar a imagem do que não é. Pessoas conectadas o tempo todo no próprio mundo, cada vez mais isoladas Estou levando a vida. Sou humanista, sinto falta do convívio, da conversa olho no olho. Ir ao cinema, teatro, restaurante com amigos também me faz muita falta.

Me ocupo com tudo que possa me fazer crescer. E algumas tarefas domésticas, já que estou sozinho aqui no apartamento (risos). Mas não serei diferente do que já era e não creio nessas teorias de que as pessoas vão mudar depois da pandemia. Só aqueles com bom senso e alguma sensibilidade podem passar a dar valor a outras coisas depois disso tudo.

Leio muito e não respiro futebol 24 horas por dia, porque acho que se perde abrangência no pensamento. Quanto mais aberto, mais apto a produzir no seu trabalho. E o futebol é antropologia pura. O homem e seu contexto. Ninguém nasce jogador de futebol. Todos têm suas angústias, medos, frustrações…

 

Na segunda e última parte da entrevista, Autuori recorda o Botafogo campeão brasileiro de 1995, dentro e fora de campo. Amanhã, aqui no blog.

 

 

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O timaço do rival que quase roubou meu coração http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/25/o-timaco-do-rival-que-quase-roubou-meu-coracao/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/04/25/o-timaco-do-rival-que-quase-roubou-meu-coracao/#respond Sat, 25 Apr 2020 07:37:26 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8366

Foto: Matheus Gevaerd

Você leu AQUI que este que escreve escolheu ser torcedor do Flamengo por causa do Zico. Fã primeiro do jogador, por consequência do clube.

Natural que aos dez anos, quando criança era realmente ingênua nesta idade, a paixão sofresse um abalo pela saída do ídolo máximo para a Udinese. Uma traição na visão do menino e avalizada por muita gente adulta.

E foi justamente neste período que um rival histórico dominou o cenário regional, em tempos que os estaduais valiam demais, e ainda conquistou um título brasileiro: o Fluminense tricampeão carioca de 1983 a 1985, com a conquista nacional em 1984 para marcar época definitivamente.

Uma equipe formada meio no “cata-cata”, na base do “bom, bonito e barato”. Até pelos problemas financeiros de um clube que não chegava às finais do Carioca desde o título, em 1980. Já no Brasileiro, a última grande campanha tinha cheiro de frustração, com a “máquina tricolor” sendo eliminada na semifinal por um Corinthians bem mais limitado. A inesquecível “invasão” do Maracanã em 1976.

Em 1983, a base era formada pelo goleiro Paulo Vítor (no Flu desde 1981), o lateral direito Aldo, contratado ao Paysandu no ano anterior, o zagueiro Ricardo (Gomes), formado na base do clube e Delei, o titular remanescente da última conquista. Do Internacional chegaram os relegados Branco e Jandir, depois Tato. Do Coritiba, o volante Leomir, ainda em 1982. Do América, o zagueiro Duílio. O maior investimento foi na dupla de ataque: Washington e Assis, que venceram o Paranaense pelo Atlético-PR e aterrorizaram a defesa do Flamengo na semifinal do Brasileiro daquele ano, mesmo com eliminação.

O treinador Cláudio Garcia comandou a equipe no título da Taça Guanabara e depois partiu para o Flamengo, que seria o campeão da Taça Rio. No triangular final com o Bangu, time de melhor campanha nos dois turnos, o título veio mesmo sem grande futebol do time agora comandado por José Luís Carboni, com o histórico gol de Assis, no minuto derradeiro do Fla-Flu. O último sofrido na carreira do goleiro Raul Plasmann.

Uma conquista no melhor estilo “timinho” que consagrara o tricolor nos anos 1950. Sem favoritismo, com placares magros, mas levando o troféu para as Laranjeiras. No entanto, para vencer o Brasileiro era preciso pensar grande.

Faltava o craque e o grande treinador. Chegaram o paraguaio Romerito do Cosmos e Carlos Alberto Parreira, depois da primeira experiência não tão bem sucedida na seleção brasileira no ano anterior. Para dar o salto de qualidade na melhor versão daquela equipe que virou timaço.

Armado em uma espécie de 4-4-1-1, nas palavras do próprio Parreira em entrevista a este jornalista. Deixando o corredor direito livre para a vitalidade de Aldo e os deslocamentos de Washington, sempre municiados por Delei. Do lado oposto, Romerito se juntava à ala esquerda formada por Branco e Tato ou Paulinho, setor ofensivo mais forte do time. Assis trabalhava com os meio-campistas, caía pelos flancos e se juntava a Washington, principalmente no jogo aéreo. O “Casal 20”, apelido inspirado em famosa série de TV à época.

Sem a bola, todos colaboravam na recomposição e Jandir era o volante marcador que protegia a zaga formada por Duílio e Ricardo Gomes. Assim o time embalou a partir das quartas de final. Levou dois gols fora de casa do Coritiba no empate por 2 a 2 na ida e depois Paulo Vitor não sofreu mais gols. 5 a 0 nos paranaenses para se firmar como grande força.

Mas não favorito contra um Corinthians embalado por eliminar o Flamengo com goleada em casa por 4 a 1 e sonhando com o então inédito título nacional na despedida de Sócrates, que partiria para a Fiorentina. No Morumbi, porém, o Flu de Parreira protagonizou a grande atuação coletiva de todo aquele período: 2 a 0, calando o estádio lotado. Gols de Assis e Tato, mais outras oportunidades em transições ofensivas demolidoras e sem conceder nenhuma chance clara à equipe paulista. Domínio absoluto consolidado com empate sem gols no Maracanã.

Na decisão carioca, o gol de Romerito e outra grande atuação de defesa-contragolpe superaram o ofensivo Vasco comandado por Edu Coimbra, irmão de Zico, e que teve os dois artilheiros daquela edição: Roberto Dinamite e Arturzinho. Mas não havia equipe mais equilibrada.

O 4-4-1-1 armado por Parreira que era sólido defensivamente com todos colaborando e veloz nas transições ofensivas, abrindo o corredor direito para Aldo e reunindo Branco, Romerito, Tato e às vezes até Assis do lado oposto para envolver os adversários (Tactical Pad).

Time que esbanjaria no segundo semestre vencendo novamente o estadual, com o motivador Carlos Alberto Torres mantendo a proposta de jogo e sendo campeão mesmo sem Ricardo, Branco, Jandir e Delei, substituídos por Vica, Renato, Leomir e Renê. Dentro de um elenco curto, porém homogêneo e com incrível capacidade competitiva. De novo superando o Flamengo com gol de Assis.

Supremacia ratificada no ano seguinte ao vencer novamente a Taça Guanabara. E fazer deste que escreve um torcedor do Fluminense por duas semanas. Cansado de tantos vexames rubro-negros – incluindo uma eliminação no Brasileiro para o Brasil de Pelotas naquele mesmo ano, com Zico já de volta ao clube – e desolado pela grave lesão do Galinho na entrada criminosa de Márcio Nunes, do Bangu.

É óbvio que não duraria muito. Afinal, paixão clubística não tem explicação. Mesmo com o tri do Flu na vitória de virada sobre o Bangu por 2 a 1. Gols de Romerito e Paulinho, este em linda cobrança de falta, que consagrariam a equipe comandada por Nelsinho Rosa em mais uma conquista histórica. Fiquei feliz porque o melhor havia vencido, mesmo beneficiado por erro grotesco do árbitro José Roberto Wright ao não marcar um pênalti claríssimo de Vica em Cláudio Adão no final do jogo.

O amor pelo futebol, especialmente o do Rio de Janeiro, fez o menino de 11 anos em 1984 se arrepiar no Maracanã com o hino do Botafogo ao acompanhar o irmão cruzmaltino em um clássico contra o Vasco. O grande rival do Flamengo que teve a minha torcida em 1987, no “Clássico dos Milhões” que confirmou o título da Taça Guanabara para o time comandado por Joel Santana que tinha Dinamite, Romário, Tita, Geovani e Dunga. Sim, eu fui para a arquibancada de quem estava jogando mais bola. Mas esta é uma história para outro post.

Este homenageia um timaço vencedor. Para mim a verdadeira “Máquina Tricolor”. Do lindo uniforme verde, branco e grená, além da bandeira levada ao gramado em cada jogo. Uma mística que encantava e, combinada com bom futebol, quase roubou meu coração há 35 anos.

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Com De León e Mauro Galvão, uso do líbero é legado de Valdir Espinosa http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/27/com-de-leon-e-mauro-galvao-uso-do-libero-e-legado-de-valdir-espinosa/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/27/com-de-leon-e-mauro-galvao-uso-do-libero-e-legado-de-valdir-espinosa/#respond Thu, 27 Feb 2020 17:25:36 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=8046

Foto: Adolfo Gerchmann / Divulgação Grêmio

O Valdir Espinosa que partiu hoje e já deixa saudades e homenagens no meio do futebol e nas redes sociais está na história do futebol brasileiro especialmente como treinador pelas conquistas internacionais do Grêmio em 1983 e por encerrar, seis anos depois, o jejum de títulos do Botafogo que durou 21 anos. Clube no qual era gerente de futebol até ser hospitalizado por problemas no intestino e sucumbir a uma pneumonia.

Em ambos, uma marca pouco reconhecida. Que fez o ex-treinador gargalhar quando este que escreve mencionou em uma entrevista justamente para falar sobre o tema. Ou a função: o líbero.

Confundida muitas vezes na história com o “zagueiro da sobra”. O que Marinho Peres, por exemplo, foi no Internacional campeão brasileiro de 1976. Ou Lugano no São Paulo multicampeão na década de 2000. Ou ainda Mauro Galvão na seleção de Lazaroni em 1990. Ou seja, o responsável pela última cobertura.

O líbero, na essência é mais que isso. Era o que Franz Beckenbauer fazia no Bayern de Munique e na seleção alemã. O “homem livre” que poderia ocupar qualquer espaço no campo. Em qualquer etapa da construção de jogadas. Até no ataque finalizando ou servindo um companheiro.

Exatamente o que o zagueiro uruguaio Hugo De León fazia no Grêmio. Eternizado por levantar a Libertadores com sangue no rosto, mas que em campo era o jogador cerebral, o organizador de trás das jogadas que tantas vezes terminavam com Renato Gaúcho desequilibrando pela ponta direita.

O mesmo com o próprio Mauro Galvão no Botafogo. Com classe, elegância. Sem porte do típico zagueiro, mas desfilando toque refinado. Com passes curtos fazendo a bola circular. Ou longos acionando diretamente os atacantes. Pela direita, Maurício. Outro heroi pelos gols decisivos.

Nos dois casos, contando com a cobertura de volantes mais marcadores: China no Grêmio e Carlos Alberto Santos no Botafogo. Até porque Espinosa era gaúcho e não aceitaria seus times tão “faceiros”.

Sorriso largo, bom papo, cordialidade. O Valdir gente fina cuja neta criou um canal de Youtube para ele deixar registrado suas análises de jogos e times. Felizmente resgatado no Grêmio com Renato Gaúcho em 2016 para fazer história novamente – e o blogueiro aqui nem fez muita fé na época. Sem líbero, mas com glórias.

Vai fazer falta o Valdir.

 

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Alberto Valentim e o mito de que manter treinador é sempre o melhor a fazer http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/10/alberto-valentim-e-o-mito-de-que-manter-treinador-e-sempre-o-melhor-a-fazer/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/10/alberto-valentim-e-o-mito-de-que-manter-treinador-e-sempre-o-melhor-a-fazer/#respond Mon, 10 Feb 2020 10:00:47 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7947

Foto: Agência Estado

Nas conversas que este que escreve já teve com dirigentes de clubes, mais de uma vez ouvi que trocar de treinador na virada do ano era a pior opção, quase sempre.

O argumento comum era algo como “técnico novo chega cheio de gás, de idéias. Quer trazer seus ‘bruxos’, vem com lista de reforços. O mantido já é mais calmo, conhece o elenco, a situação financeira do clube…”

Dependendo do contexto pode mesmo haver razão nesse discurso avesso às mudanças. Não só para campeões, mas times em evolução nítida, viés de alta.

Mas, como sempre, é preciso avaliar caso a caso. Principalmente aquele em que o treinador chega como “bombeiro”, com missão a curto prazo de salvar de rebaixamento. Consegue e, por “gratidão”, é mantido para o ano seguinte.

Funções bem diferentes: um precisa fazer o melhor com o que tem e rapidamente; outro necessita planejar, ter feeling e conhecimento para avalizar dispensas e contratações.

Alberto Valentim conseguiu às duras penas e muitas críticas da torcida manter o Botafogo na Série A do Brasileiro. Em pouquíssimos momentos conseguiu extrair da equipe alvinegra um desempenho entre razoável e bom.

O treinador, que se mostrou promissor em 2017 ao sair do posto de auxiliar para suceder Cuca no Palmeiras, até agora não deu o salto de qualidade na carreira. Parece perdido entre conceitos atuais de jogo colocados em prática sem consistência, o nosso resultadismo de todo dia e um pouco de marketing pessoal, investindo na imagem de “galã”.

Nem mesmo em um raro momento de euforia, na festa da chegada de Keisuke Honda, a torcida alvinegra deu uma trégua nos protestos. Mas a diretoria manteve até um limite bem conhecido: derrota inquestionável em clássico.

Os 3 a 0 impostos pelo Fluminense no Maracanã com facilidade não tiveram nem a relativização do desânimo pela eliminação antecipada da Taça Guanabara. Campanha, aliás, prejudicada por uma pré-temporada prolongada no Espírito Santo que acrescentou quase nada em rendimento e ainda custou a vaga nas semifinais do primeiro turno por conta de duas derrotas no início com equipe “alternativa”.

Quase encerrou também a participação do Botafogo na Copa do Brasil. O Caxias foi superior e teve dois pênaltis que as novas orientações da FIFA tornam obrigatórios. O 1 a 1 e o regulamento esdrúxulo e excludente do mata-mata nacional, que diminuiu ainda mais as chances dos pequenos, salvaram Valentim e sua equipe.

Não livraram, porém, o técnico da demissão. Mesmo com a multa rescisória de um milhão de reais que deve sangrar ainda mais os cofres do clube. O aproveitamento, porém, justifica o ato: 42,5%, com sete vitórias, dois empates e nove derrotas em 18 partidas.

A rigor, não era motivo nem para a permanência. Ou a contratação em outubro. Mas o mito de que manter treinador é o melhor a fazer falou mais alto. Ou a preguiça mental dos gestores. Vai saber…

 

 

 

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Passeio do Fluminense é a esperança de equilíbrio no Carioca http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/09/passeio-do-fluminense-e-a-esperanca-de-equilibrio-no-carioca/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/02/09/passeio-do-fluminense-e-a-esperanca-de-equilibrio-no-carioca/#respond Sun, 09 Feb 2020 21:25:40 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7943 O desânimo do Botafogo, eliminado das semifinais da Taça Guanabara com as vitórias de Boavista e Flamengo, não diminui a boa atuação do Fluminense no Maracanã.

Desempenho que passa por um elenco mais completo à disposição de Odair Hellmann e a sequência de jogos para assimilar o modelo de jogo do novo treinador. Apesar da decepção na Copa Sul-americana com o empate em casa por 1 a 1 com o chileno Union La Calera.

O clássico mostrou uma equipe tricolor organizada na saida da defesa, com os volantes Yuri e Henrique dando suporte aos zagueiros  Luccas Claro e Digão para projetar os laterais Gilberto e Egídio no campo adversário.

Nenê com liberdade total para procurar os flancos e acionar a velocidade e a mobilidade do trio Wellington Silva-Evanilson-Marcos Paulo. Também aparecer na frente para marcar os dois primeiros gols que encaminharam os 3 a 0.

O do estreante Wellington Silva completando jogada de Marcos Paulo e Egídio deu a impressão de que, se mantivesse o ritmo, o Fluminense poderia repetir os 7 a 1 do quadrangular final do Carioca de 1994.

Porque o Botafogo de Alberto Valentim adiantava a última linha defensiva, mas não pressionava o adversário com a bola. No estádio, Keysuke Honda deve ter se assustado com o que viu.

O Flu aproveitou com boa técnica e sincronia de movimentos, especialmente pelas pontas. Toques rápidos, ultrapassagens, muita gente pisando na área para finalizar. Inclusive os laterais, atacando por dentro.

Nada excepcional ou revolucionário, mas bem executado. O segundo tempo foi de controle e pensamento no Fla-Flu. Hellmann ainda aproveitou para colocar em campo Paulo Henrique Ganso, que deve mesmo ser a reposição de Nenê no 4-2-3-1, e o peruano Fernando Pacheco, além de Caio Paulista.

Opções para o elenco que se apresenta como a esperança de equilíbrio no estadual. A começar pelo Fla-Flu de quarta-feira, meso com os rubro-negros priorizando a Supercopa do Brasil. Que time Jorge Jesus mandará a campo?

Seja qual for a formação do atual campeão carioca, pode dar jogo no clássico. Porque o Fluminense passeou no fechamento da fase de grupo, sinaliza uma evolução interessante e salta bem à frente de Vasco e Botafogo.

 

 

 

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“Time de assassino!” Um grito, muitos significados http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/30/time-de-assassino-um-grito-muitos-significados/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/30/time-de-assassino-um-grito-muitos-significados/#respond Thu, 30 Jan 2020 11:39:36 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7889 Não é uma novidade. No Rio de Janeiro, torcedores já cantaram morte de jogador, queda de torcedor da arquibancada do Maracanã e desejaram o pior para um treinador passando mal à beira do campo. Sem contar a homofobia e outros preconceitos que ecoam nas arquibancadas.

O grito “time de assassino!” também não é novo. Começou com botafoguenses no Engenhão, seguiu com vascaínos no Maracanã em novembro do ano passado. Agora, torcedores do Fluminense chamaram a atenção por cantarem mais alto e, aparentemente, com mais gente na vitória por 1 a 0 sobre o time sub-23 do Flamengo pela Taça Guanabara.

A alusão é óbvia. A tragédia no Centro de Treinamentos do Flamengo que vitimou dez meninos e desgraçou a vida das famílias. Um grito apenas, mas que carrega alguns significados.

Significa que quando um Presidente da República repudia o “politicamente correto” no discurso de posse está colocando no imaginário popular que está liberado ser desumano, escroto. Um verme moral.

Quantos desses torcedores se importam com as vítimas em Brumadinho, no acidente de avião com o time da Chapecoense, na Boate Kiss e em outros casos semelhantes? Aliás, no dia da tragédia, alguns chegaram a postar em redes sociais absurdos como “só dez?”, “menos ‘mulambos’ no mundo, melhor assim” e outras atrocidades. Talvez sejam os mesmos que agora enfiam uma desgraça em provocação clubística.

Mas o “time de assassino” carrega também preconceito. Algo que vem sendo mascarado em uma conexão passado-presente que pula muitas décadas. Quase um século. Hoje tentam colar no Flamengo um rótulo de time elitista. Unem a ponta da origem do clube, fundado por abastados da zona sul do Rio, passam pelos obstáculos criados ao Vasco, com racismo inclusive, para se inserir entre os grandes da cidade lá na primeira metade do século XX e conectam com o momento atual.  No qual o Fla sobra financeiramente e na gestão em relação aos rivais e tem tomado medidas, de fato, impopulares e que se preocupam pouco com os rubro-negros mais humildes.

Só esquecem que durante muito tempo, e ainda hoje, a maior torcida do país ganhou o estigma de ser formada por pobres, pretos, sem dentes na boca, favelados (“silêncio na favela!”), analfabetos (“Framengo”). E bandidos. Por isso também que  “assassino!” sai fácil da boca de muitos.

O grito também é de desespero. E não por acaso começou em novembro, nove meses depois do ocorrido. Foi quando muitos rivais perceberam, com título brasileiro encaminhado e às vésperas de decidir uma Libertadores, que a hora tão temida havia chegado: o momento em que a reestruturação financeira e de gestão do Flamengo renderia um time forte e vencedor.

O abismo de investimento e, consequentemente, de pretensões está mais claro. Mesmo com a imprevisibilidade do futebol é difícil hoje imaginar Vasco, Fluminense e Botafogo duelando no mesmo patamar em nível nacional e internacional. Um tem dívidas equacionadas, os demais beiram a insolvência. A tendência é que mais gente nas futuras gerações torça para o Flamengo e a distância fique inalcançável.

O que gritar de tão longe? O que ostentar diante de um rival com mais torcida e títulos em todos os âmbitos? Para os canalhas, só resta apelar. Da forma mais baixa possível.

Mas o grito também significa que é hora do Flamengo resolver o problema e comunicá-lo com mais transparência à sociedade. Punir os responsáveis e fechar o acordo com todas as famílias. Não vai trazer os meninos de volta, mas tira o peso. Vira a página institucional, ainda que homenagens sejam obrigatórias a cada dia 8 de fevereiro.

Não é uma negociação como outra qualquer. Não dá para ter “gelo no sangue” e buscar a melhor solução pensando apenas nos números. Esperar a Justiça e sua lentidão no Brasil é torturar todos os envolvidos. E dar munição aos ratos de esgoto, na arquibancada e nas redes sociais.

Por tudo que foi exposto, é bem provável que o grito persista mesmo com o caso resolvido. Mas ao menos haverá uma resposta definitiva, sem as dúvidas de hoje. E também não terá mais o incômodo quem vem a cada anúncio de contratação. Por mais que se entenda a complexidade do caso, não dá para ouvir que o Flamengo fechou com a Internazionale por Gabriel Barbosa pagando 17 milhões de euros e deixar de pensar nos meninos e familiares.

Sem contar os oportunistas de plantão. Já foram criadas as figuras do setorista, do comentarista e do colunista sobre a tragédia no Ninho. Só tratam disso, correndo atrás do clique e do like de rivais e também da indignação dos rubro-negros. O tal “engajamento”.

Já passou da hora de resolver. Uma questão de consciência. Para colocar o grito “time de assassino” no lugar que merece: o lixo da história.

 

 

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A “vida loka” de Keisuke Honda, a grande novidade do Botafogo http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/28/a-vida-loka-de-keisuke-honda-a-grande-novidade-do-botafogo/ http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/2020/01/28/a-vida-loka-de-keisuke-honda-a-grande-novidade-do-botafogo/#respond Tue, 28 Jan 2020 11:20:01 +0000 http://andrerocha.blogosfera.uol.com.br/?p=7883

A contratação não tem o impacto da chegada de Clarence Seedorf em 2013. Mas de tão inusitada chama atenção e coloca novamente o Botafogo no noticiário.

O japonês Keisuke Honda, aos 33 anos, chega ao Rio de Janeiro para assinar contrato por produtividade até o final do ano. Com a torcida alvinegra eufórica e mobilizada nas redes sociais. Ao menos em tese é um acréscimo técnico e de mídia para um clube tentando solucionar seus graves problemas financeiros e sobreviver na “elite” do futebol brasileiro.

Mas defender a Estrela Solitária não é o ato mais surpreendente da carreira do “Beckham japonês”. O meia de cabelo descolorido vem tomando decisões, digamos, pouco usuais na carreira desde a saída do Milan em 2017.

Partiu para o México e defendeu o Pachuca. Marcou 13 gols em 36 partidas. Depois foi parar na Austrália. Pelo Melbourne Victory, oito gols em 24 partidas. Duas aventuras sem títulos e grande destaque, compreensível em uma reta final de carreira.

Em 2018, Honda foi parar no Camboja. Não para jogar, mas comandar a seleção do país asiático, no qual o jogador tem uma academia de futebol em Phnom Penh desde 2016. Sem se aposentar e dividindo atenções com um time australiano. Não podia dar muito certo…

Até Honda começar uma “peregrinação” no Twitter atrás de um clube. Pediu emprego a Milan e Manchester United na rede social, em seguida apelou para que algum time europeu o contratasse. O Vitesse se interessou, mas depois de um mês, quatro jogos e nenhum gol marcado, o japonês deixou a Holanda com uma explicação confusa, também no Twitter.

O que esperar da nova contratação do Botafogo? Difícil prever. Honda não tem mais o vigor físico e o poder de fogo dos tempos de Nagoya Grampus, seleção japonesa e CSKA. E essa “instabilidade” nas últimas decisões na carreira torna tudo ainda mais duvidoso.

Mas é grande novidade para um clube que anda carente de referências dentro do campo. Que a “vida loka” de Keisuke Honda possa fixar residência no Rio de Janeiro e entregar bom futebol.

 

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